Fernando Horta
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O Homem que não gostava de gatos, por Fernando Horta

Mussolini em barba em 1903. O fascismo só acontece com carecas?

O Homem que não gostava de gatos

por Fernando Horta

Benito Amilcare Andrea Mussolini não gostava de gatos. Leonino, nascido na região entre Florença e Milão, mantinha-se sem cabelos em sem barba através de um intrincado processo que envolvia barbeiros escolhidos aleatoriamente, em diferentes momentos para garantir-lhe a segurança. Em 1903, ainda com cabelos e barbas, foi preso na Suíça por incitar uma greve de pedreiros e foi deportado para a Itália onde, até 1912, participou do Partido Fascista Italiano.

Nenhuma das informações acima é importante para a definição do que é o fascismo, contudo, parece que no Brasil de hoje uma parte das pessoas (acadêmicos inclusos) parece afirmar que enquanto um italiano careca de uniforme não começar a discursar aos berros, nós não temos fascismo no Brasil. É um argumento muito semelhante àqueles que dizem que por Mussolini ter feito parte do Partido Socialista Italiano ele era “de esquerda”. Ambas as explicações são baseadas num profundo desconhecimento do que foi o fascismo na Europa. A negação do termo ao Brasil, no entanto, obedece a dois objetivos: (1) desmobilizar a crítica e (2) afirmar que está tudo normal no país, e algumas pessoas na esquerda estão “alucinadas”.

Não gosto do rótulo de alucinado. No Brasil não está tudo normal, e penso que é preciso aprofundar a crítica, neste momento.

Existem várias explicações para o fascismo. O próprio fascismo se declarava uma filosofia libertadora, que pretendia combater a corrupção e unir o “povo” por um país “vitorioso”. Apesar de algumas diferenças, a onda fascista atingiu toda a Europa, incluindo a Inglaterra. Onde ela não obteve força para tomar o poder, mantinha-se como importante partido político e força social. Sempre ligada aos grupos sociais que detinham o poder das armas. Na Itália, por exemplo, a polícia da época (os Carabinieri) era participante ou simpatizante do fascismo desde o seu início. Existem inúmeros relatos e documentos mostrando que estas forças não se mobilizavam para conter ou fazer recuar os fascistas e, na maioria das vezes, os protegiam e permitiam que agredissem outros manifestantes. Esta característica não se resume à Itália, mas está presente em todo o lugar afetado pelo fascismo. Na famosa Batalha de Cable Street (1936), em Londres, é possível ver em fotos e filmagens a polícia protegendo os fascistas e agredindo a população.

A História fala em um “sistema sócio-político” dependente do capitalismo de cunho nacionalista que imperou no período entre-guerras na Europa, estendendo-se ao restante do mundo (especialmente América do Norte e do Sul). A Ciência Política fala em um sistema autocrático, de cunho ditatorial com supremacia do executivo sobre os outros poderes. Existem definições sobre a estética do fascismo, sobre o tipo de filosofia produzida e defendida pelo fascismo, arquitetura e até estudos sobre a influência fascista (e nazista) no desenvolvimento do cinema e da propaganda. A atriz e diretora de cinema Leni Riefensthal, por exemplo, é conhecida pela criação de toda uma estética visual ao exercício do poder de Hitler.

Em “Mil Platôs”, Delleuze e Guattari argumentam pela existência dos “micro-fascismos”. Mostram como, a partir de uma ideia “liberal”, ocorre a degeneração ao fascismo através de micro-violências e rupturas culturais mínimas, quase todas nas micro-esferas de poder individual ou burocrático, que vão se acumulando dentro do tecido social até a formação do sentido de diferença social do fascismo que invariavelmente acaba sendo usado como espaço de atração para o pertencimento do cidadão comum ao movimento. Estas ideias deram origem a uma série de estudos psicológicos (muitos deles baseados nas ideias de Hannah Arendt) que argumentam pela existência de padrões de comportamento que estariam associados a estas micro-rupturas. O narcisismo, o individualismo, um forte sentimento de inadequação social, a não aceitação do outro e do diferente, baixa-auto estima, e etc. Seja como for, a leitura combinada de “A condição humana” e “As origens do Totalitarismo”, ambos de Arendt, oferecem um campo bastante fértil para pensarmos em como a “essência humana” se transmuta em ações políticas através do corpo ou das narrativas, sendo veículo de ideias pessoais que passam a se reconhecer no tecido social, potencializando seus efeitos.

