A incipiente indústria de inovação na Palestina

Da Galileu 

Conexão palestina

Nos territórios palestinos, uma geração de empreendedores está criando uma indústria de inovação. Nossa reportagem foi conhecê-los, e ver como energia verde, internet e software podem construir um novo paíspor Guilherme Pavarin, com fotos de Fadi Arouri, de Ramallah, Cisjordânia

“Está parado na fronteira?”, perguntou, por telefone, o engenheiro palestino Adi Asali. 

Adivinhou, respondi. 

Passava das 19 horas na divisa entre Israel e Cisjordânia. 

A entrada na cidade de Ramallah parecia entupida. “Sem problemas”, respondeu Asali. “Eu aguardo.” A visita à sua empresa, a poucos quilômetros dali, deveria ter iniciado há uma hora. Mas não havia jeito de se movimentar. Garoava e, no único ponto de acesso, os carros se amontoavam numa fila dupla em formato espiral. Os motoristas estiravam os braços para fora da janela. Alguns ligavam os sons dos automóveis em volume alto, outros conversavam entre si. Havia algo de rotineiro naquele engarrafamento. Um taxista ao lado, parecendo adivinhar a presença de estrangeiros, falou, em bom inglês, para não deixar dúvidas: “Todo dia é esse caos”. Ele apontava para o muro que separa Israel da Palestina. Com blocos de concreto de 8 metros de altura, fossos e cercas eletrificadas, a parede espremia as pistas até chegarem aos postos de controle israelenses. Por lá, trabalhadores e turistas são obrigados a passar, um a um, todas as vezes que quiserem entrar ou sair de Ramallah. O trânsito, logo, era inescapável. 

Quase duas horas depois do horário marcado, Adi Asali, um homem de baixa estatura e rosto jovial, deu as boas-vindas. Vestia um terno preto e tinha um sorriso amigável. Na recepção, num movimento cordial, estendeu as mãos para pedir desculpas pelo trânsito na sua cidade. “Eu poderia ter avisado antes”, lamentou. Aos 23 anos, ele é engenheiro e homem de negócios na MENA Geothermal, empresa que fabrica geradores de energia limpa, sediada no 3º andar de um moderno prédio em região comercial de Ramallah. Com mala em mãos, sugeriu, antes de subirmos ao escritório, uma visita ao subsolo do edifício, onde alguns dos equipamentos da companhia estavam em funcionamento. Chegando na garagem, mostrou uma sala protegida por janelas de vidros e com placas brancas redondas sobre o chão. “Aqui alimentamos todo o sistema de temperatura do prédio.” 

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Segundo o engenheiro, aquele é o maior projeto geotérmico (que se aproveita da temperatura de dentro da Terra) de regulação de temperatura no Oriente Médio. Para funcionar, usa bombas de calor, bobinas e ventiladores colocados embaixo do solo, a 120 metros de profundidade. A partir das diferenças térmicas entre a superfície e o interior terrestre, provê um método ecológico de aquecimento e resfriamento. “Basicamente, aproveitamos ao máximo a energia do solo, que retém 50% da luz solar”, explica. Em dias frios, o sistema extrai o calor das profundezas do terreno e distribui por dutos, que aquecem o ar e a água dos estabelecimentos. No verão, há o processo reverso. O sistema retira o calor da superfície e o joga para dentro da terra, refrescando-a. A empresa estima que, por ano, a tecnologia poupe US$ 30 mil no edifício. Além dele, há 5 grandes projetos da MENA Geothermal em funcionamento: 4 em Ramallah, e outro na Jordânia, este último chefiado pelo jovem engenheiro. 

Asali voltou há menos de dois anos dos EUA. De 2006 a 2010, estudou engenharia mecânica no MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das escolas mais respeitadas nas áreas de ciência e tecnologia do mundo. Filho de uma professora de artes e um importador, sempre foi excelente aluno. Ao terminar o colégio, prestou vestibular em uma faculdade local e, pela internet, inscreveu-se no processo seletivo da instituição americana. Passou com folga na faculdade palestina. No MIT, foi um processo mais demorado: provas teóricas, redações e cartas à distância. Também foi aprovado com boas recomendações. Durante o curso, manteve retrospectos exemplares. Quando terminou, como é costume entre os alunos da universidade, não faltaram ofertas de emprego. Ele, porém, preferiu voltar a Ramallah, lugar que nasceu e cresceu. “Eu estava decidido a voltar e usar o que aprendi para ajudar meu povo.” 

