A invasão da Amazônia pelos Cavaleiros do Apocalipse II, por Sebastião Nunes

Deslumbrado com a ideia de transformar a floresta amazônica num gigantesco pasto para vacas, cavaleiro Messias agarrou o celular: – Cumpadre Trump?

(Washington, DC – EUA, 19/03/2019) O Senhor Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América, responde perguntas da imprensa durante o encontro. Foto: Alan Santos/PR
A invasão da Amazônia pelos Cavaleiros do Apocalipse – Segunda parte
Por Sebastião Nunes

 

Deslumbrado com a ideia de transformar a floresta amazônica num gigantesco pasto para vacas, o cavaleiro Messias agarrou o celular e quase uivou, enquanto o avião presidencial fazia uma curva aberta sobre o tapete verde das árvores imensas.

– Cumpadre Trump? – indagou entusiasmado e impaciente o cavaleiro Messias. – Aqui é o cumpadre Messias.

– Olá, cumpadre – respondeu impaciente mas desanimado o compadre Trump. E respondeu em brasileiro mesmo, que o cérebro do compadre Messias não alcançava línguas exóticas. – Tudo bem contigo?

– Tudo ótimo – alvoroçou-se o compadre Messias. – Tive uma ideia animal! Acho que você vai gostar.

– Manda – disse o compadre Trump, consultando o relógio. O muro mexicano não lhe saía da cabeça e estava pouco disposto a perder tempo com baboseiras.

Rapidamente, o cavaleiro Messias explicou a ideia de transformar toda a floresta amazônica em pasto para milhões e milhões de vacas.

– Mas a floresta é muito grande, cumpadre – protestou desanimado o compadre Trump. – Além disso tem árvore demais.

A resposta irritou o cavaleiro Messias, que não contava com qualquer negativa à sua tão magnífica ideia.

– Ora, cumpadre! – arreliou-se o compadre Messias. – Vai me dizer que não quer participar da empreitada?

– Não é isso, cumpadre Messias. – Só me parece absurdo transformar a floresta amazônica inteirinha em pasto.

– Posso detalhar minha ideia?

– Claro que pode – conformou-se o compadre Trump.

 

PASSANDO ÀS EXPLICAÇÕES

O compadre Messias respirou fundo, enquanto via, no lugar daquela montoeira de árvores idiotas, milhões de vacas pastando e abanando o rabo.

– Pois é muito simples – principiou o cavaleiro Messias. – A primeira tarefa será tirar as folhas das árvores. Embora seja um trabalho demorado, é facílimo de fazer!

– Facílimo??? – protestou com ênfase o compadre Trump. – Milhões de árvores são milhões de árvores. Como desfolhar aquilo tudo? Queimando?

– Quase, cumpadre – suspirou o cavaleiro Messias, impressionado com a própria sapiência. – Minha ideia é usar Agente Laranja para desfolhar as árvores. Sem folhas, fica fácil cortar as árvores e vender a madeira para cobrir os custos da operação.

Boquiabertos, os cavaleiros Flávio, Eduardo, Carlos e o escudeiro-Moro ouviam com espanto aquela aula de conhecimento destrutivo.

– Você acha possível, cumpadre? – duvidou o compadre Trump. – Tá parecendo uma ideia meio complicada…

– Complicada nada! – Entusiasmou-se o cavaleiro Messias. – Foi assim que vocês agiram no Vietnã e em muitas outras guerras pelo mundo. E de guerra eu entendo.

 

COSTURANDO O ACORDO

Apesar do interesse pela colônia gigante, mas preocupado acima de tudo com seu muro, o compadre Trump não estava completamente convencido.

– Vamos admitir, cumpadre Messias, que você esteja certo – principiou ele. – Usamos Agente Laranja, desfolhamos a floresta, cortamos e vendemos as árvores. Sem dúvida o lucro será enorme.

– Enormíssimo!!!! – enfatizou o cavaleiro Messias, sorrindo feliz para a turma de cupinchas-acompanhantes-cúmplices, que também sorria concordando.

– Só tem um problema grave – argumentou o compadre Trump, preocupado em não deixar o seu muro ruir. – Tem uma flora riquíssima naquela floresta. Não vai sobrar nada dela.

– Ora, flora! – ironizou o compadre Messias. – E alguém no mundo pode pensar em flora, quando tanta terra está sendo desperdiçada?

– Tem mais ainda – continuou o compadre Trump, sempre atento a seu muro. – Tem uma fauna riquíssima lá. Espécies que, dizem os idiotas dos biólogos, não existem em nenhuma outra parte do mundo. Vamos queimar tudo?

– Claro que sim! – explodiu o compadre Messias. – E alguém está se lixando pra macacos, cobras, jacarés e peixes? Ora, tenha bom senso, cumpadre!

– Ainda não estou seguro, cumpadre – insistiu o compadre Trump, que não perdia de vista seu muro. E os índios? Ainda tem índio lá? Não esqueça o tanto que nos encheram o saco por causa da matança dos índios daqui.

– Índios! E a fortuna em madeira? E os rebanhos de vaca? Tudo isso é mil vezes mais importante que um punhado de índios ignorantes!

– Tá certo, cumpadre – concordou afinal o compadre Trump. Mas só depois que o muro estiver pronto, ok?

Sebastiao Nunes

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