M16, o serviço secreto britânico

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por André Araújo


T.E.Lawrence, o homem da Arábia

O mais antigo serviço de inteligência do mundo moderno completou 100 anos em 2009 e continua sendo o modelo de todos os serviços similares pelo mundo. Com características e métodos únicos, postura de cavalheiros, excepcional massa crítica intelectual, começou a funcionar quando o Império Britânico dominava um quarto da superfície terrestre e controlava os mares do mundo.

O MI6 (Military Intelligence 6ª Seção) opera exclusivamente no exterior e recrutava especialistas em culturas e línguas estrangeiras, como o acadêmico e especialista em arqueologia Thomas Edward Lawrence, depois mundialmente conhecido como LAWRENCE DA ARABIA, outra scholar e professora de cultura árabe, Gertrude Bell (já fiz aqui dois artigos sobre ela), que era a chefe de Lawrence e desenhou com régua as fronteiras do Oriente Médio. Finalmente saiu no ano passado o filme de Hollywood sobre Gertrude Bell, A RAINHA DO DESERTO, com Nicole Kidman no papel título.

O MI6 começou como uma seção do Comitê Imperial de Defesa e seu objetivo era coletar informações sobre a capacidade bélica da Alemanha. Seu primeiro chefe foi o Capitão de Marinha, Mansfield Cumming, que atravessou a Grande Guerra e chefiou até 1923, sucedido pelo Almirante Hugh Sinclair até 1939. No crítico período da Segunda Guerra, assumiu o General Stewart Menzies, que ficou até 1962, figura lendária sob a qual o maior feito do MI6 se realizou com a quebra do código alemão de transmissão de ordens militares.

Na Escola de Cifras de Bletchley Park, foi decifrado o código alemão ULTRA, através da captura em um submarino da máquina de cifragem ENIGMA, com o que todos os cabogramas alemães puderam ser lidos online, a partir de 1942, um arma fundamental para os Aliados na Segunda Guerra, e que decidiu batalhas e preveniu ataques do Terceiro Reich.

Outro método do MI6 era a infiltração nos altos comandos e cúpulas de países alvo. O serviço tinha infiltrados no OKW – Alto Comando das Forças Armadas e no OKH – Comando do Exército da Alemanha, cuja identidade até hoje é desconhecida. A infiltração é uma técnica que o MI6 operou com maestria a tal ponto que também foi vítima dela com o famoso caso Philby, quando um de seus mais altos funcionários de carreira, Kim Philby,  já era espião soviético, quando entrou no serviço e chegou a chefiar a seção de contra espionagem do MI6.

Já relatei aqui várias vezes o Caso Philby, que terminou com Kim Philby fugindo para Moscou onde se aposentou como General da KGB, um desastre monumental para o MI6 e que atingiu sua reputação.

O MI6 é completamente diferente da CIA, serviço muito mais novo e de recursos infinitamente maiores, mas que não tem a história, o nível e o charme do MI6, romantizado nos filmes de James Bond e nos livros de John Le Carré e Frederick Forsyth, foram dezenas de romances produzidos por esses autores, ambos ex-agentes do MI6.

Ao contrário do que alguns pensam, o MI6 continua super ativo e repaginado, com estruturas tecnológicas de primeira categoria. Não se esquecer que o computador foi inventado por um cientista do MI6 e seu primeiro uso eficiente foi na Escola de Cifras de Bletchley Park.

Diferente da CIA, subordinada diretamente ao Presidente dos EUA, o MI6 é hoje subordinado ao Foreing Office, o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, mas os agentes em cada país não são subordinados aos embaixadores, que sequer sabem quem são, ao contrário da CIA, onde os residentes são muitas vezes locados dentro das embaixadas.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. E imaginar que pra entrar pra

    E imaginar que pra entrar pra ABIN vc tem que fazer concurso público. Realmente estamos longe de ter um serviço de INTELIGÊNCIA digno desse nome.

  2. SIS ( MI-6 )

       A criação do SIS, ou MI-6, em 1909, centralizou em uma unica agencia os serviços de inteligência externa britanicos, que se encontravam espalhados por varios departamentos.

       Sempre operou em bases de recrutamento bem diferentes da CIA  e seus “adidos diplomaticos”, a “fauna” do MI-6 é muito mais variada, já utilizou desde jornalistas e até biologos como Victor Rothschild ( que durante anos foi suspeito de ser o “5o homem ” , que Gordievsky após sua fuga afirmou que era John Cairncross ).

        Um serviço de inteligência externa, montado a semelhança do SIS, é o Mossad.

        Um artigo interessante sobre os rpimórdios da espionagem britanica: http://www.thedearsurprise.com/espionage-during-napoleonic-wars/ e a vida do TenCel Colquhon Grant , o “espião” do Duque de Wellington.

  3. E……………………..

    O AA se supera em detalhes sobre estes temas que mexem com nossa imaginação.

    Mas, sem qualquer comparação, ainda existe  ABIN ?

    Neste tempos de cólera, o que um dirigente precisa com urgência é de um serviço de inteligência eficiente, senão………….

  4. Não devemos esquecer de

    Não devemos esquecer de mencionar a grande contribuição dos poloneses para que o segredo da máquina enigma fosse descoberto. 

  5. Achei sua materia sensacional. O bacana é uma jornalista tão jovem se interessar por um assunto altamente intrigante, mas da primeira metade do século passado. Pra galera apaixonada pelo assunto, indico um livro chamado “ENIGMA – O Segredo de Hitler”, de F. W. Winterbotham, da Biblioteca do Exército – Editora, Publicação 482, Volume 161, de 1978, da coleção do meu pai, oficial do EB, e que era assinante BIBLIEX. Detalhe, cheguei até aqui, por uma citação da jornalista investigativa espanhola, Cristina Martin Jiménez, sobre o MI6, em sua obra, “Os Donos do Mundo”, que ninguém pode deixar de ler. Patricia agradeço e gostaria de receber mais informações sobre assuntos análogos.

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