Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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A eterna proliferação dos cabeças-de-planilha, por Rui Daher

A eterna proliferação dos cabeças-de-planilha

por Rui Daher

“Tua cantiga”, no CD Caravanas, de Chico Buarque, segue a levada de “Sinhá”, dele e de João Bosco, por isso já consagradas obras-primas eternas do cancioneiro brasileiro. Talvez, o que nos sobrou.

https://www.youtube.com/watch?v=dk8arhNQta0]

Nesta semana, tratei em CartaCapital e neste GGN dos preços dos alimentos para o mercado interno, nossas mesas, que até prova em contrário comer e beber (com moderação e sem dirigir) é preciso.

Coincidências entre gauches e cabeças-de-planilha existem. O Valor publica em sua página de Opinião (20/09), artigo do estimado mestre em economia, pela UFRJ (surpresa!), Gilberto Borça Jr., com o título “A desinflação em 2017”.

O autor, como muitos está deslumbrado com a queda da inflação, que deixo para especialistas tratarem. Enfim, loas e alvíssaras Temereilles! Fala de números, mostra gráficos, para mostra-la como um “choque positivo para a economia brasileira, pois fez com que o poder de compra dos salários fosse maior do que o esperado”.

Fico emocionado. Diante do choque logo anoto o telefone de um eletricista. Só então o estimado fala do fator liberação das contas inativas do FGTS, por que emprego, renda e negociações salariais não sei onde o estimado foi encontrar. E aí vem com “sustentação do PIB”.

Complica, o que me desencoraja pedir a opinião de Nestor e Pestana (N&P) e de Pires, o Raso, no Facebook. Fala de controvérsias entre economistas, ah é?, se o BC está ou não “atrás da curva”. Em se tratando de nossa autoridade monetária, recomendo cautela, um grosso tronco de árvore, por exemplo.

Vamos ao que, segundo Borça, influenciou a desinflação no Brasil, em 2017: austeridade do BC; forte recessão em 2015 e 2016 e efeitos de preços defasados; a PEC do teto dos gastos: a apreciação do câmbio.

Mais? Sim. E agora vem: o choque deflacionário de gêneros alimentícios. Ele apresenta até um gráfico do IPCA do setor: de dezembro 2015 até agosto deste ano, caiu de, aproximo, 10 pontos para 5 pontos seguisse a trajetória alternativa (média de uma década 2006-2015) e para 2,5 o efetivo no cemitério, pois servem apenas para escamotear a verdade social.

Ô Planilhão, o povo, quando sem emprego, renda ou benefícios sociais, não consegue fazer três refeições por dia. Lembra? Ando, ando, ando, pergunto, ando, e quem produz alimentos me responde: “Ô seu merda, não vê que ninguém compra o que produzo. Dou de graça e, mais uma pergunta, te encho de porrada”. Fui!

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Nh6rYXcV3HE

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

11 Comentários

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  1. a eterna….

    Caro sr.Rui, “cachorro atrás do rabo”. 2017 e o sr. ainda escrevendo sobre este assunto.O problema não é seu artigo. É ele continuar a existir. E este país continuar a não enxergar o óbvio. A agropecuária nacional sustentando e mantendo viva a República Brasileira. O Tomateiro segurar com sua pobreza a bronca de uns 15% de aumento de combustíveis, uns 30% do aumento do gás de cozinha, o automóvel “popular” de 25 mil para 45 mil,….Até porque Tomateiro não anuncia, nem aparece, nem se defende na TV, não é mesmo?! Falando nisto onde está “CARNE FRACA”. A Maior Operação da História da PF, contra o Maior Crime da Terra. Uns 2 Kg de carne mal acondicionada no freezer ou a descoberta de como é feito salsicha. E tem gente que crê que o Agronegócio, familiar ou empresarial, não precisa se defender? Vingança? Impressão sua, como achar que preços agrícolas sempre seguraram a inflação. Ia pra Piedade/SP em 1975, na Estrada do Choro. O pessoal jogava toda a produção de cebola na beira da estrada. Isto foi recorrente até os anos de 1990. Depois o povo desistiu e diversificou a produção. Mas todos sabem a culpa pela calamidade econômica nacional nestas décadas todas. É da cebola.    

  2. Não deverias ter ido, não.

    Não deverias ter ido, não. Deverias mandar que ele(s) enfiasse(m) a(s) dita(s) de planilha(s) no … bornal de couro dele(s).

