Nordeste era crucial para defesa dos Estados Unidos contra invasão soviética, diz relatório da CIA

Soldados americanos em Natal (RN) durante a Segunda Guerra Mundial 

Jornal GGN – Entre os 800 mil arquivos secretos tornados públicos nesta semana pela CIA, está um relatório intitulado “O fortalecimento econômico-militar do Brasil: fator de importância central para a segurança dos EUA e do mundo democrático”, que aponta a região Nordeste como crucial para a defesa dos Estados Unidos em uma hipotético ataque da União Soviética.

O relatório não tem data precisa, mas possivelmente foi elaborado nos anos 1950. Nele, o Nordeste é considerado tão importante quanto o Canadá e o Canal do Panamá.

Além disso, o documento também propõe medidas de aproximação entre Brasil e EUA, como a criação de órgão de contrapropaganda para combater a influência da URSS e a “eliminação ou neutralização” de grupos comunistas presentes em “todo o país e em diferentes esferas do governo”.

Leia mais abaixo:

Da BBC

Para CIA, Nordeste era crucial para defender EUA de ataque soviético

Após ocupar o Leste Europeu, os soviéticos agora avançam pelo Hemisfério Sul. As tropas comunistas invadem a Austrália, ocupam a África e de lá partem para a conquista do território de onde lançarão a ofensiva final contra os Estados Unidos: o Nordeste do Brasil.

O cenário hipotético é narrado em um relatório da CIA (agência de inteligência dos EUA) divulgado nesta semana, entre cerca de 800 mil documentos que vieram à tona após uma longo processo movido por defensores do livre acesso à informação.

Intitulado “O fortalecimento econômico-militar do Brasil: fator de importância central para a segurança dos EUA e do mundo democrático”, o documento de 33 páginas destaca o papel que o Nordeste poderia ter em um eventual confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética na Guerra Fria.

Separada da costa africana por apenas 3 mil quilômetros, a região é descrita no relatório como sujeita a conflitos sociais e um “potencial centro de agitação e disseminação de ideais comunistas”, mas considerada crucial para a defesa do Atlântico-Sul e dos Estados Unidos em caso de um ataque russo a partir da África.

Segundo a CIA, o Nordeste era tão importante para a segurança dos EUA quanto o Canadá e o Canal do Panamá, a conexão marítima entre o Atlântico e o Pacífico. A agência cita o general francês Lionel Max-Chassin, para quem uma hipotética ofensiva soviética contra os EUA incluiria ataques a partir do Ártico e da “faixa costeira entre Natal e a Bahia”.

“Um segundo movimento, precedendo a invasão final, pode se voltar à conquista da zona de Cuba e do México, no sul, e da Terra Nova e Labrador, no norte. Só na última etapa uma ofensiva generalizada seria lançada contra o coração da força naval”, diz o general.

Não é possível identificar a data do relatório, divulgado apenas parcialmente. Porém, eventos citados no texto indicam que ele foi elaborado na década de 1950, quando as duas potências se armavam para um possível conflito.

A Guerra Fria, como o período ficou conhecido, só se encerrou com o colapso da União Soviética, nos anos 1990.

Contrapropaganda e modernização

O documento defendia duas linhas de ação para aproximar Brasil e Estados Unidos e impedir a infiltração comunista em terras brasileiras.

No campo ideológico, a CIA sugeria a criação de um órgão de contrapropaganda para combater a influência soviética e a “eliminação ou neutralização” de grupos comunistas presentes em “todo o país e em diferentes esferas do governo”.

Na economia, defendia sanar os problemas que impediam o desenvolvimento do Brasil e que poderiam facilitar a disseminação do comunismo no país, como o “atraso cultural”, a pobreza e a “politização das massas por agentes comunistas”.

Entre as ações que a agência considerava essenciais estavam modernizar a agricultura brasileira, difundir a energia hidrelétrica e ampliar a produção de combustíveis fósseis.

Se recebesse o apoio militar devido, diz a CIA, o Brasil poderia assumir integralmente a defesa do Nordeste, do Atlântico-Sul e até participar de batalhas contra os soviéticos na Europa.

“Com uma população de cerca de 53 milhões de habitantes, o Brasil está em posição de mobilizar, num tempo razoável, entre 20 e 25 divisões de infantaria (de 400 e 500 mil homens), sem afetar muito sua economia interna”, calculava o órgão.

Se, porém, os dois países não se aproximassem voluntariamente, o relatório diz que “isso obviamente levaria a uma intervenção dos EUA no território brasileiro em caso de um conflito com a Rússia”.

Intervenções e Segunda Guerra

Os Estados Unidos passam a considerar o Brasil e a América Latina como parte de sua zona de segurança com a Doutrina Monroe, de 1823, que buscava restringir a ação de potências europeias nas Américas.

Outro passo foi dado em 1904 com o Corolário Roosevelt e a política do “Big Stick” (grande porrete, em português), com os quais os EUA passaram a justificar intervenções militares para preservar seus interesses na região.

Poupado de interferências mais agudas como as experimentadas por alguns vizinhos, o Brasil estreitou os laços com os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao se unir aos Aliados contra Alemanha, Itália e Japão.

Soldados brasileiros são enviados à Itália, e o Brasil passa a abastecer a indústria bélica dos EUA com borracha e outras matérias-primas. No início dos anos 1940, Natal se torna a mais movimentada base aérea dos EUA no exterior, ponto de apoio para operações na Ásia, África e Europa.

A parceria deixou uma impressão tão boa nos EUA que, anos após o fim da guerra, a CIA defendeu repeti-la diante da ameaça soviética.

