Reedição de “Minha Luta” busca aprofundar análise do nazismo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Adir Tavares

Do DW

Instituto de Munique anuncia para janeiro lançamento de versão crítica do polêmico livro de Hitler, proibido na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra. Objetivo é aprofundar análise histórica do nazismo.

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O Instituto de História Contemporânea (IfZ, na sigla em alemão), baseado em Munique, anunciou nesta sexta-feira (20/02) a intenção de lançar a polêmica edição comentada do livro Minha Luta(Mein Kampf), de Adolf Hitler, em janeiro de 2016.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o estado da Baviera detém os direitos de publicação do livro e proíbe novas impressões na Alemanha.

Na Europa, os direitos autorais expiram 70 anos após a morte do autor, e, no caso de Hitler, isso acontecerá ao fim de 2015. O livro vai, então, se tornar de “domínio público”, ou seja, em teoria, poderá voltar a ser publicado e distribuído por qualquer pessoa.

No ano passado, porém, em meio ao debate sobre a publicação do livro, o Ministério da Justiça determinou que a distribuição de qualquer versão não comentada de Minha Luta continuaria proibida na Alemanha, mesmo após expirarem os direitos autorais. A decisão foi tomada com base na lei alemã que proíbe qualquer tipo de incitação ao ódio racial.

A edição comentada deverá ter dois volumes e mais de duas mil páginas. Delas, 780 serão do livro original de Hitler, e as demais conterão introdução, índice e mais de cinco mil comentários de estudiosos, direcionados a estudantes, sobre a obra de propaganda escrita pelo ditador nazista.

“Queremos cercar Hitler”, disse Andreas Wirsching, diretor do IfZ. “O que vamos publicar é, na verdade, um trabalho anti-Hitler.” O instituto bávaro trabalha desde 2009 na edição e tem como intuito facilitar o entendimento do livro.

Na Alemanha, Minha Luta é constante tema de debate, porém, há pouco conhecimento fundamentado sobre ele. Apesar de ser o único documento de teor autobiográfico do líder nazista, faltam análises aprofundadas das origens, da estrutura e, sobretudo, das repercussões do panfleto de incitação popular em sua época.

O governo federal mantém uma postura neutra em relação à ideia. A versão comentada do livro não tem a intenção de apenas olhar para o passado, mas, como diz o projeto, fazer “uma profunda análise histórica da ditadura nazista”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. A morte de Hitler foi em

    A morte de Hitler foi em 30/04/1945. Logo não é no fim de 2015 que o livro vira de domínio público, e sim já em primeiro de maio.

  2. Faca de dois gumes

    Tenho sérias dúvidas. Por um lado, liberar a edição do livro pode dar plataforma a grupos de extrema direita. Mesmo que seja comentado, sabemos que a grande arma do nazismo e de outras correntes da extrema direita é a propaganda mentirosa e de ódio. Por outro lado, na internet o livro é baixado e acessado, faz-se aberta e veladamente propaganda do nazismo, inclusive no Brasil, e a versão em e-book vendida naquela famosa loja de livros da internet foi top hit no ano passado. A difusão dessas ideias já é um fato, não há como contê-las mantendo-as nas sombras pois é lá que elas crescem. Talvez o debate público dando o nome aos bois seja a melhor maneira de combater essas ideias hoje. Mas para isso é preciso que as pessoas conheçam e identifiquem o inimigo. Nos EUA por exemplo grupos neonazistas atuam publicamente. Mas em contrapartida há grupos de monitoramento, investigação e denúncia desses neonazistas; grupos que também atuam publicamente. Marchas nazistas são enfrentadas nas ruas com contramarchas. A batalha é pública, visível.

    Aqui no Brasil vemos repetidamente ideias e técnicas de propaganda nazistas serem difundidas e utilizadas desde a grande mídia até o facebook e conversas informais nas ruas. Muitas pessoas nem sabem que estão aderindo a essas ideias, propagando essas técnicas ou sendo vítimas delas. Elas surgem como algo ‘novo’, ‘espontâneo’ com origem em um ‘oráculo divino’. Quando descobrem, já foram psicologicamente controladas e aderem conscientemente sem nenhum questionamento. E aqueles de esquerda que não são estudiosos do nazismo e da extrema direita muitas vezes tem dificuldade de identificar a proximidade senão a identidade de muito do que é propagado no Brasil com o nazismo e o fascismo. Enfim é realmente uma faca de dois gumes.

  3. MEIN KAMPF

    A obra deve ser publicada na íntegra sem interferência de comentários. Deve-se respeitar a obra literária. Se há medo de que haja difusão do nazismo isso não justifica. As pessoas devem ler sem influências e sem ter receio de julgamentos. Muita porcaria está nas livrarias e muito racismo se oberva atualmente na França nos ataques a Maomé e nada acontece. 

    1. Por quê, edições críticas

      Por quê, edições críticas deveriam ser proibidas agora?

      Tem edição crítica de tudo, de Shakespeare ao Corão, de Max Weber a Lewis Carroll, por que diabos o calhamaço do cabo austríaco deveria ser publicado sem notas nem comentários?

      E, “obra literária”, por favor. “Mein Kampf” só tem valor como documento histórico, não é obra literária.

  4. Prá que esse fuzuë todo, já

    Prá que esse fuzuë todo, já li Mein Kampf duas ou três vezes (livro nojento, diga-se) baixado em pdf na internética, a eclética.

    A única novidade é que na nova edição do livro do facínora vai comentada analiticamente.

     

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