A perseguição aos jornalistas em Honduras

Do Brasil de Fato

“Honduras é o país mais perigoso do mundo para o jornalismo”

Por Leonardo Wexell Severo, Da Tegucigalpa (Honduras)

Fundadora do curso de Jornalismo da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), em San Pedro Sula, a professora Patrícia Murillo denuncia a sequência de assassinatos de profissionais da comunicação – e a impunidade – como instrumentos utilizados pelo governo contra a informação. Militante do Partido Livre (Liberdade e Refundação), Patrícia expõe nesta entrevista como a mídia em seu país atua como correia de transmissão dos interesses da extrema direita, profundamente vinculados – e submissos – ao governo dos Estados Unidos.

A imprensa alternativa e a oposição têm denunciado a brutal perseguição dos jornalistas em Honduras? Qual é a atual situação?

É uma realidade dura e as estatísticas a refletem bem: 30 companheiros comunicadores foram assassinados no último período (desde o golpe de 2009), de todos os gêneros de jornalismo, até mesmo animadores de programas juvenis. A impunidade é absoluta em todos os casos. Isso dá uma ideia da brutal perseguição, da pressão e do cerco enorme a que vêm sendo submetidos os profissionais da imprensa, o que fez com que alguns tivessem até mesmo de sair do país e outros a se autocensurarem.  O mais grave é que estas ameaças vêm de alguns patrões, de donos dos meios de comunicação, que têm uniformizado o pensamento dos companheiros para que não digam o outro lado da notícia, para que ocultem a realidade. Em Honduras não há equilíbrio, não há igualdade informativa.

O que acaba representando uma mordaça…

Há mil maneiras de exercer o controle informativo. Quando se chega ao ponto de invadir a casa de alguns profissionais para roubar computadores e seus aparelhos de comunicação…

Não há qualquer limite.

Esta é a realidade de um país que não está em guerra, mas que é hoje o país mais perigoso do mundo para exercer o jornalismo. Em Honduras a liberdade de expressão está ferida, mas não está morta.

A questão da manipulação midiática também se dá em torno aos interesses das transnacionais da comunicação.

É algo criminoso na medida em que estão mantendo a oito milhões de hondurenhos mergulhados, alienados, encarcerados por este cerco midiático que buscam implementar em todo o mundo. É algo bestial, porque somos seres humanos, não somos animais nem robôs. Especialmente a juventude se lançou às ruas para protestar: aí estão os murais, os grafites, os blogs, as redes sociais. Quando a população se viu bloqueada pelos grandes meios, isso desmascarou a mídia. Isso não expôs somente os donos dos meios, mas os jornalistas, os intermediários, os responsáveis por manter o povo na alienação. Porque em Honduras esse tipo de mídia foi desmascarada antes do golpe e o povo tem sido muito criativo. Há muito teatro, há muita música, há muita arte popular, há muitas formas de expressão e jornalismo popular para se contrapor a esse cerco midiático, que não é novo. 

É uma resistência que vem de longe…

Na década dos 80, que Honduras era praticamente uma República alugada, eu trabalhava em Tegucigalpa onde estavam matando dirigentes hondurenhos. Tudo era controlado e manipulado pelos que atacavam a revolução nicaraguense, pelos que defendiam o exército salvadorenho, que atacava a seu povo e vinha descansar em Honduras. No entanto, os hondurenhos, em sua maioria, não haviam reagido. Apesar de todo esse perigo para exercer a comunicação, hoje o povo despertou e enfrenta os que acreditam que matando o mensageiro matam a verdade. Não é assim.

Qual a sua avaliação da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP)?

Estou muito preocupada com a atuação da Sociedade Interamericana de Imprensa, com sede em Miami. Quando a SIP sente que algum jornalista associado a ela é agredido ou visto com maus olhos, ela já corre para criminalizar o movimento sindical hondurenho. Mas não diz nada quando matam dezenas de jornalistas populares, pertencentes ou simpatizantes do Partido Livre, quando invadem estações de rádio ou destroem canais de televisão em nosso país.  Agindo desta forma, a SIP está revelando a sua verdadeira sina, que não á de velar pela liberdade de expressão dos povos, mas de manter o status quo dos donos da mídia a ela associados. Aqui e em toda a América Latina esses proprietários pertencem a trustes transnacionais acostumados a fazer negócios com os governos hondurenhos.