A literatura da década de 50 e 60 sobre o tema, enfatizava a relação entre o indivíduo e os grupos com o argumento de fundo de que uma vez que o indivíduo era engolido pelo grupo – como nos processos nazista e comunista – as degenerações se davam como decorrência social. Assim, argumentava-se que o único caminho para uma sociedade “saudável” era a preponderância do indivíduo e atacava-se toda e qualquer organização coletiva. O centro desta argumentação servia muito bem aos interesses norte-americanos da época, que buscavam igualar nazismo e comunismo e desacreditar sindicatos, associações de classe ou outras formas coletivas de organização dentro dos EUA.

Desde a década de 50 a psicologia vinha fazendo uma série de experimentos para mostrar que o indivíduo não era a catedral santificada das virtudes. Na década de 50, Solomon Asch mostrava que os sentidos e opiniões pessoais eram totalmente influenciados pelas percepções de grupo e que os indivíduos se sentiam amparados e defendidos quando imersos numa “conformidade”. Em 1961, Milgram realizava seu famoso e controvertido estudo sobre obedecer e violentar. Milgram mostrou que indivíduos normais, aparentemente justos e não cruéis eram capazes de infligir dor em outros seres humanos se assim fossem ordenados. Na década de 70 estes estudos foram colocados em teorias maiores como parte do esforço de pesquisa realizado pelos EUA para manter o país livre de “ideologias coletivas”. No fim, descobriu-se que há uma imensa tendência na população para o sadismo e para a violência.

As pesquisas nos EUA afirmavam que a sociedade americana não estava livre de ser tomada por ondas ideológicas como o fascismo. Em realidade, os estudos sugeriam que para conter estes micro-comportamentos violentos era necessário investimento massivo em educação e distribuição de riqueza. O homem, por mais respeitador da lei que fosse, se confrontado com situações de necessidade usava como recurso a violência. Fosse ela física e direta, simbólica ou psicológica.

Hoje o estado da teoria sobre explicação do fascismo é bem avançado. O fascismo se baseia em quatro características sociais: (1) negação da política como forma de resolução dos conflitos humanos; (2) negação da diferença como comportamento socialmente válido; (3) afirmação de um comportamento moral único caracterizado não apenas como desejável, mas obrigatório e (4) não aceitação da figura humana como detentora de direitos naturais. Com estas características rapidamente decorrem as três condições históricas para o surgimento do fascismo: (1) preponderância da ideia de Estado sobre qualquer outra coisa (Salus patriae, suprema lex); (2) corporativismo e uso da violência contra opositores políticos (com especial negação da luta de classes) e (3) ênfase na noção de escassez e de luta por recursos materiais para promover a cisão social.

Como um diagnóstico de uma doença, em que um ou outro sintoma sozinho não qualifica um mal específico, na percepção do fascismo vários dos pontos apontados acima podem ser vistos como características ocasionais (ou mesmo perenes) de algumas sociedades ou grupos. Não se pode tomar a noção exagerada de escassez e de luta por recursos como já caracterizando o fascismo. Assim como a utilização de violência para com opositores políticos, tomada de forma separada, pode ser encontrada em todo período histórico em todas as sociedades.

O problema do Brasil é quando você ouve de deputados no impeachment de 2016 que “in dubio pro societat”, numa clara alusão à ideia do Estado sobre qualquer coisa, em seguida ouve nas manifestações que “os comunistas são vagabundos que querem continuar mamando nas tetas do Estado”. Percebe o aumento absurdo da violência contra homossexuais, negros, mulheres e ativistas de toda a sorte, registra senadores defendendo que se bata de relho em manifestantes, policiais jogando spray de pimenta no rosto da população e dizendo “faço porque eu quero”. Retira de falas de ministros da suprema corte que existe o “uso abusivo das liberdades e do habeas corpus”, e de desembargadores que “se alguém está sendo processado é porque alguma coisa fez”. Médicos falando em “romper a veia para que o capeta abrace ela” e pilotos de aeronave dizendo “abre a janela e joga este lixo daí”. Fica ainda mais claro quando se vê delegados de polícia criando histórias mirabolantes para prender seus desafetos, membros do ministério público falando mais em fé e bíblia do que em lei, e generais exaltando uma pátria de símbolos amorfos (e sem nenhum povo) para pregar a violência.

O fascismo está no Brasil. E de uma forma assustadoramente rápida. Os estamentos que deveriam lhe servir de oposição sucumbiram. Juízes moralistas, punitivistas que falam em “bandidolatria” já estão no espectro do fascismo. Liberais que deixam de defender as liberdades e direitos humanos são fascistas. Políticos que defendem a violência, constrangimento ou mesmo aniquilação dos opositores são fascistas. Manifestantes que exigem “protestos sem partidos” são apenas protofascistas. Nossas instituições ruíram por dentro com uma facilidade impressionante, mas não sem explicação. Os historiadores sempre afirmaram que o fascismo era filho do período entre-guerras. Os psicólogos e sociólogos apenas confirmaram.