“PARA FAZER UM ESTADO INDEPENDENTE, PRECISAMOS NOS LIVRAR DOS [COMBUSTÍVEIS] QUE NOS FAZEM DEPENDENTES” – Adi Asali, engenheiroEditora GloboPELA LIBERDADE: Assim que concluiu o curso no MIT, Adi Asali, 23 anos, rejeitou ofertas de emprego e promessas de carreira nos EUA para ajudar o povo palestino

Hoje, a missão diária do engenheiro na sua cidade natal é popularizar a tecnologia verde entre os palestinos. Busca potenciais clientes e, por várias residências locais, explica os benefícios da tecnologia. Diz, por exemplo, que os métodos usados para regular temperatura nas residências em Ramallah são muito prejudiciais. Nas casas da região, por causa das temperaturas que podem variar de 6 a 31 graus, são comuns aquecedores a diesel e os chamados water chillers, sistemas de refrigeração alimentados por eletricidade. As duas tecnologias, além de ecologicamente prejudiciais, são nada econômicas e colaboram para a dependência dos palestinos em relação a outros países. Aproximadamente 97% da energia consumida nos territórios palestinos é importada, sobretudo de Israel. Os outros 3% são produzidos pela única usina da Palestina, localizada em Gaza, e que depende de combustível importado. Para piorar, o consumo de energia, devido ao crescimento populacional, cresce de 7% a 10% ao ano, deixando a situação em estado alarmante. “Nossa proposta é um sistema sustentável, que pode economizar até 65% das contas de energia e nos tornar menos dependentes do vizinho”, diz Asali. “Estamos tentando nos tornar um estado independente, então precisamos nos livrar dos compostos que nos fazem dependentes.” 

Asali faz parte de uma geração de palestinos que busca, a partir das inovações tecnológicas e dos conhecimentos aprendidos fora do país, ajudar sua terra natal a se tornar autossuficiente. Esse grupo de jovens empreendedores se engaja na criação de um sistema econômico viável que não dependa de mesadas internacionais. Hoje, com um dos piores PIBs do mundo — US$ 5,6 bilhões segundo a Autoridade Monetária Palestina —, o território tem economia que funciona à base de doações de outros países. Se a ajuda externa acaba, o sistema trava. 

Khaled Sabawa, de 29 anos, o chefe de Asali e fundador da MENA Geothermal, é um dos pioneiros na luta pela nova economia. Filho de refugiados palestinos no Canadá, voltou à Palestina depois de concluir o curso de engenharia computacional na Universidade de Waterloo. Em 2007, aos 24 anos, analisando a desastrosa carência energética no povoado, abriu a sua própria empresa de geração alternativa de energia. Hoje ele é uma espécie de embaixador da tecnologia verde palestina: marca presença em encontros de empreendedores e faz conferências por todos os lugares do mundo para apresentar seu sistema geotérmico. Nas suas palavras, traz a Palestina para dentro do mapa. “Fui criado com o imperativo: se nós, os palestinos que tiveram a sorte de estudar nas melhores instituições do mundo, não voltarmos para ajudar a Palestina, quem irá?” 

A tecnologia pula o muro 

Com cerca de 30 mil habitantes, Ramallah é a capital virtual da Palestina. Virtual, pois o próprio estado palestino, hoje, não é reconhecido como legítimo. Se transportássemos para a geografia atual, o que as autoridades palestinas reivindicam como seu território estaria dividido em 3 blocos: uma parte de Israel — incluindo Jerusalém, que seria a capital —, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. As duas últimas deveriam, por determinação de lei da ONU de 1947, integrar um estado palestino. Na prática, diante dos conflitos com Israel desde à época, restou aos líderes da Palestina, enquanto buscam acordos internacionais, levar a administração, os ministérios e representações diplomáticas para Ramallah, na “Cisjordânia ocupada”, o lugar com menos tensão militar — e mais próximo de Jerusalém. 

