O caso do biógrafo falido, por Mário Magalhães

Sugerido por hugo 1


Caixa-preta de um biógrafo falido (debate público, confissões privadas)

Mário Magalhães

Em 2003, quando abandonei minha confortável vida de jornalista de redação, alguns amigos supuseram que eu ficara maluco. Trocar a segurança do ótimo salário e o prestígio de repórter de grande jornal pela aventura de me tornar biógrafo não passaria disso mesmo: uma aventura. Ao saberem que o meu personagem seria um brasileiro maldito, castigado pelas conspirações do silêncio e do preconceito, tiveram certeza: eu surtara.

Dez anos depois, desconfio de que os amigos estavam certos. Porém, numa contradição aparente, não me arrependo do rumo tomado: dediquei nove anos de trabalho insano a preparar uma biografia não autorizada do revolucionário Carlos Marighella (1911-69). Por cinco anos e nove meses, cuidei exclusivamente do livro, sem outra fonte de renda digna de nota.

Até agora, considerava que os perrengues enfrentados, decorrentes da minha decisão, constituíam assunto da esfera privada. Diante do debate público sobre restrições à publicação de biografias, penso que se torna legítimo contar um pouco do meu sufoco. “Editores e biógrafos ganham fortunas”, afirmou Djavan (leia aqui). Será?

O que eu fiz nos nove anos mergulhado no livro: entrevistei 256 pessoas, algumas por dezenas de horas, em várias sessões, viajando para cá e para lá; consultei dezenas de milhares de páginas de documentos, boa parte secreta na origem _os papéis e as fotografias são oriundos de 32 arquivos públicos e privados de Brasil, Paraguai, Estados Unidos, República Tcheca e Rússia; devorei uma bibliografia de 500 títulos; organizei 2.580 notas sobre fontes, agrupadas ao fim do volume; escrevi e reescrevi obsessivamente, em busca da minha utopia literária: uma narrativa de tirar o fôlego, assim como havia sido de tirar o fôlego a vida do protagonista.

Com exceção de uma pequena, mas valiosa e reconhecida ajuda da Companhia das Letras, banquei tudo do próprio bolso: passagens aéreas, hospedagens, pesquisadores auxiliares em Salvador, São Paulo, Campinas e Moscou, profissionais qualificados na transcrição de quase mil horas de gravação, serviços de conversão de microfilmes em imagem digital e muito, muito mais. Sem eliminar as despesas de uma família de classe média carioca, com três filhos em idade escolar, da universidade privada à pré-escola idem (o caçula nasceu durante a elaboração da biografia).

Graças a muita gente a quem serei grato até o meu derradeiro suspiro, o livro foi bem-sucedido. A crítica recebeu-o generosamente, tanto a acadêmica quanto a jornalística. A Associação Paulista de Críticos de Arte premiou-o como a melhor biografia de 2012. O ator Wagner Moura e a O2, produtora do cineasta Fernando Meirelles, arremataram os direitos de adaptação para o cinema. Sob a direção de Wagner, o filme deve chegar às telas em 2016.

Nada superou a boa vontade e o carinho dos leitores. Nas livrarias desde outubro de 2012, “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” alcançou quatro reimpressões. Ao todo, já saíram 30 mil exemplares, no país em que a tiragem padrão oscila de 2.000 a 3.000 cópias.

Com todos esses triunfos, a conta é esta, na ponta do lápis e no teclado da calculadora: somando os direitos autorais a que tive direito pelos livros vendidos e a remuneração que receberei pela cessão da biografia para o cinema, o valor representa nanicos 15% do total dos salários de que eu abri mão ao me despedir do jornal. Não me enganei: quinze por cento. Voluntariamente, perdi ou deixei de ganhar 85 em cada 100 reais.

O cálculo é conservador, pois não inclui antigos benefícios, como participação nos lucros da empresa e automóvel zero quilômetro subsidiado.

Para que eu embolsasse o equivalente a um terço (e não 100%) dos salários que teria acumulado em 69 meses, “Marighella” precisaria vender cinco vezes mais do que já vendeu. A meta é irreal, como tem consciência qualquer editor júnior.

