Rádio Democracia revive Rede da Legalidade no julgamento do Lula

Foto Fernando Verissimo

da Agência Saiba Mais

Rádio Democracia revive Rede da Legalidade no julgamento do Lula 

por Rafael Duarte

Há 57 anos, o antídoto para um golpe de Estado iminente foi uma rede democrática impulsionada, a partir de Porto Alegre (RS), por uma cadeia nacional de rádios. A Rede da Legalidade, coordenada pelo então governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, impediu que os militares tomassem o poder já em 1961 após renúncia do ex-presidente Jânio Quadros e garantiu a posse de João Goulart. Quase seis décadas depois, o país vai reviver a organização em rede via rádios web, livres, comunitárias, educativas e estatais em todo o país.

A Rádio Democracia vai ao ar em 24 de janeiro, das 5 horas da manhã e segue com programação extensa até a meia-noite. Além dos bastidores do julgamento e da movimentação externa ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, a rádio vai divulgar flashes com informações de todos os Estados onde houver manifestações em defesa da democracia e pelo direito de Lula ser candidato às eleições de outubro. Até o momento, 209 rádios de 25 estados já haviam se cadastrado para retransmitir a programação da Rádio Democracia. A expectativa é de que até o dia 24 de janeiro o número aumente ainda mais. Pela internet, a programação estará disponível no endereço www.radiodemocracia.net.br.

agência Saiba Mais conversou por telefone com o coordenador geral da rádio Democracia, Jerry de Oliveira. Ativista do Movimento Nacional de Rádios Comunitárias, ele mora em Campinas (SP) onde gerencia a rádio Noroeste FM. Oliveira conta que mais de 200 comunicadores vão trabalhar pela rádio Democracia no dia do julgamento do Lula.

 – Faltam só dois estados confirmarem: Roraima e Amapá, mas já passamos de 200 profissionais. A ideia é trabalhar de forma horizontal e compartilhada. Todos vão falar da cobertura dos atos políticos em seus Estados. É importante apresentar toda a panorâmica para mostrar que a sociedade quer democracia. Não vai ser uma rede vertical, como a Rede Globo tentou ensinar, dando a entender que as coisas acontecem a partir do Rio de Janeiro e São Paulo. Todos os municípios onde haverá atividade terão espaço na rede. É para mostrar que existe uma organicidade na comunicação. Será uma comunicação dialógica, plural e horizontal.

 A ideia da rádio Democracia surgiu em 2001, a partir da rádio Favela, de Belo Horizonte (MG), para a cobertura do Fórum Social Mundial, realizado na capital gaúcha. De lá para cá, o mesmo sistema ocorreu em eventos esporádicos para a divulgação de conferências e na greve geral de 28 de abril de 2017, onde mais de 30 milhões de brasileiros cruzaram os braços. Segundo Jerry de Oliveira, o objetivo é furar o bloqueio seletivo da mídia tradicional:

 – A internet propiciou isso. A rádio democracia é a continuidade de um movimento que já vem sendo construído há algum tempo.

Diante da organização de rádios em cadeia é impossível não lembrar da Rede da Legalidade capitaneada pelo então governador gaúcho Leonel Brizola. Na época, em 1961, a campanha da legalidade, que lutava para manter a posse do vice-presidente João Goulart, se formou a partir da rádio Guaíba, em Porto Alegre, que passou a funcionar diretamente do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e foi retransmitida por várias rádios do país, como a rádio Brasil Central, instalada no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás, a rádio Clube de Blumenau, em Santa Catarina e a rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro.

A campanha integrou o país e mobilizou a população. Jerry de Oliveira diz que não tem a pretensão de ser um Brizola, mas admite que o momento político atravessado pelo país chama todos os comunicadores à responsabilidade:

– A rede da legalidade foi talvez o maior evento da radio difusão brasileira porque alterou a correlação de forças da sociedade e quer queira ou não, impediu um golpe que ia se dar após a renúncia de Jânio. A importância dessa rede tem a ver com a democracia e hoje estamos vivendo a ditadura do poder judiciário, da mídia, toda uma ditadura colocada tal qual aconteceu em 1964. O impedimento do Lula de se candidatar é a continuidade do golpe que está em curso. A semântica, nessa discussão, é que a rede da legalidade partiu do Palácio do Piratini, no Rio Grande do Sul, e a mesma coisa se dá agora em Porto Alegre, o que nos faz resgatar o debate conceitual político do meio de comunicação como fortalecimento da democracia. O Brizola fez isso. Não temos a pretensão de ser como o Brizola, mas o momento nos chama à reflexão. Estamos vivendo um momento em que a história se confunde com a mentira. Então resgatar um pouco disso faz parte do nosso compromisso. Não só com a rede da legalidade, mas também pelo Brizola, que foi uma grande liderança.

