A desaceleração da China e a economia asiática, por Shang-Jin Wei

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A desaceleração econômica da China em 2015 terá consequências importantes para os países da região e além. Embora o crescimento em ritmo inferior a 7% estimado para este (e os próximos anos) seja um fator de comemoração, o enfraquecimento da segunda maior economia do mundo também é vista como fonte de preocupação, e não apenas pelos chineses.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o economista-chefe do Asian Development Bank, Shang-Jin Wei, também pontua que a desaceleração chinesa pode trazer tanto consequências negativas como oportunidades. “O destino dos países da região depende da estrutura das suas economias – e, crucialmente, como eles podem se adaptar a transformação económica em curso de seu vizinho gigante”.

Países que produzem matérias-primas, como o cobre, petróleo e minerais, para a fabricação na China já estão vendo as maiores mudanças, já que a desaceleração industrial chinesa representa uma redução correspondente da demanda global por tais commodities. Países como Cazaquistão e Chile, cujas economias estão fortemente concentradas em tais setores, já encontram um sério desafio pela frente.

Os países que produzem bens intermediários também estão sentindo o aperto. “O Japão, por exemplo, fabrica peças e componentes que são exportados para a China para a produção de eletrônicos de consumo. Em outras palavras, as suas exportações de valor acrescentado para o mundo muitas vezes passam por China. Como resultado, a desaceleração da China teve um efeito notável no desempenho das exportações no Japão”.

Segundo o economista, o destino de matérias-primas e intermediários exportadores de bens “não é gravado na pedra”. Para Shang-Jin Wei, os consumidores não estão comprando menos celulares inteligentes, brinquedos eletrônicos ou computadores, mas a produção destes bens simplesmente vai passar de China aos produtores de custo mais baixo. “O Vietnã, por exemplo, tem aumentado consideravelmente a sua produção e as exportações de smartphones e eletrônicos de consumo – uma área em que a China tem utilizado para desfrutar domínio absoluto – em parte por atrair mais investimento directo estrangeiro”. Outros países poderiam, em princípio, aparecer como novos gigantes exportadores, como Índia e Indonésia. Contudo, para que isso seja possível, o articulista explica que tais países terão de investir em infraestrutura e efetuar reformas que tornem sua logística e clima de investimento globalmente competitivos.

Outros países que sentiram o impacto estão reequilibrando suas vendas para os consumidores chineses. Embora o país apresente um crescimento mais lento, o economista diz que o consumo tem aumentado e o mercado do país segue como um dos mais promissores do mundo – e as empresas que tirarem proveito disso poderão ter sucesso. “Até agora, os países fora da Ásia – como a Alemanha com sua indústria automobilística e os Estados Unidos com a sua inovação de alta tecnologia – têm sido os principais beneficiários do aumento da renda na China. Mas os países da Ásia-Pacífico também ganharam terreno. Cingapura e Austrália estão aproveitando a crescente demanda por educação de alta qualidade na China, expandindo as exportações de serviços universitários. O Japão está se beneficiando de hábitos de consumo dos turistas chineses, tanto que o fenômeno – conhecido como bakugai – foi denominado o chavão do ano no Japão”.

Um terceiro conjunto de países que são beneficiados são aqueles que tem a China como principal concorrente, na visão do economista. Essas economias podem aumentar a sua quota de mercado global com o recuo da China em determinados setores. “Precisamente por causa do seu próprio sucesso, o custo de trabalho da China aumentou mais de 100% nos últimos dez anos, deixando muitos outros países – não apenas o Vietnã ou a Índia, mas também em outros países populosos como Bangladesh e Myanmar – com muito mais baixos custos de trabalho relativos”.

Desta forma, muitas indústrias na China perderam competitividade, e o crescimento futuro da economia chinesa tem de vir de inovação e ganhos de produtividade, em vez de trabalho de baixa remuneração, mas os ganhos não são automáticos, uma vez que tantos países estão competindo para obter uma parte da cota do mercado global representado pela China que será preciso uma série de investimentos e reformas para aumentar a competitividade, como em energia, transporte e infraestrutura.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. Quem tem a resposta?
    É nessas horas que vemos que estamos, o Brasil e o mundo, com ausencia de lideres e ideias.

    Quem se candidata a expor ideias e praticas para sairmos dessa situação?

    Se forem utilizar o manual de soluções da economia classica, que alguns chamam liberal, essa crise vai durar uma eternidade.

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