Nelson Mandela e a lição da pedagogia estatal por igualdade

Saudemos a vida e não apenas prantearmos o falecimento de Mandela. Neste momento em que os governos federal da Presidente Dima, estadual de Alckmin e o municipal de Haddad anunciam a adesão a políticas públicas de segregação de direitos raciais – cotas raciais – merecem luzes as reflexões e ideais que embalaram a Nelson Mandela. Os nossos defensores de leis de segregação falam e almejam a condição de “líderes raciais”. Mandela não aceitou ser uma liderança racial e tornou-se o mito como um verdadeiro estadista: um combatente do racismo. De brancos ou de pretos. Na condição de um ativista contra o racismo destaco as principais lições que aprendi com ele: a luta pela igualdade deve ser sempre pela dignidade humana de todos. Não se pode transigir com as convicções mesmo diante do poderio estatal.
 
Na condição de integrante do Conselho da Comunidade Negra do governo de São Paulo, em 1991, tive a honra de compor o comitê de organização e recepção à visita do ex-preso político a São Paulo. Ainda não era o mito. Não tinha o prêmio Nobel da Paz. Não tinha sido eleito Presidente da África do Sul. Não tinha pronunciado seus grandes discursos. Nem tinha liderado a incrível transição pacífica naquele cenário pré-guerra civil. Era um homem simples. Generosamente simples, com a dignidade que sabia portador da causa de uma luta justa. Já contava então com mais de 70 anos, recém liberto e que iniciava um giro internacional denunciando e exigindo o fim do regime de apartação racial na África do Sul.

 
Para dar cunho de apoio político conseguimos que o governador Fleury o recebesse num almoço no palácio de governo e depois o acompanhamos até à sede da Prefeitura de São Paulo, no Ibirapuera, recebido com todas as honras políticas pela então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, hoje Deputada Federal pelo PSB/SP, onde, mesmo muito cansado pela viagem e atividades na véspera, no Rio de Janeiro, nos brindou com um discurso emocionante, agradecendo e pedindo mais apoio dos brasileiros para se estabelecer a dignidade humana na África do Sul, cuja síntese ele repetia e repetia: era a igualdade de direitos de todos em face do estado, sintetizado em cada pessoa o mesmo direito de cidadão, um voto.
 
A campanha contra o regime do “Aphartheid” foi vitoriosa e em 1994, Mandela foi eleito Presidente e governou até 1999, não aceitando ser candidato à re-eleição embora tivesse mais de 80% dos votos. No exercício da presidencia, num de seus discursos pronunciou uma síntese da única pedagogia estatal contra o  racismo ao consagrar uma lógica que, atualmente, em 2013, os governantes brasileiros teimam em desconsiderar ao adotar a segregação de direitos em bases raciais.  A lição de Mandela é a de que ninguém nasce racista. São ensinados pelo estado a serem racistas e merecem ser reeducados pela pedagogia  estatal da igualdade humana.
 
Como ativista tenho alegado contra a pedagogia de direitos raciais segregagos atualmente praticados no Brasil – cotas raciais – essa perversa pedagogia estatal que ensina as pessoas a classificarem e, no futuro, a se odiarem em razão da outorga de direitos segregados, sempre lembro e cito essa lição dita no referido discurso de Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa em razão da cor da pele. Eles foram ensinados a odiar. E, se aprenderam, são humanos. Se são humanos, nós podemos lhes ensinar a amar. Podemos lhes ensinar que todos os humanos nascem iguais”
 
Desde o nascimento do racismo – uma construção social para opressão – impondo a classificação humana pela hierarquia racial, na qual a “raça negra” é a base inferior, sempre que o estado adotou a identidade racial/étnica para outorgar direitos, alimentou o racismo e produziu iniquidades, guerras e genocídios. EUA, Ruanda, Índia, Alemanha, África do Sul, Kosovo, Iraque e dezenas de conflitos étnicos são exemplos que se refletem no cotidiano da humanidade. Não há uma só experiênica exitosa de políticas estatais em bases raciais.
 
Em janeiro de 1988, meses antes da celebração do ´Centenário da Abolição´ da escravatura e ainda nos trâmites dos trabalhos da constituinte que nos outorgou a Constituição Federal em 05/10/1988 na qual pela primeira vez conseguimos tipificar o racismo como crime no Brasil, ao lado de outros membros do Conselho da Comunidade Negra do governo de São Paulo, participei de um ato exigindo o fim do sistema de apartação racial na África do Sul e pela libertação de Mandela que estava preso desde 1963, portanto ia fazer 25 anos de condenado à prisão perpétua: num gesto simbólico de solidariedade exigimos o fechamento do STAND patrocinado pelo governo racista da África do Sul, na ´Feira da Bondade´, no Parque Anhembi em São Paulo. Fato noticiado e repercutido pela imprensa internacional.  
 
http://advivo.com.br/documento/militao-1988-fechamento-do-stand-da-africa-do-sul 
 
Com essa atividade política no Brasil, na fase de transição entre a ditadura militar e a democracia que conhecemos com a CF/1988, chocamos a classe média paulista e brasileira que desconhecia – ou não se importava – com o sistema político racista vigente na África do Sul. 
 
Com o falecimento de Mandela que seus ideais nos sirva de reflexão e não só saudemos sua vida, mas apreendemos com suas principais lições: a luta pela dignidade humana de todos. E que não devemos desistir. Nem transacionar com nossas convicções. Mesmo diante do imenso poderio estatal: “Durante a minha vida, me dediquei à luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e conseguir realizar. Mas, se preciso for, é um ideal para o qual estou disposto a morrer.”
 
