As dúvidas sobre a indústria automobilística em 2018, por Luis Nassif

Há dúvidas sobre o desempenho na produção de auto veículos no próximo ano.

O setor depende de dois fatores: as vendas internas e as exportações.

Exportações são afetadas por dois fatores: vendas internas e câmbio. Quando caem as vendas internas, as montadoras montam estratégias de venda, dependendo do câmbio e da situação econômica dos principais países importadores.

Já o mercado interno é afetado pela renda interna, disponibilidade de financiamento, níveis de endividamento familiar, formalização do emprego, substituição dos veículos. Ou seja, em períodos de crise, há um adiamento das decisões de compra de veículos novos. A frota familiar vai envelhecendo e, quando a crise arrefece um pouco, forma-se uma bolha de novas compras, até a demanda voltar aos níveis históricos.

As séries históricas

A análise das tendências mensais não permite muito otimismo.

2018 começou com uma recuperação da produção, em cima de uma base bastante debilitando de 2017.

Doze meses atrás, em novembro de 2017, a produção acumulada em 12 meses chegou a 2,7 milhões de veículos, dos quais

  • cerca de 2 milhões em vendas internas (11,1% a mais que em novembro de 2016)
  • enquanto as exportações saltaram para 764 mil (51,8% a mais que no período anterior).

Ao longo do ano, as vendas internas cresceram ligeiramente, chegando em novembro de 2018 em 2,3 milhões, no acumulado de 12 meses. Mas as exportações despencaram para 658,5 mil, devido principalmente à crise da Argentina.

Uma leitura linear desses números mostra uma certa estabilidade na produção.

Quando se mede a evolução percentual da produção, o o quadro fica mais complicado.

Entre novembro de 2017 e novembro de 2018, o crescimento da produção (no acumulado de 12 meses sobre período anterior) caiu de +26,9% para 8,6%. O licenciamento interno de veículos nacionais bateu em 18,1% em abril deste ano. Depois caiu sucessivamente até chegar a 12,5% em novembro de 2018.

No desempenho de curto prazo, a situação também não é promissora. Em novembro, o acumulado de 12 meses caiu 0,2% em relação ao acumulado fechado em agosto. As linhas de longo, médio e curto prazo são descendentes.

A queda maior está nas exportações. Em novembro, o acumulado de  12 meses caiu 13,8% em relação a doze meses atrás. Não há sinais de recuperação.

A linha vermelha mostra o valor acumulado de 12 meses das exportações de autoveículos. As demais linhas, a variação anual, semestral e trimestral do acumulado de 12 meses.

No acumulado do ano, as exportações, que chegaram a bater uma alta de 15% sobre o mesmo período de 2017, despencaram para uma queda de 10%.

Há uma série de fatores que são ainda incógnitas na nova política econômica:

  1. O nível de câmbio. Manter a desvalorização atual ajuda nas exportações.
  2. A qualidade da recuperação do emprego. A redução dos empregos formais afeta diretamente a capacidade de tomar financiamento.
  3. A flexibilização da política monetária e alguma ação para reduzir o nível de inadimplência.

A análise dos últimos anos impede uma constatação mais grave. 

Volta-se aos níveis de produção de fevereiro de 2008. Nas exportações, volta-se apo nível de março de 2005.

Luis Nassif

18 Comentários

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    1. Mas o prazo de validade do Uber já venceu
      Os uberxistas (taxistas uberizados) derrubaram os taxistas mas não se levantaram, o dinheiro só dá pra manter o carro funcionando, com tudo se desgastando.

  1. Não conheço o setor, mas,

    Não conheço o setor, mas, pelo que li, as exportações são principalmente para o mercosul. Não acredito que o Paulo Guedes mantenha, no governo, a postura de desprezo a esse mercado expressa na famosa entrevista. Mas tudo indica que a crise argentina vai ser longa. Se esse for o caso, as perspectivas para esse setor, que teve importância na pequena retomada da indústria neste ano, não são boas.

    Tenho dúvidas também em relação à formação bruta de capital fixo. Conseguirá sustentar o crescimento que apresentou neste ano? É possível que parte significativa dos investimentos de 2018 tenha sido apenas para repor a depreciação acumulada nos anos mais forte da crise.

    Em relação à soja, a questão crucial parece ser como irá evoluir a crise China/EUA.

    Tudo muito incerto, apesar das declarações otimistas do empresariado com o novo governo.

