Indústria, moda e futebol, a Fábrica Bangu, por Alice Maria da Silveira

A Fábrica Bangu, artigo de Alice Maria da Silveira

Da Agenda de Arte e Cultura

Tenho muito orgulho em fazer parte da história dessa fábrica que teve uma importância fundamental no desenvolvimento industrial do Brasil. Criada por ingleses em 1889, passou para um grupos de portugueses e depois foi presidida por meu avô Guilherme da Silveira e seus dois filhos: Guilherme, o Silveirinha, e Joaquim.

Mas a importância da fábrica não se restringiu aos belos tecidos que dali saíram ou a ser o berço do futebol no Brasil, através de Thomas Donohoe, o técnico em estamparia escocês que trouxe a primeira bola e o primeiro par de chuteiras para os trópicos, mas principalmente pelo olhar focado no futuro de seus dirigentes que criaram um bairro, com saneamento e rede elétrica naquela época, o final do Século XIX. Aos poucos, todos os que trabalhavam na fábrica puderam adquirir suas casas próprias, financiadas pela Bangu que criou também ambulatório, creche e cooperativas para compra de alimentos, remédios e materiais de construção e já naquela época incentivava o uso de bicicletas. Todos iam para o trabalho, inclusive meu pai, usando esse meio de transporte.

A Bangu também mudou a moda no Brasil fazendo com que seus tecidos de algodão , fossem usados por todas as mulheres. Meu pai e meu tio convidaram grandes nomes da alta-costura internacional como Givenchy e Jaques Fath que criaram coleções inteiras usando somente nossos organdis, voiles e musselines fabricados com o mais puro algodão do Seridó nordestino. Nossas estampas passaram a ser cobiçadas em todos os continentes e a Bangu tornou-se uma das maiores exportadoras de tecidos do mundo.

Ao criarem, na década de 50 o Concurso Miss Elegante Bangu, inspirado por minha tia Candinha da Silveira, a Fábrica conseguiu alcançar todo o território Nacional, já que cada clube, em cada cidade de todos os estados, escolhia sua representante para a grande final, realizada no Rio de Janeiro, então a capital do país, no famoso Golden Room do Copacabana Pálace, num belíssimo baile de gala a que compareciam as figuras mais importantes do país. As misses viravam capas de revistas, abriam os jogos de futebol no Maracanã, eram aplaudidas e até hoje são lembradas.

CORINA BALDO (CAPA) 

Há oito anos, a Fábrica foi transformada num lindo e movimentado shopping, que mantém a bela construção do século XIX , tombada pelo IPHAN, com sua chaminé de tijolos vermelhos e seu belíssimo relógio, e continua a ser o centro das atenções dos moradores do meu bairro de coração que são, sem dúvida, os mais ardorosos defensores das tradições banguenses. Povo mais bairrista e tradicional não há.

Redação

3 Comentários

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  1. Pequeno relato de um morador do bairro Campo Grande(Cidade do RJ

    Passo todos os dias em frente à antiga Fábrica Bangu.É cenário marcante do bairro.

    Também é bonito passear pelo Shopping-Fábrica.Dentro, ainda tem uma pequena exposição. 

    Talvez seja objeto de estudo da minha monografia. 😉

  2. Alice, você pertence a uma

    Alice, você pertence a uma família de empresários daqueles que se perdeu o molde. Infelizmente.

    Mas curta a sua memória, pois você pertence a uma excelente família. Tenho 67 anos e lembro muito bem do orgulho que meu pai, que era paulista, falar dessa empresa como um modelo a ser seguido.

  3. Tudo verdade. Seu avô,

    Tudo verdade. Seu avô, Silveirinha, foi o ídolo de muitas moçoilas de Bangu.

    Registro para posteridade:

    Minha mãe trabalhou nos teares de 1940 a 1954 na Fábrica Bangu. Pena que não possa hoje ler seu artigo para ela, porque, aos 90 anos, perdeu a batalha para o Alzeheimer. 

     

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