Economia nordestina cresceu acima da média nacional

Jornal GGN – O PIB brasileiro cresceu apenas 0,1% em 2014. Mas esse número esconde uma forte disparidade regional. De acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o Nordeste alcançou um crescimento de 3,7%. No entanto, o setor privado estima que a economia nordestina pode cair 1,7% em 2015, pela deterioração do mercado de trabalho e pelo ajuste fiscal dos diferentes níveis do setor público.

PIB do Nordeste destoa e cresce 3,7% em 2014, aponta índice do BC

Por Denise Neumann

Do Valor Econômico

A estagnação da economia no ano passado “escondeu” uma forte disparidade regional. Pelo Índice de Atividade Econômica regional do Banco Central, considerado uma prévia do Produto Interno bruto (PIB), enquanto o Nordeste alcançou um expressivo crescimento de 3,7% em 2014 sobre 2013, o Sudeste amargou recessão de 0,8% na mesma comparação. Agricultura e varejo ajudaram os Estados nordestinos, enquanto a indústria foi a grande responsável pela derrocada de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, comprometendo a região mais rica do país, apesar do bom desempenho industrial do Espírito Santo.

Estimativas do setor privado apontam que a economia nordestina pode sofrer uma inflexão em 2015. Nas projeções da LCA Consultores, o PIB do Nordeste pode cair 1,7% este ano, retração superior a do Sudeste, estimada em 0,9%. Se confirmada, será a primeira queda desde 1998, e a expectativa é que a região nordestina perca fôlego pela deterioração do mercado de trabalho e pelo ajuste fiscal dos diferentes níveis do setor público. No Sudeste, 2014 já foi um ano recessivo.

O Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Banco do Nordeste (Etene-BNB) também espera uma freada no ritmo de crescimento da região, mas descarta recessão. Entre outras razões, o superintendente do Etene, Fran Bezerra, cita a demanda ainda firme por financiamento nos fundos geridos pela instituição. Depois de emprestar R$ 27 bilhões no ano passado, o plano para 2015 é de R$ 28 bilhões. “E as metas do primeiro trimestre foram alcançadas”, diz ele.

Alexandre Rands, diretor da Datamétrica, consultoria localizada em Recife, avalia que o Nordeste ainda se beneficia dos efeitos da distribuição de renda, da política de correção do salário mínimo e dos programas sociais. “Quando você gera renda você não gera PIB imediatamente”, diz ele. “Em pequenos municípios você tinha uma padaria e ela dava conta de atender a demanda por pão. Após anos de distribuição de renda e programas de transferência, você precisa de uma segunda padaria, que cria empregos”, acrescenta, dando um exemplo do efeito positivo que os ganhos de renda acumulados nos últimos anos exercem sobre o produto da região.

Pelos dados do Banco Central – que reúne produção industrial, varejo, serviços, criação de empregos, oferta de crédito, consumo de energia e outra informações para compor o quadro de atividade regional -, as vendas do varejo ampliado (com automóveis e material de construção) subiram 2,1% no Nordeste e caíram 3,5% no Sudeste no ano passado, o que puxou para baixo a média nacional de 1,7%. Na indústria, a produção nordestina encerrou 2014 com uma leva queda de 0,3%, mas no Sudeste a retração chegou a expressivos 4,6%, dado pior que a média nacional de recuo de 3,2%.

Paulo Neves, economista da LCA Consultores especializado em análise regional da economia brasileira, diz que além do varejo, também a agricultura ajudou muito o Nordeste. Nas suas projeções, o crescimento da região foi de 1% no ano passado, dado bem mais modesto que o indicado pelo índice do Banco Central, mas bem melhor que a queda de 0,2% estimada para o Sudeste. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do Brasil variou 0,1% em 2014.

Neves conta que a produção de soja foi destaque no Nordeste, puxada pela expansão da produção (e da área plantada) de soja no Piauí, onde a produção aumentou 60% para uma área 11% maior. No conjunto, a produção agrícola aumentou 9% no Nordeste e 1,8% no Brasil em 2014, diz ele.