Foto: Leonardo Wexell Severo

 

Redação

7 Comentários

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  1. Da EBC no ano passado

    “Apenas nos seis primeiros meses deste ano, 110 jornalistas foram mortos no mundo em situação considerada de violência e atentado à liberdade de imprensa, segundo a organização não governamental (ONG) Press Emblem Campaign (PEC). No ano passado, foram registradas as mortes de 107 profissionais de imprensa no mundo. O Brasil está na quarta posição, registrando seis jornalistas mortos nesse período. A PEC listou os 21 países mais violentos para o exercício da profissão. Na América Latina, os campeões são o Brasil, em primeiro lugar, seguido por Honduras, pela Bolívia, pela Colômbia, pelo Haiti e pelo Panamá”

  2. Honduras fez escola

    E tudo isso começou com um golpe apoiado pelo Judiciario, enfim, Honduras fez escola, não é mesmo Barbosa, abram os olhos brasileiros e brasileiras, os golpistas vão ocupando o terreno aos poucos, quando nos damos conta não tem mais jeito pois já está tudo dominado, portanto é um erro apoiar esse golpe do judiciário que resultou em cadeia injusta e sem motivo para inimigos da elite tupiniquim

  3. A perseguição aos jornalistas em Honduras

    Talvez  isto explica a situação :

    http://obicho.wordpress.com/2012/02/21/jornalismo-corrupto-da-botella-ao-bico/?relatedposts_exclude=4054

    HONDURAS

    Em Honduras, jornalistas lutavam pelo desenvolvimento de uma nova cultura, com alicerce ético, mas acabaram recuando por fim a um ponto intermediário que ainda aceitava papagementos debaixo da mesa. Dois anos antes do avanço realizado na Panama, um escândalo parecido irrumpeu no mundo da imprensa hondurenha.

    Um repórter, sem querer, tinha deixado uma lista de jornalistas na folha de pagamento clandestino do Tribunal Nacional de Eleições, numa máquina de xerox no escritório do Tiempo de San Pedro Sula. Assim, a gestão fora sido obrigado a tratar com pessoal envolvidos no esquema. Vilma Gloria Rosales, editora do Tiempo’s editor, resolveu imprimir a lista, apesar de uma ameaça de morte do jornalista que deixou a lista na redação enquanto calculava o quanto era devido a cada jornalisa. Rosales também compartilhou a lista com concorrentes do Tribuna.

    No jornal concorrente, La Prensa (não confunde-se com o panamenho do mesmo nome) o editor Nelson Fernández (depois promovidao em parte por sua manejo do incidente) também resolveu de imprimir a lista, embora a lista contivesse o nome de jornalistas do jornal dele. Foi muito significativo esse fato, porque os dois jornais são considerando os mais influenciais do País. Tanto Fernández quanto Rosales recusaram a demitir pessoal do jornal que aceitou pagamentos do governo. Esse confronto com a corrupção foi apontado por jornalistas hondurenhos como o momento da explulsão de práticas corruptas da maioria de redações hondurenhos.(Martinez, 1998).

    Isso, porém, não resolveu o problema. Seis anos depois, a editora do La Prensa hondurenho, Maria Antonia Martinez, admitiu saber que as práticas continuem na sua redação, mas que repórteres agora são sabios o suficiente para escondé-las dos gerentes. Em geral, disse, as redações do pais continuam infetados pela corrupção, embora o número de jornalistas aceitando propinas ter diminuido.

    No novo sistema, Martinez disse, a corrupção assume várias capas. Ás vezes é parecido com chantagem.

    O jornalista prepara uma matéria negativa, e depois entra em contato como o alvo da reportagem, procurando uma propina para abafar o artigo.

    Outras vezes, poderosos fregueses pagam jornalistas para fuçar os armários dos inimigos deles. Em 1998, Martinez flagrou um integrante do seu equipe fazendo justamente isso. Martinez resolveu não demitir o repórter, submetendo-o a um rebaixamento e uma mudança a outro caderno do jornal. O reporter tinha cultivado os patrões como parte de seu “beat,” da cobertura rotineira de determinado assunto. Muitas vezes os editores formam parte de tais arranjos, recebendo uma porcentagem. Além do mais, o sistema fazia possível a venda de informaçao e notícias a serem vendidos de uma maneira muito parecida com a propáganda. Tal como seus colegas no Panama, dirigintes de NGOs hondurenhas confirmam que acesso à imprensa veio como preço na maioria de jornais hondurenhos. Embora o Tiempo e La Prensa mudaram a prática, as mudanças não eliminaram a corrupção completamente.

    Na Honduras, então, porque o recuo por parte de jornalistas após a campanha de 1993 alvejando colegas corruptos? O caso hondurenho difere segundo a reação de poder à nova agressividade da imprensa. Em vez da resposta jurídica e bureacrática do sistema panamenhos,a ameaça de violência física pode ter reduzido o ritmo de reformas, levando à solução comprometida de hoje.

    O ano 1993, também era quando a mídia começou a oferecer críticas aos militares. Apesar de que os hondurenhos elegiam governos civis na época, os militares basicamente tomavam conta do sistema ainda. Mas o começos dos anos 90 fora um período de mudanças. Lentamente o governo civil e os setores da sociedade civil adquiriam mais epaço dentro do sistema. Com as novas liberdades a midia concluiu que era tempo de expor a guerra suja tramada contra a oposição durante os anos 90. La Prensa imprimiu uma premiada série sobre assasinatos extrajudicias e o desaparecimento de pessoas.

