Ameaça de suspensão de amistoso Brasil x Inglaterra rende crítica de jornal britânico ao Brasil

Jornal GGN – A ameaça de suspensão do amistoso entre as seleções de Brasil e Inglaterra, que havia sido pedida na Justiça pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e que já foi revertida por meio de liminar, rendeu fortes críticas do jornal britânico The Guardian ao Brasil. Para a publicação, o base do pedido do MPE – a falta de condições e segurança do estádio do Maracanã para o público – gera uma situação de “humilhação” e “frustração” aos brasileiros, uma vez que as duas reformas do estádio custaram, segundo o jornal, cerca de R$ 1,5 bilhão dos cofres públicos.

Assinado pelo correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Jonathan Watts, o texto diz ainda que a possibilidade da reabertura do estádio ser cancelada contribui para o que os britânicos chamaram de “ladainhas de atrasos, polêmicas e vexames”. O jornal se refere aos gastos extras, que ocorreram em outros estádios do país que vão receber os jogos da Copa do Mundo, e aos atrasos em relação aos prazos de entrega. O Maracanã, lembra o jornal, deveria ter sido entregue em dezembro do ano passado, mas só ficou pronto em abril deste ano, após três anos de obras.

“A seleção inglesa já está no Rio de Janeiro. Milhares de simpatizantes e jornalistas estão a caminho, depois de ter gasto centenas de libras. Todos estão à espera de ser parte de um outro episódio histórico para este estádio icônico. Mas, se o jogo for cancelado, sua decepção será equivalente em importância à humilhação e frustração dos adeptos e contribuintes do Brasil”, afirma o texto.

‘Corrupção e burocracia’

Watts afirma ainda que a polêmica reforça “a impressão de que a nação abençoada com o time de futebol mais bem sucedido do mundo também é amaldiçoada por alguns dos piores casos de corrupção e burocracia”. Ele cita ainda os problemas constatados na infraestrutura do estádio quando a presidente Dilma Rousseff participou do primeiro evento-teste no início deste mês. Entre os problemas, cita o Guardian, estavam o “piso irregular, um elevador quebrado, catracas que não funcionaram e as paredes ainda em construção”. “Mesmo quando o estádio foi finalmente entregue à Fifa, em 25 de maio, o trabalho ainda estava acontecendo”, afirma o texto.

Além de mencionar os problemas que levaram o MPE do Rio de Janeiro e pedir o cancelamento do jogo, o jornal afirma que o que está pronto no Maracanã é de má qualidade. O jornal cita ainda o envolvimento do empresário Eike Batista, por meio da empresa IMX, que fez os estudos de viabilidade e recomendou a demolição de estruturas antigas do estádio e de áreas do entorno, como o Museu do Índio, o que resultou em uma violenta desocupação entre a polícia, indígenas e simpatizantes.

“Os atrasos tornaram-se tão familiares como os custo por derrapagens. A atualização mais recente mostra que, até agora, 1.049 milhões de reais foram gastos, 48,8% maior do que o orçamento inicial e apenas dentro do aumento de custo de 50% permitido por lei, aumentando as acusações de que o consórcio construtor já previa consumo do erário público ao máximo”, afirma o texto, dizendo que o Governo recuperou cerca de 20% do dinheiro público gasto no estádio ao arrendá-lo à iniciativa privada por 35 anos – fato que, de acordo com o jornal, também gerou controvérsias.

‘Preocupações mais amplas’

“Os problemas no Maracanã são sintomáticos de preocupações mais amplas sobre os preparativos do Brasil da Copa do Mundo”, escreve o correspondente, citando os problemas do estádio do Engenhão, também no Rio – que chegou a ser fechado por tempo indefinido seis anos após a sua inauguração por conta de relatório que apontavam falhas na estrutura do telhado –, e o imbróglio envolvendo o Itaquerão, em São Paulo, que está sob divergências entre a construtora Odebrecht e o Corinthians.

Por fim, o jornal britânico lembra das polêmicas envolvendo o ex-mandatário da CBF, Ricardo Teixeira, que renunciou após denúncias de receber propina para fechar acordos de transmissão, e as pressões sobre o sucessor, José Maria Marin, que teve fortes ligações com a ditadura militar. “Com perguntas sobre alguns dos materiais de construção, as pessoas estão prevendo que o Maracanã terá que ser renovado mais uma vez para que ele esteja apto para as Olimpíadas de 2016”, finaliza Watts.

Redação

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