Redação

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  1. Conservadores britânicos pediam: “Enforquem Mandela”

    O esquecimento é amigo da barbárie: ‘Enforquem Mandela’, pediram britânicos
    blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br • June 12, 2013
    blog – mandela – poster hang
    Cartaz do começo dos anos 1980
    Perdão pelo azedume, em meio aos festejos pelo grupo café-com-leite do Brasil na Copa, a preocupação com o possível oponente duro nas oitavas-de-final e o lamento por Nelson Mandela.

    Não deveria, mas ainda me assombro com tanta hipocrisia, como agora, com a morte do velho líder negro sul-africano. Muitas das bocas que hoje tecem loas à memória do velho combatente são herdeiras históricas daquelas que, com a CIA e numerosos governos alegadamente democráticos, no passado nem tão distante, avacalhavam Mandela como subversivo e terrorista.

    Margaret Thatcher e seus discípulos ainda são celebrados como a luz que livrou o Reino Unido das trevas. Se dependesse de alguns thatcheristas, Mandela não teria nem saído vivo da cadeia. É o que lembrei meses atrás, no comecinho do blog.

    Em homenagem a Nelson Mandela, reproduzo abaixo o post, documentado com o cartaz acima. Nem todas as lágrimas na despedida são sinceras.

    *

    “Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas do Congresso Nacional Africano [ANC, nas iniciais em inglês]. Eles são açougueiros.”

    O cartaz acima foi distribuído no Reino Unido no início da década de 1980, quando o líder negro sul-africano ainda amargava a prisão iniciada em 1962. A imprensa o atribuiu à Federação dos Estudantes Conservadores, vinculada ao Partido Conservador e sobretudo à primeira-ministra da época, Margaret Thatcher (1925-2013).

    A senhora Thatcher também chamou Mandela de terrorista. O CNA era a organização política anti-apartheid à qual Mandela pertencia.

    Mandela não foi enforcado e conquistou a liberdade em 1990. De 1994 a 99, presidiu a África do Sul, consagrando o fim do regime de segregação racial, a despeito da enorme desigualdade social que ainda persiste. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

    No momento em que Mandela, velhinho, está internado em estado grave aos 94 anos, não custa lembrar que, se dependesse de alguns estudantes britânicos ditos civilizados, ele estaria morto há muito tempo.

    Source: http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2013/12/06/o-esquecimento-e-amigo-da-barbarie-enforquem-mandela-pediram-britanicos/

    1. Meu caro, estude um pouco de

      Meu caro, estude um pouco de historia, não vai cansar sua cabeça. Mandela não lutou contra britanicos e sim contra o Partido Nacional dos afrikaners que eram holandeses e inimigos dos britanicos, os ingleses  deixaram o poder na Africa do Sul com o fim da União Sul Africana e a fundação da Republica da Africa do Sul, controlada pelos afrikaners.

      Os ingleses foram contra o apartheid, votaram sempre pelo fim desta politica no Conselho de Segurança da ONU.

       

      1. Fiódor falou no geral

        Motta, o Fiódor falou de um modo geral, da politica neoliberal encabeçada por Teacher, Reagan etc caterva, e quanto ao texto do Dr. Militão, a par de admirar o autor, só lamento este seu ponto de vista acerca do Estado diante da desigualdade e da falta de oportunidades, se para pobres brancos, mais ainda para pobres pretos. Não creio que dar oportunidade para uma parcela injustiçada possa desencadear uma “guerra racial”. Pelo pensamento de Militão, os pretos brasileiros terão que esperar o dia em que o Brasil se tornar um país próximo aos paises escandinavos em termos de igualdade e oportunidade para todos os seus habitantes, pelo que sei, a elite tupiquim só reclama de altos impostos e deve trilhões de reais ao fisco, nem a CPMF aceitou pagar:

        “Eu lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.” (Mandela). 

  2. As homenagens hipócritas a Mandela

    Do facebook de Idelber Avelar

    (4) Sempre que um grande líder revolucionário se… – Idelber Avelar Guarani Kaiowá
    facebook.com
    Sempre que um grande líder revolucionário se torna inatacável e começa a alcançar a unanimidade, os hipócritas que tentaram sufocá-lo enquanto ele lutava mudarão de estratégia e tentarão neutralizá-lo, apagando de seu legado aquilo que o tornava revolucionário. Aconteceu com Zumbi, aconteceu com Martin Luther King e acontece agora com Nelson Mandela que, a se crer nos obituários da imprensa e dos políticos, teria sido uma espécie de Madre Teresa de Calcutá, pacifista, não-violento e passivo. Nada mais longe da verdade.

    1. Israel, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha tentaram sufocar Mandela e a luta anti-Apartheid de todas as formas possíveis e imagináveis. Apoiaram a atrocidade e lucraram com ela até o último minuto. Seus chefes de governo não têm autoridade moral para se apropriar do legado de Mandela até que peçam desculpas ao povo sul-africano pelo sofrimento infligido.

    2. Da capa do New York Times (http://bit.ly/1d4BHpx ) até a cínica nota do governo paulista (http://bit.ly/1d4DJ9c ), fala-se de Mandela como o homem da “resistência pacífica” e da “não-violência”. Balela. Essa mesma turma estava (NYT) ou estaria (Alckmin) chamando Mandela de “terrorista” nos anos 60.

