Gary Hamel e a Semco

RICARDO SEMLER e SEMCO: GESTÃO ICONOCLASTA MADE IN BRAZIL? A visão de G.Hamel fundador do Laboratório de Inovação em Gestão da London Business School

Nassif, semana passada eu estava lendo o “O Futuro da Administração” de autoria de Gary Hamel e Bill Breen, publicado pela Harvard Business School Press em 2007.  Hamel fundou o Laboratório de Inovação em Gestão da London Business School e B.Breen é editor fundador da Fast Company. Não conclui minha avaliação sobre a obra: tem pontos fortes (foco na reflexão e busca de caminhos inovadores) e fracos (ênfase, talvez, excessiva nas virtudes da “gestão” como ciência social capaz de fazer a diferença e determinar o sucesso corporativo). Mas um caso selecionado me chamou a atenção: o GRUPO SEMCO ligada ao empresário RICARDO SEMLER. Por que? Porque, no Brasil, há muitas controvérsias sobre a real dimensão do êxito dessa organização e do mentor da “virada de mesa”, apesar da repercussão mundial obtida nos últimos 30 anos. Para uns é apenas “marketing do Semler”  ou “anarquia corporativa: para outros ele, de fato inspirou, com sucesso, um modelo democrático raro no mundo corporativo. Qual a verdade? Apesar de minha admiração, não tenho respostas ainda….Claro, que devemos passar por um filtro tudo que é escrito pelos gurus de gestão como Gary Hamel, que seria o “maior”, segundo o The Economist. Em outubro de 2008 Hamel fez uma conferência em Portugal, que motivou um artigo de Rute Sousa Vasco (que foi editora de Economia do Euronotícias), intitulado “SEMCO-o local de trabalho mais radical do mundo”. Abaixo o endereço para assistir um VÍDEO DE 14 MINUTOS e o sumário da conferência de G.Hamel…

Do blog Videonomics

Semco – O local de trabalho mais radical do mundo

Gary Hamel voltou a Portugal em Outubro como orador convidado do SAP Business Forum, que teve lugar no Estoril, a 29 de Outubro. O Videonomics esteve lá e ouviu o guru da inovação em mais uma das suas enérgicas e energéticas profissões de fé. Hamel é um true believer, à parte de ser um reputado especialista em matéria de inovação e criatividade. E a convicção que tem nos temas que apresenta sente-se na sala, nos seus movimentos contínuos e numa espécie de entusiasmo transbordante que domina toda a intervenção.

Um dos exemplos de inovação que trouxe a Lisboa foi o da Semco, empresa brasileira de equipamentos industriais e soluções para gestão postal e de documentos.

Melhor que reproduzir, é ler Hamel na voz directa:

“Deixem-me partilhar um estudo de 80 mil colaboradores em 16 países, não creio que Portugal estivesse incluído, mas a Espanha esteve. 80 mil colaboradores por todo o mundo.Mediu-se quão comprometidos estes colaboradores estavam com o seu trabalho. A pergunta final que faziam era: acha que o seu trabalho faz a diferença? Entende como o trabalho está a suportar a missão da empresa? Recomendaria esta empresa como um local para trabalhar a um colega ou familiar? Eis o que descobriram quando fizeram o estudo. Na maior parte dos países não mais de 20% das pessoas estão comprometidas. Em muitos países, como em Espanha, os que não estão realmente descomprometidos é um número ainda maior do que estavam altamente comprometidos. A maior parte chega, recebe o ordenado no fim do mês e estão simplesmente lá.

Se é um gestor, estes dados são escandalosos. Isto é um escândalo! Pensem na quantidade de energia humana que está a ser desperdiçada nas nossas organizações, porque as pessoas estão a receber um retorno muito baixo da sua equidade emocional. Se for médico não pode viver com estes dados. Para um físico, a situação é a mesma. Por cada cinco pessoas que vêm ver-me acabo por matar quatro! Se é um professor, se no fim do ano 80% dos alunos são tão estúpidos como eram no início do ano. Como gestores, olhamos para estes números e dizemos: “Ok, é da forma que é”. Não! Não tem que ser assim!

(…)
Uma das empresas mais inovadoras que eu conheço é uma empresa brasileira Semco. Alguns de vós devem conhecer a empresa. O CEO, Ricardo Semler, é um gestor de força. Escreveu um livro fantástico chamado “Fim de semana de 7 dias”, que recomendo muito. Tenho a certeza que o encontrarão em Portugal. Na Semco, uma das coisas que fizeram foi retirar todo o controlo nas despesas das viagens em trabalho. Não necessita de ter permissão de ninguém para fazer uma viagem em negócios. Ninguém diz em que hotel devem ficar, em que companhias aéreas voar, em que classe, quanto se pode gastar num jantar. Não há qualquer tipo de política. E quando regressa também não há nenhuma função de auditoria. Pegam em todas as suas despesas, tem que se trazer os recibos para descontos de impostos, juntam-nos, fazem a aritmética e pagam o cheque.

Muitos de vós devem _ser financeiros. Podem chegar às vossas organizações e dizer ao director financeiro: “O Gary teve esta ideia fantástica, vamos acabar com todas as despesas com viagens”. E tenha o CPR (máquina de ressuscitação cardio-pulmonar) preparada, porque pode ter um ataque cardíaco. Então como é que funciona? É muito simples.

Na Semco estão organizados em equipas pequenas. Cada equipa é um centro de lucro. Metade das compensações depende do lucro do centro. E quando regressa da viagem, pegam nas suas despesas e publicam online para que todos os colegas vejam. Quão complicado é? Portanto, se veio embora com uma grande encomenda de 5 milhões e tem uma conta de 100 dólares de champanhe para pagar, os seus colegas vão dizer-lhe: “Porque bebeste do champanhe mais barato? Para a próxima pede Cristal. Bebe alguma coisa boa para variar”. Mas o negócio está complicado, e regressou com uma conta de 20 euros da garrafa de vinho vão dizer-lhe: “Da próxima vez fica-te pela água! Não temos dinheiro para isto!”. Transparência entre os colegas substitui todo o esforço, todos os problemas, todas as horas. Para além disso, esta vai ser a solução a longo prazo para a crise financeira.
Não se pode ter mais centralização e mais controlo com o mundo a mudar como está a mudar. Vocês precisam do controlo, da disciplina, mas como os mudam para a linha da frente? “

Gary Hamel respondeu a estas e outras questões e a versão completa da conferência vai estar brevemente disponível no Videonomics. Até lá, fica este vídeo sobre a Semco, uma empresa onde os colaboradores escolhem quantas horas querem trabalhar, onde ninguém fica no mesmo lugar mais que 2 dias (para não existir controlo visual de presença) e onde até o mobiliário de cada departamento é escolhido e comprado pela equipa com o orçamento que lhe é atribuído. A ideia é, como diz Hamel, simples: dar poder às pessoas para fazerem o seu caminho, tomarem as suas decisões e serem recompensadas em função do esforço e da paixão que investem. Socializar o capitalismo – O futuro do trabalho?

Rematando com as palavras de Gary Hamel: O desafio hoje não é como levar as pessoas a servir os objectivos da organização. O desafio é como construir uma série de aspirações numa organização que premeia estes dons, que premeia os dons de iniciativa e criatividade.

Luis Nassif

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