Na capital provisória, instalou-se, também, uma comunidade de empreendedores de tecnologia. Foi o que notou o engenheiro Saed Nashef, de 42 anos, ao voltar para a cidade depois de quase duas décadas morando nos EUA. Homem de negócios na área tecnológica e com aparência séria, sempre formal e com barba aparada, Nashef conta que fugiu aos 19 anos do Oriente Médio para estudar sem “as limitações impostas pela realidade política”. Depois de liderar por 7 anos a área de design de software da Microsoft e de abrir empresas em terras americanas, decidiu, em 2007, passar um tempo em sua região de origem. “Meus pais estavam muito velhos. Queria conviver mais com eles e reforçar a conexão de seus filhos com as raízes.” Nesse meio tempo, de volta às ruas de aparência desértica de Ramallah, Nashef conheceu alguns jovens talentos e viu oportunidades para investir. 

“AS NOVAS COMPANHIAS DE TECNOLOGIA PODEM CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DA PALESTINA, GERANDO EMPREGOS DE ALTO VALOR AGREGADO E RENDA” – Saed Nashef, investidor
Editora GloboO EMANCIPADOR: Depois de carreira de sucesso no setor de tecnologia dos EUA, Saed Nashef, 42 anos, voltou à Palestina para investir em jovens empreendedores

Tudo começou com suas visitas a um encontro de apaixonados pela tecnologia chamado Thursday’s Geeks Night Out, organizado pelos tradicionais cafés de Ramallah. Espalhados por todas as regiões do município, esses locais dispõem de tapetes, mesas espaçosas de madeira e conexão Wi-Fi, sendo muito frequentados por grupos de jovens com laptops no colo. Quando soube que havia reuniões oficiais em alguns deles, Nashef passou a frequentá-los e a trocar conhecimentos com dois nomes conhecidos na região: Yousef Ghandour, o organizador do evento, e Andre Hawit, um experiente engenheiro de software. E foi apresentado a aplicativos que desenvolviam. 

O de Hawit era uma espécie de secretária eletrônica digital chamada Monica. Capaz de reconhecer vozes e transformar textos em discursos, ela poderia responder aos comandos do usuário e também ler mensagens e e-mails. Ghandour, por sua vez, preparava um programa que era uma rede social para muçulmanos. Servia para conectar pessoas da mesma religião, localizar companheiros para orações nas proximidades por GPS e, usando um acelerômetro, conseguia informar se as rezas estavam na velocidade adequada, entre outros recursos. Nashef gostou das ideias, manteve contato com ambos e se preparou para buscar investimentos. 

Em 2008, o palestino foi apresentado a Yadin Kaufmann, um empresário israelense que procurava parceiros para incentivar (e lucrar com) novas empresas no mundo árabe. Juntos, pouco tempo depois, encontraram parcerias de peso e anunciaram a formação da Sadara Ventures: o primeiro capital de risco voltado para o investimento em start-ups de tecnologia e de mídias digitais da Palestina. A verba inicial foi injetada pelo Banco de Investimento Europeu. Depois, no meio de 2011, receberam um fundo de US$ 28,9 milhões vindo de empresas como Google e Cisco. “Queremos incentivar de 10 a 15 empresas locais para se tornarem grandes potências mundiais”, diz Nashef, que finaliza o escritório nas proximidades de Ramallah. “Essas companhias podem contribuir bastante para o desenvolvimento da economia da Palestina, gerando empregos de alto valor agregado e criação de renda.” 

Entre as start-ups que concorrem aos investimentos estão ideias promissoras. Uma delas, chamada imbox, é um aplicativo que cria listas inteligentes de músicas com base em grupos de amigos. O autor, Mohammad Khatib, um engenheiro de software de 24 anos, cabelos compridos e de passagem pelo Google, explica que o programa pode detalhar com precisão se os usuários gostarão de uma música escaneando tudo o que falam e dizem pela internet. “Estamos usando essa plataforma para entender como as interações das pessoas influenciam as outras”, diz. “Depois poderemos aplicar às áreas de notícias, artigos, e assim por diante.” Até o ano passado, Khatib chefiava a Bazinga!, um pequeno espaço em que se fornecia conexão, mesas e lousas para que empreendedores se reunissem e trocassem ideias. Devido ao custo do aluguel e poucos resultados durante os 12 meses de funcionamento, decidiram fechar. “Analisando agora, acho que a Palestina não estava pronta ainda para esse modelo”, diz. “O que precisamos são mentores e acesso à capital de verdade.” 

Se conseguirem colocar empresas inovadoras no mercado global, os palestinos esperam também que mude a impressão do mundo sobre a indústria de tecnologia local. Hoje, 90% do setor na Palestina corresponde a outsourcing — a terceirização de serviços como gerenciar a TI de uma empresa ou armazenar dados —, uma prática considerada limitada, com poucas possibilidades de expansão e inovação. 

