Nós, todos negros brasileiros…

Por Odonir Oliveira

Poetas, jornalistas, educadores, formadores de opinião. Quem somos? Quem está nessa luta? Ainda.

Não tenho pele negra, mas tenho numa pele a alma dos injustiçados, aviltados, depreciados, desmerecidos e sofridos, dentro de mim. Por isso, talvez, não seja de leveza constatável, apreciável e saboreável, como são as frutas leves da estação.

Tenho as dores de muitos em mim.

https://www.youtube.com/watch?v=eyzPEL0bpiM

SOLANO TRINDADE 

CANTO DOS PALMARES (trechos)

Ainda sou poeta
meu poema
levanta os meus irmãos.
Minhas amadas
se preparam para a luta,
os tambores
não são mais pacíficos
até as palmeiras
têm amor à liberdade.

POEMA AUTOBIOGRÁFICO

Quando eu nasci,
Meu pai batia sola,
Minha mana pisava milho no pilão,
Para o angu das manhãs…
Portanto eu venho da massa,
Eu sou um trabalhador… 
Ouvi o ritmo das máquinas,
E o borbulhar das caldeiras…
Obedeci ao chamado das sirenes…
Morei num mucambo do “”Bode””,
E hoje moro num barraco na Saúde… 
Não mudei nada…
OLORUM ÈKE 

Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu sou poeta do povo
Olorum Ekê 
A minha bandeira
É de cor de sangue
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Da cor da revolução
Olorum Ekê 
Meus avós foram escravos
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu ainda escravo sou
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Os meus filhos não serão
Olorum Ekê
Olorum Ekê 

(Olorum Ekê: “povo do Santo forte”, termo Iorubá.)

NEM SÓ DE POESIA VIVE O POETA 

Nem só de poesia vive o poeta
há o “fim do mês”
o agasalho
a farmácia
a pinga
o tempo ruim, com chuva
alguém nos olhando
policialescamente
De vez em quando
um pouco de poesia
uma conta atrasada
um cobrador exigente
um trabalho mal pago
uma fome
um discurso à moda Ruy
E às vezes uma mulher fazendo carinho
Hoje a lua não é mais dos poetas
Hoje a lua é dos astronautas.” 
(poema inédito até 2008, quando foi revelado por sua filha Raquel)

GRAVATA COLORIDA

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada…

JOSÉ DO PATROCÍNIO

José Carlos do Patrocínio era filho de uma escrava alforriada e do cônego João Monteiro. Aos 14 anos deixou a fazenda da família para tentar a vida no Rio de Janeiro, onde chegou a ingressar na Escola de Medicina. Ao fim de alguns anos, porém, abandonou o curso e formou-se em farmácia, em 1874.

Ainda estudante , fundou uma revista mensal, “Os Ferrões”, onde começou a revelar seu talento como polemista que o tornaria famoso. Em 1877, ingressou na redação de “A Gazeta de Notícias”, onde escreveu diversos artigos de propaganda abolicionista.

Em 1881, com dinheiro emprestado pelo sogro, adquiriu a “Gazeta da Tarde”, à frente da qual permaneceu por seis anos. Neste jornal, deu início à campanha abolicionista. Em 1887, fundou a “Cidade do Rio”, onde intensificou os ataques à política escravocrata.

Não se limitou a lutar apenas por escrito pelo abolicionismo. Realizou conferências públicas, ajudou a fuga de muitos escravos, organizou núcleos abolicionistas, militando ativamente até o triunfo da causa, em 13 de maio de 1888.

Seu prestígio imenso durante os últimos anos do Império decaiu após a proclamação da República, quando passou a lutar por um programa liberal. Acabou afastado da vida pública. Seu jornal, “Cidade do Rio de Janeiro”, foi interditado e ele deportado para Cucuí, no Amazonas, sob a acusação de ter participado de uma revolta contra o governo de Floriano Peixoto.

Libertado pouco tempo depois, afastou-se da vida pública, colaborando esporadicamente na imprensa. Nos últimos anos de vida interessou-se pela navegação aérea, chegando a construir um aeróstato denominado Santa Cruz.

Patrocínio também escreveu obras de ficção, mas sem a repercussão nem o talento do jornalista. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de no. 21, que tinha Joaquim Serra como patrono.

JOAQUIM NABUCO

As ideias abolicionistas tiveram ampla penetração na sociedade brasileira a partir da década de 1870, conquistando políticos como Joaquim Nabuco, poetas como Castro Alves e artistas gráficos como Angelo Agostini. Agostini fundou diversas publicações – entre elas, a “Revista Illustrada” , que atacavam as elites escravocratas. Na edição, a capa da revista comemora a promulgação da Lei Áurea.

