Giorgy Chicherin, por Motta Araujo

Giorgy Chicherin

Por Motta Araujo

Primeiro Chanceler da União Soviética, cargo que exerceu nos anos mais difíceis da Revolução, de 1918 a 1930, foi segundo chefe da delegação soviética que negociou o Tratado de Brest Litvosk,  com o Império Alemão, sem o qual a Revolução não sobreviveria. A Rússia trocou território por paz, perdeu vasta área na Polônia e Bielo Rússia, mas com isso conseguiu tempo para consolidar a revolução.

Exímio negociador, homem culto e sofisticado, social e culturalmente, de família nobre, pessoalmente muito rico, amante da música clássica que conhecia a tal ponto que escreveu um livro sobre a obra de Mozart. Era formado na Universidade de São Petersburgo em Línguas Clássicas e História. Perfeitamente fluente em alemão, francês e inglês, viveu 18 anos no exterior, em Londres, Paris e Berlim onde foi atraído para os círculos de emigrados esquerdistas. De menchevique virou bolcchevique aproximando-se de Lênin. Para trazê-lo de volta a Rússia revolucionária, Lênin o trocou pelo Embaixador britânico retido na Rússia, George Buchanan.

A política de Chicherin era anti-britânica e pró-alemã, a Inglaterra desde o inicio era visceralmente contra a Revolução. Financiou o Exercito branco de 40.000 checos (os EUA também financiaram) e cercou a URSS por todo lado.

A Alemanha derrotada  em 1918 por outro lado era um País sem amigos e viu na Rússia o apoio em um mundo onde eram dois países em isolamento político e econômico. O Tratado de Rapallo, obra de Chicherin, foi o corolário natural da aliança de dois proscritos contra um mundo hostil. O tratado foi negociado pelas costas da Conferencia de Genova (Rapallo e perto de Genova, na Riviera Italiana) e por ele o Exercito alemão reduzido a 100 mil homens pelo Tratado de Versalhes poderia realizar manobras e treinar a aviação no território escondido da Rússia, o que estava proibido de fazer na Alemanha e em contrapartida forneceria armamento ao Exército Vermelho. Essas duas cláusulas foram um protocolo secreto, o Tratado aberto dizia respeito apenas a um acordo comercial.

Chicherin se afastou do cargo em 1930 oficialmente por doença, mas já tinha perdido influência pelo giro da política externa de Stalin, agora menos pró-alemã e mais pró-anglo-americana. Moscou tinha reatado relações diplomáticas com a Inglaterra e os EUA em 1929 e Chicherin era identificado como anti-britânico e anti-americano, enquanto o novo chanceler, Maxim Litvinov, filho de um rico banqueiro judeu de Kiev era mais simpático aos anglo-americanos.

Esse grande diplomata foi um personagem essencial aos primeiros e complicados anos da Revolução Soviética.

Chicherin era homossexual, fato pouco comum na cúpula soviética. Escrevi aqui há muito tempo um artigo sobre o Tratado de Rapallo, um evento que sempre me fascinou, estive duas vezes em Rapallo para rever a memória desse evento no mesmo hotel Imperial Palace onde foi assinado, logo em seguida de Rapallo vem Portofino e mais distante

La Spezia, cidade base naval onde estava minha licenciadora Oto Melara.

Pode-se dizer que Rapallo foi o inicio da preparação bélica alemã que desaguaria na Segunda Guerra, isso mesmo muito antes do nazismo, o episódio de cooperação militar germano-soviética é abordado extensamente nas memórias e na biografia de George Kennan, ambas disponíveis em português.

 

Redação

7 Comentários

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  1. Origens

    O André toca num assunto muito poucoexplorado, que foi a aproximação entre Alemanha e URSS no período entre as duas guerras mundiais. Li um livro que falava sobre as primeiras tropas para-quedistas, por exemplo, e houve  um treinamento intenso com cooperação entre os dois países. Não fosse a ascenção de Hitler e a cooperação poderia ter avançado por outros  caminhos. O problema é que do outro lado havia a figura sinistra de Stalin também. A política do “me engana que eu gosto” na diplomacia das duas ditaduras levou ao pacto Rippemtropp-Molotov, que só fez adiar o choque entre os dois.

