Abaixo Tiradentes, vivam os verdadeiros heróis populares, por Fábio Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro
 
Hoje é dia de Tiradentes. Devemos comemorar ou lamentar?
 
Tiradentes é o criminoso que virou herói mitológico do Brasil. Um símbolo do desejo de independência, o pai espiritual de nosso regime republicano. Mas quando foi preso, julgado e condenado, o alferes representava uma ameaça para o regime colonial. O que o distingue de outros líderes rebeldes do período é menos sua ação que o tratamento que lhe foi dado.
 
A Inconfidência Mineira foi apenas um dentre os vários movimentos anti-coloniais que lavaram de sangue este país. O único que se tornou suficientemente importante para a história oficial a ponto de acarretar a criação de um feriado nacional.
 
A História do Brasil, porém, registra vários outros movimentos anti-coloniais, republicanos e separatistas. O primeiro foi a Revolta dos Tamoios. Mas como ainda odiamos os índios, não fomos capazes de resgatar a imagem de Cunhambebe, nem erigimos uma estátua em sua homenagem. Preferimos homenagear o jesuíta que ajudou a desmobilizar os tupinambás para que suas malocas fossem uma a uma massacradas e incendiadas até a completa destruição da França Antártica de Villegagnon.

 
As outras rebeliões não muito esquecidas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos por exemplo), continuam sendo consideradas indignas aos olhos oficiais. Tanto que seus líderes nunca foram elevados à condição de heróis nacionais. Não há feriados nacionais comemorando estes episódios históricos, preservando-os constantemente na memória dos brasileiros. O que distingue estas rebeliões daquela que foi liderada por Tiradentes?
 
A Inconfidência Mineira foi um fracasso político. Os conjurados foram presos antes de tomar qualquer iniciativa e não ofereceram nenhuma resistência ao poder Colonial.  Todos os outros movimentos mencionados chegaram as vias de fato, produziram resultados políticos temporários e obrigaram a Colônia, o Império e a República a organizar expedições punitivas que resultaram em vitórias caras e desonrosas.
 
Tiradentes não é um herói popularizado pelo que ele fez. A verdade é que ele muito pouco, nenhum mal ele chegou a fazer aos seus captores. De fato, na época em que foi processado, condenado e executado o alferes não passou de um inocente útil cuja imolação premeditada ajudou a reforçar o poder colonial. Dentre tantos outros que lutaram até mais corajosamente contra o poder constituído, Tiradentes foi escolhido e elevado à condição de herói porque seu exemplo é neutro e inútil do ponto de vista popular e militar.
 
Que perigo os líderes das outras rebeliões citadas (Cabanagem, Balaiada, Farroupilha, Conjuração Baiana, Independência da Bahia, Federação do Guanais, Revolta dos Malês, Sabinada, Palmares e Canudos) ainda representam? Eles estão todos mortos. Porque devem ser necessariamente esquecidos pelos brasileiros? É impossível dizer qual seria a História do país se eles tivessem tido sucesso. É igualmente improvável que nossa História venha a ser diferente caso eles passem a ser reverenciados.
 
Por isto, hoje não vou comemorar. Tiradentes representa um duplo fracasso. Além de ter liderado uma rebelião não violenta fracassada que não chegou a colocar em risco o poder Colonial, ele segue sendo um herói incapaz de inspirar os brasileiros a praticar atos verdadeiramente heróicos como aqueles que foram cometidos pelos líderes de outras rebeliões que ocorreram na História do Brasil. É vergonhoso que nosso país siga usando a Inconfidência Mineira como uma cortina de fumaça para apagar da memória nacional movimentos que foram bem mais importantes, cujos líderes poderiam inspirar os brasileiros a ser mais aguerridos. Nós realmente precisamos de paradigmas que eduquem os jovens brasileiros a combater com vigor coisas que são inadmissíveis (como a falta de água em São Paulo, as decisões absurdas e abusivas que saem do Poder Judiciário, a impunidade dos criminosos da Ditadura, a greve de PMs na Bahia ou os constantes assassinados de pessoas inocentes pela PM do Rio de Janeiro).
 