CASTRO ALVES

ANDRÉ REBOUÇAS

O engenheiro André Rebouças, em retrato pintado por Rodolfo Bernardelli. Rebouças se engajou na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora

LUÍS GAMA

Como advogado, Luís Gama (foto) conseguiu libertar mais de 500 escravos. Desenvolveu também uma intensa atividade abolicionista no jornalismo. Ao lado de Angelo Agostini, fundou o jornal satírico “Diabo Coxo”, pioneiro da imprensa humorística no Brasil

CONTRASTES

Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Orléans e Bragança era o nome completo da princesa Isabel, depois de seu casamento com Gaston d´Orléans, o conde d´Eu 

O apoio de Dom Pedro 2º ao abolicionismo desagradou os escravocratas, aproximando-os do movimento republicano e contribuindo para o fim do Império. A ideia republicana passava a simbolizar, para os fazendeiros, a possibilidade de manter seus privilégios ameaçados pelo reformismo dos abolicionistas monárquicos.

 

Fontes:

Informações de UOL Educação.

http://blogdoitarcio2.blogspot.com.br/2013/09/5-poemas-de-solano-trindad…

Fotos da internet 

Redação

19 Comentários

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  1. “O grande desafio”- ( Os debatedores) Não viu? Não perca

    Melvin Thompson (Denzel Washington) é um brilhante professor e amante das palavras. Embora tenha convicções políticas que possam atrapalhar sua carreira, ele decide apostar nos seus alunos para formar um grupo de debatedores e colocar a pequena Wiley College, do Texas, no circuito dos campeonatos entre as universidades. Mas o seu maior objetivo é enfrentar a tradição de Harvard diante de uma enorme plateia. Inspirado em fatos reais.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=YKeJXemD9wI%5D

    1. Obrigada, Lionel

      Se há alguém que aprende aqui. Sou eu.

      Política, então… caramba.

      Ontem escrevi (a propósito de um comentário de Militão no post :https://jornalggn.com.br/blog/urariano-mota/a-consciencia-de-ser-negro-no-brasil-por-urariano-mota

      “Não somos.(negros)

      Somos brasileiros.

      Não tenho a pele negra. Por quê? Não interessa. Meu avô paterno tinha. Meu avô materno não tinha.

      Dane-se isso.

      Sou negra. Sou brasileira.”

      Carlinhos Brown (um brasileiro do Candyall)

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=hbgyWpy42ns%5D

       

  2. Ôooooooo … donir

    Finalmente aqui. Para aprender com a professora-rainha do GGN. Quantos presentes! Meu Natal já está completo, embora Nabuco já bastaria. Ontem, feriado em São Paulo, fui procurar municípios no estado onde pudesse amassar barro. Consegui. Agora te leio, tomo uma cachaça paraibana com uma cevada e, ansioso, espero conseguir acordar às 15h para assistir Real e Barcelona, que junto à literatura, aos prazeres etílicos e gastronômicos, e a consciência de que essa ‘ricaiada’ está a ferrar com o planeta, ainda me fascinam. Obrigado pelo presente NEGRO!

    1. Agora que vi …

      Que merda é essa de 4 estrelas e não 5, esta instituição torta do Nassif? Você mereceu constelações. Bem, melhor parar na quinta dose, caso não sobra ninguém!

      1. Amigo, Rui, tô no vinho aqui

        Vou parar nessa taça agora. A última.

        Meu lindo Milton (dos tempos em que eu ainda acreditava em discos-voadores que viessem salvar mocinhas em castelos e fossos etc. etc.)

        Cá, pra nós, voltei a acreditar. Não revelem a outros habitantes. De Marte, por exemplo. Porque cá, já o sabem.

        Curta o jogo, amigo Rui.

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=IDAAnisPiB8%5D

         

  3. Importante lembrar a contribuição e os destaques…

    …apesar de toda uma sociedade de um racismo velado ou aberto.

    Porém, fico triste ao não ver posts, poesia, bandeira, manifestações, passeatas, gritos pela humanização dos presídios brasileiros. Somos, continuamos confortavelmente omissos, cúmplices .

    Mas, somos pessoas de bem, concientizadas, politizadas, humanistas, de esquerda-direita-ou de centro. – SOMOS?

    1. Sim, todos somos afrodescendentes:

      “Todos somos afrodescendentes. O homem não surgiu na África?”

      –  Giba-Giba ,artista, cantor e compositor gaúcho, por um acaso negro. ( filme-doc. q passou na TV Brasil ou foi no canal CURTA! E talvez tenha na web).

      Pela Raça Humana e pela Humanização dos Presídios Brasileiros

      1. Marilene Felinto tem umas coisas a dizer sobre o tema

        “A categorização por minorias é a maneira civilizada de continuar a segregação nos Estados Unidos” – subtítulo de uma sssua reportagem especial num jornal. Como uma vez respondi a Militão, não reproduzo aqui e em nenhum lugar, porque ela uma vez me desautorizou por email (ao me dirigir a ela, sabendo que renega tudo o que publicou na grande imprensa, mesmo esse importante artigo, mesmo muitas de suas corajosíssimas , tocantes e poéticas crônicas, muito bem escritas).

        http://marilenefelinto.com.br

        https://midiafazmal.wordpress.com/

      1. Pernambuco tem o pior índice de presos por cela

        toda a imprensa, grande ou alterrnativa, leitores de pequenas notas sobre o assunto, todos sabemos disso. Quem de nós enveredaria por caminhos diferentes, tendo nascido na mais do que sabida realidade miserável brasileira? Exceções.