A tradição vem de Israel 

Às 19 horas de 17 de novembro, numa viela escura de Ramallah, entre edifícios em construção e bases com soldados armados, os funcionários da empresa ASAL Technologies começam a sair do expediente. O CEO Murah Tahboub, enquanto apresenta o salão de jogos de um dos 4 andares da empresa, decide lançar um desafio: “O que você conhece dos serviços de tecnologia que fazemos na Palestina?” Diante do silêncio, sorri, como se comprovasse a teoria. “Viu? Ninguém de fora sabe que somos um dos melhores em prestação de serviços.” 

Fundada em 2000, a ASAL Technologies é a maior empresa de tecnologia da Palestina. Seu foco é o outsourcing. Empresas como Volvo e Intel, bancos locais e órgãos governamentais pagam para que ela gerencie rede, planeje infraestruturas e desenvolva softwares especializados. São 80 funcionários no total, todos da Palestina. “O serviço que o resto do mundo faz em 6 horas, o palestino faz em 3”, diz Tahboub, sentado em sua cadeira. E continua: “A instabilidade política fez com que nós aprendêssemos mais rápido. Acreditamos que somos subvalorizados, por isso, quando somos colocados à prova, superamos qualquer um”. 

Para o ufanista Tahboub, o outsourcing pode ser algo restrito, como alguns de seus colegas acham. Mas ele deixa claro que se firmar nesse serviço é um passo importante, talvez o primeiro para que a Palestina evolua no setor com propriedade. O outsourcing, de acordo com ele, dá a oportunidade de você conhecer tudo de tecnologia, das melhores práticas às piores. “Você está dentro do sistema, basta filtrar!” 

O orgulho de Tahboub sobre o conhecimento tecnológico dos palestinos não vem à toa: o território é um dos mais conectados do mundo árabe. E a razão para isso é simples: a ocupação de Israel fez com que os palestinos herdassem muitas tecnologias de ponta antes dos outros países do Oriente Médio. A internet no território palestino, por exemplo, chegou em 1996, enquanto a maioria dos árabes só tiveram a partir de 2001. Eles também têm mais acesso a lançamentos tecnológicos. Nas ruas de Ramallah, são muitas as pessoas que mexem em seus smartphones, tablets e laptops de última geração. Grande parte deles chega de Israel às lojas locais sem dificuldades. 

“Você não pode negar que muito do desenvolvimento de nossas redes e de nossos equipamentos estão aqui por causa de Israel”, diz o empreendedor palestino Huthaifa Afanah, 26 anos. “Mas em nenhum momento podemos esquecer o que nos é renegado, que é algo muito maior que isso.” Dono da pequena empresa de consultoria de software Abbmatrix, ele vive desde a infância nos territórios palestinos e sente na pele a dificuldade de negociar com o lado ocidental. Na mesma manhã que deu entrevista num café em Ramallah, ele deveria entregar alguns documentos para um cliente que vive em Jerusalém, no lado de Israel. Só que não podia, pelo simples fato de seu cartão de identificação, usado para trafegar entre uma cidade e outra da região, ser verde, da Palestina, e não azul, de Israel. A solução que encontrou foi pedir para um amigo palestino que mora em Jerusalém — e, portanto, com cartão azul — ir em seu lugar. 

A queixa de Afanah é que os palestinos são tratados por muitos israelenses como se fossem todos extremistas. Isso atrapalha os negócios que poderiam ser positivos para ambos os lados, já que há bastante trabalho na área de tecnologia em Israel e muita mão de obra qualificada na Palestina. “Se negociar com Israel traz benefícios para a economia de meu povo, por que não faria? Algumas organizações colocam isso no contexto político, muitas vezes de jeito distorcido, e isso é muito ruim para nós.” 

O consultor americano e filho de palestino Sam Bahour, de 48 anos, um dos nomes mais respeitados quando o assunto é tecnologia na Palestina, tem opinião mais crítica. Sentado à mesa ao lado de Afanah, parece desconfiado e, quando ouve que a internet tem permitido driblar a ocupação israelense, logo diz: “Isso é impossível. É claro que a natureza das tecnologias de comunicação é virtual, mas não se vai muito longe sem infra-estrutura, e toda ela pertence a Israel”. 