Tiradentes, o herói neutro que nada fez e que nos ensina a aceitar uma injusta condenação, apenas mantém os jovens brasileiros dormentes, sonolentos, incapazes de reagir. Reação impetuosa contra a brutalidade policial (sempre tolerada pelo Judiciário quando as vítimas são miseráveis) e contra a boçalidade das Forças Armadas (que seguem protegendo os criminosos fardados do regime infame que governou o país após o golpe militar de 1964) é o que precisamos. Nossos heróis devem nos ensinar a fazer o oposto do que temos feito. 
 
Fábio de Oliveira Ribeiro

45 Comentários

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  1. Histórias e mais histórias…

     

    Histórias e histórias…

    Desde que o mundo é mundo, sempre foi assim, a história que se perpetua normalmente é aquela que os dominadores fizeram perpetuar, exemplifico, o que poderíamos dizer sobre os libertadores da América espanhola, San Martin e Simon Bolivar, foram libertadores da América espanhola ou foram generais lutando em prol da coroa britânica?

    Lembre-se que os países,  na ocasião colônias espanholas saíram do domínio espanhol para um governo republicano enquanto que o nosso Brasil se libertou de Portugal, porem se manteve império tendo como imperador ninguém menos que o herdeiro do trono de Portugal, será que não foi a grande amizade das coroas portuguesas com a britânica ?

    Disso tudo devemos ainda agradecer, pois se não fosse isso, não teríamos o território que temos, pois os amigos dos portugueses não se disporiam a abafar todas aquelas revoluções que você citou, certamente fracionando o Brasil em inúmeros Brasis, ou você ainda tem duvidas de que, quem realmente proclamou a “independência” brasileira foram verdadeiramente os britânicos?

    O pobre Tiradentes foi mesmo o bode expiatório da inconfidência mineira, porem na ocasião os dominadores queriam mostrar o Tiradentes exemplarmente esquartejado e pendurado nos postes da histórica Ouro Preto, e assim foi feito.

    Existe um ditado que não saberia nomear o autor, mais ou menos assim: “Uma mentira sistematicamente dita como verdadeira, passa a ser acreditada como tal.”, o que diríamos dos lideres históricos : Mandela, Ghandi, Dalai Lama, Napoleão Bonaparte, Winston Churchill, JFKennedy,  Che Guevara, Sadam Hussen, Osama Bin Laden e tantos outros, exaltados ou execrados sabemos que a verdadeira historia que cada um carrega de si mesmo, nem sempre é aquela que nos contaram.

     

    Ótimo feriado

    abraços

    1. A história que liberta é

      A história que liberta é aquela que o dominado conta para si mesmo a fim de produzir sua libertação simbólica. Este é o primeiro passo no caminho de sua libertação concreta, aquela que ele mesmo produzirá usando todos os meios necessários. A história do povo brasileiro deve ser contada para desconstruir a história do Brasil (este Estado corpo-estranho que serve aos interesses de poucos dentro e fora do país) e possibilitar ao povo, liberto de uma história que não é sua, construir para si um presente alternativo destruindo os instrumentos de dominação estatal e finalmente o próprio Estado. 

  2. O que me dana mais – eu que

    O que me dana mais – eu que nunca fui fan de “arte engajada” – é ver que há tanta história para ser contada e o pessoal da “cultura” fazendo piadinha e draminha da vidinha privada.

    1. Dica

      Lucinei, se quer ler uma história bem contada, me permita uma dica: Em breve tudo será mistério e cinza, romance de estreia de Alberto A. Reis, Cia das Letras. Ambientada no Brasil, sobretudo no Distrito Diamantino, na década de 1820, pinta com uma mestria literária esplêndida um quadro histórico implacável do Brasil da época, com sua politicagem rasteira, a crueldade extraordinária das oligarquias locais, o horror que era a escravidão. Imperdível para quem gosta de boa literatura, de um bom romance histórico, se assim podemos classificá-lo.

      Pelo que soube, o autor está pensando em escrever seu segundo romance, esse sobre a revolta dos maleses citada pelo Fábio.

    1. A geopolítica sempre foi uma

      A geopolítica sempre foi uma desculpa esfarrapada para guerras internas e externas, para a opressão do povo brasileiro pelo Leviatã excludente que se instalou neste território. Você o defenderá sozinho, meu chapa. E arcará com as consequencias. 