  2. Lipetzk + Kazan = Blitzkrieg

     Entre 1926 – 1933, como resultado prático de Rapallo, três escolas militares alemãs foram constituidas e funcionaram na URSS, não sendo como escolas, mas tambem como centros de testes e avaliações, tanto de aeronaves, como de blindados, e desta colaboração, foram desenvolvidas as táticas da “blitzkrieg”, eram elas:

      1. Em Lipetzk: ” Kampffliegerschulle” ( caças ) – ainda hj. o principal centro de desenvolvimento de táticas da VVS.

      2. Em Kazan:  ” Panzerschulle” ( blindados )

      3. Em Tomsk: ” Gas – testgelände ” ( guerra de gases ) – esta funcionou apenas 3 anos, de 1928 – 1931

       Para não me estender sobre o tema referente as contribuições russas ao conceito da “blitzkrieg ” germanica, papo meio que longo, técnico e chato, indico para quem quiser se aprofundar no tema, um livro de um general alemão, considerado o “genio dos panzers” : “Achtung Panzer ” de Heinz Guderian. E se alguem achar, tem em espanhol, alemão e russo, duas publicações editadas pelo Exército Vermelho, de autoria de M. Tukhachevsky, de 1935: ” Instruções de Combate Profundo ” ( armas combinadas; paraquedistas/aerotransportadas + aeronaves + blindados), e de 1936: ” Regulações Provisionais de Batalha” ( logistica aplicada ).

        P.S.: Caro Motta, sua comentada visita a La Spezia e de ter sido licenciado da Oto Melara, me trouxe boas e más lembranças –

         a Boa: O incrivel Museu da Marinha Italiana ( Técnico – Navale de La Spezia )

        a Ruim: Me lembrou a “razzia” que a “lava – jato ” está causando em nossa industria pesada, pois depois de anos tentando entrar no Brasil, com um parceiro nacional, para não apenas vender, mas tambem fabricar seus canhões, o que é do interesse da MB, em 2012 a Oto – Melara firmou uma “joint – venture ” com a Jaraguá Equipamentos, que agora, devido a nossos excelsos procuradores da Republica do Paraná, os “vestais de Curitiba”, obrigou a Jaraguá a solicitar recuperação judicial, e a “joint venture” irá para o “saco das oportunidades perdidas”.

    1. Meu caro Junior, o que essa

      Meu caro Junior, o que essa Lava Jato está trazendo de prejuizos ao Brasil faz do total das propinas da Petrobras dinheiro de café com leite com pão na chapa. A paralisação ou quebra de estaleiros, industrias de bens de capital e construtoras é uma perda de ativos reais que resultaram da acunulação de técnicas, capacidades, capital, equipamentos.  A turma do concurso publico transformou a propina em centro de tudo quando essa espinha é um detalhe ruim mas não é o eixo da empresas, sem pagar propina elas não conseguiriam fazer as vendas, são portanto parceiras involuntarias de um sistema politico e não as criadoras desse sistema.

      Minha relação com a Oto era para fazer as bombas navais do programa de fragatas mas o programa foi executado de forma erratica, andava e parava, acabamos desistindo desse fornecimento depois de perdder muito dinheiro, isso é coisa de mais de 30 anos atrás.

    2. Melara firmou uma “joint –

      Melara firmou uma “joint – venture ” com a Jaraguá Equipamentos, que agora, devido a nossos excelsos procuradores da Republica do Paraná, os “vestais de Curitiba”, obrigou a Jaraguá a solicitar recuperação judicial, e a “joint venture” irá para o “saco das oportunidades perdidas”.

       

      SANATÓRIO GERAL – Loucura total.  Não apenas as empreiteiras que fizeram girar dinheiro entre elas estão indo pro saco como também uma vasta rede de micro e médias empresa e, de forma indireta,  o boteco do seu joão tmbm. Segundo Paulo Roberto Costa a grana que circulava entre as empresas do cartel era proveniente do lucro delas mesma e não da Petrobrás como muito foram induzidos a imaginar pela imprensa tucana. A Petrobrás jamais pagou sequer 1 centavo de propina a quem que seja. O resultado dessa insanidade levada a cabo por este conluio midiático penal será o empobrecimento do pais ou seja de todos nós, com aumento da criminalidade, ao circular por aí de coletivo já tenho percebido que as pessoas estão vestindo roupas mais pobres, tenho a impressão de que a transformação desse país numa grande classe média consumidora, geradora de riqueza e conhecimento, bem como pagadora de impostos, está virando pó na ”limpeza” do lava jato do sr. moro e cia. Enquanto isso  as zelites zelotes lambe os beiços de tanta sede ao pote,  se parecem com crias desmamadas na creche da última ninhada de Silvio Berlusconi.

       

      https://jornalggn.com.br/noticia/os-defensores-do-impeachment-na-operacao-puxando-a-capivara

       

  3. Excelente!

    As usual a série “vamos saber um pouco de história” traz relato que nos remete às comparações e analogias de que tanto necessitamos para tentar equacionar alguns dos nossos imbroglios! 

    No texto do articulista, fica ainda melhor: claro, limpo e sem subtexto.

     

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