    3. Mandela foi co-fundador do braço armado do Congresso Nacional Africano, o Umkhonto we Sizwe. Em seu impressionante discurso ante o tribunal que o condenou à prisão perpétua (e sobre o qual seu advogado branco lhe advertiu: “vão te enforcar logo em seguida se leres isto”), Mandela disse: “no começo de junho de 1961, depois de análise longa e angustiada da situação sul-africana, eu e alguns colegas chegamos à conclusão de que, já que a violência neste país era inevitável, seria errado e irreal que os líderes africanos continuássemos a pregar a paz e a não violência, num momento em que o governo reagia com a força a nossas demandas pacíficas” (http://bit.ly/1dUm9tr). O Umkhonto we Sizwe realizou inúmeras ações armadas contra o Apartheid, todas elas com o apoio de Mandela.

    4. Em 1985, Botha ofereceu a Mandela a liberdade se ele renunciasse à luta armada. Madiba recusou. Ainda em 1990 (vejam só, em mil novecentos e noventa!), no momento em que o liberam da prisão, Madiba declara: “os fatores que exigiram a luta armada ainda existem hoje. Não temos opção senão continuar. Expressamos a nossa esperança de que seja criado um clima que conduza a uma solução negociada para que já não haja necessidade de luta armada” (http://bit.ly/1d4BHpx).

    5. É verdade que, ao ser eleito em 1994, Mandela soube estender a mão à minoria branca, promover a reconciliação e evitar uma guerra civil. Ao se reunir com Botha, Madiba chega falando africâner, como gesto simbólico (http://bit.ly/1d4Cff3), pois sabia que estava numa posição de enorme superioridade moral. Mas essa posição foi CONQUISTADA, com lutas pacíficas e não-pacíficas. Mandela apoiou ambas.

    6. Nenhum líder revolucionário escolhe “violência” ou “não-violência” assim, no abstrato, divorciado do contexto, como se se tratasse de escolher Grêmio ou Internacional para a vida toda. Mandela não foi a Madre Teresa de Calcutá na qual, curiosamente, querem transformá-lo agora aqueles que antes o chamavam de terrorista. Foi um líder revolucionário. O maior líder revolucionário do nosso tempo.
    Source: https://www.facebook.com/idelber.avelar/posts/10151900522002713

    1. Israel, EUA e Inglaterra

      Israel, EUA e Inglaterra tentaram enforcar Mandela? Como? Israel não tinha nada a ver com o assunto, EUA e Inglaterra votaram contro o regime do apartheid nas Resoluções 134, 181, 1899, 554 do Conselho de Segurança e na condenação final na Assembleia Geral em 14 de dezembro de 1989. As sanções contra a Republica da Africa do Sul sobre bloqueio do envio de petroleo foram decisivas para o fim do apartheid (Res.1899 de 13.11.63), votadas pelos EUA e Inglaterra.

  3. A igualdade é o unico caminho

    A igualdade é o unico caminho a ser trilhado pelo estado

    raça ( construçao politica ) não existe porem como o ser humano é perfido ele alimenta esse conceito maligno

    Uns para o mal e outros ( inocentes uteis , quero crêr ) tentam validar essa abominaçao a titulo de fazer justiça

    Ocorre que ao usar algo maligno como o conceito de raça eles acabam ( querendo ou nao ) validando essa ideia

    E para os racistas não ha coisa melhor do que alguem defender a existencia de algo assim, para o bem ou para o mal nao importa o importante é que o conceito seja inscrustado no imaginario popular

    Pois como todo mundo sabe, um racialista pode ( quero crer rs ) nao ser racista  mas TODO racista é RACIALISTA…rs

    Pessoas devem ter direitos por serem iguais , cidadãs e nunca por serem diferentes

    Exceção somente  em genero e restriçao de mobilidade mas lembrando que entre esses NÃO HA DISTINÇAO para o recebimento do beneficio , bastanto que seja portador da restrição ou do genero em questao

    1. Sinceramennte, seu histórico

      Sinceramennte, seu histórico não no permite dar credibilidade em relação  a esse assunto leônidas…infelizmente. Que “as pessoas devem ter seus direitos por serem iguais” todo mundo sabe da cabeça aos pés, só falta combinar com a raça umana e a sensação de ser sentir único em um mundo nde ter é ser. Nesse cenário, a raça nem importa, como disse caetano em uma de  suas canções, “… eram brancos tão pobres que até pareciam negros…” Esse conceito de iualdade é rechaçado pelos da ideologia capitalista, simplesmente pq esses sabem que a essencia de hoje é segregar pelo dinheiro.

  4. mandela

    depois de tudo que li sobre mandela ontem e hoje tive o prazer de encontrar seu texto. emocionante, generoso, simples, despojado, reconhecido, agradecido e mais uma porção de antes, osos e idos. que bom! parabéns

  5. É um Lula, um Dirceu, um

    É um Lula, um Dirceu, um Genoino africano! Mas se estivesse aqui, estaria preso, não tenho dúvida. O nosso stf, não o perdoaria por ter lutado pelo povo e pela democracia igualitária.

    1. Mandela estaria morto. Teriam
      Mandela estaria morto. Teriam suicidado ou desaparecido ele. Mas seria um grande herói da esquerda e teria a justa homenagem de figurar como herói nacional.

  6. Vou comentar na certeza de

    Vou comentar na certeza de que o autor do post não age com má fé, pelo contrário, acredita piamente no que escreve. Em primeiro lugar, tem política de cota racial na África do Sul sim; não sei se foi o governo Mandela que instituiu, mas a política está lá.

    Em segundo lugar: qual a noção de igualdade do autor? Uma política de cotas, quaisquer que sejam elas, partem da premissa de oferecer igualdade de oportunidades. Isso necessariamente implica tratamento desigual, pois o problema a ser superado é exatamente a desigualdade de oportunidades. Certamente o autor tem outra compreensão do que seja igualdade, ou pelo menos só aplica a palavra em um determinado contexto.

