O que muda na Embraer após governo aprovar venda para Boeing

Acordo transfere aviação comercial de brasileira para a Boeing, que terá comando exclusivo na nova empresa
 
Foto: Agência Brasil 
 
Jornal GGN – O governo brasileiro aprovou, nesta quinta-feira (10), a parceria entre a Embraer e a Boeing. Agora, as empresas estão livres para assinar um acordo que irá transferir o segmento da aviação comercial da companhia brasileira para uma nova empresa, onde a Boeing terá participação majoritária (80%) e a Embraer minoritária (20%).
 
O contrato prevê, ainda, que a nova empresa (ou joint venture) será administrada exclusivamente pela Boeing, sem interferência da Embraer. O próximo passo é a aprovação dos acionistas e das autoridades reguladoras. 
 
Em nota, o governo listou, entre os motivos para a aprovação do acordo, que serão mantidos “todos os projetos em curso na área de Defesa”, a produção de “aeronaves já desenvolvidas” e “os empregos atuais no Brasil”, mas não exigiu garantia contratual das duas empresas nesse sentido.  
 
Esse era o temor do grupo especial criado por membros do Ministério Público do Trabalho, em São Paulo, logo quando as primeiras conversas sobre a fusão foram confirmadas, em dezembro de 2017. 
 
Os procuradores fizeram recomendações, tanto à Embraer e Boeing, quanto à União, para que o contrato de fusão tivesse dispositivos de garantia à proteção dos interesses nacionais e postos de trabalho no país. Como não foram atendidos, o grupo entrou com uma ação civil pública que tramita na 1ª Vara do Trabalho de São José dos Campos. 
 
“A Embraer e a Boeing se negaram, duas vezes, no inquérito civil do MPT, a fornecer qualquer garantia. O mais preocupante é que, em sua petição no IC [inquérito civil], a Boeing diz que [dependendo] do ‘ciclo natural do negócio’ pode no futuro vir a deixar o país”, explicou o procurador do MPT, Rafael de Araújo Gomes, ao GGN
 
Paralela a essa ação civil, o Ministério Público do Trabalho entrou com um mandado de segurança no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP) que, em decisão do colegiado, condicionou a aprovação da joint venture a uma manifestação do Conselho de Defesa Nacional. Alguns dias depois, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) cassou a decisão do TRT-15, suspendendo o mandado de segurança. Cabe recurso que agora deve ser movido pela Procuradoria-Geral do Trabalho. 
 
Risco para Embraer Defesa
 
Ainda, segundo o procurador Araújo Gomes, outro motivo de preocupação é que o acordo inicial, estudado entre Embraer e Boeing, era a venda de 100% da brasileira para a norte-americana. 
 
“A proposta só foi alterada porque a Aeronáutica bateu o pé que não poderia ser vendida a parte militar”, lembrou o procurador.
 
Para o MPT, é possível que esse objetivo esteja mantido e acabe se cumprindo nos próximos anos. O segmento comercial da Embraer oferece escala produtiva, respondendo por mais de 80% das receitas da Embraer.
 
“Dentro de cinco a dez anos, a Embraer que resta, a Defesa, ficaria inviabilizada economicamente”, prevê Araújo Gomes, o que obrigaria a venda do setor à Boeing. 
 
Papel da União
 
Como detentora da golden share (ação de ouro), que lhe dá poder especial na Embraer, a União poderia condicionar a negociação das duas empresas à proteção dos empregos e à manutenção de toda a estrutura de produção das aeronaves comerciais no país. Mas o governo não reagiu nesse sentido. 
 
Para o MPT há fortes indícios de que a produção comercial será remetida para os Estados Unidos.
 
“A Boeing monta seus aviões comerciais exclusivamente no território dos Estados Unidos da América. O fato de a mão de obra brasileira ser mais barata não é relevante para definir onde a companhia produzirá seus aviões, porque se o custo de mão de obra fosse tão crucial à companhia, ela já teria transferido parte de sua produção para o México”, pontuaram os procuradores no relatório encaminha à 1ª Vara do Trabalho de São José dos Campos. 
 
A Embraer possui hoje mais de 18,4 mil empregados, 15,7 mil deles no Brasil, além 4,5 mil terceirizados, também em território nacional. As empresas contratadas e coligadas à companhia possuem outros 1,8 mil empregados. Ainda, segundo informações do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), fornecidos pelo então Ministério do Trabalho, e obtidos pelos procuradores, a Embraer conta com 60 empresas fornecedoras no país que empregam 4,5 mil pessoas.
 
