A nova anormalidade da economia global, por Nouriel Roubini

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – Desde o começo do ano, a economia global enfrentou um novo quadro de volatilidade no mercado financeiro, caracterizado pela queda dos preços das ações e de outros ativos de risco. Tal variação foi influenciada por diversos fatores, como preocupações em torno de um “pouso forçado” da economia chinesa, preocupações com a oscilação do crescimento norte-americano e os temores com os conflitos no Oriente Médio e seu impacto sobre os preços das commodities, além da redução de demanda global.

Em artigo publicado no site Project Syndicate, o economista norte-americano Nouriel Roubini lista outros pontos de preocupação. “A queda dos preços do petróleo – juntamente com a falta de liquidez do mercado, o aumento da alavancagem das empresas de energia nos Estados Unidos e da fragilidade de papéis soberanos de economias exportadoras de petróleo – está alimentando temores de graves eventos de crédito (inadimplência) e crise sistêmica nos mercados de crédito. E depois existem as preocupações aparentemente intermináveis ​​sobre a Europa, com uma saída britânica (Brexit) da União Europeia, tornando-se mais provável, enquanto os partidos populistas de direita começam a ganhar o terreno de esquerda em todo o continente”.

Segundo Roubini, tais riscos estão sendo ampliados por tendências sombrias de médio prazo, o que pode gerar um crescimento generalizado “medíocre”. “De fato, a economia mundial em 2016 vai continuar a ser caracterizada por uma “nova anormalidade” em termos de produção, políticas econômicas, inflação e o comportamento de preços de ativos-chave dos mercados financeiros”.

Entre os pontos que fazem o quadro econômico atual ser considerado anormal, estão a queda do potencial de crescimento nos países desenvolvidos e emergentes por causa da carga de dívidas privadas e públicas elevadas, envelhecimento rápido (o que implica uma maior poupança e investimento inferior), e uma variedade de incertezas que prendem os gastos de capital.

Além disso, Roubini diz que “o crescimento real tem sido anêmico e abaixo da sua tendência potencial, devido ao doloroso processo de desalavancagem em curso, pela primeira vez nos Estados Unidos, em seguida na Europa, e agora nos mercados emergentes altamente alavancadas. Mas agora essas ferramentas de política monetária não convencionais são a norma na maioria das economias avançadas – e até mesmo em alguns dos mais emergentes. E as ações recentes e sinais do Banco Central Europeu e do Banco do Japão reforçam a visão de que as políticas menos convencionais estão por vir.

Outro ponto que preocupa é a inflação ultrabaixa (e em queda) nas economias desenvolvidas, mesmo com as estratégias pouco usuais adotadas pelos Bancos Centrais. “O desafio para os bancos centrais é tentar impulsionar a inflação, se não evitar a deflação. Ao mesmo tempo, as taxas de juro de longo prazo continuaram a descer nos últimos anos; o valor do dólar subiu; os preços do ouro e das commodities caíram acentuadamente (…)”.

Segundo o articulista, a razão pela qual a inflação ultra-baixa continua a ser um problema é que o nexo de causalidade tradicional entre a oferta e os preços dinheiro foi quebrado – e uma das razões para isso é que os bancos estão acumulando a oferta de dinheiro adicional na forma de reservas em excesso, em vez de emprestá-lo (em termos económicos, a velocidade do dinheiro entrou em colapso).

“Além disso, as taxas de desemprego continuam a ser elevadas, dando aos trabalhadores pouco poder de negociação. E uma grande quantidade de folga permanece nos mercados de produtos de muitos países, com grandes hiatos do produto e baixo poder de fixação de preços para as empresas (um problema de excesso de capacidade exacerbada pelo excesso de investimento chinês)”, ressalta Roubini. Agora, após a ascensão e queda dos preços das casas em diversos países, mercados de óleo, energia e outras commodities acabaram entrando em colapso – resultado da desaceleração chinesa.

“A recente turbulência do mercado iniciou a deflação da bolha de ativos globais provocada pelo quantitiative easing (pacote de estímulos adotado por economias mais avançadas), embora a expansão das políticas monetárias não convencionais possa alimentá-la por um tempo mais longo. A economia real na maioria das economias avançadas e emergentes está gravemente doente e, no entanto, até recentemente, os mercados financeiros apresentaram maiores elevações, apoiadas pela flexibilização adicional dos bancos centrais. A questão é quanto tempo Wall Street e Main Street podem divergir”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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