O novo fardo do homem branco, por Fábio de Oliveira Ribeiro

O novo fardo do homem branco

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A verdade histórica é uma donzela arredia. As vezes ela se esconde nos detalhes que os historiadores desprezaram, mas a maior parte do tempo ela se mostra por inteiro porque os agentes históricos não conseguem ver o que realmente estão fazendo.

“Transitórios são quaisquer pensamentos, credos, ciências, depois de terem se extinguido os espíritos em cujos mundos as suas ‘verdades eternas’ pareciam necessariamente verdadeiras.” (A Decadência do Ocidente, Oswald Spengler, editora Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2014., p. 88)

O ultra-nacionalista Jair Bolsonaro bate continência para a bandeira dos EUA e é condenado a indenizar a deputada que ofendeu moralmente. O bem sucedido advogado Ives Gandra leva uma vida segura e farta, mas reclama que tem menos direitos que gays, negros e suspeitos diariamente agredidos e mortos por policiais. Michel Temer entrega aos estrangeiros, a preço de banana, nosso petróleo. Os homens brancos que derrubaram Dilma Rousseff são agora obrigados a pagar a gasolina mais cara do planeta e ficam em silêncio.

Aécio Neves disputa o segundo turno de uma eleição presidencial é derrotado e rejeita o resultado desestabilizando a democracia brasileira. Mas ele não consegue tirar nenhum proveito de seu esforço e agora corre o risco de não se eleger nem síndico de prédio. Os donos da Rede Globo criaram as condições para o golpe de estado e agora correm o risco de ser presos pelo FBI. Intensamente perseguido por Deltan Dellagnol, Sérgio Moro e Rede Globo, Lula lidera a corrida presidencial de 2018 nos braços dos eleitores mestiços e negros que são odiados pelos arquitetos do golpe de 2016. A ação criminal contra a Rede Globo nos EUA transformará o promotor e o juiz em suspeitos pertencer à organização criminosa do clã Marinho?   

Os banqueiros que estropiaram a economia dos EUA e da Europa não são russos, iranianos, norte-coreanos ou cubanos. Donald Trump bate-boca com Kim Jong-un pelo Twitter como se a Coréia do Norte fosse uma potência equivalente aos EUA. Nazistas e nacionalistas desafiam a Europa unida porque os governos europeus se recusam a desafiar os banqueiros. 

Todos estes episódios tem duas coisas em comum. A primeira é que eles foram protagonizados por homens brancos. A segundo é que todos eles evidenciam que no início do século XXI o ridículo protagonizado por homens brancos se tornou uma característica essencial da sociedade do espetáculo.

No final do século XIX, Rudyard Kipling escreveu o poema “O fardo do homem branco” exortando as nações civilizadas a conquistar e colonizar os países atrasados para elevar seus padrões culturais e higiênicos. Naquela época o racismo científico e o destino manifesto estavam na moda. Os brancos acreditavam que eram superiores, todos os demais (negros, índios, pardos,  asiáticos e latino-americanos mestiços) eram considerados inferiores.

O custo humano e financeiro do imperialismo para norte-americanos e europeus brancos era um fardo. Mas o sacrifício deles era uma nobre obrigação, pois a raça superior tinha que se impor em benefício das raças inferiores. A rapina das riquezas minerais da África, Ásia e América desde o século XV era apenas um detalhe.

A nobre obrigação racial do homem branco deixou de ser um fardo nos anos 1940. A II Guerra Mundial enterrou o racismo científico junto com dezenas de milhões de cadáveres. Julgados inferiores, os russos venceram os nazistas na Europa. Na Ásia os soldados negros e índios foram essenciais a vitória dos EUA sobre o Japão.

Em alguns guetos, contudo, o racismo continuou a ser cultuado. Em razão disso a espetacularização do ridículo se tornou o novo fardo do homem branco. A involução é evidente e certamente deixaria Rudyard Kipling contrariado. Todavia, Oswald Spengler não ficaria surpreso, pois segundo ele o Ocidente desce a ladeira desde que as triremes atenienses singravam o Mar Egeu durante a Guerra do Peloponeso.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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