O fascismo é filho da ignorância e do medo. No Brasil, o medo de que em uma sociedade igualitária falte “dinheiro” para todos é usado até nas propagandas oficiais de Temer. A noção do “Brasil quebrado financeiramente” é exatamente para induzir o desespero e a luta pelos recursos. Tudo isto com o neo-moralismo evangélico e o apelo evidente ao nosso passado escravocrata. Bertold Brecht afirmava que não há nada mais parecido com um fascista do que um capitalista assustado. A classe média brasileira nunca foi conhecida por seu quilate cultural, nunca foi saudada por sua rigidez legal, nem nunca foi exaltada por seu apreço e defesa pelas liberdades individuais. Delleuze e Guattari afirmavam que um certo tipo de liberalismo difuso convivia muito bem com o autoritarismo fascista.

Como se vê, não é necessário um italiano careca e de uniforme para termos fascismo. A classe média brasileira sempre esteve ali no limiar e nunca teve qualquer apreço pela democracia. Precisou apenas um sentimento de medo da igualdade social, incitado pela mídia e pelos países interessados em manter a América Latina subserviente, para que nossa classe média abraçasse seu destino. Como disse Chico Buarque:

“Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal,

Vai tornar-se um imenso Portugal!”

Mas enquanto Portugal luta vigorosamente contra a austeridade, nós viramos um Salazarismo tupiniquim nos trópicos.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

6 Comentários

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  1. Com fascismo não tem acordo

    Marinetti, poeta italiano fascista, fundou o Movimento Futurista e em seu manifesto está escrito:

    Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

    Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.

     

  2. os regimes totalitários são iguais em atitude?


    Oi Fernando. Li acima que você disse que o fascismo penetra na sociedade a partir de rupturas que lhe abrem espaços. Li também que entre os ideais do fascismo estaria um estado fortalecido para manter a unidade de ideias instransponíveis, sufocando qualquer resistência. Sou adepto do comunismo. Não o soviético , mas o original , descrito por Engels, como aquele modo do homem primitivo. Mas a questão que indago , não é teórica: Na união soviética também houve um estado forte , com capacidade de aglutinar as pessoas em torno dele. Era também uma ditadura. Mas não fascista. Quais as diferenças?

  3. os regimes totalitários são iguais em atitude?


    Oi Fernando. Li acima que você disse que o fascismo penetra na sociedade a partir de rupturas que lhe abrem espaços. Li também que entre os ideais do fascismo estaria um estado fortalecido para manter a unidade de ideias instransponíveis, sufocando qualquer resistência. Sou adepto do comunismo. Não o soviético , mas o original , descrito por Engels, como aquele modo do homem primitivo. Mas a questão que indago , não é teórica: Na união soviética também houve um estado forte , com capacidade de aglutinar as pessoas em torno dele. Era também uma ditadura. Mas não fascista. Quais as diferenças?

  4. Nem se pode dizer que isso é

    Nem se pode dizer que isso é novo = a ditadura brasileira teve como dois pilares a violência dos militares e o apoio da classe média que se beneficiava e muito com o crescimento de um país em que os trabalhadores não podiam reivindicar parte desse ganho pois as greves estavam proibidas. Agora o irônico é que essa classe média, em sua cavalar burrice cultural ( ela confunde ter diplomas e certificados com cultura ) não enxerga que a proibição de um presidente que queira desenvolver o país fará dela a próxima vítima – o povo já vem sendo desde 2015. Esses ignorantes defendem um pensamento econômico que tem como objetivo acabar com a classe média e dar tudo e um pouco mais aos que dominam não os meios de produção mas o do rentismo. iDefendem um país no padrão que havia até o fim dos anos 20 = agrícola e sem nenhm projeto de industrialização. O que a classe média faz hoje é tão absurdo quando imaginar, nos anos 30, um judeu apoiando o nazismo porque o nazismo destruirá o comunismo. 

  5. bom, muito bom!

    Muito bom como sempre.

    Atrás de todo o fascota tem uma pessoa medrosa. E quando os medrosos se unem les são um perigo.

    Há necessidade de os enfrentar, ou pelo menos,mostrar quem eles se estão tornando.

  6. O homem que não gostava de datas, e por consequência de História

    O homem que não gostava de datas, e por consequência de História.