    Sempre que leio os textos de MIlitão tenho a sensação de que seu orgulho fala mais alto do que a razão, quando o assunto são as cotas. Parece que ele parte do suposto de que nós, negros, devemos manter nosso orgulho e não aceitar tratamento desigual. 

    Finalmente, vamos honrar Mandela por muitas das suas virtudes e uma delas, parece meio esquecida, é de ser um grande político. O discurso da pacificação e do perdão não era apenas uma postura mansa de Mandela, mas uma estratégia muito sábia de um politico que sabia não ter poder suficiente para fazer seu povo dominar o país. Mandela sabia que precisava do apoio branco para governar, pois estes eram os donos da economia. Se ele sabia disso, como iria desafiá-los? A opção pela política do perdão e da conciliação foi extremamente inteligente porque ofereceu um sinal de trégua aos brancos e um sinal de respeito à cultura e às tradições dos negros. Isso vindo de alguém que esteve np braço armado do CNA não é pouca coisa. 

    Portanto, devagar com as comparações porque apesar das smelhanças, Brasil e África do Sul são muito diferentes.

    1. Cotas é obrigação estatal, e não pode ser doutra forma
      Sou a favor de cotas para Spin Negro como fator de inclusão social, isso é dar oportunidade a desiguais, se o país não fosse tão injusto e desigual as cotas raciais e sociais como Bolsa Familia, Enem para ingresso de alunos da escola pública em universidades, Prouni e outras, nem seriam necessárias, o Estado tem que gastar mesmo é com quem necessita e, quando o pais for um país escandinavo em termos de igualdade para todos, todas estas políticas de inclusão social não se farão mais necessáriashttp://oglobo.globo.com/opiniao/ferramenta-de-inclusao-10981710?fb_action_ids=662365773783578&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map=%7B%22662365773783578%22%3A204468426406387%7D&action_type_map=%7B%22662365773783578%22%3A%22og.recommends%22%7D&action_ref_map=%5B%5D

       

  7. Mas, e na prática ?

    Militão, aprendia a respeitar suas particpações sempre pontuais e diferenciadas neste espaço.

    Mas é sabido e notório que, Mandela e o CNA trabalharam em conjunto com o governo de Klerk para a criação ‘artificial’ de uma elite negra, formada em grande parte pelos próprios membros do CNA,  nos anos anteriores a entrega do poder político democraticamente aos negros e do ‘afrouxamento’ da repressão e do fim do apartheid. Elite esta que funcionou desde então como um amortecedor social entre a minoria branca ( ricos e proprietários ) e uma maioria negra ( pobres e trabalhadores ).

    Entretanto, muitos grupos da esquerda sul-africana, na verdade é quase um sentimento comum entre eles, que o sonho de Mandela tornou-se utopia, e que após 20 anos do início de seu governo, muito pouco mudou justamente porque não houve política diferenciada para a grande maioria dos negros, afora aquela elite citada anteriormente, e que o país é um efervescente caldeirão social com viés racial.

    O que houve então ? Na prática a teoria de Mandela também não funcionou ? 

  8. Enriquecedor, gostei do que

    Enriquecedor, gostei do que li. Debati recentemente sobre o racismo e vejo o tanto que falta para profundamente do assunto.

    Seja como for, Inicialmente sou a favor do que chama de política de segregação racial praticada pelo Estado. Penso que a tese contrária a essa outra é um tanto radical, embora pareça um paradoxo.

    Acredito que a definição de um prazo limite para a aplicação de políticas tais como a de cotas amenizaria alguns problemas, por exemplo deveras grave disseminção da idéia de diferença racial enter os humanos.

    E discordo da impossibilidade adoção de políticas assim segundo os vários exemplos citados. Creio que nossas condições são muito peculiares e concederia maior peso para critérios tais como o longuíssimo tempo de escravidão, a matriz jurídico-políca de ordem ibérica (menos familiarizada com conceitos liberais), a *miscigenação, a *idade do povo brasileiro (não haver distinção tão aguda entre gentes).

    Por último, a realidade social não permite tempo tão longo de espera até que finalmente as condições sociais sejam tornadas mais democráticas e com oportunidades iguais.

    Embora o argumento da natureza humana seja inigualável e muito nobre, é razoável supor que demandaria décadas e mais décadas para o acontecimento da igualdade. Visto que é preciso uma maturidade política avançada, não vejo condições da espera ser menor nas perspectivas atuais do país. 

    Ainda compararia com a situação da própria África do Sul dos dias de hoje. Se ontem segregavam, hoje não haveria cores muito mais diversificadas e favoráveis ao progresso como um todo.? E nesse ponto entendo que combater o racismo dos negros em relação aos brancos é – de novo – mais razoável.

     

    1. Só quem é contra chama de
      Só quem é contra chama de políticas raciais, racialistas e racistas. Como raça é uma construção artificial, baseada exclusivamente na cor da pele e em traços físicos, é mais razoável considerar o real problema do preconceito: a origem e a etnia, incluindo aí a cultura não hegemonica.
      Prefiro, então, falar em cotas étnicas ou ações afirmativas. Mandela de fato não aplicou políticas raciais, assim como não faz o Brasil.

