Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Os cem anos da batalha de Galipolli, por André Araújo

Por André Araujo

De abril de 1915 a janeiro de 1916, desenrolou-se uma das maiores batalhas, pela sua importância histórica e geopolítica, do Século XX. Foi a tentativa de invasão do Império Otomano, aliado da Alemanha, e constituindo um pivô fundamental no isolamento da Rússia, aliada da Inglaterra e da França. A Rússia dependia vitalmente da passagem pelo Bósforo, controlado pelo Império Otomano que bloqueava o fornecimento de material bélico dos Aliados Ocidentais ao Império Russo. A invasão foi concebida para ser realizada por forças inglesas e francesas para tomar Constantinopla, capital dos otomanos e tirar a Turquia da guerra, enfraquecendo o Império Alemão e abrindo a passagem de navios para Odessa, porta da Rússia no Mar Negro.

Os anglo-franceses foram derrotados e se retiraram da península de Galipolli com grandes perdas. A vitória da Turquia moldou o futuro desse País com a posterior queda do Sultão e a tomada do poder pelo Exército vitorioso em Galipolli.

As causas da derrota foram erros táticos dos Aliados que, no começo, destinaram à invasão menos tropas que o necessário, e, em segundo lugar, uma melhor qualidade do que se esperava da defesa turca, superior ao que se imaginava, especialmente na grande eficiência de suas baterias costeiras.

O Império Otomano estava em decadência há seculos e os Aliados imaginavam que suas forças militares eram de baixa qualidade. A resistência turca foi muito maior e o comando era eficiente, com a vantagem do conhecimento do território.

Especialmente decisiva foi a artilharia de costa turca, com canhões alemães modernos, sob comando de oficiais alemães, que já estavam em missão no Império Otomano há mais de dez anos e trouxeram técnica e material.

Do lado aliado participaram 489.000 soldados ingleses e 79.000 francesas, em formação de 15 divisões, nos britânicos se incluem em grande número australianos e neozelandeses.

Do lado turco foram 315.000 soldados em 16 divisões.

As perdas foram enormes, 252.000 nos aliados e 218.000 nos turcos.

No comando britânico dois Generais ressaltaram, Herbert Kirchner, que depois foi Ministro da Guerra e Ian Hamilton.

Do lado turco Mustafá Kemal, depois fundador e líder da Republica da Turquia e Otto von Sanders, alemão.

A concepção da invasão do Império Otomano foi de Winston Churchill, então Ministro da Marinha e a derrota lhe custou a carreira na Primeira Guerra, perdeu o cargo e foi ser capitão na Bélgica. Churchill sempre se defendeu, dizendo que seu plano era outro e necessitava o dobro de efetivos que o Exército não forneceu.

O resultado político da vitória turca, que levantou a moral dos turcos como povo, foi a fundação da República pelo Exército sob a liderança do principal comandante do Exército turco na batalha, o General Mustafa Kemal, que, por décadas seguintes, foi o pai espiritual do novo regime que substituiu o Império.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

8 Comentários

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  1. Mas os anglo-saxões

    Mas os anglo-saxões transformam derrotas militares em sucessos de bilheteria… é o que dizem… esse episódio rendeu um filme famoso “Galipolii”… Com quem mesmo?

    1. Sobre fatos militares

      Sobre fatos militares ocorridos na mesma época e tendo como cenario o mesmo Imperio Otomano o filme LAWRENCE DA ARABIA tornou-se um dos grandes épicos da historia do cinema.

    2. galipolli
      O ator principal do filme foi Mel Gibson. Sobre o fato histórico, foi produzida. Uma minissérie que destaca uma expressiva participação de tropas australianas, que sofreram grandes perdas. Recente filme com Russell Crowe também trata do tema: Promessas de Guerra.

  2. KUT

    Outra derrota ocidental que assombrou o mundo de então foi o desastre que o exército britâncio enfrentou em Kut-al-Amarna, no atual Iraque. Uma vitória turca contundente, que evitou o “encurtamento da guerra” , como queriam os aliados. Vou perguntar ao André que é do ramo, mas ao contrário de Gallípoli, ou da epopéia de Lawrence, nunca vi um filme que retratasse o episódio de Kut.

    1. Creio não existir

        Nunca vi qualquer referencia filmografica sobre este episódio, até livros são raros, pois para muitos historiadores militares britanicos, o fracasso das tropas de Towshend, NÃO representam uma derrota inglesa, mas um derrota de “tropas imperiais” indianas – portanto existe um certo nivel de racismo, que obrigatoriamente deveria ser explorado, o que não “pega bem”, este racismo inclusive esta explicito em alguns textos sobre o cerco de Kut 1915, quando alguns oficiais ingleses, incluindo Towshend, reclamam que suas tropas indianas se recusam a se alimentar de carne ( mataram os cavalos e muares para provisionamento do rancho ), e ficaram “fracas demais” e se rendiam aos turcos.

         A “mancha de Kut “, sobre unidades do exército britanico – apesar deles negarem –  foi tão forte, uma 1a Cingapura, que na 1a Guerra do Golfo, a divisão blindada inglesa na area ( Ratos do Deserto – 1st  RoyalArmBgd ), seu comando, solicitou e conseguiu do Comando Geral americano, que ela fosse a primeira a entrar em Kut – El – Amarna ( local estratégico no Iraque, a “porta de Bagdah” ).

      1. Impressionante
         

        Impressionante, Junior, não sabia desse episódio da Guerra do Golfo. É uma pena que não exista ainda na tradução ao português, mas há um livro monumental sobre o assunto : “Desert Hell” de Charles Townshend (coincidência). O livro é grande, bem informativo, não é tão indulgente, como poderíamos esperar. Gostei. Abraços

          

  3. Sir Basil Zaharoff ( Mr. Zed – Zed )

      Caro AA, vc. me lembrou desta figura.

       Pois após as guerras balcanicas, os otomanos decidiram renovar suas unidades militares, tanto em equipamentos como em doutrina, e foram buscar as mais desenvolvidas a época, no caso de seu exército e policia, foram a Alemanha, e na naval a Inglaterra – logicamente a Vickers, as expensas e contatos feitos através de Mr Zed. ( como o fez igualmente o Império japonês na mesma época )

        Encomendaram a Vickers dois couraçados modernos, o Resadiye e o Osman I, que ao ficarem prontos em 1913/1914, tiveram sua entrega recusada a Turquia – pressão do Almirantado para deixar a Turquia fora da guerra, alem de garantir aos russos a segurança do Mar Negro, e após o inicio das hostilidades, a Royal Navy incorporou estes navios a sua frota, como o HMS Erin e HMS Agincourt.

         Mediante a este fato, o Kaiser Guilherme II , um “orientalista” , cujo governo tinha fortes interesses economicos e estratégicos na região leste do mediterraneo ( remember os “lawrences alemães” como: Leopold Frobenius e Max von Oppenheim ), enviou “de presente” aos otomanos, o unico esquadrão naval alemão do mediterraneo, o poderoso cruzador de batalha SMS Goeben, e seu ala, o cruzador SMS Breslau, que após cruzarem o Bósforo e “trocarem nome e bandeira ” ( Goeben tornou-se “Sultão Selim” ), realizaram o primeiro ataque turco a um aliado britanico, os russos, bombardeando posiçoes russas no Mar Negro.

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