Sobre a expressiva mobilidade social recente, por Waldir Quadros

tabela evolucao dos ocupados

Artigo do Brasil Debate

Por Waldir Quadros*

O momento atual está profundamente marcado pelo clima eleitoral de vale tudo, que dificulta uma análise mais criteriosa a respeito do comportamento recente da mobilidade social no Brasil. Particularmente se o diagnóstico for positivo.

Já a promiscuidade entre os grandes interesses econômicos e o setor público se agravou com o custo estratosférico das campanhas eleitorais e seu sistema de financiamento. Um de seus resultados é a absurda frequência com que vemos ocupantes de cargos públicos, de todos os partidos, envolvidos em irregularidades.

Se tais problemas, e outros tantos, são reais, a abordagem predominante entre os meios de comunicação mais influentes com muita frequência contribui para exacerbar um sentimento de “fim do mundo”.

Entretanto, um exame mais desapaixonado dos dados disponibilizados pela PNAD – pesquisa nacional por amostra de domicílios, realizada pelo IBGE, indica expressivas melhorias na evolução recente da mobilidade social. Que, inclusive, ganham maior celeridade.

A Tabela 1 apresenta a evolução da estrutura social dos ocupados no período 2002 a 2008 (seis anos) e a Tabela 2 cobre o período 2008 a 2012 (quatro anos).

Como se observa na última coluna destas tabelas, apesar da ocupação ter crescido a um ritmo mais fraco no período 2008-2012 (0,9% ao ano contra 2,7%), o desempenho destes últimos anos é melhor do que no período anterior.

Em primeiro lugar, a redução da camada de Miseráveis, que já havia sido tão expressiva em 2002-2008, agora é ainda mais intensa.

Em segundo, a Massa Trabalhadora (pobres) que no primeiro período havia se expandido por força da ascensão dos Miseráveis, cai em termos relativos (e absolutos) em 2008-2012, apontando a passagem de parcela expressiva para a Baixa Classe Média.

Estes comportamentos indicam a enorme mobilidade social que continuou ocorrendo entre as camadas populares. Sem dúvida os impulsos cumulativos das melhorias anteriores ajudam a explicar esta dinâmica.

Por fim, outra grande diferença do período 2008-2012 é que a expansão relativa da Baixa Classe Média (7,8% a.a.) é ultrapassada pela da Média (8,2%) e praticamente igualada pela da Alta Classe Média (7,4%), indicando que o dinamismo ganhou novo ritmo também nas duas camadas melhor situadas (o comportamento da estratificação do conjunto da população no período recente acompanha de perto a evolução dos indivíduos ocupados).

Concluindo, entendemos que a principal e importantíssima conquista no período recente foi a de, num cenário de baixo crescimento, evitar o retrocesso e continuar avançando na melhoria da estrutura social de maneira ainda mais intensa, reflexo do comportamento das oportunidades ocupacionais, com redução do desemprego e aumento dos rendimentos médios.

Parece-nos plausível atribuir este desempenho, de certa forma surpreendente, à recusa do Governo Federal em adotar o receituário ortodoxo na orientação da política econômica e social.

Ou seja, o não acatamento das fortes pressões para impor “austeridade”, “disciplinar o mercado de trabalho” etc., protegeu a sociedade e preservou conquistas recentes. Justamente o contrário do que se passa com os países europeus.

(Este texto é uma versão resumida do Texto de Discussão nº 230, “2009 a 2012: Heterodoxia impulsiona melhorias sociais”, acessível AQUI)

*Waldir Quadros é professor da Facamp – Faculdades de Campinas e professor aposentado do Cesit/IE-Unicamp

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Redação

2 Comentários

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  1. Muita gente esconde esse fato

    Muita gente esconde esse fato quando quer fazer diagnósticos sobre o Brasil. A mídia e seu controle sobre a informação no país fala em terra arrasada todo dia. E os brasileiros, muitos beneficiados pela política do governo federal em defesa do emprego e do salário, esquecem-se de pensar e repetem o que escuta na mídia. O país muda e o muita gente não vê, pois não é difundido pela mídia.

  2.  
    o atual governo protege os

     

    o atual governo protege os trbalhadores

    estabilizando ou aumentando salários,

    mantém o emprego

    e de vez em quando baixa aos juros, quando  pode enfrentar  o poder quase hegemonico dos

    especuladores-financistas.

    donde se comprova que a dita austeridade muito utilizada

    nas políticas eonomicas da europa  é uma baita  de uma falácia.

    fraude que os economistas neonliberais da equipe da dona marina querem

    burlar o brasil.

    e praticar certamente um estelionato economico e eleitoral.

    hi, nem quero  ver, como diria ary barroso

    quando o atacante do vasco ia fazer um gol no flamento.  

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