A Princesa Isabel loura, seu fígado e seu texto.

O texto de Eliane Cantanhêde hoje (25/08) na Folha, “Avião Negreiro” é de tal manipulação de informação que está abaixo da crítica. E ainda assim, com o estômago embrulhado e o nariz tapado, é necessário criticá-lo.

Trata da vinda de médicos cubanos para o Programa Mais Médicos do governo federal. E, a começar pelo título, “Avião Negreiro”,  já não colocaria a folha onde ele foi impresso para minha cachorrinha cagar em cima. Poderia fazer mal à merda.

A escravidão negra é uma das maiores vergonhas da civilização ocidental em geral e do Brasil em particular. No Brasil, por quatro séculos seres humanos foram rebaixados à condição de animais de carga e trabalho. Não se faz alusão a tal genocídio tão impunemente, seria atentar contra a memória das vítimas. Mas Eliane não parece ser dar ao cuidado de tal respeito.

Esquece minha Linda Loura que os escravos eram capturados na África e embarcados em condições abjetas nos porões de navios onde grande parte morria. Chegados ao Brasil, eram vendidos como mercadoria e iam servir enquanto tivessem vida aos ricos brancos. Não sei se Cantanhêde descende de um desses senhores de escravos, e se descendesse, isso não guardaria relação com a pessoa que Eliane é. Já, saber o que ela acha das cotas raciais pode sim dizer muito sobre o que Eliane Cantanhêde pensa do escravismo.

Com quanto os médicos cubanos são os novos escravos do Brasil? Não me consta que tenham sido capturados em Cuba e que tenham vindo acorrentados nos porões de aviões cargueiros. Assim como, no Brasil, esses profissionais de nível superior prestarão seus serviços aos pobres e não à massa cheirosa que é cheirosa desde a escravidão. Eliane Cantanhêde tem a obrigação de saber disso até porque conhece o cheiro dessa massa melhor que ninguém.

Sigamos em frente.

 

Avião negreiro

BRASÍLIA – Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo estrangeiros, até populações que não têm médicos.

Se ninguém pode ser contra, para que serve então o texto de Eliane? Não serve para nada, como veremos a seguir. E justamente pela explicação dada na primeira frase desse texto, “ninguém pode ser contra…”.  Ou seja, Eliane passará as próximas torturantes linhas se desdizendo.

Mas o meio jurídico está em polvorosa com a vinda de 4.000 cubanos em condições esquisitas e sujeitas a uma enxurrada de processos na Justiça.

Vamos lá, Eliane consultou o tal “meio jurídico”, seja lá isso o que for, e identificou a eminência de uma enxurrada de processos contra algo que ninguém pode ser contra.  A história está mal contada, e propositalmente.

Quais são as tais “condições esquisitas” na contratação dos médicos cubanos? Eliane não nos informa. Como jornalista, essa era sua função para com os leitores, mas Eliane não está aqui na função de jornalista. Eliane está cumprindo a missão que lhe foi dada e que com certeza não lhe foi dada pelos seus leitores.

O que Eliane não nos informa é que, sim, deverá haver uma enxurrada de ações na justiça contra a vinda de médicos estrangeiros. Mas não em função de qualquer esquisitice na sua contratação. Será o segundo tempo da inglória batalha que as associações de classe médicas brasileiras travam contra a melhoria da saúde da população menos favorecida. É um contra senso e um suicídio moral. O tempo mostrará, mas até lá, muita menina lourinha de jaleco branco, com o rosto pintado de verde e amarelo e com um nariz de palhaço estará na porta dos tribunais portanto cartazes escritos em linguagem chula.

A terceirização no serviço público está na berlinda, e a vinda dos médicos cubanos é vista como terceirização estatal –e com triangulação.

Sim, a terceirização está na berlinda. Mas a terceirização nas relações trabalhistas dos brasileiros. Um projeto de lei em discussão no Congresso pretende precarizar ainda mais as condições de trabalho brasileiras permitindo terceirizar até as funções fim das empresas. Sobre isso Eliane não fala nada. Deve ser um assunto menor, não? Aliás, Eliane Cantanhêde é funcionária registrada em carteira da Folha de São Paulo ou mais uma “PJ”? A precarização das relações trabalhistas no jornalismo brasileiro não sensibiliza Eliane?

Reapare ainda, que no texto há uma junção de assuntos forçada: …, e a vinda dos médicos cubanos é vista como terceirização estatal –e com triangulação.

É vista por quem?

Se alguém leu o noticiário de ontem, já ouviu esses termos. É a conversa de Aécio Neves em visita ao Hospital do Câncer de Barretos.

http://www.brasil247.com/pt/247/saudeebemestar/112743/A%C3%A9cio-critica-pagamento-a-governo-autorit%C3%A1rio.htm

Agora começamos a entender a quem serve o texto de Eliane Cantanhêde. Mas Eliane escreveu um texto tão grosseiro que acabou por desservir ao seu senhor. Enfim, acontece com serviçais afoitos.