  2. Outros fatores de incerteza para 2019

    1- A evolução da crise argentina. Não há sinal de melhora a curto prazo, e o empréstimo salva-Macri do FMI foi quase sem escalas para o bolso dos especuladores na corrida contra o peso; a recessão deve bater ainda mais forte ano que vem.

    2- O resultado da aposta na tal “carteira de trabalho verde-amarela”. Se acontecer o que muita gente boa está achando que vai acontecer, ou seja, o trabalhador vai preferir a informalidade ao trabalho formalizado extremamente precarizado, é um péssimo sinal para a capacidade do mercado consumidor de investir em bens como carro (e casa).

    3- O impacto das decisões tresloucadas das olavetes nas exportações em geral. Um fechamento de mercados aos setores exportadores brasileiros por decisões de política externa ideológica vai derrubar um importante setor da indústria automobilística, que é a de veículos rurais.

  3. As hipóteses estão sendo montadas para uma economia …….

    As hipóteses estão sendo montadas para uma economia regida pela oferta de automóveis ou de crédito.

    As séries que estão montadas só servem se os humores dos compradores permanecerem constantes e sempre ávidos para comprar novos carros, em nenhum momento se considere que a frota dos automóveis no Brasil tem uma idade média relativamente baixa e o valor da mão de obra para reparos é baixo, ou seja, a resiliência de um consumo baixo de automóveis pode ser maior do que se pensa. Ou seja, estou raciocinando num mercado em que a oferta é abundante e a demanda que governa o consumo.

    Para ter uma ideia mais precisa das reais necessidades dos brasileiros adquirirem novos carros é necessário se dar conta que a quantidade de carros por habitante é de 4,8 habitantes por veículos, enquanto há dez anos era de 7,3 habitantes por veículos. Considerando que uma parte significativa da população não tem dinheiro nem para fazer a carteira de motorista, comprar um carro e mantê-lo, a maior parte dos prováveis compradores serão pessoas que já tem automóveis, logo temos que raciocinar com um mercado sem grandes expansões.

    Por outro lado, se compararmos a idade média da frota brasileira (segundo o Sindipeças) em torno de dez anos e oito meses, com a idade média dos automóveis nos USA de 11 anos e na Europa de dez anos e sete meses, vemos que a nossa frota em média tem uma idade relativamente baixa em relação a países em que a mão de obra para reparos é muito mais cara que no Brasil.

    Licenciamento de veículos no Brasil (o gráfico a partir de 1990 inclui os importados)

    A partir da figura acima pode-se fazer uma hipótese nada agradável para a indústria automobilística, a queda das compras dos automóveis é mais devido a ausência da necessidade absoluta de compra do que de constrangimentos econômicos.

    O gráfico é revelador a medida que mostra que a expansão do licenciamento de veículos ocorre somente após o governo Itamar, pois até ele (governos militares, governo Sarnei e governo Collor) praticamente o número de licenciamentos permanece em torno de 600 mil por 19 anos, com a estabilidade do Real, há um incremento de aumento de vendas, que causava uma verdadeira inflação de demanda para cair no segundo governo FHC só se recuperando no governo Lula.

    A queda do licenciamento após 2012, ano em que o PIB cresce 3% apesar da produção de automóveis diminuir (item extremamente importante na composição do PIB), não pode ser explicado somente pelo desaquecimento da economia, pois no ano de 2009 o crescimento econômico é negativo e a venda de automóveis continua na mesma trajetória ascendente.

    A conclusão que chego é que a queda de licenciamento de veículos será algo permanente e independente das variações da atividade econômica devido ao esgotamento da vontade do consumidor em gastar grande parte do seu rendimento na compra de um automóvel.

    Acho que o mercado de vendas de automóveis só deverá ter um pequeno incremento quando a idade média da frota atingir um valor mais significativo, obrigando a troca de veículos.

  4. Construção
    PreZado Nassif, está na hora de uma análise sobre o setor de pequena construção civil que era o setor que mais empregava mão de obra mal qualificada e que está em crise desde as pautas bombas de Cunha e sem perspectivas de melhoras com o contingenciamento de recursos da Caixa e seu possivel desmonte com vistas a privatização. O corte no MCMV e a diminuição do recurso do FGTS com a precarização do trabalho formal são prenúncios nada animadores para o setor.

  5. OLHE em volta  ..vc acha que

    OLHE em volta  ..vc acha que o BRASIL precisa de mais carros, ou de MORADIA, de desfavelamento, saneamento e infra ?

