Terça-feira – Reticências, por Alcides Maya

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Marco Aurélio Barroso

Sou um amante dos escritos do gaúcho Alcides Maya. No final de 18, logo após a espanhola e o armistício, ele começou a escrever em A Noite. Esse é o seu 2º artigo. Sem dizer que o primeiro Panamá sul-americano já fora contundente.

Este chama-se Reticências­ – parece ter sido escrito ontem, ou mesmo hoje pela manhã.

Terça-feira – Reticências

por Alcides Maya

Conhecem os leitores a página consagrada a Stuart Mill sobre a capacidade irresistível dos parlamentos.

Esse inglês, arquétipo dos ingleses, soube dizer a verdade, assinalando-a politicamente à margem dos seus relatórios de secretário das Companhias das Índias.

Além de filósofo, por adaptações sociológicas, era Stuart Mill um observador sutil do seu momento nacional.

Ridicularizava o parlamento britânico. Não sei porque recordo tal nome ao iniciar essas linhas. A nossa situação é de tal forma original que dispensa citações…

No Brasil, realizamos a utopia de um país sem regime constitucional. Somos um povo feliz pelas ilusões que cultiva. Há, entre nós, como alhures, um congresso e uma imprensa. Nesta, os motivos mentais daquele tem o re-percurso fictício, arranjado, obtido, de uma voz de encomenda, a reboar sobre um país como…

Que nos disse, que nos ensinou, que resolveu esse ano o Congresso Brasileiro?

Discursos e discursos, leis e leis, projetos e projetos, praxes e praxes, que restou de tudo isso em bem para a sociedade brasileira?

Nada.

Os grandes assuntos nacionais ficaram para o próximo ano, vindos, ano a ano, dos primórdios da República.

Síntese da dissolução nacional, só há no Brasil uma preocupação: saber quem é ou quem será o supremo chefe do executivo. Pátria morta. Nesta sessão legislativa foram estudados e discutidos três assuntos que entendem com a essência de nossa nacionalidade e da nossa civilização: a questão proletária, a questão das tarifas e a questão do ensino público.

Voltaremos a discuti-las no ano próximo. Há comissões nomeadas. Aparecerão estudos, ensaios, votos, pareceres, argumentos. Aparecerão e serão oura vez adiados.

O congresso nacional só atende a matérias chamadas de práticas: eleições, verificação de poder, empregos, emendas pessoais, auxílios, empréstimos de Estado, verbas e verbas…

A instrução pública poderá esperar, o operário poderá esperar, esperará a Nação o imposto sobre a Renda. Há 3 séculos que esperamos no Brasil… a esperança é a nossa fonte de energia coletiva.

Diante de um congresso que falha e de uma imprensa que explora, apelemos para a poesia dos símbolos, firme tenaz e orgulhosamente…

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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