Daqui para frente o texto de Eliane é uma manipulação só. Vejamos.

O governo brasileiro paga à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), que repassa o dinheiro ao governo de Cuba, que distribui entre os médicos como bem lhe dá na veneta.

Sim, o governo paga à OPAS, mas de onde Eliane tirou que Cuba remunera seus médicos sem um critério justo? Eliane entrevistou representantes do governo cubano no Brasil para saber como é remuneração desses profissionais? A embaixada de Cuba fica em Brasília, de onde Eliane escreve, inclusive.

Que pena, minha Linda Loura, perdeu uma oportunidade de fazer jornalismo.

Os R$ 10 mil de brasileiros, portugueses e argentinos não valem para os que vierem da ilha de Fidel e Raúl Castro.

Eliane sabe que a forma de contrato é outra*, mas aqui faz-se de desentendida. Ah, note-se que minha Linda Loura faz também uma descortesia ao povo cubano. Quem acha que Cuba é a “ilha de Fidel e Raul” são os cubanos de Miami. Os cubanos de Cuba sabem que a ilha lhes pertence. Conquistaram-na na Baia dos Porcos. Minha Linda Loura que se mostra tão saudosa da Guerra Fria poderia ter mostrado aos seus leitores que o viés doutrinário do seu texto não embota o seu conhecimento de história. Perdeu outra chance. Mas, como este texto é uma perda em todo, ficou coerente.

Seguida a média dos médicos cubanos em outros países, eles só embolsarão de 25% a 40% a que teriam direito, ou de R$ 2.500 a R$ 4.000. O resto vai para os cofres de Havana.

De onde Eliane tirou essa “média” que fica entre 25 a 40%? Ela não diz**. Quer que acreditemos, simples assim.

Minha Linda Loura, nem eu nem você, a menos que sonegue, recebemos o integral dos nossos salários. A carga tributária no Brasil anda pela ordem de 35%. Fiquemos felizes, dizem que na Suécia beira os 60%. Talvez Suécia e Cuba tenham algo em comum. Ambas cobram altos impostos e oferecem serviços públicos de alta qualidade aos seus cidadãos. Pelo menos é o que parece e dizem.

Pode um médico ganhar R$ 10 mil, e um outro, só R$ 2.500, pelo mesmo trabalho, as mesmas horas e o mesmo contratante?

Não, Linda Loura, não pode, nem o Brasil paga-os de modo diferente. São os mesmos R$ 10.000,00 em ambos os casos.

Há controvérsias legais. E há gritante injustiça moral, com o agravante de que os demais podem trazer as famílias, mas os cubanos, não. Para mantê-los sob as rédeas do regime?

A “gritante injustiça moral”, como vimos, está na cabeça da Eliane e na malversação que ela faz dos fatos. Agora, quem disse que os médicos cubanos estão impedidos de trazer suas famílias?

Eliane não informa. Aliás, como também não informa se o contrato de trabalho com os médicos estrangeiros, cubanos ou não, prevê a vinda das respectivas famílias. Logo, não seria de estranhar que Eliane apenas suponha tal fato. Supõe que os outros estrangeiros possam trazer a família e que os cubanos não. Assim como supõem que Cuba restrinja a saída das famílias para “para mantê-los sob as rédeas do regime”.

Não entendo nada do estatuto de estrangeiros brasileiro, nem das leis de emigração cubanas. Pelo que sei, a legislação cubana foi alterada recentemente e agora não há maiores restrições para saída de cubanos do seu país. Teve até uma blogueira cubana que viajou o mundo, com passagem pelo Brasil, sem problemas. Mas enfim, o que sei sobre o assunto é pouco, por isso me abstenho de maiores comentários e não faço “jornalismo de suposição”. Pena, minha Linda Loura não parece tão cuidadosa como eu.

E se dez, cem ou mil médicos cubanos pedirem asilo? O Brasil vai devolvê-los rapidinho para Havana num avião venezuelano, como fez com os dois boxeadores? Olha o escândalo!

Minha Linda Loura tem poderes mediúnicos, já está premonizando um escândalo com milhares de médicos cubanos pedindo asilo no Brasil. E o Brasil, que possui legislação específica sobre isso, não a respeitaria e os deportaria em “aviões negreiros de retorno”. Aviões venezuelanos, claro.

Aqui o texto passa para a categoria de ficção delirante. Como obra de ficção, vale como tal.

Detalhe 1 – consta-me que os boxeadores cubanos não foram deportados pelo governo brasileiro. Após perceberem que tinham sido enganados por empresários de boxe alemães, pediram ao governo brasileiro para voltarem para Cuba. Na verdade, ficaram pouco tempo em Cuba e já estão lutando na Europa, pelo que sei. Será que Eliane tem informações diferentes das minhas ou só faz o exercício acreditar no que lhe convém?