O balanço está incompleto. Para trabalhar só no livro, exterminei o respeitável pé-de-meia engordado desde 1986, quando dei os primeiros passos no jornalismo. Lancei-me à biografia em 2003. Quando meu dinheiro acabou, no segundo semestre de 2006, regressei ao jornal, do qual saí de vez em janeiro de 2010: sem dedicação exclusiva, não conseguiria concluir “Marighella”, pelo menos não o “Marighella” que eu escrevi.

Nesses nove anos, o padrão de vida aqui em casa decaiu. Como o pessoal tem os corações imensos, desses que comovem até almas brutas, ninguém se queixou. O vermelho tingiu meus extratos de conta corrente. Tivemos que fazer um empréstimo bancário. Um, não: três. Só pude ficar por conta do livro até o fim do ano passado porque a minha mulher, jornalista assalariada, segurou as pontas.

Chororô? Qual nada! Jamais fui tão feliz no jornalismo como nessa década investigando e narrando as estripulias do mulato baiano. Mas nunca mais vou topar uma empreitada semelhante, porque já impus sacrifícios demasiados a quem me ama e é retribuído intensamente.

Pessoal da censura

O modesto resultado financeiro do livro, a despeito do êxito de público e de crítica, não me surpreendeu, confesso. Eu já sabia que seria assim. Por que, então, fiz o que fiz? Por dois motivos, acredite quem quiser.

Primeiro, padeço de uma irrecuperável perversão de caráter: o amor patológico pelo jornalismo e, sobretudo, a paixão pelo gênero jornalístico da reportagem. Às vésperas dos meus 40 anos, completados em 2004, eu aspirava a encarar uma reportagem épica, sem as amarras de tempo (para apurar e escrever) e espaço (para publicar) inerentes a um diário impresso.

Segundo, mas não menos importante, e perdoem a ambição desmedida, típica de repórteres por vocação: eu sonhava legar uma história que, daqui a cem anos, contribuísse para que os brasileiros conhecessem o que foi o nosso embriagante século XX. A trajetória de Marighella tinha encantos jornalísticos suplementares: como certa historiografia oficial tentou eliminar seus rastros, e ele mesmo, por questão de sobrevivência, apagava as pegadas, desvendar mistérios insolúveis configurava desafio sedutor demais.

Todo esse esforço teria sido em vão se o espírito público não pautasse os herdeiros de Carlos Marighella, em particular seu filho, Carlos Augusto Marighella, e a viúva, Clara Charf. Jamais lhes pedi autorização para o livro. Não lhes submeti os originais, nem eles pediram para ler. Acolheram-me com fidalguia e entusiasmo, confiaram no meu trabalho. No entanto, se quisessem, poderiam ter impedido a circulação da biografia: a legislação antidemocrática, primitiva e obscurantista em vigor lhes oferece esse direito.

De acordo com o Código Civil, o direito de os cidadãos conhecerem a história é prerrogativa dos biografados e seus descendentes. O Estado não o assegura, para regozijo de políticos corruptos que almejam eternizar o segredo sobre seus atos. O acesso à memória e à verdade são direitos humanos hoje sonegados por normas totalitárias.

Exagero? Se alguém se propuser a escrevinhar uma biografia independente sobre o Cabo Anselmo, o verme que entregou a mulher grávida para os verdugos da ditadura pós-1964 a trucidarem, terá de pedir autorização ao delator.

Sabe o Amarildo, o trabalhador da construção civil que sumiu na Rocinha na noite de 14 de julho? O comandante da Unidade de Polícia Pacificadora na favela era o major Edson Santos, mais tarde indiciado por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Quem quiser produzir uma biografia desse oficial da Polícia Militar só a verá nas estantes das livrarias se o major consentir. São elogiáveis as iniciativas para amparar materialmente a família do Amarildo, mas abomináveis os lobbies em favor de uma legislação que asfixia (como o saco plástico do Bope) e eletrocuta (como policiais procediam com moradores da Rocinha) biografias de torturadores e matadores.

Que tipo de biografia resulta desse sistema? Rame-rames laudatórios.

