Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A dacha de Stalin em Kuntsevo, por André Araújo

Por André Araújo

A DACHA DE STALIN EM KUNTSEVO – Josef Stalin dividia seu tempo entre os aposentos no Kremlin ao lado de seu gabinete, sua dacha em Kuntsevo nos arredores de Moscou, e no verão, em duas mansões no Mar Negro, mas a dacha em Kuntsevo era o recanto que Stalin mais tempo ocupou, desde 1933 até sua morte na dacha em 5 de março de 1953. Nessa casa de campo, Stalin recebeu Churchill e Mao Tse Tung e lá ocorreram os famoses jantares que Milovan Djilas, vice-presidente da Iugoslávia, descreveu tambem em suas memórias. Nos jantares na dacha, Stalin convidava seus companheiros e correligionários e vários de lá saíram para o pelotão de execução na Lubyanka. Um comentário de Stalin era perigoso, além de suas piadas e brincadeiras de mau gosto com os comensais, como falsos venenos e ovo na testa, “você está com um olhar estranho hoje” era um sinal de perigo mortal. Os jantares duravam até as 3 ou 4 horas da manhã, Stalin era notívago e acordava tarde, os jantares eram uma orgia de comida e bebida, ninguém saía sóbrio da mesa.

A dacha era cercada por duas redes de arame eletrificado, tinha baterias anti aéreas de 30 mm bem camufladas, e quando Stalin lá estava 300 seguranças da NKVD faziam a guarda.

Um grande misterio da dacha de Kuntsevo foi o desaparecimento dos arquivos pessoais de Stalin na semana seguinte à sua morte. Lá estavam cartas pessoais de Stalin a Bukhanin, Zinovuyev, Rykov, companheiros depois executados por ordem dele., O desaparecimento dos arquivos foi logo notado por Svetlana, filha de Stalin que sabia lá estarem documentos importantes dos 29 anos da Era Stalinista. No começo atribuiu-se a Beria, Ministro do Interior, que tinha acesso à dacha, mas uma segunda versão posterior indica como prováveis responsáveis Molotov, Voroshilov e Mikoyan, porque muitos documentos implicavam estes em assassinatos de companheiros no terrível mundo dos expurgos dessa era.

Depois da morte do ditador a dacha foi esvaziada de móveis e guarnições, a primeira ideia foi destiná-la a um museu mas depois de Kruschev a ideia foi abandonada e a casa encontra-se até hoje fechada.

Boa parte da História do Século XX passou sob os telhados da dacha de Kuntsevo, um prédio de extraordinária simbologia.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

20 Comentários

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  1. o que teria acontecido se…
    Por vezes me pergunto o que teria acontecido com a URSS e o mundo se Trotsky ou um outro camarada tivesse ficado no lugar de Stalin após a morte de Lenin ?

    1. Pô!…

      Um desastre, meu caro jasantos!…

      Foi uma sorte para o mundo que naquele período estivesse a testa do Estado Soviético Joseph Stalin. Ele nos livrou de nos tornármos funcionários dos nazistas!…

  2. Em se tratando de Stalin….

    Há muitas invencionices e fantasias nessas narrações, cujo objetivo, como sempre, é denegrir Stalin. 

    Nas recordações de sua filha, no livro Vinte Cartas a Um Amigo, ela  descreve a rotina do pai na dacha e seu comportamento, que colide frontalmente com esses exageros inventados por seus desafetos. Tal rotina na dacha também é referendada pelos marechais Zhukov e Vasilevsky, em suas memórias, e, por Molotov em suas  recordações, entre outros.

    Quanto a desaparecimento dos arquivos pessoais de Stalin, trata-se de um crime contra a história praticado por seus sucessores, por medo e covardia. Dada a envergadura dele, sabe-se lá o que teríamos tomado conhecimento.

    Seu acervo pessoal era imenso e incluia, inclusive, uma biblioteca com mais de 20 mil livros.

    Stalin foi um lider governante que em seu período, foi, a um só tempo: amado pelo povo, estimado pelos amigos e temido pelos inimigos.

    Quem conhece com razoável profundidade sua história, pode tranquilamente concluir que se algum dia o “Princípe”, de Maquiavel, se personificou entre nós, ele se chamou Joseph Stalin.

    1. Os expurgos de Moscou de 1938

      Os expurgos de Moscou de 1938 que levaram a execução a cupula do Exercito Vermelho e todos os velhos bolcheviques não é uma invenção, é um fato historico muito conhecido e bem documentado pelos processos, Svetlana é uma fonte marginal de historia sovietica alem de parcial por ser filha do ditador, existem 352 biografias de Stalin, mais de cem posteriores ao fim da URSS, há abundancia de fontes sobre Stalin na historiografia mundial. Lembrando que Svetlana foi morar nos EUA e lá

      viveu o resto da vida com status de residente legal.