No fim do relatório, a agência afirma que Brasil e EUA “devem representar os últimos bastiões da liberdade, reafirmando a tradição histórica de aliados leais e sinceros”.

“Acreditamos na sobrevivência das forças espirituais, do poder da fé e da doutrina cristã, e é por essa razão que nos devotamos a esta nova cruzada, que irá, certamente, confirmar uma vez mais o triunfo das forças da cultura e da civilização sobre as forças materialistas [soviéticas]”, conclui o documento.

Redação

13 Comentários

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  1. Cadê os críticos das teorias de conspiração ?

    Quando se fala certas coisas aparecem logo os céticos de plantão, que só acreditam no que o Bonner diz. É evidente que um país com essa importância estratégica só tem dois caminhos: usá-la de forma inteligente para conseguir se desenvolver ou então se tornar uma colônia manipulada e joguete nas mãos deles.

    O Brasil historicamente optou pela segunda hipótese, inclusive com vários golpes para destruir governos que desejavam optar pela primeira situação.

    1. Isso porque há muitos que são

      Isso porque há muitos que são pagos para afirmar diuturnamente que o Brasil é irrelevante e, agora, até os bilhoes de barris de petroleo nada valem porque logo ali em 2090 o petroleo será uma fonte de energia descartada porque o homem encontrou outras fontes de energia limpas e baratas. E a classe media acredita piamente nessas duas mentiras.

  2. “Acreditamos na sobrevivência

    “Acreditamos na sobrevivência das forças espirituais, do poder da fé e da doutrina cristã, e é por essa razão que nos devotamos a esta nova cruzada, que irá, certamente, confirmar uma vez mais o triunfo das forças da cultura e da civilização sobre as forças materialistas [soviéticas]”

     

    Ass: Deltan Dallagnol

  3. Como os serviços de “inteligência” poem dinheiro fora do …….

    Como os serviços de “inteligência” poem dinheiro fora do contribuinte norte-americano!

    Este cenário de ocupação da África, Oceania e provavelmente toda a Europa estaria ocupado praticamente 80% de todo o mundo, depois disto tentariam ocupar o Nordeste Brasileiro (?), realmente é totalmente bizarro, isto só demonstra como estes serviços de Inteligência não são nada inteligentes, pois qual seria o sentido de resguardar o nordeste brasileiro depois do mundo praticamente dominado, se ocorresse o cenário praticamente a guerra de ocupação, totalmente improvável, já estaria ganha pelas forças “comunistas”.

    O que deve ter acontecido que os agentes pediram seis meses para supervisionar as praias brasileiras por conta do contribuinte norte-americano! E com a família inteira para disfarçar a sua presença!

  4. A produção de documentos de

    A produção de documentos de análise de possíveis cenários é uma prática comum nos serviços de inteligencia e informação. Há, portanto, centenas de funcionários produzindo material deste tipo o tempo todo.

    Quando se supeita de um certo movimento internacional em alguma direção específica, alça-se mão destas análises feitas previamente de modo  a dar subsídios para a tomada de decisões.

    Nenhuma novidade.

    Não significa nem mesmo que alguém de importância institucional sequer leu seu conteúdo.

    Trata-se, portanto, de um documento inócuo sem que o apoiem elementos de decisões políticas decorrentes desta análise.

    Para entender e levar a sério esta análise, é preciso pesquisar profundamente as ações políticas da época que permitam a ligação deste documento a elas.

    Abraços generalizados!

    1. Você está de bricadeira, né

      Você está de bricadeira, né cara?

      A possível produção do relatório, é da decada de 50. Em 1954 temos o suícidio de Vargas, em 1955 a tentativa de golpe em Jucelino. Através  de uma campanha escrota da UDN a vitória do Janio Quadros em 1961 e sua renuncia por motivos ocultos.

      E em 1964 o golpe civil MILITAR! no Jango, com a quarta frota, chegando no nosso litoral. Todos as vitimas acusadas de comunismo até o Vargas…e esse relatório da CIA e só uma bobeirinha! igual os grampos na Dilma e Petrobrás.

      1. Os grampos na Dilma e Petrobras não são “bobeirinha”

        Cara Eliane.

        Vc relata fatos históricos relevantes e há outros ainda que refletem, tão vivamente ou mais, os movimentos da guerra fria nas Américas Central e do Sul. Isto por si só não mostra a relação deste documento com eles.

        Só é preciso um pouco de formalismo na análise de um documento liberado pela própria CIA para consulta….!

        É isso!

  5. Às vezes dá até para

    Às vezes dá até para acreditar em documentários dos EUA, como o que diz que a política externa daquele país é motivada, mais do que por cobiça, por medo mesmo, com o se as pessoas que detêm o poder econômico de lá fossem mesmo paranóicas:

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=LDn1rXWDAhg%5D

    Michael Moore, Bowling for Columbine (Tiros em Columbine, no Brasil), 2002, ou seja, antes do golpe de 2008 nos países, exceto, talvez, a Islândia…

  6. Esse trecho é o Governo

    Esse trecho é o Governo Lula: Entre as ações que a agência considerava essenciais estavam modernizar a agricultura brasileira, difundir a energia hidrelétrica e ampliar a produção de combustíveis fósseis.

    Ou seja a elite entreguista sempre manteve o país na miséria por que quis.

  7. Todo mundo já sabia disto…

    Mas tem o lance da sabotagem do primeiro foguete brasileiro que ainda não foi solucionado.

    Daqui há 60 anos divulgam…

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