Sobre a substituição do velho pelo novo e as novas gerações

Por Rodrigo C Moreira

Comentário ao post “A crise das elites em tempos de mudança

Meu caro, eu lhe digo que seu tempo já passou, mas, como sói ocorrer com as pessoas mais velhas no nosso país, você acha que é melhor que os mais novos e que eles “não estão preparados”.

O comentário do Nassif é perfeito e reflete a dificuldade que nossa cultura tem de fazer a passagem de gerações, deixando que os mais jovens assumam posições de destaque e os mais velhos, enfim, saiam de cena.

Minha geração, como bem disse o Nassif, pensa o país o tempo todo, mas nao corre para pedir a benção de vocês. Nossa hora vai chegar, e quando vocês menos esperarem, vamos assumir o espaço que nos cabe.

Infelizmente, no entanto, isso nao deverá ocorrer pelas vias tradicionais, pois, como também disse o Nassif, a mídia, os partidos e, em certa medida, as empresas mais tradicionais, não nos dão espaço – ou, quando dão, é um espaço tutelado, onde a gerontocracia quer se perpetuar e nos faz concessões ridículas, presumindo que devemos estar ali apenas para fazer figuração.

Nosso espaço é “alternativo”. Vamos ascender (estamos ascendendo) através da internet e o empreendedorismo. Somos nós nas start-ups e na internet. É nestes espaços que verbalizamos nossa vontade de mudança. Vocês podem fazer chacota disso ou menosprezar estes instrumentos por que nao envolvem cara pintada ou coquetel molotov na PM. Mas são os espaços que temos, que conquistamos. É lá, nas nossas novas empresas e na internet, que somos livres para nos expressar e fazer as coisas do nosso jeito sem ter que pedir benção a um sujeito de cabelo branco cujos “30 anos de experiência” são suficientes para reduzir nossas opiniões a mera pirraça.

Serão espertos os mais velhos e mais sábios que identificarem esta tendência. Estamos loucos por espaço. Estamos loucos por mudança – e mudanças maiúsculas.

Por exemplo: não temos saco para burocracia. Não temos espaço para perda de tempo. Queremos cidades funcionais e cosmopolitas. Queremos mais arte, mais comércio, mais dinheiro, mais liberdade. Somos capitalistas, mas não queremos um  capitalismo predatório. Não gostamos de hierarquia sem legitimidade – ou seja, para que o sigamos, você tem que mostrar que é bom, senao a gente simplesmente te ignora. Gostamos de ter opinião, de debater, de criticar e discordar – e depois sair para um chopp, sem o menor problema.

Minha geração é difícil de entender por que ela é completamente diferente das anteriores. Nascemos na democracia, sem guerra fria, sem muro de Berlim. Para nós, essa dicotomia “preto x branco” não tem muito sentido. Vivemos com a internet. Para nós, o tempo é meio que “um só”. Queremos relaxar no trabalho e, eventualmente, trabalhar fora do expediente. Queremos participar, construir, empreender – por isso, somos empreendedores. Não conhecemos tanto a crise e a dificuldade, é verdade, mas por isso talvez sejamos mais ambiciosos. Para nós, “sobreviver” realmente nao é suficiente. A gente realmente nao quer só comida – mas participação, diversão, arte. Somos mais cosmopolitas – ao menos na classe média (e agora, com o CSF, até os menos abastados), falamos inglês com mais facilidade, temos amigos estrangeiros, conhecemos outras realidades. Queremos interação e integração. Não precisamos de intermediários para quase nada: queremos notícia, vamos atrás, fazemos nossa própria apuração. Não precisamos do Wiliam Bonner e nem do Mino Carta. Queremos acesso a eles, mas acreditamos neles se quisermos.

E por aí vai.

Até agora ninguém captou nossa vontade e tendência por uma razão simples: ninguém nos conhece. E acredito que ninguém nos conheça por que nós nao estamos nos partidos, na cúpulas das empresas e nas redações. Ou, se estamos, vamos lá fazer figuração – e é importante ressaltar isso: nao gostamos de perder tempo. Se é para ir a uma reuniao de partido ou o que quer que seja para puxar o saco de um velho e ficar repolicando o que ele diz, é melhor não ir. E, como nestes espaços a divergência é um pecado, a gente acaba nao tendo espaço.

Nas empresas ocorrer processo semelhante: para nao levra um “passa-moleque” ou ter o emprego ameaçado, preferimos ficar na nossa, cumprir nosso dever e ganhar noso dinheiro e nos expressar fora daquele espaço, seja abrindo uma empresa, seja se manifestando num blog ou na internet.

Acredito, neste sentido, que o cenário irá mudar na medida em que as instituições se darem conta de que devem fazer uma passagem de geração – e uma passagem de verdade, nao uma passagem tutelada. Deixem que façamos o nosso tempo. Que  acertemos e erremos. 

Se vocês naõ deixarem… bom, nós vamos fazer de um jeito ou de outro. Daí a questao é: fazer com vocês ou “apesar de vocês”.

Luis Nassif

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