    Poderias, pela finura, ou para fazer momentaneamente aliviar a entrada do dito bornal, enviezado, com que eles saissem de suas vagas pagas em estacionamentos de, vários, Conçelhos (conselho?) Administrativos e vadiassem pelo centro do Rio para, já que adoram excel, planilharem o número de lojas, salas vazias e, por conseguinte, sem pessoas ali batalhando pelo ovo cozido junto com beterraba do dia-a-dia. Ou, para variarem, o aumento exponelcial de paraguedas nas calçadas da avenida Rio Branco.

    Provável que não tomassem vergonha na cara mas, em nome do último dna de honestidade e, pelo menos, parassem de vomitar babaquices para justificar o capilé de algum banco.

    No mais, meu caro, baixa o duplo-seis e comece o Campeonato de Dominó antes deles mandarem rezar a missa, pois sepultado está, de sétimo dia daquilo que já foi um país com uma certa dignidade.

    Saudações ao prezado.

     

    1. Carioca, meu caro,

      com tal humor, rirás se eu me desculpar por demorar para responder. Então, vamos continuar a riri juntos. Gostaria de enfiar um ovo com beterraba ni fundo do rabo deles. Abraços

  3. Prova da proteção divina

    Até eu, burro que sou, sei que o arrocho dado pelo desemprego, pela contenção de gastos e juros reais estratosféricos desagua na queda da demanda agregada, ou seja, não tem procura, a oferta sobra e os preços se não caem, também não sobem.

    Mas no caso dos preços agrícolas, o preposto favorito de Deus, o cara da catraca que manda na porta do Céu e o chefe-mor, CEO da Companhia Celestial de Irrigação , o santo mais procurado do Paraíso depois do Padim Ciço, o tal do São Pedro, tem culpa no cartório. Mandou água a rodo e no tempo certo o que resultou em uma lavoura farta e em uma safra cheia. 

    Na safra 2015/16 ferrou com a Dilma mas, agora, esse santo golpista, deu uma baita ajuda pro Temer & Cia. A agricultura segurou as pontas do PIB e ainda ajudou na derrubada da inflação, afinal, crescimento da oferta em tempos de procura fraca é pau nos preços.

    Essa é a prova inconteste da proteção de Deus aos vulneráveis: aos loucos, às crianças e, especialmente, aos economistas neoliberais.

    1. Boeotorum,

      desculpe a resposta tardia. Estava em Andanças. Para certas culturas, a avaliação através do clima, principalmente grãos – milho e soja – que parece para onde o brasileiro, sobretudo as folhas e telas cotidianas, olha.

      Em muitas culturas, pelo contrário, o clima não ajudou. Café, por exemplo, houve tremenda seca, que perdura até hoje, o que não favoreceu o enchimento dos grãos. O mesmo com hortaliças, ora com excesso, ora com falta de chuvas. Salvou-se quem planta em estufas. A fruticultura, grande parte irrigada, não depende de Deus ser brasileiro. Os argentinos Francisco e Messi atrapalham um pouco.

      É consumo mesmo!

      Abraços

      1. Rui,
        Você está certo, afinal

        Rui,

        Você está certo, afinal é o especialista em agricultura. Eu tinha em mente as oleaginosas soja, milho e algodão.

        Já que falou em frutas e hortaliças, gostaria de destacar alguns pontos.

        A fruticultura, tanto de clima temperado quanto de clima tropical, exije propocionalmente maiores investimentos fixos do que outras culturas agrícolas. Os investimentos para aclimatar espécies originárias de climas diferentes às condições locais, nas diversas regiões do Brasil, foram essencialmente feitos pelo Estado, realizados pelos centros de pesquisa da Embrapa, das universidades públicas e dos órgãos de pesquisa agrícola estaduais. Na formação, condução e manutenção. dos pomares e na logística de armazenagem (packing houses e camaras frias de atmosfera controlada) os investimentos são predominantemente privados. O leading time varia, mas é usualmente longo em espécies de clima temperado  como uva, pera e maçã, médio em culturas permanentes como goiaba e manga  e mais curto em espécies como, por exemplo, mamão e melão o que exije um investimento significativo em capital de giro.

