Alckmin diz que governo é vítima do cartel de metrô

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Depois de a PF indiciar o presidente da CPTM atual e de 2005, Mário Bandeira, e o Ministério Público pedir seu afastamento, Geraldo Alckmin disse ao Estadão: “o doutor Mário Bandeira é pessoa extremamente respeitada” e que é é preciso “cuidado para não fazer injustiça com as pessoas”. O governador também disse que, no caso do cartel, o governo de São Paulo “é vítima”.

Enviado por Webster Franklin

Do VIOMUNDO

CPTM: Alckmin se diz “vítima” de ação pela qual também é responsável

CPTM e Alckmin

Mário Bandeira, presidente atual da CPTM e também em 2005, quando o aditivo foi fraudado. Alckmin era governador naquela época

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Em 6 de fevereiro de 2006, Alckmin foi à Alstom para autorizar o início da fabricação de 12 trens da CPTM

Por Conceição Lemes

Há um ano o Viomundo denunciou: O dia em que Alckmin foi à Alstom e autorizou trens que seriam superfaturados.  

A reportagem referia-se ao fraudulento aditivo do contrato 00/95 celebrado entre Cofesbra  – o Consórcio Ferroviário Espanhol-Brasileiro, integrado pela Alstom Brasil, Bombardier e CAF Brasil e respectivas matrizes –, e CPTM — Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.  Ele visava à compra de 12 trens por R$ 223,5 milhões.

alston e alckmin3

O aditivo foi publicado no Diário  Oficial do Estado de São Paulo em 28 de dezembro de 2005.

Só que, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCESP), houve superfaturamento. A decisão foi tomada em 2 de outubro de 2007 no processo nº TCE 5408/026/1995.

E em 2008,  a bancada do PT entrou com representação contra este superfaturamento e a prorrogação ilegal do contrato.

Em 2013, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) identificou “grave irregularidade no sexto aditamento, verdadeira fraude à licitação e desvirtuamento total do contrato inicial”.

alston e alkmin 2

Relembrando, já que há leitores novos chegando ao Viomundo.

A concorrência foi feita em 1995 e o contrato fechado no mesmo ano por Mário Covas (PSDB), o governador à época.

O aditamento foi considerado ilegal, pois havia sido assinado quase 10anos  depois do contrato original. Era o sexto do contrato 00/95!

A investigação mostrou aumento de 73,69% no valor da compra dos trens. Ou seja, superfaturamento de R$ 160 milhões, que em valores corrigidos chegam a  R$ 430 milhões. Isto foi possível descobrir devido a uma proposta mais barata da  Mitsui, que se encontra em poder do Ministério Público do Estado de São Paulo.

O presidente da CPTM em 2005 era o mesmo dos dias atuais: Mário Manuel Seabra Bandeira.

Ele é um dos 33 indiciados pela Polícia Federal (PF) no inquérito que investigou o cartel metroferroviário paulista, entre 1998 e 2008, nos governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. A CPTM tem outro diretor indiciado: José Luiz Lavorente.

O inquérito da PF sobre a ação do cartel – conhecido como trensalão, ou propinoduto tucano — foi presidido pelo delegado Mílton Fornazari Júnior.

Em seu relatório final, Fornazari afirma que Mário Bandeira cometeu fraude; ele deveria ter aberto nova licitação já que tinham se  passado quase 10 anos da celebração do contrato inicial; e que ele foi o principal idealizador do sexto aditivo.

CPTM 1

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Na sexta-feira, 5 de dezembro, o promotor Marcelo Milani, do Ministério Público do Estado de São Paulo  (MPE-SP), defendeu o afastamento de Mário Bandeira:

“Eu não acho, eu tenho certeza (de que Bandeira deveria ser afastado). Mas eu não sou o governador do Estado. Eu sou promotor”. Milani é o autor da ação que pede a dissolução de 11 empresas sob suspeita de cartel e o ressarcimento de R$ 418,3 milhões aos cofres públicos.

Apesar de a PF indiciar Bandeira e o MP pedir o seu afastamento, Alckmin saiu em defesa do presidente da CPTM.

O governador disse ao Estadão que “o doutor Mário Bandeira é pessoa extremamente respeitada” e que é é preciso “cuidado para não fazer injustiça com as pessoas”.

Alckmin disse ainda que, no caso do cartel, o governo de São Paulo “é vítima”.

CPTM 5

Já os diretores da CPTM, segundo nota da estatal,  “não irão se manifestar, uma vez que não tiveram acesso ao conteúdo do processo em razão do segredo de Justiça.”

Além disso, os “executivos negam veementemente qualquer prática irregular na condução dos processos licitatórios, desconhecendo completamente qualquer acusação”.

Viveriam Bandeira e Lavorente em Marte, já que dizem desconhecer completamente qualquer acusação?

Ou estaria faltando óleo de peroba para ambos, assim como para o governador?