  9. Ações afirmativas na África do Sul
    Seria impossível governar um país segregado desde o século XVII afirmando que todos sao iguais, mas sem dar condições para reparar as desigualdade. Mandela promoveu, sim, ações afirmativas na África do Sul durante seu governo e elas até serviram de base para a nossa política de cotas, citando-se até exemplos sul-africanos na defesa encaminhada ao STF.
    O problema lá é que foram ações insuficientes. 40% dos negros ainda estão desempregados e há uma retração econômica com ameaça de convulsão social e protestos contra o governo.
    O caminho defendido é o aprofundamento das políticas afirmativas e reparadoras para apressar a igualdade almejada entre brancos e negros.

    www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u350146.shtml
    Após o fim do apartheid na África do Sul, há
    13 anos, as ações afirmativas
    implementadas no país foram o principal
    instrumento no processo de inclusão social
    dos negros, segundo Shadrack Gutto,
    professor para estudos africanos da
    Universidade da África do Sul, entrevistado
    com exclusividade pela Folha Online em São
    Paulo.
    Até então, os brancos –10% da população
    do país– detinham 87% das terras,
    enquanto os negros, que representavam
    90% da população, tinham 13% delas. A
    exclusão repetia-se na política, na educação
    e na economia.
    “A situação mudou graças às ações
    afirmativas colocadas a partir de 1994”.

    Folha Online- Como o senhor avalia a eficácia
    das ações afirmativas na inclusão social dos
    negros na África do Sul?
    Shadrack Gutto- A segregação na África do
    Sul já existia desde a era colonial. Depois,
    como todos sabem, o país tornou-se o
    centro de um racismo sistêmico e muito
    organizado durante o apartheid. Quando
    esse regime foi derrotado, graças aos
    esforços da comunidade internacional e do
    próprio povo sul-africano, foi preciso
    corrigir os erros históricos.
    Para isso, as ações afirmativas tiveram um
    papel imperativo, e já havia uma visão sobre
    sua eficiência. Em 1993, o partido Congresso
    Nacional Africano, que hoje governa o país,
    formulou o Programa de Reconstrução e
    Desenvolvimento. Quando chegou ao poder,
    em 1994, por meio das primeiras eleições
    democráticas, implementou diversas
    reformas para dar poder aos negros, que
    estavam excluídos da economia, da política,
    da educação.
    Houve então uma série de ações, incluindo
    reforma agrária, reforma nos serviços
    públicos e sociais e reforma na área
    educacional.
    Folha Online- Como era exatamente a
    situação dos negros até então?
    Gutto- Antes de 1994, os brancos, que eram
    10% da população, detinham 87% das
    terras no país. Os negros, que
    representavam 90% da população, tinham
    apenas 13% das terras. Ou seja, a reforma
    agrária era fundamental. Primeiro, era
    preciso dar aos negros os títulos das terras
    que já ocupavam. Porque, até então, embora
    eles estivessem lá, o governo só concedia os
    títulos aos brancos.
    O governo também teve que comprar terras
    para assentar os negros que queriam
    trabalhar
    na agricultura. Havia um problema
    habitacional, porque eles não podiam morar
    em muitos lugares. Então, a questão
    habitacional também virou prioridade.
    Era necessário colocar recursos para que as
    pessoas pudessem fazer parte da economia
    e recobrar sua dignidade. Nesse sentido, a
    reforma agrária foi um dos principais
    passos.
    Folha Online- O senhor chama de ações
    afirmativas esse tipo de reformas?
    Gutto- Não se pode falar em um sentido
    estreito. As ações afirmativas são
    instrumentos para se corrigir os erros
    históricos, para incluir aqueles que estavam
    excluídos. As pessoas costumam usar o
    termo “ações afirmativas”. Eu, pessoalmente,
    prefiro falar em “ações corretivas”, porque
    você está corrigindo esses erros. O que você
    faz é dar às pessoas o direito de usufruir os
    direitos que elas já deveriam usufruir
    normalmente. As ações afirmativas visam
    construir uma sociedade normal a partir de
    uma sociedade anormal.
    São medidas para que as pessoas possam
    desenvolver todo o seu potencial como
    seres humanos. Porque no regime do
    apartheid, as pessoas não desenvolviam seu
    potencial.
    Folha Online- O que aconteceu na África do
    Sul nos últimos anos em termos de inclusão
    da população negra pode mesmo ser
    considerado exemplo de sucesso?”
    Gutto- Houve mudanças muito significativas.
    Um outro avanço importante, por exemplo,
    foi na questão dos serviços sociais, como
    benefícios e pensões para crianças, idosos e
    desempregados. Os negros não tinham
    acesso a isso. Era um privilégio dos brancos.
    Então, o governo teve que assegurar que
    todos, brancos ou negros, pudessem
    receber esses benefícios, já que são tão
    importantes, especialment

  10. Mandela e o Estado social forte

    Não ´verdade que Mandella não tenha feito políticas de inclusão social para setores desfavorecidos da população:

    África do Sul se interessa pelo “Modelo Lula”

    http://www.institutolula.org/tag/africa-do-sul/

     

    Dados do governo Mandela: Foco no Estado Social forte com subsídios como forma de combate a desigualdade social

     

    “Durante o curso de seu mandato uma vasta gama de reformas sociais progressivas foram decretadas, visando reduzir o grande fosso de desigualdades sociais e econômicas. Entre as medidas adotadas por Mandela e seus Ministros estão:

    Introdução de cuidados de saúde gratuitos (1994) para todas as crianças menores de seis anos de idade, juntamente com as mulheres grávidas e lactantes, com uso das instalações do setor de saúde pública (medida que foi estendida a todos aqueles que necessitam do nível primário do setor de saúde pública, em 1996).14Aumento nos gastos sociais, com ampliação nos investimentos públicos em previdência e em subvenções sociais em 13% no período 1996/97, 13% 1997/98 e 7% em 1998/99.15Pagamento equânime dos subsídios por invalidez, subsídios para manutenção da criança e pensões por velhice, que anteriormente eram definidos em diferentes níveis para os diversos grupos raciais.15Inclusão das crianças da zona rural nos subsídios para manutenção da criança, que o sistema anteriormente excluía.15Aumento significativo dos gastos públicos com educação, crescendo as despesas em 25% em 1996/97, 7% em 1997/98 e 4% em 1998/99.15A Lei de Restituição de Terras, de 1994, que permitiu que as pessoas que tiveram suas propriedades perdidas pelo Natives Land Act de 1913 pudessem reclamá-las de volta, resolvendo assim milhares de reivindicações de terra.16(wikipedia)

    1. Vc está ficando uma piada

      Vc está ficando uma piada cada vez maior… Mandela foi presidente de 93 a 99, não existia governo Lula.

      A fonte da sua notícia é muito confiável…

      1. Tem razão, foram as ações
        Tem razão, foram as ações afirmativas implementadas por Mandela que inspiram o governo Lula. Agora comente o resto, ou vai se limitar aquele pequeno deslize.

        1. Pequeno deslize, querer

          Pequeno deslize, querer compara lula com NELSON MANDELA e o que ele fez. MANDELA conseguiu unir uma nação totalmente esfacelada e o lula conseguiu dividir em dois.

          1. Lula uma ova seu Zanchetta !!!

            Quem dividiu o Brasil desde sempres foi a elite, escravocrata, preconceituosa, mesquinha e estúpida….ao metalúrgico coube o papel de distribuir as migalhas para os desvalidos, pq se fizesse algo a mais do que isso deria derrubado por essa mesma eleite.

          2. Não foi Lula que dividiu. Sao
            Não foi Lula que dividiu. Sao aqueles que sempre acharam natural a divisão que estão reclamando do acesso dos pobres ao que consideram só de seu direito. Mas não se preocupe que essa minoria morre ligo de desgosto.

    2. Políticas Públicas sociais

          Prezado Avatar,

          os Programas Sociais da era Mandela que você elenca acima, são todas políticas públicas destinadas aos pobres, e se 97/98% dos pobres na África do Sul são pretos, esses serão os contemplados, não em razão da ´raça´, mas em razão do benefício social.

          Sempre afirmo que a maior política pública de Ação Afirmativa beneficiando afrodescendentes tem sido feita no Brasil e ninguém alega que sejam raciais: são osprogramas do Bolsa Família. 80% dos beneficiários são pretos e pardos que estão sendo incluidos socialmente não em razão da ´raça´ ou de igualdade ´racial´, mas pelo fato notócio de que os 70% dos mais pobres no Brasil são pretos e pardos.

          No caso da África do Sul e em menor escala nos EUA, em que a segregação/apartação de direitos foi um empreendimento do estado racista – em nome de direitos raciais – faz algum sentido políticas públicas objetivas visando a correção das atuais desigualdades, o que não se aplica no caso do Brasil. Nós nunca tivemos um estado em regime de ´Aphartheid´.

          Portanto reitero, a grande lição e sonho de Mandela, na verdade é muto semelhante ao ´sonho´ do Doutor LUTHER KING, que era construir e viver numa nação em que seus filhos – e todas as pessoas – sejam vistas pelo conteúdo de seu caráter e não pela cor da pele. Esse sonho, meu caro, afirmo com toda tranquilidade é o sonho de todos os afrodescentes, da África ou da diáspora. Nós sonhamos com direitos iguais. Sonhamos com o fim das discriminações. Sonhamos com os fim dos preconceitos racistas. Esse é o empreendimento e objetivos de FRANTZ FANON, LUTHER KING e NELSON MANDELA. E são também os meus e de milhões de afro-brasileiros, com segurança a maioria.

          Enfim, que as lições de Mandela nos sejam úteis.

          

      1. Mas, tomando o histórico de
        Mas, tomando o histórico de dominação secular, os quase 50 anos de uma política oficial de castas e a realidade do negro sul-africano, é possível dizer que políticas de apoio diferenciado ao negro é apenas pleonasticamente chamada de “política para os pobres”? O objetivo é ascender negros empobrecidos historicamente e não os 2% pobres de outras etnias. Para estes não haveria necessidade de grandes ações. É um jogo retorico dizer que as políticas afirmativas sao para pobres quando a própria luta de toda a vida de Mandela não foi a favor dos pobres contra os ricos, mas dos negros contra uma sociedade classista branca.

      2. Já foi posta aqui uma fala da
        Já foi posta aqui uma fala da ministra da igualdade dizendo que o maior mal do apartheid para o mundo foi fazer parecer que o racismo era só o que acontecia lá na África do Sul, alimentando um discurso que miniminiza erroneamente nossos problemas.
        É como dizer que tivemos uma ditabranda porque não vivemos a ditadura de Pinochet.
        Olha, se não tivéssemos por 300 anos sequestrado a população africana exclusivamente para trabalhos forçados e estupros; se tivéssemos indenizado os negros libertos; se tivéssemos feito reforma agrária com eles; se tivéssemos garantido a educação dos seus filhos; se tivéssemos ao menos lhes dado emprego ao invés de tentar banquear a nação com imigrantes, aí sim se poderia falar em igualdade de oportunidades pela posição social e não pelo preconceito étnico enraizado.
        Todo pobre tem uma origem e as políticas afirmativas amplas tem que olhar os motivos da pobreza. No caso Brasileiro é reconhecer que se há 80% de negros no Bolsa Família, do outro lado há 100% de brancos nos cursos considerados de elite nas faculdade. E isso não é uma casualidade. Por isso o cômodo discurso da pobreza é insuficiente frente a realidade do negro à mostra.