        A fruticultura, como qualquer atividade agrícola, depende de recursos de financiamento, tanto para investimento, quanto para custeio e comercialização, mas, em função de ciclos mais longos, em regra em maior grau do que outras culturas, demanda por crédito em condições diferenciadas dependendo, quase exclusivamente, de programas de financiamento e de linhas de crédito oficiais.

        Os hortigranjeiros, principalmente as hortaliças, enfrentam outras restrições, econômicas e de comercialização. Tem raio econômico de distribuição pequeno e shelf-life curta. Precisam se localizar próximo ao mercado consumidor e ter segurança de escoamento imediato da produção. Novamente, o poder público tem papel importante, senão determinante, para o  desenvolvimento e consolidação dessa atividade. As ferramentas empregadas vão desde a extensão e assistência técnica, ao incentivo ao associativismo, ao crédito, até programas governamentais de aquisição da produção.

        Embora na fruticultura e na horticultura se registre a presença de empresas rurais, inclusive de grande porte, grande parte da produção vem de pequenas propriedades da agricultura familiar e de assentamentos do MST, sendo que são estes últimos que respondem pela ogerta de produtos orgânicos.

        Ambos os segmentos, em que se releve a importância da exportação de frutas in natura, dependem do consumo interno.

        Vendo o desmonte promovido nos programas voltados à agricultura familiar e ao pequeno produtor, o arrocho de crédito com a retirada de incentivos e a queda no consumo que você aponta, o cenário é o pior possível.

        Há um total desprezo pelos efeitos do enfraquecimento desses setores que vão além do dano econômico. Este implica em desorganizar todos um arranjo produtivos que levou décadas para ser construído. Entretanto, ao lado da queda da oferta desse produtos e na qualidade do que for ofertado, há um dano social terrível que é a fragilização de um importante modelo de fixação do homem no campo e de controle do êxodo rural.

  4. Zé Sérgio,

    entendo que, como eu, você é uma pessoa que trabalha e, dependendo de seu setor de atividade, quando vê algum fator sendo distorcido na mídia, na legislação, nas conversas de boteco, interfere a favor de seus interesses laborais, embora honestamente. Pois é isso que está acontecendo exatamente comigo. O senhor até conhece alguns caminhos que percorro até as roças nacionais. Não me peça, pois, em nome de qualquer de seus argumentos, sempre muito bem colocados, que não toque em temas que escolho, pois nem meus editores aqui e na Carta me pautam. Abraços 

    1. Zé Sérgio…..

      Caro sr. Rui nunca tive esta intenção. Como o sr. já percebeu, sou um semianalfabeto escrevendo comentários. Com vocábulo reduzido nem sempre expresso de forma correta o quero escrever. Depois de reler o meu comentário percebi o que o sr. perceberia ao lê-lo. Ficou parecendo uma crítica ao seu trabalho. Nunca foi este meu objetivo. Foi uma crítica  a um assunto do qual este país não consegue superar, nem procura uma solução. O problema é recorrente, como me lembrei desde os anos de 1970, e vendido assim como a Seca no Nordeste, como se não fosse possível mudar tal realidade. Que para alguns convenientemente se perpetua. Posso discordar, às vezes, da sua opinião ou de outros. Mas minha crítica é sempre contra uma sociedade que produz e alimenta suas tragédias. Muito raramente a culpa é de terceiros ou estrangeiros. Idéias, opiniões, conhecimento, realidades diferentes à minha ou que não conheço é o melhor destas leituras. Não é puxassaquismo barato. Seus artigos estão num patamar mais elevado, o que entendo por Andanças Capitais, pois juntam teoria com conhecimento prático, vivido, rodado, visto, presenciado..”A Teoria na Prática é outra coisa”. No geral, a Imprensa escreve, como o sr. mesmo citou, academicismos e ilusões, daquilo que nem conhecem. (P.S. Por favor não se chatei com minhas colocações, pois já imagino o quão chateado deve estar, por ter que engolir Peixe Frito ao molho Barcelona. Ainda mais em plena Vila Belmiro. abs.)        

      1. Zé Sérgio,meu caro

        Minha resposta foi mais para elucidação geral do que dirigida a você. Primeiro, você escreve e raciocina muito bem, além ter uma ótima percepção de Brasil. Tenho enorme admiração pelos seus comentários, gosto de crítica, tanto que mencionei isso no texto. Se me achou duro na resposta, imagina se fosse depois que o Peixe foi frito e servido com molho Barcelona, na Vila Belmiro. Grande abraço.

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