Aparentemente Alckmin quer tirar do foco Mário Bandeira e seus subordinados diretos, que são os diretores. E de quebra esconder nomes como  Mário Covas, José Serra e dele próprio, Geraldo Alckmin.

Dizer que o governo é “vítima” do cartel é muita desfaçatez.

Em fevereiro de 2006, antes de se desincompatibilizar para disputar a Presidência da República, o então governador  Alckmin (PSDB) foi à  sede da Alstom, no bairro da Lapa, na capital,  para autorizar o  Consórcio Cofesbra a dar início à fabricação dos 12 trens contemplados no sexto aditivo com a CPTM.  Teve até plateia de funcionários, empresários e executivos.

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O evento foi notícia no portal do governo paulista.

alckmin na alston

Ou será que um clone do governador  Alckmin foi à Alstom?

Como em 20 anos de governos tucanos de Covas, Alckmin e Serra nunca perceberam a ação dos cartéis ?

Como explicar os corruptores sem corrompidos no alto escalão? Não cola colocar barnabés bagrinhos no papel de bodes expiatórios.

Como explicar que as empresas do cartel deram milhões de reais para as campanhas de todos esses governos do PSDB paulista?

E mais ainda. Como essas empresas do cartel continuam tendo contratos e ganhando licitações no governo paulista,  como já começa a mostrar a Operação Lava Jato ao revelar que elas atuaram também no Metrô de São Paulo e na Sabesp?

Muitas perguntas e nenhuma resposta convincente de Geraldo Alckmin.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. Próprio de tucano, eles são

    Próprio de tucano, eles são sempre vítimas inocentes por mais claros que os casos se apresentem. A imprensa banidda permite que eles ajam assim. Pobres tucanos injustiçados, como o mundo é cruel com eles.

    1. Cara Malu
      Tem hora que entro

      Cara Malu

      Tem hora que entro em verdadeiro pânico, tamanha as injustiças que os tucanos sofrem, cada vez mais entendo o lado humano do JB, GM entre outros.

      É muito cruel mesmo.

      Saudações

  2. Mayjésus! Com  governantes

    Mayjésus! Com  governantes como esse, não tem justiciaria que acuse. São todos cobras da mesma cesta. Podres! Covardes! Traidores de seu país! KKKKKKKKKK essa é bem coisa dos coisos do psdb e seus justiceiros querendo golpear o BRASIL. Nós, povo, é que mostramos como se golpeia vagabundo oportunista: NAS URNAS e o BRASIL NÃO OS QUER! Os cofre públicos de sp e paraná de sp não são suficientes para pagar o que estão devendo para os protetores da justiciaria, da máfia midiática? Então, paguem do próprio bolso e ainda estarão devendo muito aos cofres dessa nação. Se tiver um juiz descente nessa espelunca judiciária, vocês estarão pobres, logo, logo. E, ai, malandros, não haverá juizeco, ministreco, mp que dê jeito, porque esses dai não sabem tirar da cadeia quem não tem dinheiro.

  3. Vitima? hehehe…

    Vitima? hehehe… Esse Governador é muito cínico.

    Falam da “contabilidade criativa” da Dilma, mas a “jurisprudência criativa” dos tucanos para escapar “SEMPRE IMPUNES” das suas falcatruas é de fazer inveja ao Al Capone…

  4. Curiosa a situação jurídica

    Curiosa a situação jurídica no Brasil. De um lado o Judiciário condena petistas sem provas, porque eles não provaram ser inocentes, porque a literatura permite e com base numa teoria jurídica alemã não incorporada à legislação penal brasileira. De outro, os tucanos são presumivelmente inocentes até que se declarem inocentes e quando eles fazem isto são burocraticamente inocentados pelo Judiciário. Em algum momento esta distinção vai resultar em morte dos dois lados, mas antes disto alguns juízes, desembargadores e ministros de tribunais levarão vários tiros nas caras. Ha, ha, ha…

  5. Moral, Já!

    Nassif: concordo com o governador. Tem mesmo que processar esses caloteiros. Onde já se viu? O combinado seria algo parecido com aquela da telefonia nacional, dos anos 90. As Ilhas Cahimãs seriam esquecidas, porque há na Asia um novo Paraiso Fiscal, melhor e mais seguro e sigiloso. A divisão por 3 foi de bom tamanho —100 milhões para cada um. De repente veem esse caloteiros, em nome de uma moral duvidosa, com a tal de “delação premiada”., entregar todo esquema. E não pagaram nem 1/3 do combinado.  Em que mundo nós estamos? Combinado é combinado. Ainda bem que essa do Lava Jato vai distrair um pouco a atenção do povo, enquanto se imagina, junto com a grande mídia e alguns medalhões de Tribunais, uma fórmula mágica (e “legal”) para que sejam exemplarmente punidos. Esses safados têm de aprender que não se dá calote em ninguém do governo paulista e fica impune.

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