Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Projetos para o Brasil número 2: Os grandes institutos de pesquisa, por Andre Araujo

Na segunda edição da série de 40 propostas para o Brasil, o colunista Andre Araujo aborda a importância da criação Instituições de Pesquisa em áreas estratégicas geradas dentro de universidades com a parceria da iniciativa privada 

Andre Araujo: Grande Instituto de Pesquisa para solucionar gestão de recursos hídricos no Brasil Foto Agência Brasil

Por Andre Araujo

O Brasil tem dois dos maiores aquíferos do mundo, o Alter do Chão e o Guarani, com gigantescas quantidades de água doce na Bacia Amazônica, com 86,4 km3. Somente o aquífero Guarani, no sul, tem 37 km3 de volume de água, situando-se entre os maiores do mundo. A quantidade que o país tem dá para suprir o mundo por 120 anos. Ao mesmo tempo, boa parte do Nordeste sofre com a seca prejudicando grande parte de sua agricultura, vastas áreas daquela região não têm sequer água para beber. 
 
As antigas civilizações já conheciam as técnicas de transposição de águas, os aquedutos romanos eram obras de engenharia sofisticada – alguns ainda operam hoje. Em Istambul a cisterna de Justiniano que tem mais de 15 séculos abastece hoje a cidade. Em Granada, na Espanha, água das fontes dos Jardins do Generalife vem da Serra Nevada em aquedutos de longa distância construídos pelos árabes há mais de 1.000 anos. Enquanto isso, com as maiores reservas de água doce do planeta o Brasil tem regiões com escassez de água.
 
A Líbia completou obra do maior aqueduto moderno do planeta, levando água do aquífero Núbio para Trípoli, 3.000 quilômetros de distância em canos de aço onde cabem dois automóveis, um em cima do outro (construção da Odebrecht). Já Los Angeles recebe água de reservatórios em Sacramento a 700 quilômetros de distância. 

 
O Brasil não formou a cultura de transportar água a longos distâncias por falta de estudos e projetos e um grande Instituto de Águas. Com todo esse quadro o país não tem um programa estruturado de pesquisas focado na questão da água. A melhor forma de criar essa instituição é formá-la no centro de uma Universidade pública, agregando no seu entorno instituições de pesquisas. A UNESP seria a ideal por estar no meio de grandes reservatórios de múltiplo uso.
 
O Brasil já tem bons institutos de pesquisa dentro de Universidades, mas precisa de muito mais desse tipo de instituição com foco em temas que não são atendidos.
 
Precisamos de um grande Instituto de pesquisas da Amazônia que deve ser hospedado na Universidade do Pará, onde já há tradição de estudos amazônicos.  O país ganharia projeção mundial com uma instituição de alto nível para pesquisas amazônicas, não faltariam fundos estrangeiros que sobram no mundo para financiar pesquisas focadas.
 
Na área agrícola o Brasil já está bem suprido de boas instituições de grande reputação, mas existem áreas fundamentais como SANEAMENTO, onde faz falta um Instituto de grande porte. 
 
Pesquisas sobre energias renováveis e mesmo sobre melhor aproveitamento de nossa grande quantidade de reservatórios para fins de energia caberiam em um Instituto especializado de estrutura de nível internacional. 
 
Por outro lado, o Brasil tem um dos maiores litorais do planeta e não tem um Instituto Oceanográfico de prestigio internacional e também tem uma das maiores pisciculturas de água doce do mundo produzidos em rios e reservatórios e não lhe falta um Instituto à altura para essa grande fonte de alimentos que tem cada vez mais futuro.
 
O país necessita de grandes instituições de pesquisa e ensino centralizadas de Administração Publica, Administração Hospitalar, Energia, Ecologia, Transportes, Doenças Tropicais.
 