 

A rádio Democracia existe, insiste Oliveira, como contraponto à mídia hegemônica. E quanto mais cresce a adesão de novas rádios à rede, maior é a percepção de que a sociedade carece de mais informações confiáveis.

– Até o momento, temos 209 rádios organizadas na rede, que são rádios livres, comunitárias, estatais e algumas educativas. A rede vai aumentar até a semana do julgamento, estamos muito felizes porque todo mundo percebe a necessidade de outra comunicação, de um jornalismo mais verdadeiro, voltado ao interesse social, e não ao mercado… mais dialógico, onde os valores das elites não estejam concentrados, em jogo. Se a rede cresce é porque os veículos tradicionais de comunicação não conseguem levar uma informação de qualidade para a sociedade brasileira.

 

 Clima

Na primeira semana de janeiro, o prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Júnior pediu ao Governo Temer o envio de tropas do Exército e da Força Nacional à capital gaúcha dia 24 de janeiro para reprimir os manifestantes dispostos a acompanhar o julgamento do ex-presidente Lula. No pedido, o prefeito justificou alegando “iminente perigo à ordem pública e à integridade dos cidadãos”. Uma semana antes, a Justiça atendeu pedido do Ministério Público Federal para limitar área de manifestações em favor do ex-presidente Lula durante o julgamento. Ainda assim, segundo o coordenador da rádio Democracia, o clima é receptivo para o público que vai acompanhar as movimentações.

– O clima em Porto Alegre é de receber muito bem quem vai chegar. Existe a apreensão pela forma como o Governo e a Prefeitura vão reagir, houve o pedido da Força Nacional, mas o clima pesado fica por conta das forças repressivas. Por outro lado o clima é bastante receptivo em Porto Alegre para a militância de esquerda. Não só nós que vamos trabalhar, mas para todos que querem chegar. Vale a pena descer para Porto Alegre e acompanhar todo esse processo.

A defesa da democracia está diretamente ligada à defesa pelo direito de Lula ser candidato às eleições em outubro. A relação é óbvia para o radialista, que destaca o papel do Judiciário como o algoz da democracia no país.

– Estamos perdendo nosso poder político de se fazer representar, escolher quem vai nos representar. A chegada do poder judiciário ditando leis, promotores, juízes, STF… tudo vem sendo definido por 6 ou 7 pessoas que dizem como deve funcionar a sociedade. Não é esse modelo de democracia que precisa ser construído, mas a partir do poder do voto, da sociedade. Estamos vivendo a “Morolização” da Justiça e temos o entendimento de que Lula está fazendo o enfrentamento necessário a um dos poderes mais conservadores da sociedade, que é o poder Judiciário.

 

SERVIÇO

Rádio Democracia

24 de janeiro de 2018

Porto Alegre – RS

A partir das 5h até meia-noite.

 

Quer ser Correspondente da rádio Democracia ou retransmitir a programação no dia 24 de janeiro através da sua rádio ?

Entre em contato com Jerry de Oliveira: (19) 996010581

 

 

Redação

6 Comentários

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  1. “A ideia da rádio Democracia
    “A ideia da rádio Democracia surgiu em 2001, a partir da rádio Favela, de Belo Horizonte (MG)”

    Pois bem, quem ouve essa rádio, que inclusive anuncia no mais das vezes com novo nome, “Autêntica FM”, saca que flexionou para as bandas do anúncios de cunho moralista, apoiando a perseguição ao estilo moro, justamente quando um certo senador tentou ser presidente.

  2. Enquanto isso…….

    Aqui em BH a globo….e não sei como….está em todos os ônibus das linhas metropolitanas….as tv´s embarcadas agora passam exclusivamente a programação da globo…tudo…todos os jornais.

    Imagina quais notícias estarão em destaque.

    Isso sim é uma rede de “legalidade”.

  3. Seria bom ter a transmissão

    Seria bom ter a transmissão começando peloo menos uma semana antes, para engrossar o movimento, chegando ao seu máximo no dia 24.

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