A China é o próximo Japão? Por Stephen S. Roach

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Mesmo com o aumento das preocupações, a China não se encaminha a um ciclo de "décadas perdidas"

Jornal GGN – Apesar do aprofundamento das preocupações quanto à economia da China, existe a percepção de que o país não se encaminha a um ciclo de “décadas perdidas” de estagnação ao estilo japonês, mas existe uma ambiguidade considerada “preocupante” sobre esse veredicto: o destino do Japão foi selado por sua relutância em abandonar um modelo de crescimento disfuncional, e o ciclo de reequilíbrio estrutural da China se distingue do Japão, que está lutando para implementar essa estratégia. A menos que a luta seja ganha, o fim do jogo poderia ser similar.

A mesma conclusão emergiu em um seminário conduzido por Stephen S. Roach, ex-economista-chefe do banco Morgan Stanley e professor-sênior da Universidade de Yale, onde ele fala a respeito das lições deixadas pela ascensão e queda da economia japonesa moderna, e da relevância de tais eventos para outras grandes economias. “O seminário culmina com trabalhos de pesquisas dos estudantes voltados a análise sobre quais candidatos poderiam ser o próximo Japão”, explica, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Em 2012, os Estados Unidos eram a melhor escolha, conforme ele se esforçava para recuperar-se no rescaldo da grande crise financeira de 2008. Em 2013, sem surpresa, o foco tinha se alterado para a Europa golpeada pela crise. Mas neste ano, mais da metade dos estudantes escolheu examinar se a China pode ser o próximo Japão”.

Embora o ambiente acadêmico funcione como uma espécie de laboratório intelectual, Roach diz que algumas viagens feitas à China ajudaram a mudar um pouco as perspectivas, com autoridades e outras partes relacionadas à economia do país interessadas nas lições do Japão e como eles podem gerenciar o enigma chinês.

“O tema da vez era a dívida. A dívida não financeira da Cina subiu de 150% do PIB em 2008 para 255% hoje, com dois terços do aumento concentrado no setor corporativo, em grande parte empresas estatais (SOEs). Com a maior poupança do mundo – com a poupança interna bruta média de 49% do PIB desde 2007 -, a afluência da dívida dificilmente vem como uma surpresa. Economias com poupanças elevadas são propensas a alto investimento, e a falta de reforma do mercado de capitais na China – exacerbada pela explosão da bolha da equivalência patrimonial em 2015 – reforça o papel desproporcional que o crédito bancário tem desempenhado no financiamento boom de investimentos da China”, diz o articulista.

A comparação com o Japão mostra-se instrutiva na análise dos riscos de crescimento intensivo da dívida do país. “Com um patamar de quase 390% do PIB ao fim de 2015, o lastro global da dívida do Japão é de aproximadamente 140 pontos percentuais maior do que na China. Mas, como o Japão possui um alto patamar de taxa de poupança – uma média de 24% do PIB desde 2007 – ele, basicamente, deve sua dívida para si mesmo. Mas isso não significa que o país não é vulnerável à fuga de capitais de investidores estrangeiros que, muitas vezes, desencadeia crises”.

Com a taxa de poupança da China sendo o dobro do Japão desde 2007, essa conclusão é ainda mais pertinente para a sua economia-dívida intensivo. O susto chinês do início de 2016 – alimentada por sentimentos de culpa sobre a fuga de capital e risco de moeda – perdeu este ponto completamente e, segundo o articulista, “os temores de um pouso forçado decorrente de uma crise da dívida chineses são muito exagerada”.

Outro tema de grande debate são as chamadas “empresas zumbis”. Ponto-chave na primeira década perdida no Japão, as empresas-zumbis foram mantidas vivas por conta da “perenização” dos empréstimos bancários subsidiados – o que, segundo Roach, ajudou a mascarar um acúmulo de créditos de liquidação duvidosa que, em última análise, derrubaram o sistema bancário japonês. “Significativamente, a interação entre empresas zumbis e bancos zumbis obstruíram as artérias da economia real – provocando uma forte desaceleração do crescimento da produtividade que o Japão ainda tem que reverter”. A liderança chinês fez referências diretas às estatais zumbis mas, ao contrário do Japão, que se manteve em negação a respeito do tema há aproximadamente uma década, tomou-se uma ação relativamente rápida para conter os excessos em suas principais indústrias – aço e carvão – e insinuou intervenções nos segmentos de cimento, vidro e construção naval.

“As reformas são o fator diferenciador decisivo. O fracasso do Japão para apoiar as reformas estruturais era uma característica da década de 1990, e é um impedimento igualmente grave para o atual programa de recuperação, o chamado ‘Abenomics'”, diz o professor de Yale. “Por outro lado, a estratégia da China enfatiza o trabalho pesado de mudança estrutural e de reequilíbrio. No final, o sucesso ou fracasso vai depender da vontade da liderança chinesa para enfrentar os poderosos interesses instalados que resistem a reforma”.

 

(tradução livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

7 Comentários

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  1. a china…

    A China vai para onde ela quiser. O Japão é uma colônia, que não planeja o dia seguinte sem ter o aval dos americanos, Comparação como esta só poderia ter vindo do colonizador. Omitiu o principal. 

    1. Não tem exército e tem tropas de ocupação até hoje.

      O Japão é um país ocupado até os dias atuais pelos norte-americanos, quando a economia japonesa começou a preocupar os norte-americanos eles simplesmente mandaram eles pararem.

      Manda quem pode, obedece quem tem juízo!

  2. a china…

    A China vai para onde ela quiser. O Japão é uma colônia, que não planeja o dia seguinte sem ter o aval dos americanos, Comparação como esta só poderia ter vindo do colonizador. Omitiu o principal. 

  3. A análise parece uma piada sobre chinês e japonês.

    Um rapaz de origem judaica disse para um chinês:

    – Eu não gosto de orientais.

    – Por que, perguntou o chinês.

    – Porque vocês são muito traidores, atacaram Pearl Harbor sem declarar guerra, foi uma traição.

    Indignado o chinês disse:

    – Mas foram os japoneses e não os chineses!

    Para que o rapaz respondeu.

    Japonês, chinês, coreano é tudo a mesma coisa.

    Indignado o chinês respondeu.

    – Traiçoeiros são os judeus, porque eles afundaram o Titanic.

    Sem entender direito, o jovem judeu exclamou.

    – Mas foi um Iceberg que afundou o Titanic.

    Neste momento o chinês disse.

    – Para mim Goldenberg, Eisberg, Iceberg, para mim é tudo a mesma coisa.

    Moral da história, comparar a economia e a situação do Japão com a China através de um indicador econômico é o mesmo do que dizer que um Goldeberg afundou o Titanic.

     

  4. Eu observava o Bitcoin

    A moeda tá disparada com as compras chinesas. O ouro e a prata também subiram.

    Fuga para a liberdade ou para a segurança.

     

  5. Muita teoria..

    Tudo é fruto da atitude de cada nação. A chave desta avaliação foi citada por Zé Sérgio e rdmaestri, abaixo. O restante é consequência.

    1. muita teoria…

      O pior é que fazem comparações entre nós,  o Japão e a Coréia, e aceitamos, omitindo que estes dois países não tem soberania, tem seus territórios invadidos por tropas estrangeiras há mais de 50 anos e seguem a cartilha do país dominador. Nós, pelo menos vamos para onde quisermos. Ainda não sabemos para onde é, mas pelo menos quando descobrirmos, será por nossa própria vontade.  

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