Os 70 anos da Conferência de Teerã

Por Motta Araujo

A Conferência de Teerã – Amanhã comemoram-se 70 anos da crucial Conferência de Teerã entre os Três Grandes, Roosevelt, Stalin e Churchill, a primeira das três conferências que moldaram o mundo pelos 50 anos seguintes, o mundo da guerra fria e da ordem global bipolar.

Foi a primeira vez que Roosevelt encontrou Stalin, para isso viajou 7.000 milhas, já com a saúde muito debilitada, paralítico e carregado até a cadeira da conferência, Churchill ao contrário, com ótima saúde e adorando viajar, já tinha estado duas vezes com Roosevelt nos EUA e duas vezes com Stalin em Moscou.

O Marechal Stalin veio de Moscou de trem, não andava de avião e só viajava em território sob controle soviético.

O Irã (naquela época ainda tratado como Pérsia) estava dividido em duas metades, o norte sobre controle russo, incluindo Teerã e o sul sob controle britânico, incluindo os poços de petróleo e a refinaria na ilha de Abadan, então a maior do mundo. O Irã era rota vital de remessa de equipamento bélico para a União Soviética, dos EUA até o Irã foram remetidos 11 milhões de toneladas de veículos, armas, munições, alimentos, medicamentos, vestimentas, despachados via Cabo da Boa Esperança contornando a África e pelo Índico chegando aos portos do sul da Pérsia e daí de trem até a fronteira russa, um longuíssima viagem, a única outra rota eram os portos árticos de Murmansk e Arcangel que só operavam dois meses por ano, no resto do ano estavam congelados.

A Confêrencia começou em 28 de Novembro às 4 horas da tarde no imenso palácio da Embaixada soviética em Teerã, o bairro inteiro cercado por tropas do Exército russo, havia rumores de atentados alemães contra os Três grandes. No dia seguinte, 29 de Novembro, houve o grande jantar de gala oferecido por Stalin quando Churchill lhe entregou uma espada magífiica, presente do Rei George VI em homenagem aos defensores de Stalingrado.

Na Conferência de Teerã foram tomadas decisões fundamentais para as operações de guerra e para o desenho do mundo do pós guerra.

1.Fixou a abertura da Segunda Frente em Maio de 1944, objetivo altamente pressionado desde 1942 por Stalin.

2.Apoio dos Aliados à resisteêcia comunista na Iugoslávia, chefiada por Tito. Essa decisão foi importante porque havia dois grupos rivais na resistÊncia, o outro de partidários da Monarquia, ao optar por Tito os Três Grandes criaram a Iugoslávia comunista, uma vitória de Stalin, que porém não contava que Tito não seria seu satélite.

3.Desenhou-se que os seis países da Europa do Leste ficariam dentro do bloco soviético, inclusive a Polônia, que tinha um influente governo no exílio anti-comunista com sede em Londres, esse decisão custou politicamente muito cara tanto à Churchill como a Roosevelt, especialmente com relação à dar a Polônia à Stalin.

3.Acertou-se que os Estados Maiores anglo-americanos e soviéticos se reuniram rotineiramente daí por diante para ajustar operações sincronizadas nas frente leste e oeste, especialmente após a abertura da segunda frente.

4.Combinou-se uma pressão sobre a Turquia para declarar guerra à Alemanha. Não adiantou muito, a Turquia só declarou guerra em fevereiro de 1945, sem qualquer efeito prático.

5.Garantiu-se a independência do Irã após o fim da guerra.

6.Acertou-se a situação da Finlândia, país pró-alemão e anti-soviético, que deveria fazer um tratado em separado com a URSS e não entrar na rendição geral dos paises do Eixo, a Finlândia tinha tido uma guerra particular com a URSS em 1939, que aliás ganhou valorosamente, era um país pró-alemão mas não nazista.

Foi a mais importante das três grandes conferencias, a anterior do Cairo teve menor importância porque Stalin não estava lá. Foi em Teerã que traçou-se o que as outras duas, Yalta e Potsdam, completaram, a nova ordem global que vigorou até 1990. Além do novo mundo do pós guerra, em Teerã se ajustaram as grandes operações que concluíram a guerra na Europa, que só acabaria em 7 de maio de 1945.

Redação

5 Comentários

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  1. A historia da Finlandia no século passado é

    muito complexa.

    Houve uma guerra civil no final da 1ª guerra mundial:

    A Guerra Civil Finlandesa fez parte de um tumulto nacional e social causado pela Primeira Guerra Mundial (19141918) naEuropa. A guerra foi travada na Finlândia de 27 de janeiro de 1918 a 15 de maio de 1918, entre as forças dos social-democratas chamados “Vermelhos” (punaiset), apoiadas pela União Soviética, e as forças do senado conservador não-socialista, comumente chamado de “Brancos” (valkoiset), apoiados militarmente pelo Império Alemão e voluntários da Suécia.

     Carl Gustaf Emil Mannerheim, um antigo oficial do exército russo, apesar do nome alemão foi apontado como comandante supremo da Guarda Branca. A Guerra Civil Finlandesa terminou em 14 ou 15 de maio, quando um pequeno número de tropas russas se retiraram de uma base de artilharia costeira no Istmo da Carélia. A Finlândia Branca celebrou sua vitória em Helsinque em 16 de maio de 1918.

    Portanto o nascimento da Finlandia independente teve um apoio muito grande da Alemanha.

    1. Pós – Guerra

       Para melhor compreender a situação finlandeso – russa, após o armisticio de Moscou ( 19/09/44) que retirou a Finlandia da II GM, e os Acordos de Paris entre a URSS e Finlandia, de 06/05/48 – consulte na wikipédia: Paasikivi-Kekkonem_Line

  2. De Teerã até Paris, via Helsinki

      Caro Motta, uma pergunta:

       Pode-se considerar explicar-se a história recente da Europa e do periodo da guerra fria, analisando-se estas conferencias – Teerã (43), Yalta ( 45), Potsdam (45) – a da distensão de Helsinki (75 – confirmando a hegemonia soviética no leste europeu), terminando com o “enterro” da URSS (em relação a Europa), na conferencia da OSCE de Paris (90) ?

  3. Vale alguns reparos o

    Vale alguns reparos o valoroso post de Motta Araujo sobre os 70 anos da Conferência de Teerã.

     

    A segurança para o encontro foi intensa e propositada. Sabotadores a serviço dos nazistas foram descobertos e presos. No tocante à Polônia, devido ao fato desta compartilhar fronteira com a então URSS, e ser efetivamente libertada com o sangue do Exército Vermelho, nenhuma gestão britânica, ou norte-americana em favor do governo polonês abrigado em Londeres poderia ter efeito prático… E por fim, cabe lembrar, que a Finlãnida pedeu a guerra de inverno para URSS, não obstante der lutado com denodo e bravura.

     

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