  11. Se não existe raça, não

    Se não existe raça, não existe racismo, assinado Ali Kamel.

    Ok, a ciencia repudia o conceito de raça para os seres humanos. Mas chame de outra coisa então, pois é fato que um conjunto de carater´siticas físicas, tais como cor da pele, “cabelo ruim, nariz achatado, e beiçola”, estigmatizam uma pessoa.

    E o autor falta com a verdade quando afirma que em nenhum país as ações afirmativas trouxeram benefíicios na luta contra o racismo. Os EUA são uma prova do contrário. Ok, nennhuma política de estado pode obrigar um neocon caipira a não ser racista.

    No entanto os EUA é o país em que uma minoria que descendeu de escravos, caso dos negros americanos, mais ascendeu social e economicamente. Em nenhum país do mundo, fora da África, se vê tantos juízes, intelectuais, estrelas de cinema, empresários, médicos, engenheiros e agora presidente da república, de pele negra.

    Se o conceito de raça é controvertido, esse caso pode ser a exceção que confirma a regra, “os fins justificam os meios”

    1. Faltar com a verdade:

               Prezado Juliano,

               Eu não diria que você falta com a verdade. Mas afirmo que a tua verdade não corresponde à realidade.

               Primeiro que você – e os defensores de políticas de segregação de direitos raciais – confundem as cotas raciais com as boas políticas de Ações Afirmativas. São coisas distintas. As boas Ações Afirmativas reparadoras exigem um programa de investimentos e de incentivos a políticas que neutralizem as discriminações. AA, portanto, é gênero de políticas públicas. Diversos países as praticam forma saudável e eficaz, inclusive, os EUA o fazem a partir de 1980 quando as ´cotas raciais´ foram proibidas pela Suprema Corte.

               O princípio motor da doutrina de Ações Afirmativas é a promoção da igualdade. A igualdade humana de tratamento e de oportunidades. Para isso exige-se investimentos e em muitos casos de renúncia fiscal a favor de empresas ou universidades que as adotam, como estímulo para a neutralizações das discriminações históricas. O emprego de Ações Afirmativas contempla ao mesmo tempo o combate ao racismo, ao sexismo, ao machismo, à homofobia e qualquer outra dessas ´doenças´ sociais que produzem as discriminações odiosas. Com ações afirmativas o estado investe recursos públicos visando neutralizar e compensar práticas discriminatórias históricas a fim de promoção da diversidade humana. E não de diversidade racial.

               Já as ´cotas raciais´ é uma espécie de política pública racial tentada dentro de Ações Afirmativas sob argumento de um direito ´racial´. E não funciona bem, principalmente por que o seu emprego de forma compulsória pelo estado acaba legitimando a crença em ´raças´ e numa presumida inferioridade ´racial´: o ideal do racismo. Essa presunção produz efeitos colaterais terríveis – pois humilhante e aviltante à toda a população afrodescendente – e que não se limita à humilhação do indivíduo beneficiário. O teu exemplo norte-americano já se comprova com dados de ter sido uma tragédia social sem paralelo no mundo.

             Juliano, embora não existam ´raças´ humanas há o racismo que combatemos. E o racismo nasceu da afirmação da classificação humana em raças com distintas qualidades e habilidades diversas. Esse conceito de ´raças humanas´ é o que precisa ser destruido por não ser condizente com a verdade biológica: os humanos não tivereram origens raciais diversas. Assim, o racista pensa que, como existem raças animais diferentes dentro da mesma espécie: há raças de cães para caça, para guia ou para guarda, ou raças de cavalos adequados para corrida, pastoreio ou passeio para o racismo também há classificação de raças humanas com hierarquia, sendo uma superior e a ´raça negra´ a inferior. Por isso, embora não existam diversas raças humanas, há o racismo e a grande lição de MANDELA, de LUTHER KING, de FRANTZ FANON e até de MALCOLM X, na fase final de sua vida, foi a de nos ensinar que devemos lutar pela afirmação da pedagogia da única espécia humana e da igualdade de todos. E essa igualdade é a que deve ser afirmada pelo estado.

             As cotas raciais, nos EUA e a que adotamos no Brasil, assim como a alforria era uma proposta de convivência com a escravidão, as cotas pressupõe a convivência com o racismo. E nós, vítimas preferenciais do racismo não podemos acolher essa doutrina da convivência com o racismo pois o racismo é a negação da dignidade humana dos afrodescendentes.

              Por outro lado, sob o ponto de vista da responsabilidade ética do estado, o emprego de ´cotas raciais´ também é um engodo, pois não exige do estado nenhum investimento de recursos orçamentários. Por isso é muito atraente para o governante e será acolhida com grande facilidade: sem investir nenhum real faz-se a manipulação da escassez retirando direitos de um setor da sociedade para entregar a outro sob a perversa justificativa de um direito ´racial´. Os mais ricos que não disputam vagas públicas, ou quando disputam estão entre os 50% melhores classificados, nada perdem. Resta, por conseguinte, o estado obrigando os mais pobres, oriundos do mesmo ambiente social, a uma insidiosa disputa racial. Essa é a realização dos ideais racistas que sempre foi afirmação de direitos raciais separados.