A ordem jurídica aceita hoje censura prévia. Quem gosta de censura é ditadura. Todo o malabarismo retórico que busca bloquear o conhecimento público sobre fatos e pessoas de dimensão pública sucumbe diante da seguinte constatação: se aparecer um neto desconhecido de Adolf Hitler no Brasil, teremos de solicitar protocolarmente autorização sua para publicar uma biografia em que o líder nazista seja descrito como genocida.

Só em nosso país, entre as grandes democracias, Hitler seria consagrado como herói, pois só haveria biografias chapas-brancas.

E Paulo César Farias? Uma biografia trombetearia sua postura de empreendedor decente, como exigiria a família, ou apresentaria o inventário de suas falcatruas pelos labirintos da corrupção? Na biografia do PC, o biógrafo teria de cascatear sobre sua morte, inventando que Suzana Marcolino matou-o, como sustentam os irmãos Farias? É assim que o pessoal da censura preconiza que se conte a história do Brasil?

Dudu Braga, filho de Roberto Carlos, indagou no Twitter (aqui): “Na discussão das biografias não autorizadas colocam artistas e esportistas no mesmo saco que ditadores e criminosos?”.

Como assim, “colocam”? Quem defende as restrições existentes é o grupo Procure Saber, no qual reluz Roberto Carlos. A lei não vale para todos? Ou Dudu Braga propõe normas específicas para os artistas, distintas das que governam os demais cidadãos? Na escravidão era assim.

O estatuto atual, com o respaldo do Procure Saber, protege, sim, ditadores e criminosos. Quem procurar saber da barbárie comandada por tiranos terá de recorrer a publicações estrangeiras, porque suas biografias terão sido abortadas no Brasil, com amparo legal.

Biografia nunca mais?

Escrever uma biografia, mesmo de sucesso, é péssimo negócio, ficou demonstrado. Djavan pontificou: “Editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e da indignação”. Qual sofrimento, o de Anselmo ou o de Soledad, a brava guerrilheira que o “cabo” entregou aos carrascos?

Sobre “fortunas”, Djavan incorreu em inverdade, espero que por ignorância, e não desonestidade. Mais: para reparar o “ônus do sofrimento e da indignação” existe a Justiça, à qual pode e deve recorrer quem se julga vítima de crimes como calúnia e violação de privacidade. Como neoarautos da censura prévia, o músico e seus parceiros se associam ao autoritarismo característico de regimes fascistas e stalinistas, e não da democracia.

Na ditadura, batalhávamos todos contra a censura prévia. Continuo na mesma barricada, contra as Donas Solanges, públicas ou privadas. Talvez um dia, vai que por uma biografia não autorizada, venhamos a descobrir por que muitos trocaram de lado mais rápido que a mudança da maré.

Estranho a obsessão do novo pessoal da censura com a poupança dos biógrafos que eles passaram a demonizar. Qual o problema em ganhar dinheiro com trabalho suado e escrupuloso, como eles ganham? A propósito, no meu projeto Marighella não recebi verbas públicas, assumidas ou disfarçadas sob os rótulos de renúncia fiscal, tipo Lei Rouanet. Nem um centavo. E nos seus projetos, Djavan?

O desprezo pelo trabalho alheio é ainda mais escrachado na “sugestão” da empresária Paula Lavigne, voz mais estridente do lobby pró-censura prévia (aqui): “Se alguém quiser escrever uma biografia e publicá-la na internet sem cobrar, tudo bem. O problema é lucrar com isso”.

Tal trabalho escravo, inconstitucional desde o século XIX, fulminaria biografias não autorizadas. Reiterando: biografia escrita por repórter constitui reportagem, que é um gênero do jornalismo. Reportagens de fôlego, como biografias, exigem três condições: a) domínio técnico; b) disposição editorial; c) condições materiais. Se não houver remuneração, proveniente da venda de livros, não há como se dedicar a uma história de vida. A não ser que o autor seja milionário… ou louco.