    Tentar fundar o crescimento na industria automobilística como insistiu, ALÈM DA CONTA, DILMA, é proporcionar ao país mais um crescimento pitoresco, como num voo de galinha seguido de novo pouso de albatroz, pior, NUM SEGMENTO econômico que acaba por remeter boa parte da riqueza gerada a outras pradarias, e que aqui se acostumou a drenar  recursos da imprevidente classe média que insiste em torrar sua grana em prestações a perder de vista embebida em juros de agiota, tudo pra sustentar um hábito fugaz e perdulário que o que mais faz é comprometer a renda do assalariado.

    Evidente que pela divida das famílias e empresas, o ESTADO precisaria dar o primeiro chute pra bola da economia voltar a rolar  ..problema é que os perna de pau que por lá chegaram, parece que antecipadamente já se inviabilizaram pelo fanatismo ideológico que alimentaram.

    em tempo – a industria mundial, pelo que já NÂO é noticiado, parece que adiou o desenvolvimento do seguimento de carros autônomos (outro avanço que triturará empregos)  ..e PIOR, já anda escapando pela boca de seus porta vozes que a “onda” é a sociedade começar a comprar e usar o veículo COLETIVAMENTE, em grupo comunitário, pra dar conta dos CUSTOS dos aparatos tecnológicos embarcados  ..qual seja, nesta toada, DESEMPREGO + ENCARECIMENTO do bem, colocado em perspectiva, parece que a coisa não anda muito bem nesse segmento econômico em termos mundiais.

    Sinceramente, pela carência, déficit e necessidade de reposição, se o Brasil acertasse a mão no setor da CONSTRUÇÃO CIVIL (recém DESTRUIDO pela LAVA JATO de SERGIO MORO) penso que ele se garantiria crescimento por décadas, mesmo porque o poder, no médio prazo, da propensão e indução criado pro consumo de outros bens (serviços e M.O.) é incomparavelmente maior do que o que se obtem com a produção/comercialização de carros (que, de cara, enche as ruas mas esvazia os bolsos e a barriga do camarada).

    enfim

    https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/rodas/2017/07/1899459-carros-eletricos-comecam-a-ser-compartilhados-em-sao-paulo.shtml

     

     

  6. As dúvidas sobre a indústria automobilística em 2018

    a setor automotivo foi o carro chefe do modelo de industrialização promovido por JK.

    se na época já se tratava de opção bastante discutível, ao menos desde o início da redemocratização uma outra direção deveria ter sido tomada.

    produzir autos com motores movidos a combustível fóssil já não é mais sustentável: nem economicamente, nem ecologicamente e muito menos socialmente.

    com o colapso do pacto político da Nova República, cuja lápide é a dupla vitória de Bolsonaro (eleitoral e política), o que pertence ao passado no passado precisa ficar. ao menos no que tange ao debate e as propostas de Esquerda.

    a industria automotiva, assim como o agronegócio e o conjunto das exportações de commodities, permanecendo com seu perfil atual, são nocivos para o Brasil.

    o terceiro ditador do “MR-64” (Movimento Revolucionário de 31-MAR-1964) teve a lucidez e ousadia de afirmar em 1974: “A economia vai vem, mas o povo vai mal.”

    os Generais não poderiam hoje deixar de corrigir: economia e povo vão mal.

    ao que nosotros retrucaríamos: mas se o povo vai mal, a economia de modo algum pode estar indo bem.

    a mudança do principal modal de transporte para ferroviário, com a recuperação e ampliação de ferrovias por toda a amplidão continental do Brasil, se constituiria num poderoso vetor de recuperação da economia.

    os Generais estão com a faca e queijo, mas e a mão?

    .

    1. Vc acha que os Magnatas da ind. Automobi
      Vc acha que os magnatas dos combustíveis fósseis e da ind. Automobilistica seriam tolerantes com tamanha ousadia?
      Os poderes militar e político são capachos do poder economico.

      1. As dúvidas sobre a indústria automobilística em 2018

        -> Os poderes militar e político são capachos do poder economico.

        provocação: o pensamento crítico analítico é mero capacho da “cabeça-de-planilha”?

        Marx não é um velho, barbudo, carrancudo e adoentado. um jovem Marx foi genial ao compreender a um Capital também em sua juventude. 

        hoje o Capitalismo estaria senil e enfermo?