Bezerra, do Etene/BNB, pondera que em todos os indicadores – varejo, indústria, agricultura e serviços – o desempenho do Nordeste superou a média nacional. Além do mesmo efeito desenhado por Rands (dos efeitos ainda positivos do ganho de renda dos últimos anos), ele também lista o aumento dos investimentos públicos e privados como impulsionador da economia nordestina. “E esses efeitos continuaram a fazer diferença em 2014”, diz ele. No Sudeste, ao contrário, tudo andou pior no ano passado: renda, serviços, agricultura e varejo.

Na indústria, a composição e a diversificação da produção do Sudeste explicam porque a queda foi maior na região, pondera Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Além de automóveis, o Sudeste concentra a indústria de bens de capital e de outros bens de consumo”, observa Souza. No Nordeste, por outro lado, a indústria é menos diversificada e com forte participação de setores que sofrem menos em cenários de desaceleração, como acontece com a produção de alimentos.

No ano passado, a indústria de alimentos cresceu 6% no Nordeste, enquanto o refino de petróleo e derivados subiu 8% e o setor de vestuário, 1, 1%. Na média nacional, a produção de alimentos recuou 1,4%, a de combustíveis aumentou 2,4% e a de vestuário caiu 3,2%. Rands, da Datamétrica, considera possível que a queda nos custos logísticos nos últimos anos (com estradas melhores e maior profissionalismo na área de transportes) tenha favorecido a transferência de produção para o Nordeste no caso de uma empresa com fábricas em diferentes regiões. “Essa migração pode ter ajudado o Nordeste”, avalia ele, que tem estudado essa hipótese. “É uma possibilidade”, diz.

Para 2015, o economista da LCA projeta o primeiro ano de recessão no Nordeste desde 1998. E alguns indicadores da região, pondera Neves, já começaram a piorar no fim do ano passado, tendência que deve se aprofundar neste ano. O índice do BC, olhado trimestralmente, mostra que o ritmo da atividade ficou parado no Nordeste no quarto trimestre de 2014 em relação ao terceiro, na série com ajuste sazonal. No Sudeste, ele recuou 0,2% na mesma comparação.

“O crescimento da massa salarial foi um pouco maior no Nordeste, e o ganho veio principalmente da ocupação, que cresceu mais que o salário médio, na comparação com a média do país”, diz ele. Como o desemprego vai crescer (e já cresceu), ele espera que essa perda de dinamismo no mercado de trabalho atrapalhe o desempenho do Nordeste em 2015. “Nos últimos anos, a construção civil e o setor de serviços puxaram a ocupação na região, o que não acontecerá neste ano”, acrescenta.

Souza, do Iedi, espera que em 2015 a indústria do Sudeste, de novo, seja mais afetada que a média do país. Ele espera uma desaceleração da massa salarial, mas não uma queda brusca. Isso ainda protege mais os setores de não duráveis e semiduráveis (mais espalhados pelo país), mas os juros altos e a confiança baixa continuarão afetando investimentos e bens mais dependentes de crédito.

Rands acredita que o ciclo de crescimento no Nordeste ainda não acabou. Ainda que em 2015 possa acontecer um “tropeço”, ele projeta que a região continuará a crescer acima a média nacional por mais alguns anos. Ele diz que hoje PIB per capita da região está entre 49% e 50% da média nacional, e ainda deve crescer até alcançar 55%. Em 2015, diz, o ajuste fiscal vai prejudicar a economia nordestina, mais dependente do setor publico que Sul e Sudeste.

Além da União, todos os Estados do Nordeste e muitos municípios estão com programas de ajuste fiscal, pondera Bezerra. “Essa restrição vai impedir que a economia do Nordeste siga um rumo diferente do resto do país, por isso esperamos uma freada no processo de crescimento, até porque os investimentos serão afetados, mas o estoque de ganhos acumulados nos últimos anos vai impedir um decréscimo no PIB da região”, acredita.

Redação

9 Comentários

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  1. Isso me parece bem natural.

