Em fotos, a aventura do Mais Médicos, por Paulo Moreira Leite

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Brasil 247

Com tiragem inicial de 3.000 exemplares e apresentação de Arthur Chioro, que foi ministro da Saúde entre fevereiro de 2014 e outubro de 2015, o livro “Mais Médicos” é uma obra institucional necessária. As fotografias capturadas pela câmara de Araquém Alcântara em 19 Estados registram o trabalho de 18 000 médicos em pontos extremos da sociedade brasileira. As cinco imagens que ilustram essa nota, cedidas especialmente para o 247 pelo próprio Araquém, são uma pequena amostra de um trabalho de 219 páginas.

Vivemos num país onde a memória de episódios essenciais de nossa história social costuma ser perdida tanto pela falta de cuidado por parte dos protagonistas como pela atuação de  adversários interessados em impedir sua real compreensão. Neste contexto, o livro ajuda a enxergar uma realidade que muitas pessoas podem até imaginar mas nunca tiveram a chance de ver. Os textos que acompanham as fotos de Araquém estão longe de esgotar toda a discussão sobre um assunto tão grave e complexo como a saúde da população carente.

Mas basta recordar a mitologia e o preconceito que ilustraram a oposição de entidades médicas no lançamento do programa,  em setembro de 2013, para reconhecer a importância de um trabalho desse tipo.

Comparadas com as imagens das campanhas do Médicos Sem Fronteiras, presença periódica na TV brasileira, o trabalho de Araquém serve como um contraponto importante. Louvável pelo aspecto humanitário, a atuação do MSF apoia-se em donativos de natureza filantrópica para garantir alguma forma de atendimento a populações que habitam as regiões miseráveis do planeta. Só se pode aplaudir uma iniciativa dessa natureza.

“Mais médicos” mostra um programa de governo, de caráter permanente, que chega a 63 milhões de pessoas. Pelo atendimento preventivo, o programa foi capaz de evitar perto de 100 000 internações hospitalares — quando as doenças se encontram num estágio mais grave, de difícil atendimento, exigindo tratamentos mais caros, complexos e muitas vezes inacessíveis. O livro não exibe cenas de uma atividade sustentada por meritórias contribuições individuais e voluntárias,  mas uma decisão de Estado, num país onde a Constituição afirma no artigo 196 que a saúde “é um direito de todos e um dever do Estado.”

No momento em que o programa foi lançado, 15% dos municípios brasileiros não contavam com um único médico para atender a população. Em outros 2 000 municípios, havia um médico para 3 000 pessoas — imagine o tempo de espera para o atendimento, quando e se ele ocorria.

Numa fase inicial, foram abertas 9,500 vagas, que cresceram 80% em três anos. Com auxilio dos repórteres Marcelo Delduque e Xavier Bataburu, que se revezaram nas viagens, Araquém mostra o trabalho dessas pessoas, descrevendo o local de sua atuação e as condições de vida da população atingida.

Distribuído para instituições e entidades ligadas a saúde pública, o livro será alvo de exposições em Genebra, Havana, São Paulo e Brasília. É possível que se faça uma segunda edição, para chegar às livrarias e ao principal interessado por esta história, o cidadão comum. Ainda não há prazo, contudo, para que isso aconteça.  

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Apenas um retoque…

    O texto do PML está um primor, como de costume: Lírico sem perder a objetividade.

    Um único senão: A avaliação dos Medecins san frontieres…

    Não se trata de uma iniciativa humanitária, mas sim um instrumento de expiação de culpas da classe média e das elites, que fingem não saber a causa dos flagelos que desabam sobre os assistidos pelos médicos que posam de heróis solitários, e mais: Que detestam qualquer ideia de política pública que seja bancada por impostos que beneficiem os mais pobres…

    Assim, doam aos MSF para evitar a dor (no bolso) de ter que arcarem com os custos da desigualdade que é resultado de um sistema onde eles (classe média e elites) são os maiores beneficiários.

    Isso sem mencionar as imagens chantagistas propagadas pelas campanhas do MSF, um horror, que nos dá a (falsa) impressão de que donativos resolverão a situação daqueles coitados.

  2. bravo!!!!
    trabalho


    bravo!!!!

    trabalho dignificante e meritório, merece todos os aplausos e  premios…

    no momento em que o mais médicos evita a piora de sintomas de doenças

    que resultariam em inevitáveis internações e custos altos para  o setor

    da saúde, imagine  a economia para o país se isso persistir por anos a fio…..

    talvez seja por isso que os médicos das associações insistem na crítica a esse programa.

    pelo simples fato de que o mais médicos retira deles os futuros clientes,

    os que ficam doentes por falta de uma medicina preventiva….

    é isso o que os medicos particulares não aceitam,

    uma medicina preventiva que retira o lucro deles, pois o mais médicos acaba com

    os problemas antes de se tornarem tragédias…

  3. Parabéns a Araquém Alcântara,

    Parabéns a Araquém Alcântara, aos colaboradores dele e editores do livro. Claro que tem de ter muitas edições e ampla distribuição. É uma obra documental e de arte fotográfica tão importante quanto a arte de acolher as pessoas e tratar da saúde delas.

  4. Emocionante

    De todos os ataques histéricos que presenciamos no Brasil nos últimos anos, o mais vergonhoso foi gerado pela implantação do “Mais Médicos”. A reação de muitos médicos brasileiros, as ofensas aos profissionais cubanos etc…me envergonham até hoje. Outra coisa: como o projeto deu certo, a mídia não se interessa mais pelo assunto. Perde a chance de contar histórias lindas, mas já sabemos o porquê.

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