  3. O autor pretende fazer uma

    O autor pretende fazer uma narrativa de “”Historia Popular” que pretende centrar no povo seu eixo. Desde que existe a historia escrita, há 10.000 anos, a Historia registrada precisa de herois, como simbolos de povos, movimentos, revoluções, o heroi é o polo agregador de milhões de anonimos do povo e não adianta querr mudar porque é da logica das coisas da civilização. A Revolução Sovietica é representada por Lenin e Trotsky ou não? Lá não se narra uma “historia popular” despersonalizada e sim uma Historia de hrois, nem a esquerda topa uma “historia” sem rosto.

    1. Você tem algum problema

      Você tem algum problema cognitivo Motta Junir? Eu sugeri o resgate das rebeliões populares e de seus líderes. Portanto, não estou querendo uma história sem rosto, mas deformar o rosto supostamente imaculado do Leviatã brasileiro para que ele possa ser desmontado. 

  4. Tiradentes foi escolhido a

    Tiradentes foi escolhido a dedo para ser o grande herói republicano, durante a ditadura militar de Deodoro da Fonseca e Foriano Peixoto, que se segiu ao golpe de Estado que instaurou a República.

    O motivo foi que a Inconfidência Mineira foi um movimento da elite, para a elite e com a elite, que tinha caráter republicano, mas não questionava a estrutura de poder da colônia e portanto não induzia ao questionamento da mesmíssima restrutura de poder vigente cem anos após o movimento. O fato de Tiradentes ter sido militar também influiu na escolha.

    Não tenho absolutamente nada contra a pessoa do Tiradentes ou contra a Inconfidência Mineira, mas de fato existem personagens e rebeliões que representam muito melhor os ideais atribuidos à inconfidência.

    Trata-se de um feriado artificial para promover um mito construído para tentar dar um caráter ideológico a um golpe de Estado típico, que implantou uma ditadura militar sangrenta, cuja motivação foi muito mais as conveniências políticas daquele momento do que os ideais propalados pelas lideranças republicanas.

  5. Tiradentes

    Está certo. Concordo com a crítica. Mas acho que o que o exército e o poder fizeram com Tiradentes não pode ser suficiente para que nós e “enforquemos” novamente. Tiradentes pode ter sido um romântico, levantado uma bandeira sem mastro e sido usado como boi de piranha pela república, para virar um herói pasteurizado, em dobradinha como Caxias! Mas é inegável que divergiu, lutou e deu a vida (ou esta lhe foi tomada) pela causa que defendia, o fim da monarquia.

    Pra fechar, acho que o articulista poderia acrescer a revolta do Contestado, na Santa e Bela Catarina!

    1. Considere acrescida ao meu

      Considere acrescida ao meu texto a Revolta do Contestado. No mais discordo de você. É preciso enforcar Tiradentes para dar aos jovens brasileiros heróis que os motivem a lutar contra a brutalidade policial e contra a boçalidade dos militares que protegem os criminosos da Ditadura. Chega de contemporização. Esses filhos da puta que acreditam que mandam no Brasil tem que ser acuados e derrotados na arena política (na bala se necessário for). 

  6. Tolos

    Quanta bobagem

    Se querem saber sobre a Inconfidencia Mineira, nua e crua, leia o livro ” Tiradentes” de Oiliam jose

    Ali a historia ´pe mostrada sem achismos.  Documentos comprovando.

    O lado bronco, o lado heroi, o lado manipulado

    1. Bobagem, meu caro é você vir

      Bobagem, meu caro é você vir aqui fazer um comentário idiota com sugentões irrelevantes. A atenção das pessoas deve se voltar para os corajosos líderes das rebeliões que ensanguentaram o país, não para Tiradentes ou para o livrinho sobre ele que você sugeriu. 

      1. Livrinho !!!!!!
        Voce esta de

        Livrinho !!!!!!

        Voce esta de brincadeira

        Primeira ediçõa de 1974 e a segunda de 1985, é o mais respeitado livro sobre a Inconfidencia Mineira, abordando todos os aspectos positivos e negativos e tudo com um levantamento historico de extrema relevancia.  Sem chutes. 

        O texto não é tipo artigo da Revista Veja ou Livros de consumo para o povão como os escritos pelo Bueno

        Leia e depois chame de livrinho. 