    Isso me parece bem natural. Os estados do centro-sul, mais desenvolvidos economicamente, encontram-se estagnados, ao passo que os estados nordestinos tem um bom caminho ainda a percorrer para chegar ao nível daqueles. O mesmo se dá com países em desenvolvimento que ainda não estão no mesmo nível do Brasil.

  2. O que é perfeitamente

    O que é perfeitamente natural, o crescimento se dá por uma BASE muito menor e é portanto mais facil agregar valor.

    1. É o caso da China e da Índia

      É o caso da China e da Índia que partiram de uma base muito menor, nehuma novidade nisso

      Mas porque não fizeram antes?

       

    2. Pode ser. O que salta aos

      Pode ser. O que salta aos olhos no que se refere ao NE é a diversificação. Antes, basicamente sobrevivíamos de uma agricultura rudimentar, sujeita aos caprichos das estações e uma incipiente indústria. Por fora, os chamados benefícios sociais, em especial as aposentadorias rurais. 

      Hoje há uma dispersão entre as três setores com prevalência do terciário por conta da indústria do turismo nas suas várias vertentes, incluindo o de eventos. 

      Temos todas as condições de nos próximos vinte anos nos aproximarmos do Sudeste/Sul. Reduzirmos uma diferença que já foi acintosa. 

      1. pode ser o que salta

        O cara descobriu que na Africa nao havia ninguem calçado,vislumbrou um mercadaço escancarado ali.nos ainda vamos ter jornalismo no salvelindo e nao coletares de dados em delegacias par medir violencia ou coletar dador oficias par transformar em fofocas/intrigas.  em sintese:,sou representante comercial do ramo textil ,Quem ganhou o Corola zero como premio de vendas foi o vendedor do nordeste onde todos cupmpriram a cota.O cartel midiatico acredita que Brasil sao Sao paulo e o resto sao resto. O TUCANISTAO,sem agua, quando chove,nao tem cano para dar vazao. Falta paulista para fazer Sao Paulo.Os nordestinos mudaram/voltaram e o SP faliu.

    3. Mais fácil? Pode até ser,

      Mais fácil? Pode até ser, desde que se tenha a vontade política de fazer. Mas é preciso levar em conta que o crescimento inicial pode ter sido mais fácil, partindo de uma “base muito menor”, tendo sido alcançado com a melhoria imediata da renda dos mais pobres com o aumento do salário mínimo e os programas sociais. Mas para se obter crescimento econômico continuado e sustentável, como vem ocorrendo desde 2003, foram necessárias muitas outras ações governamentais, essas mais complexas, como as iniciativas de se instalar 1 milhão de cisternas, diversas obras de infraestrutura, a reativação da Sudene, a construção de escolas técnicas e universidades federais na região, e muito importante, os empregos criados no Nordeste nesses 12 anos.

      Fazer o Nordeste crescer e se desenvolver talvez até fosse fácil, mas os governos anteriores não faziam. No tempo da ditadura militar, o PIB do  Brasil cresceu muito, com o dinheiro fácil que endividou o País. No entanto, no mesmo período os brasileiros do Nordeste empobreceram ainda mais, não ganharam sua fatia do bolo, e ainda foram expulsos pelo êxodo rural causado pela concentração de terras e pelos empregos provisórios nas grandes cidades, e expulsos pela fome, pela seca, pois não havia políticas públicas para eles. Desde o século XIX o Nordeste só empobrecia, e somente quando Lula e Dilma venceram as eleições é que a situação mudou.

  3. Isso não é de hoje. Isso

    Isso não é de hoje. Isso ocorre desde os primeiros anos do governo do Partido dos Trabalhadores.

    É isso que explica a votação massiva nessa região, ainda que muitos acreditem que está “todo mundo vivendo de bolsa família”.

    É isso que explica o ex-sociólogo FHC – como diz José Murilo de Carvalho – falar arrogantemente que o PT tem votos nos “grotões” onde vivem os “mal informados”.