O Procure Saber também advoga que os biografados _artistas ou não, enquanto a lei valer para todos, sem distinguir castas_ recebam obrigatoriamente percentuais da receita dos livros. O compositor Pedro Luís apoia: “Todo mundo que é ingrediente do sucesso deve ser remunerado. Quem faz a revisão, a capa, não é remunerado? E o assunto do produto, não?”. O Cabo Anselmo agradece pelos caraminguás. Não se esqueçam do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O famigerado torturador não haverá de rejeitar uma biografia camarada.

As propostas exalam menosprezo, quase asco, pelo trabalho que não é seu. Os compositores reivindicam receber dos biógrafos por eventuais livros de que sejam personagens principais, mas não nutrem o hábito de pagar aos personagens que inspiram suas composições. Não têm mesmo que os remunerar, porque as pessoas não dividiram o trabalho de criação. O criador é remunerado, não o objeto que o inspira. Abstenho-me de enumerar uma relação infinda de músicas célebres inspiradas em pessoas de carne e osso.

Registro: nada contraponho a sociedades acordadas livremente entre biógrafos e biografados. Biografias autorizadas, às vezes muito boas, são legítimas como as não autorizadas. A violência institucional é abolir as biografias independentes, nas quais Paulo Maluf não figura como político devotado à decência, e Fernando Collor de Mello não encarna um estadista injustiçado. Haveria jornalismo crítico em uma biografia na qual a família de Benito Mussolini se tornasse sócia do biógrafo?

A legislação em vigor fere o direito de informar e ser informado, viola a liberdade de expressão, institui o monopólio da verdade, atrasa o Brasil. Não se resume a uma contenda entre biógrafos e censores, mas interessa à nação. É tão daninha que numerosos historiadores e jornalistas descartaram biografias promissoras, nocauteados pela intimidação de biografados e herdeiros que só admitem retratos bajuladores.

Para quem amargou tantos sacrifícios, soa ofensiva a acusação, desfraldada ou sutil, de que só se faz biografia para enricar. Mas isso é o de menos. Desgraça, como imaginou o compositor Alceu Valença, será montar no futuro uma nova comissão da verdade para revelar o que poderiam ter contado biografias banidas.

Da minha parte, caríssimo Djavan, seguirei em frente com minha sina de biógrafo de uma biografia só e meu valente Citroën C3, ano 2007.

Desisto de biografias, enquanto perdurarem os ameaçadores garrotes da censura. Maluquice como a que eu cometi, somente uma vez na vida, e olhe lá.

“Marighella” foi minha primeira e, se nada mudar, última biografia.

http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2013/10/11/caixa-preta-de-um-biografo-falido-debate-publico-confissoes-privadas/

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Ver os nomes do Chico e do Milton no grupo de censura…

    me decepcionou muito!

    Mas estou na idade da descoberto de verdades tristes e inesperadas…

  2. Que conversa mais fiada essa

    Que conversa mais fiada essa de dizer que a proibição a bisbilhotagem da vida alheia é “censura”.

    Esse cidadão, pela idade, não conheceu o que é a censura de verdade.

    Mas como vivemos numa epoca de total inversão de valores quem defende o basico direito a privacidade das pessoas fica tachado como defensor da censura e outras besteiras do genero.

    Se a intenção de um biografo é honesta que se apresente a familia ou ao biografado para iniciar sua pesquisa.

    Alias,a familia ou a propria personagem focada sempre serão as fontes mais ricas para qualquer biografia seria.

    Os descendentes ou o biografado devem continuar a ter o direito de impedir mal intencionados, como o que escreveu a biografia de Jose Dirceu, de deturparem  a historia de uma pesoa e, em alguns casos, a propria historia..

    O direito a privacidade foi uma conquista fundamental da civilidade.

    Afinal, são os descendentes os maiores interessados em que os fatos sejam bem contados para que, como diz o post, “daqui a cem anos, contribuírem para que os brasileiros venham conhecer” a propria historia com fidelidade.

    O “biografo” colocou ate o cabo Anselmo no meio da discussão

    Creio não interessar a ninguem conhecer os detalhes da vida intima de alguem tão sinistro.

    Portanto, sugiro que o “jornalista biografo” faça, caso seja capaz, um livro sobre a trajetoria do traidor na vida politica do pais.

    Se o fizer e bem, não estara cometendo nenhum crime e ” no proximo seculo, legando uma contribuição aos brasileiros”. 