  7. Um gole pro ‘santo’ enforcado duas vezes

    A primeira cachaça foi produzida no litoral paulista em 1530

    A Revolta da Cachaça foi um dos primeiro movimentos de insurreição nacional contra a Coroa Portuguesa

    MOEDA DE TROCA - No mercado de escravos de Recife, como em outras cidades, a cachaça era parte do pagamento. E os próprios negros apreciavam a bebida como fonte de energia

    No mercado de escravos de Recife, como em outras cidades, a cachaça era parte do pagamento. E os próprios negros apreciavam a bebida como fonte de energia

    Nos período colonial, a produção de cachaça era uma importante atividade econômica no Brasil, levando a redução do consumo da bagaceira importada de Portugal. Com o sucesso da aguardente brasileira, os portugueses, através de uma Carta Real de 13 de setembro de 1649, proibiram a fabricação e a venda da cachaça em todo o território nacional.

    Indignados com as constantes cobranças de impostos aos longo dos anos e perseguidos por vender a bebida, os produtores de cachaça e proprietários dos engenhos se revoltaram no dia 13 de setembro de 1660 e tomam o poder no Rio de Janeiro por cinco meses resultando em um dos primeiros movimentos de insurreição nacional, a Revolta da Cachaça.

    Com o poder restituído, o movimento é repreendido com violência e o seu líder,Jerônimo Barbalho Bezerra, é enforcado e decapitado, tendo sua cabeça pendurada no pelourinho da cidade, como exemplo à população fluminense.

    Todo o dia 13 de setembro se comemora o “Dia Nacional da Cachaça” como uma forma de relembrarmos os tempos de um Brasil colonial, quando a cachaça era símbolo de resistência contra a dominação portuguesa.

    A data foi aprovada em outubro de 2010 pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

    Publicado por: http://www.mapadacachaca.com.br/artigos/a-revolta-da-cachaca/

    1. Excelente comentário. Você

      Excelente comentário. Você acrescentou à discussão um tópico relevante. Considere-se aplaudido.

      1. Leão Coroado

        A Revolução Pernambucana

        A pinga no missal e a hóstia de mandioca

        PRAÇA LEÃO COROADO, VITÓRIA DE SANTO ANTÃO PE

        Em comemoração do centenário da Revolução Pernambucana de  1817, o governo municipal de Vitória de Santo Antão, na administração do Capitão Eurico do Nascimento Valois, denominou pela Lei nº 199 de 18/03/1917, o antigo Pátio da Estação dePraça Leão Coroado. Ajardinou-o e, no centro, fez construir um monumento: um atleta, coroado de louros, subjugando possante leão, em homenagem ao bravo José de Barros Lima (O Leão Coroado), patriota de 1817, trabalho executado pelo escultor Bibiano Silva.

        “Em 29 de março de 1817, com representantes eleitos em todas as comarcas, foi convocada uma assembleia constituinte que estabeleceu a separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; o catolicismo foi mantido como religião oficial, porém havia liberdade de culto; foi proclamada a liberdade de imprensa (uma grande novidade no Brasil); abolidos alguns impostos, mas a escravidão entretanto foi mantida.

        À medida que o calor das discussões e da revolta contra a opressão portuguesa aumentava, crescia, também, o sentimento de patriotismo dos pernambucanos, ao ponto de passarem a usar nas missas a aguardente (em lugar do vinho) e a hóstia feita de mandioca (em lugar do trigo), como forma de marcar a sua identidade.”

        [video:http://youtu.be/GGZT0q8Kekc%5D

  8. Já repararam que toddo golpe

    Já repararam que toddo golpe no Brasil tem dedo da MAÇONARIA?

    Desde a proclamação da República (de bananas) até os dias de hoje, nas tentativas da mídia golpista aliadas a ‘certos” membros do STF, alçados à condição de “heróis” da capa preta, pela mesma mídia vendida.

    Se fuçar, acharemos estreitas ligações destes personagens com a MAÇONARIA.

    Conclusão: O CÂNCER brasileiro tem nome: MAÇONARIA.

    1. Não fiz qualquer referência

      Não fiz qualquer referência ao clubinho de veados velhos metidos que foi mencionado por você. 

  9. Já repararam que toddo golpe

    Já repararam que toddo golpe no Brasil tem dedo da MAÇONARIA?