A conclusão, portanto, é que a venda do setor comercial da Embraer à Boeing coloca em risco mais de 26 mil empregos. Leia também: Venda da Embraer para Boeing coloca em risco ITA e 26 mil empregos, alerta MPT
 
Segunda joint venture 
 
O último release divulgado pelas assessorias da Embraer e Boeing, informa também que os termos da negociação aprovada pelo governo incluem a criação de uma segunda joint venture para a produção do KC-390. “De acordo com a parceria proposta, a Embraer deterá 51% de participação na joint venture e a Boeing, os 49% restantes”, pontuaram a respeito da segunda empresa.
 
As companhias prevêem que, até o final de 2019, as negociações para a criação das joint ventures estarão concluídas. 
 

Release Embraer-Boeing, 10 de Janeiro 
Redação

13 Comentários

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  1. O negócio é muito bom para a

    O negócio é muito bom para a Boeing e muito danoso ao Brasil, haja vista que a joint venture na verdade é uma venda, pois a nova compahia será de domínio completo da Boieing.

  2. re

    duvidinhas

    Quanto vale a carteira de encomendas da EMBRAER?

    Quanto vale o desenvolvimento do projeto e construção do cargueiro KC 390 e de todos os outros projetos?

    Quanto custaria produzir outra empresa brasileira similar (100% brasileira)?

    Quanto a EMBRAER e seus fornecedores geram de empregos, impostos e riqueza no Brasil?

    Quanto vale a inteligência da EMBRAER produzida no ITA? Os formandos futuros trabalharão com projetos de…travesseiros?

    Qual é o plano e quanto custará dar outro emprego aos trabalhadores fatalmente demitidos?

    Quanto perderemos de prestígio internacional quando tirarem nossa bandeirinha de 3ª fabrica de aviões do mundo?

    ???………………………

    Não. Não reclame comigo. Eu votei no outro. E não. Não diga que eu não avisei!

  3. Se essa venda se concretizar

    Se essa venda se concretizar Bolsonaro vai ser carimbado de destruidor da Nação Brasileira e do Deus que ele diz acreditar.

  4. 50 anos

    A 50 anos ou quase ouvi de um colega o quanto era bom para a imagem do BRASIL produzir o aviãp Bandeirante. O feito inicial da Embraer cujo jubileu não será comemorado como um bem brasileiro. Um grande esforço que se avilta.  O país que escolheu este governo que temos não comporta tal emprendimento. Lamentável

  5. Mataram na raiz o projeto de
    Mataram na raiz o projeto de autonomia nacional em tecnologia aeronautica militar, e isso sem gastar praticamente nada. O pessoal do departamento de estado e o de defesa americanos deve estar rindo até não mais poder de nossa cara de babaca.

  6. Objetivo #1 – X

    Um dos objetivos do golpe foi cumprido. O que muda na EMBRAER: tudo. Em poucos anos o parque de São José dos Campos e Gavião Peixoto, serão extintos.  E vamos ficar de novo com a pergunta:

    “”Brasil!
    Mostra a tua cara
    Quero ver quem paga
    Pra gente ficar assim
    Brasil!
    Qual é o teu negócio?
    O nome do teu sócio?
    Confia em mim

    E os nossos jornais e elite falarão de novo com todo o apreço que tem a seus bolsos

    Grande pátria
    Desimportante
    Em nenhum instante
    Eu vou te trair
    Não, não vou te trair

  7. Não tem o que

    Não tem o que dizer.

    Merecemos ser um país de analfabetos subdesenvolvidos.

    Merecemos ser escravos.

    Merecemos tudo de ruim que puder acontecer com esse país de m****.

  8. Joint venture

    Joint venture … que houve, mudou de nome?

    Antigamente se chamava acordo Caracú.

    Desnecessário dizer que a Boeing entra com a cara, e o povo brasileiro…..

    …fica com a ideologia: Não mais KIt Gay nem mamadeira de piróca!

  9. A saída dos acionistas da Embraer

    Foi um grande negócio para os acionistas da Embraer. Venderam a empresa para a Boeing e, se tudo o mais der merda, vendem as ações da Embraer Defesa para o Estado e o Erário que se vire com uma empresa inviável.

  10. Adeus caça supersônico brasileiro!

    Adeus caça  supersônico brasileiro! O Brasil iria se tornar o 8º (oitavo!) país no mundo a produzir aviões de caça supersônicos, com tecnologia cedida pela sueca SAAB, a única empresa fabricante que aceitou fazer isso, em conjunto com a EMBRAER. Tais aviões poderiam ser, no futuro, vendidos para os países da América do Sul e da África, onde os dedos do Brasil – as construtoras – já estavam instaladas. Agora, já não temos mais as construtoras, destruídas pelo entreguismo brasileiro, e os nossos supersônicos serão, certamente, fabricados pela Boeing.

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