               Também é relevante considerar o pior dos efeitos colaterais das cotas segregadas, além do aprofundamento da crença em raças e do racismo, é a crescente perda de auto-estima entre os mais jovens. Nos EUA por exemplo, todos os grandes estudiosos afro-americanos, inclusive o Presidente OBAMA constataram que as políticas de cotas raciais – vetadas pela Suprema Corte como política pública – empregada amplamente nos anos 1970 e 1980, produziram esse efeito colateral perverso. O pior é que esse fenômeno afeta principalmente crianças e jovens. A juventude perdeu o orgulho das conquistas de seus pais o que sempre se constituiu num grande patrimônio moral dentro da comunidade afro-americana desde o fim da escravidão. Estimuladora do crescimento.

               A tal ´exemplaridade´ a que você se refere – a exposição midiática – perdeu o sentido quando deixou de ser uma conquista e passou a ser um privilégio concedido pelo próprio sistema racista. Um efeito muito parecido com a instituição da alforria nos tempos da escravidão em que somente no Brasil foi tão amplamente empregado. Também era exemplar cada senhor de escravos dentre centenas de vítimas, escolher um privilegiado com o novo status e que na verdade sempre seria considerado um ´cidadão de segunda classe´ dentro da sociedade escravista. As cotas raciais criam esse mesmo tipo de exemplar, humilhante.

               Vamos aos números. De fato, nos EUA, as cotas raciais criaram uma pequena elite de afortunados. São estrelas no cinema, nas TVs, nos diversos esportes, no jornalismo, em carreiras públicas e executivos de grandes corporações. Algumas centenas são milionários. Nada além de 2 a 3% dos afro-americanos ascenderam a alta classe média. Nada mais que um milhão dentre os 40 milhões da comunidade. E outros 5% são classe média/média. Dos demais 40%, ou maioria absoluta estão em iguais condições e o restante de 50% estão em piores condições que em 1970. A exemplaridade de cotas raciais, tal como a alforria, não é para a maioria. Os afortunados convivem com o racismo. Não frequentam os mesmos locais de outras personalidades. Se compram uma mansão num bairro de elite, as casas vizinhas logo são colocadas à venda. Precisam pagar caro por algum status. A maioria continua convivendo com o racismo, mas não tem como comprar o status e o respeito: são vítimas do racismo no cotidiano.

             A baixa estima de crianças e jovens afro-americanos, cujos ídolos musicais e culturais tem sido o modelo de gangs e cultivam como heróis os prisioneiros, seu jeito de falar e de andar. A última geração de ídolos na música, por exemplo, nos remetem a Ray Charles, Tina Turner, Steve Wonder, Michael Jackson e outros pré-1980. Os grandes do jazz ou do blues, jamais serão formados nos EUA. Tem sido uma catástrofe social sem precedentes. O jovem afro-americano não tem nenhum interesse em estudar nem se dedicar a formação profissional nas áreas técnicas medianas e já não chegam à universidade em número proporcional ao da população.

             Em 1960, menos de 0,1% dos afro-americanos, cerca de 30.000 cumpriam penas. Em 2012, com um presidente afro-americano, mais de 6%, ou seja 2,5 milhões estavam sob custódia da justiça. Eram 13% as crianças filhas de mães-solteiras. Hoje, mais de 70% ou seja: de cada dez crianças, sete jamais conhecerão a figura paterna. Em alguns estados, mais de 50% dos jovens (16-30) estão cumprindo penas. As drogas e o crime organizado possuem uma clientela cativa. O desemprego e empregos precarizados é o que resta para os demais. Pouco mais de 20% dos jovens de 16-30 possuem emprego regular e menos ainda estão estudando. A desintegração familiar, as drogas e sua criminalização representam um futuro ainda pior para a comunidade afro-americana.

             Enfim, as cotas raciais segregadas empregadas apenas em uma geração conseguiu destruir o que vinha sendo construído pela comunidade afro-americana em mais de cem anos. Somente para uma comparação nesses dados: os afro-americanos são 40 milhões e tem cerca de 2,5 milhões sob custódia da justiça. No Brasil somos 100 milhões de pretos e pardos, e temos menos de 500.000, ou 0,5%, cumprindo penas. Ou seja, conforme disse em 2008, o candidato OBAMA em campanha: o atual niilismo social na comunidade afro-americana é a maior tragédia social da história norte-americana.

             Em outro paralelo com o nosso sistema das alforrias precisa ser evidenciado: não produziu nenhum grande líder abolicionista, também as cotas raciais não produziram afro-americanos líderes combatentes do racismo nos EUA. Esse fenômeno se dá por uma razão psicossocial evidente: os beneficiários se tornam devedores de gratidão ao sistema que os privilegiaram. A alforria produzia colaboradores do sistema, e a maioria dos alforriados também se tornavam donos de escravos e muitos ainda mais perversos (leia MACHADO DE ASSIS ´Memórias Póstumas de Brás Cubas). Também as cotas raciais produziram expressões reacionárias nos EUA: o general COLIN POWELL e a doutora Condolezza RICE foram serviçais dos governantes que mais oprimiram povos do terceiro mundo.

            Portanto quem afirma que as cotas raciais não foram boas para os afro-americanos são autores afro-americanos como CORNELL WEST, THOMAS SOWELL, WALTER WILLIANS e outros. Enfim, ou esses afro-americanos faltam com a verdade ou a vossa verdade não corresponde à realidade acima demonstrada em números. 

            Tanto a alforria quanto as cotas raciais são opções políticas de convivência com o sistema vigente. Buscam eleger´exemplares´ de privilegiados reservados para poucos à custa da humilhação e da opressão da maioria. Tal política é consentida para se manter um sistema racista, assim como, a alforria se destinava a manutenção do sistema escravista e foi tão amplamente utilizada somente no Brasil.

            

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