    Desde a proclamação da República (de bananas) até os dias de hoje, nas tentativas da mídia golpista aliadas a ‘certos” membros do STF, alçados à condição de “heróis” da capa preta, pela mesma mídia vendida.

    Se fuçar, acharemos estreitas ligações destes personagens com a MAÇONARIA.

    Conclusão: O CÂNCER brasileiro tem nome: MAÇONARIA.

  10. Cunhabebe…pode ser…
    Se os

    Cunhabebe…pode ser…

    Se os portugueses e os índios seus aliados não tivessem derrotado os franceses e os índios seus aliados, aquela parte do hoje Brasil teria sido uma colônia da França. Alguma coisa entre a Guiana Francesa e Madagáscar…

    É mais o menos como o pessoal que reclama dos holandeses terem sido expulsos de Pernambuco; hoje estaríamos no nível de… Guiana, Malásia ou do Transvaall (onde surgiu o apartheid, né?)

    Revisão histórica é bom…desde que não chegue até o h… ops…

    hehehehehe

    1. Você tem algum problema

      Você tem algum problema cognitivo véio zuza? Eu não sugeri a revisão da história do Brasil, nem tampouco me propus a escrever uma história imaginária do nosso país. O que eu quero é a recuperação da história soterrada das rebeliões populares desde os tempos da Colônia. Os heróis brasileiros que fizeram as autoridades coloniais, imperiais e republicanas sangrarem (sangrarem e muito, em algums casos) devem servir de modelo para a juventude brasileiro que vai lutar e derrutar (a pauladas e na bala se necessário for) este Leviatã ainda hoje comandado por PMs e militares.

  11.   O texto tem pontos

      O texto tem pontos interessantes, a exemplo de revoltosos esquecidos.

      O que também me chamou a atenção é um ponto no qual peca: a falsificação histórica vestida pelo politicamente correto*. Peço desculpas pelo peso da expressão, mas é o que ocorre quando se lembra de Cunhambebe como um líder revoltoso.

      Oras, líder para quem? É inegável que o chefe indígena lutou com tenacidade contra os portugueses, mas vou contar uma novidade: nosso país como unidade política é obra portuguesa. É possível – até deve-se – lembrar o absurdo dos massacres perpetrados contra os índios, mas o louvor a um Cunhambebe é contrário até mesmo à nossa existência como a conhecemos. Fossem ele e outros vitoriosos, a esmagadora maioria de nós brasileiros estaria do outro lado do Oceano (seja Europa ou África, sem falar da Ásia) – o que talvez vários entre nós gostariam, mas daí ser completamente absurdo levantar estátuas para semelhante figura, apesar de sua bravura.

      A ‘descoberta’ do Brasil, verdadeira conquista, foi efetuada CONTRA os ocupantes anteriores, e nós, querendo ou não, somos fruto disso. Dar a entender o contrário é querer passar uma bem-intencionada borracha em nossa própria história, para o farsesco conforto da consciência de alguns.

     

    *o mesmo ocorre com o que Portugal teria ‘roubado’ do Brasil até 1822; oras, até 1822 o Brasil era colônia ou mesmo fazia PARTE de Portugal. Imagine-se que colonizemos a Lua: 300 anos depois, em caso de independência, nossas explorações seriam chamadas por alguns de ‘roubo’ da Lua!

    1. Você não foi capaz de

      Você não foi capaz de entender meu propósito. Ao reforçar a imagem de Cunhambebe, pretendo que ele seja transformado num ícone, num instrumento simbóllico para ser usado na luta atual contra aqueles que ainda hoje odeiam e maltratam os índios. A guerra dos índios e seus aliados contra os posseiros, grileiros e produtores rurais precisa deixar de ser pacífica ou judiciária. É preciso trocar a passividade derrotista pela agressividade política. Somente um herói agressivo fornecerá o paradigma necessário. Você é capaz de entender isto?

      1.    Entendo MUITO bem.
          Só

           Entendo MUITO bem.

          Só que nesse caso você não deveria falar em “verdadeiros” herois populares. Você propõe substituir uma falsificação por outra falsificação.

    2. Oliveiras

      Isso tudo sem contar a origem dos “Oliveiras”, pois como disse, se porventura Cunhanbebe houvesse vencido nossos ancestrais, pobres Oliveiras estariamos vagando pela peninsula Iberica, para completar se houvesse isso ocorrido poderiamos estar vagando embarcados na peninsula Iberica,  assim como relatou Saramago em seu “Jangada de Pedra”.

