Tragédia em Suzano: Bolsonaro atrasa declaração e Ministérios silenciam sobre políticas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Palavras de condolência resumem atuação em todos os níveis do governo Bolsonaro para lidar com o atentado de Suzano

Foto: AFP

Jornal GGN – Após horas de silêncio sobre a tragédia de Suzano, o presidente Jair Bolsonaro usou as suas redes sociais para lamentar em uma mensagem sucinta e curta a morte de oito pessoas na escola escola estadual no interior de São Paulo.

“Presto minhas condolências aos familiares das vítimas do desumano atendado ocorrido hoje na escola Professor Raul Brasil, em Suzano. Uma monstruosidade e covardia sem tamanho. Que Deus conforte o coração de todos”, foram as três frases dedicadas pelo mandatário ao caso, após o país ser abalado com a notícia, que também repercutiu por todo o mundo.

Horas antes, o primeiro a se manifestar dentro do governo de Bolsonaro foi o ministro da Secretaria-Geral, Floriano Peixoto, descreveu o caso como “tristíssimo”. Também momentos depois, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, manifestou seus sentimentos às famílias das vítimas.

Já o vice-presidente Hamilton Mourão tinha aproveitado o tema para manter a defesa da liberação do porte de armas e dizer que o atentado em Suzano não tinha relação com a flexibilização do armamento, e sim com o acesso de crianças a videojogos violentos.

“Eu não vejo essa questão [da flexibilização ter impacto na tragédia]. Vai dizer que a arma que eles estavam usando era legal? Não tem nada a ver”, manifestou. “É muito triste e temos de chegar à conclusão por que isso está acontecendo. Essas coisas não aconteciam no Brasil.”

“A minha opinião é que hoje a gente vê essa garotada viciada em videogame. E videogames violentos. É só isso que fazem. Eu tenho netos e vejo meus netos muitas vezes mergulhados nisso aí. É isso que a gente tem de estar preocupado”, foi a conclusão do vice.

Somente na noite de ontem é que o próprio presidente decidiu se manifestar. Sem citar a política de armamento ou os motivos pelos quais acredita terem favorecido para o atentado, Bolsonaro resumiu seu comunicado, pelo Twitter, a condolências.

E com palavras muito semelhantes que, minutos depois, a Secretaria de Comunicação do Planalto disparou a posição à imprensa: “O Governo Federal manifesta seu profundo pesar com os fatos ocorridos na cidade de Suzano, em São Paulo, apresentando suas condolências e sinceros sentimentos às famílias das vítimas de tão desumana ação”, divulgou.

A nota de Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, também dedicou poucas palavras para tratar do tema: “O ministério da Justiça e Segurança Pública lamenta o grave atentado à escola estadual professor Raul Brasil, em Suzano (SP), que provocou o trágico assassinato de crianças e funcionários e presta solidariedade aos familiares neste momento de dor e tristeza.”

E sem mencionar políticas da pasta que poderiam impedir casos como este, Moro disse somente que os fatos “ainda estão sendo apurados pelas autoridades competentes e o ministério se coloca à disposição do governo do estado de São Paulo”.

Em meio ao polêmico atraso para a manifestação de Jair Bolsonaro e também com os motivos – videogames – acreditados pelo vice Hamilton Mourão para que ocorra a prática de violência por adolescentes, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi o único que adotou uma postura adequada ao cuidado e à seriedade do tema.

“Eu espero que as pessoas pensem um pouquinho nas vítimas dessa tragédia e que compreendam que o monopólio da segurança pública é do Estado, não é responsabilidade do cidadão. Se o Estado não está dando segurança à sociedade, a responsabilidade é dos gestores públicos na área de segurança pública”, afirmou Maia.

E já alertou: “Espero que alguns não comecem a dizer que, se os professores tivessem armados, teria resolvido o problema”, disse, antes de ser avisado por jornalistas que o senador Major Olímpio (PSL-SP) havia se manifestado nesse sentido.

“Agora já não basta [a necessidade de um] debate sobre a posse [de armas]. Agora, um pedido desse [de que professores tenham também o acesso a armamento] não é mais posse, é discussão sobre porte em área urbana. Eu acho que aí nós passamos por uma proposta de barbárie no nosso Brasil, que não deve avançar”, concluiu.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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