        Que venham posts, postagens.

        (Este aqui pode ser um, não me contive, Odonir, ao fugir do tema de teu post-destacado).

        Quer dizer, não acho que eu tenha saído do tema.

    1. “O racismo persiste e escolhe seus alvos pela aparência física”

      De acordo com Kabengele Munanga, apesar da inexistência de raças biológicas e da ideia da mestiçagem brasileira, o racismo persiste e escolhe seus alvos pela aparência física.

       

      Com frequência o argumento de que o Brasil é um país mestiço, onde não se pode definir quem é branco e quem é negro, é utilizado para negar a existência do racismo brasileiro e, em consequência, para desconstruir as lutas de combate ao preconceito racial e à implementação de políticas públicas com esta finalidade, como, por exemplo, o sistema de cotas raciais nas universidades públicas. De acordo com Kabengele Munanga, essa justificativa cai por terra quando se examina mais de perto o cotidiano das relações sociais brasileiras e o perfil da população do país. “As diferenças fenotípicas são inegáveis. Prova disso: os policiais não têm dúvida para distinguir brancos e negros. A dificuldade de distinguir ambos está somente no olhar ‘mentiroso’ de alguns estudiosos, políticos e midiáticos. Como explicar o racismo à brasileira se as pessoas não sabem distinguir negros e brancos por causa da miscigenação?”, provoca.

      O antropólogo afirma, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, que no país, apesar desse contexto racializado, ainda há a crença de que a desigualdade de classe é o principal fator de discriminação dos negros. “Alguns, por inércia do mito de democracia racial, continuam a acreditar que a classe socioeconômica é o único critério de discriminação dos negros no Brasil. No entanto, é pela geografia dos corpos que somos vistos e percebidos antes de descobrir nossas classes sociais”, explica. E ainda questiona: “Como um policial enxergaria o professor Kabengele Munanga de passagem na periferia de qualquer cidade brasileira? Pela cor da pele ou pela classe social?”

      Falando a partir do ponto de vista de quem é espectador, mas também vivenciou e vivencia os cenários raciais do outro lado do atlântico negro, no Congo, e do Brasil, Munanga aponta a importância de conhecermos nossas próprias origens, nosso lugar no país e no mundo. “Quem somos, de onde viemos e por onde vamos? Sem a consciência de quem somos na formação histórica do Brasil não existimos política e coletivamente. Consequentemente não podemos nos mobilizar ou nos organizar para reivindicar nossos direitos na sociedade ou lutar para a transformação da sociedade. Aqui está o conteúdo político-ideológico da consciência identitária, que constitui coletivamente uma plataforma de mobilização política”, frisa.

      Kabengele Munanga nasceu na República Democrática do Congo, onde se graduou em Antropologia Cultural pela Universidade Oficial do Congo, na cidade de Lubumbashi, instituição em que trabalhou como professor e pesquisador. Em meados da década de 1970 iniciou o curso de doutorado em Antropologia na Universidade de Louvain, na Bélgica. Entretanto, em função do contexto político congolês, que passava por um período ditatorial na época, não pôde concluir seus estudos. Em 1974, a partir de um convênio entre a Universidade de São Paulo – USP e a Universidade Oficial do Congo, o pesquisador foi convidado a retomar seus estudos no Brasil pelo professor Fernando Mourão, do departamento de Sociologia da USP e então vice-diretor do Centro de Estudos Africanos na universidade. No ano de 1977 conclui o doutorado em Antropologia Social pela USP e retorna ao Congo. No entanto, no final da década de 1970 Kabengele Munanga se exila no Brasil em função da situação política de seu país. Mais tarde se naturaliza brasileiro. Atualmente é professor pesquisador sênior da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB e da USP, onde também obteve livre-docência em 1997 com o trabalho Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra (Petrópolis: Vozes, 1999).

       

      Ao longo de sua trajetória acadêmica no Brasil, o antropólogo recebeu diversos prêmios e títulos honoríficos, entre os quais a Comenda da Ordem do Mérito Cultural, contribuição aos estudos da cultura brasileira, pela Presidência da República do Brasil; Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores, pelo Palácio do Itamaraty; e Comenda da Ordem do Mérito dos Palmares, Grau de Oficial, pelo Governo do Estado de Alagoas; entre outros. Entre sua vasta produção bibliográfica destacam-se Origens africanas do Brasil contemporâneo: Histórias, línguas, culturas e civilizações (São Paulo: Global, 2009), Superando o racismo na escola (Brasília: Ministério da Educação, Secretaria do Ensino Fundamental, 1999) e Negritude. Usos e Sentidos (São Paulo: Ática, 1986).

      Leia sua entrevista aqui:

      http://www.carosamigos.com.br/index.php/politica/5638-a-preponderante-geografia-dos-corpos

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