  4. Não é de hoje que o Nordeste

    Não é de hoje que o Nordeste está crescendo bem acima do Sudeste e de outras regiões. Isso ocorre desde que Lula iniciou, em 2003, sua política de desconcentração de renda e consequente desconcentração regional da riqueza. Os mais pobres melhoraram de vida e em consequência, a região mais pobre melhorou mais aceleradamente que as demais. Norte e Centro Oeste também tiveram um crescimento maior nos últumos anos. Mas a redução das diferenças regionais de riquezas não é obra somente do governo do PT. O fato é que o PSDB também contribuiu para essa desconcentração, mas não por sua vontade, mas por sua incompetência na administração de governos estaduais, como SP e MG. Os governos tucanos, quase sempre na contramão do governo federal, aumentou impostos, criou alguns dos pedágios mais caros do mundo, que encarece os produtos que dependem do transpote rodoviário, cobrou em todos esses anos tarifas altíssimas de água e luz e não investiu em obras de reservação hídrica, levando parte da população a sofrer com o racionamento de água e gerando incertezas para o setor privado. O transporte público do metrô foi piorando ano a ano, o que prejudica os trabalhadores e as empresas. Quanto prejuízo de tempo e dinheiro no trânsito poderia ser evitado se houvesse um transporte público de melhor qualidade! E com a falta d’água, as empresas tem agora mais um motivo para deixar o Sudeste rumo a outras regiões em que há mais planejamento governamental e outros atrativos que antes havia somente no Sudeste. Outro governo tucano que tem repelido as empresas é o do Paraná. O governador Beto Richa acaba de dar uma facada no ICMS, um aumento de nada mais nada menos do que 50%, além do aumento do IPVA em 40%, isso sim, um verdadeiro estelionato eleitoral.

    Por tudo isso, sempre que se analisa os erros e acertos da política econômica brasileira, é importante se levar em conta o desastre que tem sido os governos estaduais do PSDB para a economia do País. Se a região mais pobre do Brasil conseguiu um aumento de 3,7% do PIB, mesmo sem ter as facilidades de uma infraestrutura muito mais desenvolvida como a do Sudeste, por que o PIB do País ficou em 0,1%, se não pela recessão nos estados administrados, em sua maioria, pela oposição tucana?

  5. o desenvolvimento do Nordeste

    Desde que me conheço por gente, a seca e a pobreza do nordeste , coisas que caminham juntas obviamente, são motivo de debate e promessa de combate pelos diversos governos, que de maneira demagógica e mentirosa , contavam as medidas que fariam para melhorar a vida dos ertanejo. Sempre o tempo passava e nada se via melhorar. O sertanejo vivia , como disse um amigo acima ( que deve ser de lá) da fortuna do clima e dos milagres do “padim padi Ciço”. Me lembro que, antes umpouco do 2o turno das eleições que até agora é disputada peli inconformismo tucano, que se dizia que o PT ganhava nos locais onde o assistencialismo era mals ativo, ou seja : No Nordeste. O nordestino é pexado de indolente e vagabundo, portanto, tudo que o sulista trabalhador e honesto não gosta, até porque , dizem , o nordestino se torna um fardo pelo qual o trabalhador sulista tem que se desdobrar. Um determinado colunista, cujo nome me foge , demonstrou claramente os progressos que o governo petista levou ao Nordeste e que, obviamente, os impulsos sociais levaram renda ao local. Uma renda que lá não havia e onde não há renda, não há progresso e este progresso não brota das orações e nem das lágrimas de um povo que quase sempre não tem o que comer e vê sua produção e seu gado minguar sob o sol tórrido e implacável. isto mexeu com os donos da água e da fartura do local. Tal e qual um senhor conhecido por Antônio Conselheiro, um revolucionário que ousou desafiar os coronéis locais e os políticos que se lambuzavam do dinheiro enviado á região para salvar os pobres , que , estranhamente , permanceiam pobres. O governo do PT sofre ( tem seus erros também) com a raiva fascista e um dos motivos é que, lá o bolsa família é bem usado.  

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