A França e os EUA seguem esse modelo de grandes institutos agregados a certas universidades. Na França, o Instituto Francês do Petróleo (Universidade de Bourgogne) e nos EUA o  Centro de Estudos de Transporte na Universidade da Califórnia em Berkeley, o Centro de Estudos do Comportamento na Universidade de Stanford, o Centro de Estudos de Computação no MIT em parceria com a IBM, o Centro de Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade de Georgetown, financiado 90% pelo Departamento de Estado.
 
Esse modelo permite que empresas e entidades financiem boa parte das pesquisas DENTRO da Universidade. É o caso do COPPE no Rio, em grande parte financiado pela Petrobras. A título de comparação, o Centro de Estudos de Computação do MIT é em parte financiado pela IBM. Esses centros são mais do que simplesmente um prédio com cursos, são instituições polinizadoras de conhecimentos e formação de cultura especializada. 
 
No Brasil há o modelo vitorioso da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (USP) e do COPPE do Rio de Janeiro, onde se desenvolveu a tecnologia do pre-sal. A mobilidade urbana afeta a vida de 100 milhões de brasileiros todos os dias e não temos um Instituto da Mobilidade Urbana para propor soluções ao transporte nas grandes cidades. Existem cursos esparsos, mas não um grande centro.
 
O problema do financiamento de pesquisas no Brasil é a dispersão de verbas e esforços que se fragmentam sem foco em muitas instituições. Ao invés de se centralizar por especialização, a concentração permite um modelo de interação instituição-empresas que beneficia os dois lados, o instituto pesquisa e a empresa se aproveita da pesquisa. Isso se faz no Brasil de forma esparsa, mas não é um modelo nacional.
 
Essa seria a tarefa de um Ministério de Ciência e Tecnologia,  infelizmente hoje jogado no mais baixo nível da politicagem rasteira, com aparelhamento inconsequente de instituições fundamentais como o INMETRO por indicação de pessoas sem qualquer bagagem científica ou ligação com a área, um enorme desperdício e dispersão de recursos públicos para nada.
 
Esse é um projeto fundamental para um novo Governo, entre os 40 projetos que preparei como parte de um senso de direção do Brasil que só um PROJETO NACIONAL pode dar.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

2 Comentários

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  1. Os institutos de pesquisa na região amazônica

    Acredito que a região da Amazônia está muito bem servido de importantes instituição de pesquisa e de estudos, entre as quais destaco o INPA, com sede em Manaus (Interessante que sua sede fica em avenida denominada André Araújo) e a UFPA (Federal do Pará), além de duas subsidiárias da Embrapa (Embrapa Amazônia Ocidental e Embrapa Amazônia Oriental).

    No caso da UFPA, vale destaca os aprofundados estudos realizados, em parceria com a UFC (Federal do Ceará), acerca das águas subterrâneas Aquífero Alter do Chão. A partir desses estudos, descobriu-se que este era parte de um sistema muito maior que se denominou Sistema Aquífero da Grande Amazônia. http://agencia.fapesp.br/amazonia_tem_oceano_subterraneo/19541/

    O problema dessas instituições (o INPA  é muito destacada pela formação de alto nível de mestres e doutores em nível mundial)  é estar subordinada aos “humores” de dotações orçamentárias de Brasília, o que não lhe confere uma maior previsibilidade consistente de médio e longo prazo, temporalidade inerente à grandes pesquisas.

     

     

     

     

  2. Agradeço o comentario, o INPA

    Agradeço o comentario, o INPA deveria ser financiado pelo mundo devido à importancia da Amazonia para o clima do planeta.

    Não desconsidero a importancia desses institutos mas eles deveriam ter repercussão mundial com financiamento de fundos

    que já existem para isso. Recentemente o Brasil PERDEU uma dotação de 122 milhões de dolares de um fundo noruguegues

    de apoio à Amazonia por causa do desmatamento que acontece todo ano e que o Brasil acha natural e comemora quando cai um pouco. O nome Andre Araujo em uma avenida de Manaus vem de um importante juiz de direito nos tempos do Estado Novo

    que por acaso era amigo de meu pai, naquela epoca nos moravamos em Manaus por causa da Rubber Reserve Co.

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