      1.  
        Agora entendi o tremendo

         

        Agora entendi o tremendo erro cometido pelo poderoso exercito nazista ao atacar o exercito vermelho cujo comando havia sido dizimado pelo incompetente, covarde, analfabeto e ignorante assassino Stalim. Tenho no entanto, dificuldade em entender como os orgulhosos oficiais alemães, militares competentes, corajosos e muito bem adestrados, tenham acreditado nesta mesma balela, que, segundo o sábio funher apregoava, o exercito alemão será recebido como salvadores do povo russo. Entraremos em Moscou recebidos com aplausos e flores.

        O diabo foi não terem combinado com a realidade. Embora, até o presente as versões por mais mirabolantes que se mostrem, ainda assim, prevaricam sem dar trégua.

        Orlando

  3. POEMA A STÁLIN, DE ÓSSIP MANDELSHTÁM

    POEMA A STÁLIN, DE ÓSSIP MANDELSHTÁM 

    “Mas, se já tinham sido muito difíceis, para todo o país, os anos transcorridos desde que Stálin assumira o poder, nada haveria de se comparar ao que aconteceu depois de 1º de dezembro de 1934. Nessa data, um desconhecido, Leoníd Nikoláiev, entrou no Smólnyi, o prédio onde funcionavam os escritórios do PCUS e, a queima-roupa, deu um tiro na cabeça de Serguêi Mirônovitch Kírov, o secretário do Partido na Federação da Rússia. E o Grande Terror começou. Nos dias que se seguiram, 40 mil habitantes de Leningrado foram deportados para os campos de concentração, acusados de conspirar para matar Kírov. Quatrocentos outros, sabendo-se suspeitos, suicidaram-se antes que a NKVD pudesse detê-los.

    Hoje em dia, não se tem mais dúvida de que o próprio Stálin foi o mandante desse crime. Muito estimado pela população, Kírov era um rival potencialmente perigoso para ele. Além disso, possuía – juntamente com outros líderes que o ditador precisava eliminar – informações sobre o verdadeiro genocídio perpetrado no campo, durante a campanha de coletivização forçada, que não podiam, de forma alguma, transpirar. [Em pouco mais de dois meses, 130 milhões de camponeses viram suas terras serem desapropriadas e foram deportados com suas famílias. A campanha de “deskulaquização” do campo resultou num genocídio de proporções inimagináveis – endossado por slogans como o que foi cunhado por Maksím Górki: “Se o inimigo não se submete, tem de ser esmagado”. Reagindo ao confisco de suas propriedades, os kúlaki matavam os seus rebanhos, queimavam as suas colheitas, agiam de forma a comprometer a produtividade de suas terras aráveis. Devido a essa desastrosa campanha de coletivização forçada – celebrada como uma epopeia heróica por Mikhaíl Shólokhov, em seu romance O Don Tranquilo -, o país foi vítima de uma epidemia de fome muito maior do que a dos anos negros da Guerra Civil.] Num dos mais importantes romances publicados durante a fase da dissidência do governo Bréjnev – Os Filhos da Rua Arbat, de Anatóli Naúmovitch Rybakóv – a responsabilidade do Vojd pela eliminação de Kírov é abertamente proclamada. Um dos poucos a saber do que se passava era o poeta Óssip Mandelshtám. Expulso de Leningrado, em 1931, ele andara pela Ucrânia, antes de chegar a Moscou, e tinha uma ideia do “enorme Bergen-Belsen em que se transformara o campo russo”, onde cerca de 15 milhoes de pessoas tinham morrido. Mandelshtám reagiu ao que vira no Poema a Stálin, do final de 1933, que não chegou a escrever, mas memorizara e declamava para seus amigos:

    Vivemos sem sentir o chão em que pisamos.

    A dez passos de nós, já não se ouve o que falamos.

    Mas onde quer que haja meia-conversa que seja,

    o montanhês do Krêmlin há de ficar sabendo dela.

    Os dedos desse assassino de camponeses

    são grossos como salsichões,

    e as palavras caem de seus lábios pesadas como chumbo.

    Seus bigodes de barata vibram

    e o cano de suas botas é reluzente.

    À sua volta, há um rebanho de líderes

    de pescoço fino, homens pela metade, que o bajulam

    e com quem ele brinca como se fossem animais de estimação.

    Rosnam, ronronam, uivam cada vez

    que ele fala com eles ou lhes aponta o dedo.

    Um a um, forjam leis para que, depois,

    ele os acerte com a ferradura na cabeça,

    no olho, no baixo-ventre.

    E cada vez que eles matam, isso é um pitéu 

    para aquele ossétio de pescoço grosso.

    (Stálin nasceu na Ossétia do Sul, república autônoma pertencente à Geórgia).

    Em março de 1934, Óssip cruzou com Pasternák e disse para ele o poema. “Não te encontrei e não ouvi o teu poema”, disse-lhe Borís Leonídovitch, apavorado. No início de maio do ano seguinte, Mandelshtám repetiu o poema em uma festa a que estava presente o conde Aleksêi Tolstói, um homem do sistema. Quando Tolstói protestou, defendendo Stálin, Óssip Emílievitch deu-lhe um sonoro tapa na cara. “Daquele momento em diante”, conta Nadiêjda, sua mulher, em suas Memórias, “eu sabia que Óssip estava condenado”. A NKVD o prendeu no dia 13 de maio. Mas Stálin, num de seus típicos comportamentos sádicos, de quem adia o castigo, para poder saboreá-lo melhor mais tarde, não mandou matá-lo. Ordenou que Nadiêjda e ele fossem exilados para Tchôrdin, nos Urais, e depois para Vorônej, na Sibéria. Só mais tarde Mandelshtám foi mandado para o campo onde morreu.