  3. Concordo com tudo que está

    Concordo com tudo que está escrito os artistas tem medo do que? Se houver mentiras em uma biografia processe o autor mas im pedir que ela seja publicada é digno do famigerado DIP ou DOPS. Mario Magalhaes teve um trabalhão para fazer a biografia de Marighella  um retrato aprofundado e imparcial (para mim a melhor caracteristica dessa biografia)  Os artistas  desse “PROCURE SABER’ devem ser favoráveis a biografia de politicos ativistas e ditadores mas como são “artistas” acham que estão num patamar superior  e aí sobre eles não pode.Roberto carlos não me surpreende nem Caetano Veloso (nunca foi esquerdista de verdade sempre foi esquivo) Mas o Chico não! Espero que eles mudem de idéia ou do contrário cairão no ridiculo.

  4. Ser figura pública tem também ônus

    Texto impecável do Mário Magalhães. É decepcionante que vários ídolos nossos apóiem a censura prévia a biografias, liderada pela ex- do Caetano. Eles precisam reconhecer que ao decidir ser artistas, se tornam figuras públicas, e figuras públicas devem ser objetos de análise crítica, inclusive na sua vida privada.

  5. rosebuds

    Não sei se essa turma teme a bombástica revelação de algum inconfessável Rosebud ou tá querendo mesmo um caraminguá em cima dos pobres biógrafos.

    É triste ver Chico, Gil, Milton e Caetano formarem ao lado de William “Cidadão Kane” Hearst – que perseguiu Orson Welles o quanto pode.

    Rosebuds de polichinelo…

    -O Rei não está nu, mas tem uma perna mecânica.

    -Com base numa entrevista* concedida por Paula Lavigne podemos concluir que, se  Caetano Veloso transou com uma Paula Lavigne de 13 anos, cometeu estupro de vulnerável.

    -Chico Buarque inventou música no programa “Qual é a música?” – apresentado pelo Blota Júnior – para ganhar um Gordini, e , ainda adolescente travesso, foi pego puxando carro.

    -Narinha, ex-esposa de Erasmo, cometeu suicídio. O mesmo Erasmo parece que teve uma quedinha por Roberta Close.

    -Milton teve um filho com uma socialite paulista.

    *http://www.terra.com.br/istoegente/302/reportagens/capa_paula_lavigne_02.htm

    É melancólico e deprimente ver nossos ídolos abraçarem esse obscurantismo tolo e censório.

    Tenho pra mim que nestes tempos de selvageria das redes sociais, tal comportamento é , no mínimo, contraproducente.

    Dia desses, aparecem os últimos avá canoeiros pra exigir participação em direito autoral de Milton Nascimento, pela faixa 7, do CD 1, do maravilhoso CLUBE DA ESQUINA 2 …

    …Djavan, decerto, apoiaria a reivindicação.

    1. Gostaria de entender qual a

      Gostaria de entender qual a positividade que existe para a sociedade, saber se alguem “teve um filho com uma socialite paulista”, ou uma “quedinha por Roberta Close”?

      Os artistas estão se tornando as grandes vitimas dessa “era digital”.

      Primeiro perderam o direito de receber por seus trabalhos, distribuidos gratuitamente por “piratas”,pela internet.

      Agora querem lhes tirar tambem o direito a privacidade de suas vidas.

      Pobres tempos.

      Quanto desrespeito.

      Tem um”comentarista”, ai em cima, afirmando,com plena convicção, que, ja que os artistas são homens publicos, as intimidades de suas vidas devem ser,igualmente,  publicas.

      “Publico”, meu senhor, é o trabalho do artista, não a sua vida.

      Esse sagrado direito a privacidade deve contemplar a todos os cidadãos.

      É o minimo que se espera de uma sociedade civilizada.

      1. biografias

        “Gostaria de entender qual a positividade que existe para a sociedade, saber se alguem “teve um filho com uma socialite paulista”, ou uma “quedinha por Roberta Close”?”

        Em princípio, concordo com você. Porém, dependendo do biografado e do contexto histórico, tais informações poderiam ser relevantes.