      Menosprezar as conquistas espanholas e portuguesas, enaltecer os povos nativos, descaracterizar o conjunto de fatos para induzir no completo desmantelamento desse conjunto que poderia ser chamado de nação, faz parte da publicidade que os dominantes pretendem ou mesmo conseguem impor ao dominados da atualidade.

       

      abraços

      1. Errado. Eu também tenho um

        Errado. Eu também tenho um antepassado argentino, sobrenome Freitas, que instalou-se no Brasil (Xiririca, SP) no início do século XIX e foi obrigado a apanhar uma india no mato porque nenhuma brasileira queria casar com ele. Meu avô materno, neto do argentino com a índia, tinha várias caracteristicas indigenas (cor da pele, cor dos olhos e ausência de barba). Sou Oliveira, mas tenho orgulho da minha cota de sangue indigena. Não estaria aqui sem ela.  

  12. a propósito, um sambinha pra

    a propósito, um sambinha pra ilustrar a história do brasil comentada pelo povo brasileiro:

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=P-5LLSWkf-A%5D

    Este é o samba do crioulo doido.
    A história de um compositor que durante muitos anos obedeceu o regulamento,
    E só fez samba sobre a história do brasil.
    E tome de incofidência, abolição, proclamação, chica da silva, e o coitado
    Do crioulo tendo que aprender tudo isso para o enredo da escola.
    Até que no ano passado escolheram um tema complicado: a atual conjuntura.
    Aí o crioulo endoidou de vez, e saiu este samba:

    Foi em diamantina onde nasceu j.k.
    E a princesa leopoldina lá resolveu se casar
    Mas chica da silva tinha outros pretendentes
    E obrigou a princesa a se casar com tiradentes
    Laiá, laiá, laiá, o bode que deu vou te contar

    Joaquim josé, que também é da silva xavier
    Queria ser dono do mundo
    E se elegeu pedro segundo
    Das estradas de minas, seguiu p’rá são paulo
    E falou com anchieta
    O vigário dos índios
    Aliou-se a dom pedro
    E acabou com a falseta
    Da união deles dois ficou resolvida a questão
    E foi proclamada a escravidão

    Assim se conta essa história
    Que é dos dois a maior glória
    A leopoldina virou trem
    E dom pedro é uma estação também
    Oô, oô, oô, o trem té atrasado ou já passou

    Link: http://www.vagalume.com.br/sergio-porto/samba-do-crioulo-doido.html#ixzz2zdfZ7QZG

  13. Tem outras estórias ou histórias…

    Fabão,

    Tem uma história que se passa na contemporaneidade de Tiradentes, inclusive com sua (dele) participação antes da conjuração mineira, que tem o interior do RJ e sua fronteira com MG. Não se sabe se o personagem em questão foi infiltrado para recuperar o ouro extraído e “desviado” ou era espião da rainha (o mais provável dado que dizem as línguas ferinas que ele era seu (dela) amante) para acompanhar e “roubar” o ouro “desviado” das contabilidades real.

    Seu nome era “Mão de Luva”, pois perdera uma delas, que com alguma certeza foi uma punição por colocá-la onde não devia.

    O Intendente JJdaSXavier participou de expedições para prendê-lo. Não sei de mais detalhes, pois assisti ao documentário faz tempo e em canal “alternativo”.  

  14. Um verdadeiro heroi brasileiro

    Quer um grande herói da época, Antonio Francisco Lisboa.

    Brasileiro típico, mestiço sem eira nem beira, filho de empreiteiro português com uma escrava e que foi abandonado pelo pai por aqui.

    Safo, deve ter concluído que não havia porque arriscar o pescoço por causa de um quinto.

    Trabalhou para a turma que ficava com os quatro quintos e agregou valor ao ouro recebido transformando o em joia cultural que continua rendendo dividendos por aqui. Assim se tornou responsável pelo ouro que não se perdeu.

    Sua obra  monumental não encontra paralelo na história da colonização das Américas.

    Este é o herói que se presta a dar resposta à  piadinha infame de que o Brasil é um paraíso criado por Deus, mas que é habitado por um povinho ordinário.