    Há uma coisa que não pode ser falseada na história moderna, são as datas. É possível interpretar qualquer coisa através de qualquer método se chegando a interpretações corretas e estapafúrdias, porém a história por mais que os sociólogos queiram ela tem alguns marcos temporais que ajudam a estabelecer correlações entre eventos.

    Por exemplo, quem começa um texto com:

    “Benito Amilcare Andrea Mussolini não gostava de gatos. Leonino, nascido na região entre Florença e Milão, mantinha-se sem cabelos em sem barba através de um intrincado processo que envolvia barbeiros escolhidos aleatoriamente, em diferentes momentos para garantir-lhe a segurança. Em 1903, ainda com cabelos e barbas, foi preso na Suíça por incitar uma greve de pedreiros e foi deportado para a Itália onde, até 1912, participou do Partido Fascista Italiano.”

    Mostra uma série de informações irrelevantes, tais como o gosto por animais de Mussolini, o signo astral do mesmo, a forma de cortar seu cabelo que o mesmo coloca como insignificantes para a definição de fascismo, porém quando começa os dados substantivos e políticos aí começa um verdadeiro “Samba do crioulo doido” do nosso saudoso Stanislaw da Ponte Preta.

    Primeiro, a alusão a expulsão de Mussolini da Suíça é totalmente incorreta, ele saiu daquele país não por ter incitado uma greve de pedreiros, mas sim porque em 1903 a acusação que pesava contra ele de refratário ao serviço militar caducou na Itália com uma anistia promovida pelo Rei em homenagem ao nascimento de seu filho em 15 de setembro de 1904.

    Ou seja, este item pode parecer irrelevante, mas mostra como Mussolini que na época era socialista, muda de comportamento conforme a conveniência política, ou seja, de um refratário ao serviço militar que foge em 09 de julho do 1902 para a Suíça com o objetivo de escapar ao serviço militar obrigatório Mussolini passa a um ardoroso defensor da entrada da Itália na Primeira Grande Guerra.

    Para completar o “Samba do crioulo doido” do primeiro parágrafo vem a expulsão da Suíça em 1903 que foi a primeira, mas não foi a definitiva que o fez retornar para Itália, ele é expulso em 1903, retorna a outro cantão para ser expulso de novo em 1904, retornando a Suíça mais uma vez, para somente com a anistia retornar definitivamente a Itália e completar parcialmente seus deveres junto ao exército, dos quais ele conseguiu driblar um pouco alegando que tinha que cuidar da sua mãe enferma. Porém o samba não termina por aí, JAMAIS Mussolini poderia ter participado do Partido Fascista Italiano DE 1903 ATÉ 1912, pois simplesmente o Partido Nacional Fascista (Partito Nazionale Fascista) só existiu em 1921 a partir da renomeação do Fascio d’azione rivoluzionaria interventista que teve a sua fundação entre outubro de 1914 e janeiro de 1915 sob a inspiração de Mussolini.

    Estas datas são importantes, pois configuram a ação de Mussolini por puro e deslavado oportunismo, que como militante do Partido Socialista Italiano em 26 de julho de 1914 ainda publicou um EDITORIAL intitulado “Abaixo a guerra”, para em 28 agosto do mesmo ano, publicar na terceira página outro jornal italiano (” Journal of Italy “) contrário as opiniões que ele expressava anteriormente no jornal socialista “Avanti!” em que ele era redator! Com este artigo Mussolini em 29 de novembro de 1914 é expulso do Partido Socialista Italiano, após muito tempo, pesquisadores analisando a contabilidade dos jornais fascistas que Mussolini cria durante este período, verificam que vultuosas quantias de governos estrangeiros (França e Inglaterra) e de industriais vinculados a armamentos enchem os cofres dos fascistas desde o seu início.

    Toda esta quantidade de datas, que parece inútil, mostra que fazer grandes ilações sobre o fascismo e suas raízes “sociológicas” são mais uma forma de ter publicações acadêmicas para se promover do que estudar a história do fascismo. Pela datação do trajeto de Mussolini se vê que ele passa de um fervoroso socialista defensor da paz, para um animado fascista amante da guerra em menos do que seis meses, forçando um pouco poderia se dizer que a “conversão ao fascismo” de Mussolini é algo em torno de um par de meses.

    O fascismo pode ser compreendido como uma fase do CAPITALISMO, que para atrair as massas, demagogos com capacidade oratória, como Mussolini e Hitler, assumem a liderança deste movimento.