    No fim de 1938, o Terror atingira um décimo da população masculina soviética e o sistema ameaçava entrar em colapso sob o peso da máquina infernal que criara. Em suas memórias, Ievguênia Guínzburg, que esteve presa na penitenciária Butýrka, de Moscou, entre 1937 e 1939, relembra: “Todas as agências estavam desumanamente sobrecarregadas. Todos tinham de trabalhar como condenados. O transporte era insuficiente para remover tantos detentos, as celas estouravam de tão cheias, os tribunais tinham de trabalhar vinte quatro horas por dia”. Calcula-se que, a continuar nesse ritmo, em 1941, praticamente todo o país estaria na cadeia.”

    Poesia Soviética, seleção, tradução (do russo) e notas de Lauro Machado Coelho. Algol Editora

    Os Filhos da Rua Arbat, de Anatoli Ribakov. Traduzido do russo por Paulo Bezerra.

    1. Tssss……..

      Caro jc.pompeu

       

      Essa narrações nao resistem a u pequeno aperto científico. Pô, por aquela época a URSS tinha pra mais de 180 milhões de habitantes. Que estupidez é essa de prender a todos?….

      1941 foi, isso sim, o grande teste para as políticas conduzidas por Stalin, após a invasão nazista, e, ele foi o vencedor; nos livrando dos sonhos loucos de Hitler!…

  4. Se há um país na Europa que

    Se há um país na Europa que me faz lembrar o Brasil é a Rússia. Países que contam com imensos recursos minerais e humanos. Mas que nunca conseguiram fazer disso um país justo. E se a a revolução comunista fez da Rússia uma potência militar, o custo de sua tirania foi terrível. Não só as milhões de mortes, mas também a morte do livre pensar. E Stálin foi o principal carrasco dessa máquina de matar quem pensava minimamente diferente ou era considerado um perigo ao poder de Stalin. Às vezes penso o que aconteceria se a Rússia tivesse tido uma revolução que houve nos EUA (os pais fundadores da pátria) e se os EUA tivesse passado por um processo revolucionário como o da Rússia. Acho que se essas duas coisas tivessem acontecido, a língua franca do mundo seria russo hoje .

  5.  
    Imaginem os tucanos

     

    Imaginem os tucanos eliminando os petistas, e, sobretudo, conseguissem varrer do Brasil, como sonham, toda história do PT e do maior, até o momento, governante desse País o operário Lula da Silva. Êita que até o Gengis Kan seria canonizado.

    Orlando

  6. Nikolai Vlasik, e a Guarda do Kremlin

      Georgianos são desconfiados, ou como dizem os “russos”, são asiáticos, e Stalin nunca confiou em seu compatriota Laurenti Beria, o chefe da NKVD.

       A segurança do Kremlin, dos dirigentes soviéticos, sempre foi responsabilidade da “Guarda do Kremlin”, tropas não das FFAA, mas da NKVD – no periodo anterior da Okrana – , depois de Stalin eram do dire´torio dos guardas de fronteira da KGB, e atualmente adidas ao FSB. ( é até facil reconhece-los : predomina a cor azul. )

       Já Stalin, tinha o comando de sua própria “guarda” ( 1o circulo de segurança ), montada por ele, e liderada por Nikolai Vlasik, de 1931 até sua morte. Beria até tentou se livrar de Vlasik, não teve tempo de mata-lo, ele foi preso, condenado, mas reabilitado por Kruschev, e nunca “abriu a boca” contra seu Chefe.

       

  7. Em Sochi e Putin

      Como um bom georgiano tinha que ter uma “casinha” próxima a terrinha: http://www.cottages-for-holidays.com/173/dacha/vip-dachas-ru/stalins-dachas.html

       As vezes, para ocidentais, quando em contato com russos étnicos, ou mesmo os anteriormente sovietizados/russificados, mesmo jovens, que a imagem de Stalin seja ainda positiva, quando comparada com outros lideres da era soviética, Gorbatchev por exemplo, admirado no Ocidente, é quase um “pária” para os russos, e Volodya Putin, um ” tchekista” de carreira, percebeu esta particularidade.

        AA, leia este texto : http://www.themoscowtimes.com.br/opinion/article/stalin-rises-from-the-ashes-in-putins-russia/519090.html

  8. Irona da história. Sem dúvida

    Irona da história. Sem dúvida Stalin foi fundamental pra derrota do nazismo – o que foi bom pro mundo. Mas isso deu mais força pra sua tirania com o seu próprio povo. Sob Stalin, a fina flor da intelectualidade russa foi destruída. Sem dúvida ele tornou a Rússia, uma sociedade agrágria,  uma potência industrial militar. Mas o custo foi altíssimo. 

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