    A nossa elite é que não presta. 

  15. Os Heróis da Solidão

    É um convite à história viva do Brasil.

    O documentário ‘Heróis da Solidão’, com duração de 60 minutos, presta uma homenagem à luta popular pela soberania brasileira, realatando a Revolução de 1817, a Independência do Brasil, a Batalha do Jenipapo e a Confederação do Equador, especificamente nas antigas províncias do Ceará, Piauí e Maranhão.

    Abertura

    [video:http://youtu.be/Rrek7Y1ud1U%5D

     

    Episódios

    [video:http://youtu.be/OngIM-AQ9ZY%5D

     

    [video:http://youtu.be/X0DcecvNjgw%5D

     

    [video:http://youtu.be/fPjxSIJAa7g%5D

     

    [video:http://youtu.be/CA71jBql6c0%5D

     

    [video:http://youtu.be/Nijt66j__2A%5D

     

    [video:http://youtu.be/I1VQEMIY8Wg%5D

     

    [video:http://youtu.be/qkJBO_rlFzM%5D

     

    [video:http://youtu.be/bvH7XrcRt3o%5D

     

    [video:http://youtu.be/-GqFtP-amc8%5D

     

    [video:http://youtu.be/5-uC8fNLs44%5D

     

     

    [video:http://youtu.be/6–gT3QYXuc%5D

     

    [video:http://youtu.be/rX0JCs0i9nw%5D

  16. O negros brasileiros não tem

    O negros brasileiros não tem que ter orgulho desse cidadão.

    Ele era contra a abolição dos escravos.

    Ainda bem que ele e seu pescoçpo se lascaram. 

    Não estou mem aí para ele.

  17. Argumentos pregarios

    Quanta bobagem junta

    A Inconfidencia Mimeira não vale nada porque os caras não pegaram em armas, existem outras revoltas não divulgadas então a mais divulgada não presta.  Foi usada pelos republicanos então não serve. Deveria tambem dizer que os quadros tentavam associar Tiradentes a Jesus

    Tenha dó Sr. Fabio, seus argumentos são pregarios. 

    Outras revoltas são tambem meritosas e isto não exclui a Inconfidencia Mineira

    1. Vc realmente acredita que

      Vc realmente acredita que meus argumentos são preGários? Então faça uma demonstração racional cuidadosa do seu ponto de vista e, por favor,  verifique a ortografia antes de publicar seu comentário. 

  18. eu já penso o contrario.

    eu já penso o contrario. penso no tiradentes histórico. aquele que se envolveu numa batalha contra a coroa portuguesa na atual minas gerias. primeira coisa: tiradentes não era inconfidente. esse denominação foi a que a historia oficial lhe arranjou. então temos uma descontrução. depois tiradentes enfrentou o processo movido contra ele e de forma corajosa, eu diria. com o seu gesto ele mostrou como a coroa portuguesa tratava quem considerava inimigo: um castigo cruel, a morte na forca, o corpo esquartejado… além de demonstrar a violencia das autoridades ainda o seu corpo esquatejado era o sinal para que outros rebeldes não fizessem a mesma coisa… e quanto de nós não vemos a violencia e tememos agir? tememos as consequencias.. preferimos o silencio.

    Agora a imagem do tiradentes repubicano me lembra jesus cristo… já está no plano do sobrenatural…

    Nenhum movimento separatista nesse periodo tinha a ambição da formação de um pais. penso brasil. tinham a ambição na propria região. quem pensou o Estado forte e que exerce soberania sobre um territorio foram os portugueses. os portuguese sofreram para a formação de seu proprio estado na luta contra os mouros na peninsula iberica. vai ver que eles viam o brasil assim…. 

  19. Os tempos são outros…

    No nosso país, poucos conhecem a nossa história e se prestam a sua leitura para dela seguir exemplos.

    Poucos estão preocupados em ajudar o outro: na solidão, na dor física, na necessidade financeira.

    Poucos estão conscientes em ceder sua vez a algúem em algum momento .

    Hoje, heróis são os bbb’s.

    Heróis são aqueles que ostentam poder financeiro (embora endividados).

    Heróis são aqueles que atropelam o direito do outro, simplesmente, pela vontade de se sobrepor para se sentir superior.

    Heróis são aqueles que mais seguidores têm nas redes sociais.