Detalhe 2 – mandar os escravos de volta. Já que o texto de Eliane faz analogia à escravidão, é bom comentar que ao fim da escravidão, muitos brancos tiveram a ideia de “limpar” seus países mandando os ex-escravos de volta para a África. Nos EEUU isso foi feito de fato, basta ver a história da Libéria. No Brasil, ainda hoje é sonho de muitos brancos. Não sei com que Eliane Cantanhêde sonha. Seus pesadelos são com a invasão comunista cubana, por certo.

O Planalto e o Ministério da Saúde alegam que os cubanos só vão prestar serviço e que Cuba mantém esse programa com dezenas de países, mas e daí? É na base de “todo mundo faz”?

Claro que não. Essa conversa de “eu faço o que todo mundo faz” é coisa do Alckmin para justificar o propinoduto tucano com a Siemens e a Alston. Porém, sobre isso, nenhuma palavra da minha Linda Loura.

Agora, se dezenas de países têm acordos semelhantes com Cuba, das duas uma, ou esses acordos são válidos ou se reintroduziu a escravidão no ocidente.

Trocar gente por petróleo combina com a Venezuela, não com o Brasil. Seria classificado como exploração de mão de obra.

Aqui minha Linda Loura ofende o povo venezuelano. Tivesse um mínimo de responsabilidade ou mesmo de bons modos, citaria em que casos e com que países a Venezuela trocou gente por petróleo.

Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas.

Ah, a finalização do texto com um toque pessoal.

Sinto minha Linda Loura, nem você nem ninguém mais neste país, a partir do governo Dilma, pode transformar o quartinho da empregada em senzala.  Sei que é grande a grita da classe média, mas é melhor assim.

Falando nas empregadas domésticas, elas e seus filhos tiveram uma grande ascensão social nos governos Lula e Dilma, pelo progresso geral obtido nesses últimos dez anos e também pelo “Bolsa Família”. Minha Linda Loura chamava o “Bolsa Família” de “bolsa esmola”, agora não chama mais, pelo menos em público. Algumas ainda moram em favelas, outras mudaram-se para um conjunto habitacional do “Minha casa minha vida”. Esses conjuntos habitacionais estão em cidades pequenas e pobres ou nas periferias igualmente pobres das grandes cidades.  Esses locais são carentes de muita coisa, mas agora, graças ao “Mais médicos”, seus moradores terão assistência básica de saúde providas pelos médicos cubanos.

E como disse minha Linda Loura: “Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo estrangeiros, até populações que não têm médicos.”.

Mas como minha Linda Loura não é ninguém, ela é do contra.

http://www.brasil247.com/pt/247/saudeebemestar/112780/Entenda-por-que-m%C3%A9dicos-cubanos-n%C3%A3o-s%C3%A3o-escravos.htm

** essa informação está em uma matéria do G1 e é uma estimativa informal feita pelo secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales. Veja http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/08/nao-interessa-o-salario-trabalhamos-por-amor-diz-medico-cubano-em-pe.html


Avião negreiro

BRASÍLIA – Ninguém pode ser contra um programa que leva médicos, mesmo estrangeiros, até populações que não têm médicos. Mas o meio jurídico está em polvorosa com a vinda de 4.000 cubanos em condições esquisitas e sujeitas a uma enxurrada de processos na Justiça.

A terceirização no serviço público está na berlinda, e a vinda dos médicos cubanos é vista como terceirização estatal –e com triangulação. O governo brasileiro paga à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), que repassa o dinheiro ao governo de Cuba, que distribui entre os médicos como bem lhe dá na veneta.

Os R$ 10 mil de brasileiros, portugueses e argentinos não valem para os que vierem da ilha de Fidel e Raúl Castro. Seguida a média dos médicos cubanos em outros países, eles só embolsarão de 25% a 40% a que teriam direito, ou de R$ 2.500 a R$ 4.000. O resto vai para os cofres de Havana.

Pode um médico ganhar R$ 10 mil, e um outro, só R$ 2.500, pelo mesmo trabalho, as mesmas horas e o mesmo contratante? Há controvérsias legais. E há gritante injustiça moral, com o agravante de que os demais podem trazer as famílias, mas os cubanos, não. Para mantê-los sob as rédeas do regime?

E se dez, cem ou mil médicos cubanos pedirem asilo? O Brasil vai devolvê-los rapidinho para Havana num avião venezuelano, como fez com os dois boxeadores? Olha o escândalo!

O Planalto e o Ministério da Saúde alegam que os cubanos só vão prestar serviço e que Cuba mantém esse programa com dezenas de países, mas e daí? É na base de “todo mundo faz”? Trocar gente por petróleo combina com a Venezuela, não com o Brasil. Seria classificado como exploração de mão de obra.

Tente você contratar alguém em troca de moradia, alimentação e, em alguns casos, transporte, mas sem pagar salário direto e nem ao menos saber quanto a pessoa vai receber no fim do mês. No mínimo, desabaria uma denúncia de trabalho escravo nas suas costas.

 

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/125706-aviao-negreiro.shtml

Redação

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