Para Bahour parece claro que só há um modo da Palestina se tornar economicamente forte com a tecnologia: tendo uma estrutura sem barreiras e sem vigilância. O progresso digital, diz, depende do espaço físico: é preciso que os setores privado, público e acadêmico funcionem bem. 

“MUITO DO DESENVOLVIMENTO DOS NOSSOS EQUIPAMENTOS ACONTECE POR CAUSA DE ISRAEL. MAS NÃO PODEMOS ESQUECER O QUE NOS É RENEGADO, QUE É ALGO MUITO MAIOR QUE ISSO” – Huthaifa Afanah, empreendedorEditora GloboEDUCADORES DIGITAIS: Yousef Ghandour (esq.) e George Khadder (dir.) atuam como conselheiros na área tecnológica. Com experiência técnica e internacional, trazem palestrantes de fora e organizam ações nas universidades palestinasUm Vale do Silício no Oriente 

Nos últimos meses, a atuação dos militantes digitais da Palestina tem se voltado a trazer as universidades para próximo do setor da tecnologia. Existem hoje 13 universidades no território palestino. A maioria delas possui tradição na engenharia, mas nenhuma aposta na pesquisa de campo. “Não há bom desenvolvimento sem estudos nas universidades, veja o caso do Vale do Silício: grande parte das ideias sai de Stanford. Eles têm pesquisas e apoio financeiro, não é à toa que saem coisas boas dali”, diz George Khadder, consultor palestino com experiência nos EUA, inclusive no Vale do Silício. 

Khadder, que carrega modos americanos nas roupas e sotaque, é um dos líderes do Peeks, uma comunidade que visa, desde novembro de 2010, educar os empreendedores de tecnologia da Palestina. Uma de suas tarefas é fazer pontes com as instituições de ensino, patrocinando eventos e criando competições para os alunos. Junto a isso, ele e a comunidade também convidam grandes nomes da tecnologia para participar de debates e aconselhar os que estão começando. O último palestrante foi o descendente de palestino Walid Abu-Hadba, vice-presidente corporativo da Microsoft. “Estamos promovendo a cultura de inovação com base no conhecimento.” 

O grupo se formou como uma evolução natural dos encontros despretensiosos que aconteciam entre desenvolvedores de tecnologia nos cafés de Ramallah. Yousef Ghandour, que comandava as antigas reuniões do Thursday’s Geeks Night Out, percebeu que aquelas reuniões poderiam servir para ajudar outros a montarem suas start-ups e chamou colegas com experiência internacional para serem conselheiros. Bem informados sobre os assuntos internos e externos, eles educam os jovens a, por exemplo, gerar dinheiro sem leis de incentivo. “Há um monte de desafios para empreendedores aqui: não há mentores, programas de aceleração, é difícil gerar renda”, diz Ghandour. “Nós tentamos mostrar o processo de desenvolvimento na área de tecnologia e procuramos trazer mais confiança a eles.” 

Outra atuação dos membros do Peeks é conectar os palestinos entre eles mesmos. Há diversos empreendedores também fora de Ramallah, principalmente na região de Gaza. A locomoção dos palestinos que moram lá até a capital palestina, porém, não é das mais fáceis. Por causa dos postos de controle israelenses, é preciso permissões e uma série de documentos para que consigam trafegar de um lado para outro. O jeito encontrado pelo Peeks foi criar plataformas de comunicação à distância, via internet, para que pudessem trocar dicas e informações. A mais popular delas é um grupo fechado no Facebook, com mais de 1.300 membros. Lá eles compartilham links, comentam notícias do setor, respondem a dúvidas, falam de problemas como as taxas de importação de produtos e marcam encontros, virtuais ou não, para que possam discutir seus planos. 

Em uma dessas sessões de conversa online, 3 meses depois de ter visitado Ramallah, perguntei a Ghandour, por curiosidade, como ele via o cenário tecnológico da Palestina em 2020. Uma visão realista, reforcei. E ele disse: “Vejo como uma pequena versão do Vale do Silício, onde governo, educação e indústria trabalham em conjunto para criar soluções de inovação regionais e mundiais”. Também falou que espera que pelo menos centenas de start-ups sejam formadas. “Isso fará muitas pessoas ricas e trará condições de vida melhores para todos da região, muito além do setor tecnológico”, disse. E concluiu: “A Palestina estará no mapa, e ninguém poderá negar isso”.

Luis Nassif

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