    Heróis são aqueles que sempre levam vantagem em algum momento: no dia-a-dia do trânsito,  no estacionamento, numa fila, deseducadamente tomam a frente de senhores/senhoras idosas ou de gestantes no ônibus, numa escada.

    Heróis são aqueles que postam suas fotos/vídeos de atos bobos/idiotas e ganham espaço na mídia.

    Heróis são aqueles que, jamais teriam espaço na grande mídia se esta não fosse tão cretina e venal.

  20. Muito interessante sua

    Muito interessante sua reflexão. Mas acho que há um elemento na construção simbólica de Tiradentes que, do ponto-de-vista das classes dominantes é muito útil e faz parte da explicação dessa escolha . Na realidade, Tiradentes não teria sido propriamente um herói, mas aim um mártir _ alguém escolhido para ser sacrificado de maneira exemplar, à vista de todos, individualmente, em área urbana, para ilustrar o que acontece com quem desafia o poder. Um elemento forte de intimidação. Na realidade, se formos ver bem, não há culto a herói nenhum na nossa história, não me ocorre nenhum. Todas as lutas populares foram igualmente tratadas de modo a serem abstraídas da história. O único mais próximo de herói que me ocorre é ficcional, seria Policarpo Quaresma.

  21. uma reflexão política que precisamos atualizar

    parabéns fábio pelo pensamento exposto!

    em tempos de tanta irascibilidade e pensamentos politicamente corretos (aqueles que escamoteiam o que querem realmente dizer), você nos brinda com uma reflexão política insurgente produtora de subjetividades rebeldes. é exatemente disso que precisamos para atualizar a história do brasil. uma história que foi contada por uma voz unicamente identificada (e paga) com os ideiais das elites políticas, culturais e econômicas.

    suas reflexões me conduziram diretamente ao também inquieto pensador darcy ribeiro:

    “do mesmo modo que a europa levou várias técnicas e invenções aos povos presos em sua rede de dominação… ela também os familiarizou com seu equipamento de conceitos, preconceitos e idiossincrasias, referentes simultaneamente à própria europa e aos povos coloniais. os colonizados, privados de sua riqueza e do fruto do seu trabalho sob a dominação colonial, sofreram, ademais, a degradação de assumir como sua a imagem que era um simples reflexo da cosmovisão europeia, que considerava os povos coloniais racialmente inferiores porque eram negros, ameríndios ou “mestizos”…” (darcy ribeiro, as américas e a civilização).

    o universalismo da filosofia da história de hegel reproduz o mesmo processo sistemático de exclusões. a história é universal como realização do espírito universal. mas desse espírito universal não participam igualmente todos os povos. “os espíritos dos outros povos não tem direitos, e eles, como aqueles cuja época passou, não contam na história unversal” (hegel, princípios da filosofia do direito).

    precisamos romper com o paradigma que estrutura a história – que é ocidental, centrado nas matrizes racionais eurocêntricas.

    uma ação política consistente, para lograrmos êxito, não poderá incorrer no erro de buscar alternativas às propostas da história oficial e ao modelo de pensamento preconizado que representam em outros modelos ou teorias no campo da história, visto que a própria história como disciplina científica assume, em sua essência, ainda, a visão de mundo liberal.

    para finalizar, meu caro fábio, um comentário marginal ao texto: entre outras coisas, as descomemorações do golpe civíl-midiático-militar tem servido para ampliar o debate sobre as vozes hegemônicas que forjaram, algumas ilimitadamente, a história nacional – associando versão a verdade.

    um conjunto significativo de associações de bairros, associações e entidades indígenas, grupos sociais e culturais, ongs, alguns partidos políticos, entidades sindicais entre outros, iniciaram, de forma mais abrangente, uma rica discussão sobre como e por quem é/foi contada nossa história, não só em relação à ditadura, mas também outros momentos em que as vozes de quem participava e participou da construção do brasil, foram silenciadas.

     

    1. Excelente comentário. Você

      Excelente comentário. Você realmente captou o sentido das minhas reflexões. Acertou também ao citar Dacry Ribeiro, cuja obra tem me influenciado desde que entrei em contato com ela e comecei a descobrir que existe uma história do povo brasieiro cuidadosamente soterrada pela história do Brasil.

       

       

       

       

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