A morte de Eduardo Modiano, um dos pais da privatização, por Luis Nassif

Falecido hoje, o economista Eduardo Modiano foi um dos grandes blefes da abertura econômica, especialmente quando assumiu a presidência do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) no governo Fernando Collor.

Sua carreira acadêmica foi na PUC-RJ, ao lado dos futuros economistas do Real.

No governo Collor, foi um dos responsáveis por um modelo irresponsável de privatização, inspirado nele e em Pérsio Arida, que consistia em dividir o máximo possível os setores, a exemplo do que ocorria com o mercado de investimentos nos Estados Unidos – no qual a venda das partes supostamente melhoraria o preço final conseguido.

No caso brasileiro, havia a divisão de setores, mas valendo-se de jogadas financeiras que na prática derrubavam os preços dos ativos.

Uma das práticas consistia em utilizar taxas internas de retorno altas. Outra, em desconsiderar o faturamento potencial do setor a ser privatizado.

Se tenho uma estatal que fatura 10 e, privatizada, poderá faturar 30, o preço-alvo deveria ser o faturamento potencial, não o passado da empresa, principalmente depois do pesado endividamento que precisaram carregar nos anos 80, como agentes captadores de recursos externos.

Em todos esses movimentos, jamais teve uma visão estruturante dos setores. A nova inclusão do Brasil na economia mundial exigia super-siderúrgicas e grandes centrais petroquímicas, e de uma telefonia nacional, capazes de ganho de escala que fosse a alavanca para a futura internacionalização.

Em vez disso, preferiu dividir o parque siderúrgico em diversas siderúrgicas independentes e dividir a petroquímica em inúmeras centrais.

Na época, fui entrevista-lo no próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Manifestei minha discordância. Para a reunião, ele levou seu principal assessor, Venilton Tadini, funcionário de carreira do BNDES e ele, sim, conhecedor das características de cada setor.

Tadini aceitou as críticas. Mas o modelo de privatização estava calçado nas grandes jogadas com moedas podres, que exigiam a multiplicação das operações para abrir campo para os negócios.

Modiano foi mais um caso de acadêmico colocado em cargo executivo, sem ter a menor noção de gestão, nem – no caso do BNDES – de conhecimento sobre a economia real.

Deixou o cargo e desapareceu na poeira da história.

 
Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Elena Landau

    Coleguinha dele, descobri hoje no twitter que ela não sabe nem o que é ordoliberalismo a liberal de quermesse… óbvio a única palavra que ela aprendeu na vida dela se chama privatização.

  2. O bom de tudo isso, inclusive

    O bom de tudo isso, inclusive a morte do Mldiano, é que mostra que um dia qualquer destes os demais Tukanus tambem vão morrer.

  3. Prazer, Modiano, sou São

    Prazer, Modiano, sou São Pedro.

    O senhor é que fazia privatizações dos bens públicos para o mercado?

    – É a principal forma de apriorística da economia para capitar as coisas do povo com dinheiro fictício.

    – E você privatizou assim mesmo?

    – Sim.

    – Nós associamos questões do céu com a mesma minúcia que você fez para as privatizações

    – Como assim São Pedro?

    – É como se você tivesse privatizado fogo do céu para usá-lo agora como um conjunto no inferno.

     

  4. Requiescat in pacem…e eu

    Requiescat in pacem…e eu aqui que estou espero outros neoliberais que matam aos milhões sem nenhum tribunal por genocídio!

  5. Uma perguntinha básica, como

    Uma perguntinha básica, como evolui o patrimônio do finado através do processo de privatização? Quanto tinha antes, quando ganhou depois? Que delicia ser tucano no Brasil.

  6. Se a morte é certa , porquê a dúvida em fazer o bem?

    as vezes acho que certos seres humanos não são racionais, pois, uma vida de liberdade e qualidade de vida para todos é possivel , mas tem uns que insistem em fazer maldades contra milhoes de conterraneos.

    Liberdade, fraternidade  e igualdade sempre devia ser buscada atravéz da universalização. 

  7. Sempre me surpreende que

    Sempre me surpreende que alguém escreva uma coluna para falar mal de um recém-falecido apenas por divergências políticas/ideológicas.

    Não estamos falando de um notório criminoso, violador de direitos humanos ou qualquer coisa do tipo. Um pouco mais de decoro e respeito viria bem a calhar. O velho ditado cabe nessas horas, até em respeito à família: “se não tem nada de bom pra falar, cale-se”.

  8. Um neoliberal a menos pra

    Um neoliberal a menos pra detruir o país.

    A PUC-RJ não forma economistas. Forma idiotas. É um câncer e não uma universidade.

    1. Alto lá, a Economia da
      Alto lá, a Economia da PUC-Rio ser reduto neoliberal não lhe dá o direito de chamar a universidade de câncer. A PUC tem uma linda história de resistência à ditadura militar, foi um dos nascedouros da Teologia da Libertação e também possui em seus quadros muitos docentes progressistas.

      1. Tem razão. A PUC-RJ como um

        Tem razão. A PUC-RJ como um todo não merece ser chamada de câncer. Mas mantenho a afirmativa quanto a Faculdade de Economia, que só fez e faz mal ao Brasil.

    2. um….

      Como figura pública realmente some na poeira da História. Assim como Mallan, Armínio Fraga, Mendonça de Barros, Arida, Gustavo Franco e outros medíocres que representaram o auge da mediocridade na figura de FHC. O Pai das Privatarias. Tornou Cidadania em propriedade. Nossa Cidadania em Propriedade de Empresas, Economias e Interesses Internacionais. O pior é que até hoje não discutimos seriamente esta traição. Agora vem outro ataque a Petrobras e todo Sistema Elétrico Nacional. Um país com brutal vantagem de produção de energia, tornando-se inquilino dentro da sua própria casa. A mediocridade de nossas discussões e visão de Nação chega a ser inacreditável.  

  9. Prezado Nassif e prezados

    Prezado Nassif e prezados camaradas

    Os portões do Inferno se abrem para receber mais um que produziu apenas a Maldade e espalhou a Mentira

    Discordo quando vc diz que sumiu na poeira da História: esse sujeito não sumiu não, deixou um rastro de esterco na caminhada de sua vida

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