    Se alguém quiser entender a origem doutrinária do fascismo, deve retornar um pouco no tempo e ler o que Filippo Tommaso Marinetti escreveu em 1909 no seu “Fondazione e Manifesto del futurismo.” Que se colocava na época como um movimento revolucionário, do qual os fascistas italianos e de outras partes do mundo tomaram por empréstimo para um discurso teórico e vazio.

    É importante destacar que o Marinetti na mesma época funda o “Partito Futurista Italiano” que tem como plataformas itens tais como, abolição do casamento, abolição do princípio de antiguidade nas carreiras de Estado, abolição do direito de sucessão, propriedade social, reforma agrária, igualdade dos sexos no trabalho, abolição da interferência militar na política e criação de um exército baseado em voluntários. Em resumo, a plataforma do movimento futurista estava mais para maio de 68 do que pela realidade dos movimentos fascistas, porém Marinetti se fundiu aos “Fasci di combattimento” que somente em 1921 se torna o partido fascista. Se alguém quer entender as ideias mirabolantes da “Democrazia futurista” é só baixar o livro em italiano no link acima onde aparece todo o programa do partido, as motivações do mesmo e sonhos imbecis do Marinetti como “L’Italia rappresenta nel mondo una specie di minoranza genialissima tutta costituita di individui superiori alla media umana per forza creatrice innovatrice improvvisatrice.”

    Só para dar alguma ligação com o Brasil, vemos que em 1922, Anita Malffati uma das instigadoras da Semana de Arte Moderna fundam um movimento modernista (uma derivação da palavra futurismo, assim como a semelhança dos nomes das igrejas Universal e Mundial, para manter os fiéis). A ligação umbilical do movimento protofascista futurista com o movimento modernista brasileiro, será motivo de um artigo).

    Marinetti começa a se afastar da política em 1921, porém sua ligação ao movimento fascista é inegável a medida que ele assina em abril de 1925 o “Manifesto degli intellettuali fascisti” e participa como voluntário em 1936 da invasão da Etiópia, e tenta participar da tropas italianas na invasão da União Soviética, coisa que debilita sua saúde e tem um funeral de chefe de Estado em 1944 promovido por Mussolini nos estertores do regime fascista.

    A datação na história é importante para ligar as posições, as traições, os subornos e as reviravoltas ideológicas que só são explicadas por suborno e o principal, para evitar o revisionismo histórico, que muitas vezes são encobertos por releituras e novas denominações e novas “visões” dos movimentos políticos.

    Quanto a crítica do artigo como todo, teria inúmeras, ou mesmo a cada parágrafo poderia levantar uma, porém para fazer isto teria que delimitar com clareza o que era a “teoria fascista” e a “prática fascista”, pois o problema maior de todos autores é que confundem uma com a outra, e talvez uma das características mais notáveis dos regimes fascistas é a sua total e completa ruptura entre a teoria e a prática. Por aí diria que falar em teoria fascista no Brasil é uma bobagem, por outro lado em procurar semelhanças de “práticas fascistas” de regimes instituídos com este nome, com práticas QUE SEMPRE HOUVERAM NO BRASIL, mas que hoje simplesmente estão mais aparentes é a chave do erro de muitos artigos.

    O Brasil, SEMPRE FOI UM PAÍS COM PRÁTICAS FASCISTAS, mesmo durante os governos do PT estas práticas ocorreram independente da vontade e até pela laxidão das chamadas forças democráticas. NUNCA HOUVE UMA AÇÃO INSTITUCIONAL clara contra a violência policial tanto na cidade como no campo. A cada chacina que a polícia ou jagunços produziam no campo as ações governamentais eram pífias, muitos projetos de aumento de penas, de transformações de crimes em crimes hediondos passaram nas épocas ditas democráticas. O estado das nossas cadeias faz inveja a qualquer masmorra medieval, a falta de justiça na defesa das classes oprimidas era e é uma constante, porém os governos sempre se isentaram de ir a fundo no problema.

    Ou seja, somos um país EVIDENTEMENTE com práticas FASCISTAS, tanto que em momentos históricos mais graves em termos da perda de direitos humanos não é necessário a criação de uma instituição policial ou judiciária para implementar o arbítrio, utiliza-se o pessoal treinado e useiro e vezeiro em tortura e assassinato. Nossos códigos de processo penal são adaptados a práticas fascistas, a facilidade com que se sede a um judiciário completamente partidário não é uma novidade recente.

    A grande diferença que temos nos dias atuais, como tivemos no período de 64 é que os perseguidos não são só as classes populares, agora pessoas que não eram sujeitas as práticas fascistas normais, passam a ser vítimas, ou seja, as práticas fascistas simplesmente trocam a suas vítimas.

     

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