        Os exemplos que dei são meramente anedóticos e são de conhecimento público – alguns, revelados pelos próprios atores.

        Em rigor, o que me preocupa é a inviabilização de quaisquer biografias – mesmo que o biografado seja figura de relevante importância historiográfica.

        Um  exemplo limite: fosse agora no Brasil, Joachim Fest talvez não pudesse lançar a biografia de “Hitler” – um clássico da historiografia.  Bastaria que um parente do biografado discordasse.

        Ainda neste caso específico: maiores informações sobre o possível caso amoroso entre Hitler e sua sobrinha Geli Raubal – misteriosamente morta – seriam historicamente relevantes para maior compreensão sobre um biografado de tamanha importância.

        Repito: não estou preocupado com aventuras amorosas de artistas; preocupo-me tão-somente com a consequência lógica de tanta restrição para possíveis biografias de personagens historicamente mais relevantes.

  6. Mariguella

    Mário Magalhães, li de cabo a rabo ou de fio a pavio o seu excelente (excelente é pouco) livro. 

    Se o biografado, com sua vida intrépida e temerária, pudesse ler o seu livro, decerto exultaria. 

    Literatura de primeira ordem, realmente. 

    Muito obrigado, Mário! 

    A notícia da compra dos direitos para a realização do filme é – como diriam os antigos – alvissareira. 

    Espero que reduza os de certo modo esperados danos nas finanças familiares. 

    Quanto à celeuma sobre a exigência de autorização para produção de biografias, sinceramente ainda não tenho opinião formada, embora tenda a concordar com a sua. 

    Agora, se a argumentação dos potenciais biografados que se insurgiram contra a produção de livros da categoria se limitar ao (pretenso) direito de participação nos resultados monetários das edições, realmente será lamentável!

    Volto ao livro, e de novo agradeço os esforços imensos que empreendeu. Do ponto de vista deste leitor, sei que é pouco, posso lhe dizer que valeu a pena.

    A propósito da obra em si, gostaria, permita-me o abuso, de lhe perguntar sobre a origem regional italiana do pai do Carlos. É que há uma versão, muito provavelmente incorreta, veiculada inclusive no documentário exibido há relativamente pouco tempo, de que ele seria siciliano, e não da Toscana, como se não me engana a memória foi o que o seu livro informou.

    Saudações.  

  7. Ninguém quer que suas

    Ninguém quer que suas mazelas, sua vilanias, suas podridões de caráter, venham a público, até mesmo post mortem.  Ficou na minha memória a tentativa das filhas de Garrincha de impedir via judicial, a venda e circulação da excelente biografia, escrita por Ruy Castro que buscou inclusive nas raízes culturais e familiares de Garrincha, entre outras coisas, o fraco por bebidas alcólicas e o desregramento sexual. 

    Tinha muito pré conceito com biografias, achava-as fruto de sensacionalismose escândalos, tipo de literatura descartável com fins exclusivamente comerciais.  Mudei de opinião quando comecei a ler biografias de personalidades brasileiras, verifiquei o quanto o autor se esmerava em pesquisar, analisar, confrontar depoimentos a fim de checar a veracidade das informações que chegavam ao seu conhecimento.  Assim, caiu por terra a impressão negativa que eu alimentara a respeito de biografias e biógrafos, muito disso, veio das biografias de celebridades americanas, cujo conteúdo versava sobre o uso excessivo de drogas, práticas sexuais bizarras, um número absurdo de parceiros sexuais, taras e toda sorte de excentricidades que visava muito mais chocar que informar. 

    As celebridades brasileiras e suas famílias quando vem o caso, perseguem o biógrafo, tentam desacreditar o autor e sua obra, dando-lhe conotação de escândalos e inverdades com o objetivo de desqualificar a obra, dificultando e impedindo a vendagem.

     Nos Estados Unidos quando há alguma imposição por parte do biografado ou de sua família a biografia circula como sendo biografia não autorizada, isto não quer dizer que a biografia seja uma farsa, apenas o biografado em questão não autorizou o biógrafo, ou não reconheceu os fatos nela relatados como verdadeiros, ou dignos que viessem a público.    

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