        “O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade. O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social.”

        o que nos ensina a História sobre os Generais? foram “meros capachos” da classe dominante, portanto liberais unilateralmente defensores do livre-mercado?

        Geisel se tornou a maior e mais nítida expressão da política econômica da Ditadura Civil-Militar.

        em 1980, cerca de 65% dos investimentos foram com recursos públicos. as estatais foram usadas para reduzir o valor real de tarifas e insumos industriais básicos. Dilma de volta para o futuro?

        a realidade da luta de classes, também entre frações de classe, é sempre muito mais complexa do que um conceito interpretado de forma burocrática.

        .

        1. Uma provocação provocou outra provocação
          O que diriam Engels e Marx sobre as lutas fratricidas da burguesia?

          “A organização dos proletários em classe, e com isso em partido político, é a todo momento rompida pela concorrência entre os próprios operários. Mas ela ressurge sempre de novo, mais forte, mais sólida, mais poderosa. Ela impõe o reconhecimento de interesses particulares dos operários em forma de lei, à medida que se aproveita das CISÕES INTERNAS DA BURGUESIA. É o caso da lei da jornada de dez horas, na Inglaterra.

          As colisões no interior da velha sociedade promovem em geral, de múltiplos modos, o processo de desenvolvimento do proletariado. A burguesia encontra-se em luta contínua: no início, contra a aristocracia; mais tarde, contra as frações da própria burguesia cujos interesses entraram em contradição com o progresso da indústria; e sempre, contra a burguesia de todos os países estrangeiros. Em todas essas lutas, ela se vê obrigada a apelar ao proletariado, a reivindicar a sua ajuda e, assim, a engolfá-lo no movimento político. Ela mesma, portanto, leva ao proletariado os seus próprios elementos de formação4, isto é, armas contra si mesma”.

          Eu não simplifiquei a realidade da luta de classes, eu apenas lancei uma provocação. Longe de mim interpretar conceitos de forma burocrática.

  7. Quando the most powerfool family
    Quando the most powerfool family in the world tomar posse, fuelled by laranjas e goiabas, eu vou finalmente comprar meu primeiro possante, não importando que a rapaziada do Black Sabbath não veja any future in cars ( ou seria any future in cause?)
    Hole in the sky

    1. Não há livre concorrencia no mercado auto
      Não há livre concorrencia no mercado automobilístico, condição sine qua non para a vigencia da lei da oferta e da procura. Os ofertantes, por serem infinitesimalmente menos numerosos do que os demandantes, fazem a farra.

      E ainda são too big to fail e tome dinheiro público para os Mamutes e com Bozo na presidencia, aberto para os picas-grossas mais do que pára-quedas, sei não, hein. Enquanto seu rabo estiver preso na mão do Laranja, o seu anus não tem dono nem têm seus estocadores, dó.

    2. MARGENS DE LUCROS ESTRATOSFÉRICAS….

      Ernesto GMV, não importa o número de veículos vendidos. Aumenta-se a margem de lucros sobre cada unidade e mantem-se o Mercado. Lembram das Reservas de Mercado para Informática Brasileira nos anos 80/90? Isto não existe para nenhuma Empresa Nacional, mas para MultiNacionais Estrangeiras é nossa realidade quase secular. As MultiNacionais controlam o Mercado Brasileiro com monopólios e oligopólios e mantém suas margens e lucros no comércio de 2.a mão e manutenção das ‘carroças’ por 20, 30 anos. Enquanto isto se esbaldam em Subsídios e Desonerações Tributárias ( E o Brasileiro “esperto” critica sua AgroPecuaria como gigolô de bancos públicos !! Não é surreal !!) Você paga 2,5 vezes pelo preço do mesmo automóvel em outro país. Financiado ele custará 4 vezes o valor de mercado mundial. Compre um carro zero e verá na NF mais de 10 carimbos de isenção fiscal sobre o produto. Mas dirão que os preços estratosféricos são culpa dos impostos. Somos Inacreditáveis e Lunáticos. E dizemos não entender a miséria em que vivemos e as consequências de tamanha pobreza. Para onde seu dinheiro ‘escorre’ aumentando sua pobreza? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação. abs. 

    1. Pergunta de US$ 1M
      A pergunta de um milhão de dólares é como esse Romulus se sustenta, pois não tem emprego e vive em um país de custo de vida estratosferico. Quem financia a sua militância digital 24/7?

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