    Mas a mídia hondurenha ainda tinha que aprender de que contando o passado não era a mesma coisa que contar a presente. Uma das redes mais importantes revelou a ligação de alguns militares com o assasinato de um empresário conhecido na região de San Pedro Sula , em 1993. Os repórteres da reportagem recebiam ameaçãs por conta disso. Querendo mostrar solidariedade, o Tiempo publicou uma séries sobre as ameaças e também as acusações originais (Newman, 1994). Imediatamente depois sa sério no Tiempo, Yani Rosenthal, um dos donos do jornal, soi atacado e sua casa incendiada. Um dos reporteres acabou fugindo do pais.

    Depois do incêndio criminoso, o Col. Mario Hung Pacheco, chefe da polícia do exército, emitiu um release. Os homens de Hung Pacheco eram responsaveis pelo policiamento de San Pedro Sula e do capital. Disse no seu release que as forças armadas mantinha ficas sobre todos os jornalistas e que forças de segurança nacional rotineiramente monitorava suas atividades. O efeito da revelação foi susto geral por parte de jornalistas que temian violência partindo das FFAA. O aviso de Hung parece ter restringido a agressividade nova das redações e podia ter anunciado o fim de campanhas agressivas para limpar as redaões de jornalistas suspeito de ser subornados pelo governo ou das FFAA.

    Mais tarde, Hung Pacheco seria promovido a general e eventualmente chefiava as FFAA hondurenhas. Isso fez dele o de fato último poder do pais, sendo que a chefe das FFAA não era indicado pelo presidente e que o congresso não infrequentemente aprovavam as promoções dos principais generais.(Ruhl, 1997). Hung Pacheco, no entanto, seria o último chefe escolhido dessa maneira, sendo acima de toda responsibilidade, quando o sistem retornou ao controle da presidencia em 2000. Ainda assim, o discurso de Hung Pacheco e sua subsequente ascenção ao último poder significava o fim de sondagens jornalisticas de comportamento criminoso de militares.

    No fim dos anos 1990s, a transição para um governo civil hondurenho era marcado pela elevação de certos donos de mídia a posições poder político considerável. O ex-presidente Carlos Flores Facussé e dono de um dos jornais mais poderos da Honduras, La Tribuna. Durante o tempo que Flores ficava em poder, pessoas de dentro dos bastidores de poder disse que Flores e um cabal do outros donos de mídia, que também exercem poder dentro do Partido Liberal, cortou a erva daninha de vozes dissidentes da imprensa, repressaram concorrentes não-alinhadas com a agenda partidária deles, e clandestinamente pautava a agenda jornalistica do pais inteiro.(Sarmiento, 1998). Esse grupo poderoso de donos de mídia e elites políticos parece contente a deixar a impressão que os sistemas politico e midiático se expurgaram dos abusos do passado, não deixando o assunto chegar ao superficie das manchetes.

    O resultado para a maioria de jornalistas hondurenhos tem sido auto censura. Elesedeixaram a batalha pra livre expressão às FFAA e poderes civis emergentes, com laços aos jogadores econômicos mais poderosos e pouco interesse em justíça social.(Guevara, 1994).

    Uma repórter e áncora hondurenha conhecida para sua honestidade, confiabilidade e ética, Sandra Maribel Sanchez resolveu virar uma das críticas mais duras do regime.. Durante uma conferência em Panamá sobre a mídia de América Central, Sanchez se diz concordar com quem tinha chamado a mídia no seus pais um bando de “gângsteres insaciáveis” por causa do seu apetite para propinas. (Fliess, 1999). Embora acreditar haver mais repórteres objetivo do que no passado, ela culpa os donos para não ter pressionados para reformas o suficiente.

    É interessante sabe que Sanchéz era um dos últimos jornalistas que revelaram recebendo ameaças de morte por causa do trabalho. Em 1996, Sanchez recebeu uma série de ameaças de morte pela telefone após publicar uma matéria sobre corrupção no congresso nacional e entre militares. (Chasan, 1997). Mais um vez alguem que desafiou o sistema recebeu a mensagem: refrear-se si mesmo.

    Se bem que essas mensagens são mais nefastas e assustadoras do que os processos contra jornalistas panamenhos, no fim das contas o método utilizado é o mesmo em ambos paises. Na Panama, quando um investigador como Gustavo Gorriti se estabeleceu no pais e começou descobrindo corrupção, o estado reagiu com várias medidas Os ataques diretos contra Gorriti, embora lícito e não violento, não passam de tentativas de limitar os direitos de livre expressão e mandar uma mensagem aos colegas panamenhos dele. Em Honduras, a reação era mais contundente e ameaçadora.

    Os poderosos do pais descubriram que quando corrupḉão não funcionava mais como meio de coagir os jornalistas, foram obrigados a recorrer à violência. Como as reações e ameaças contra editores e jornalistas demostram,a violência parece inevitável com o fracasso de corrupção. Assim, quem apoia e participa em sistemas jornalisticas comprometidos está apoioando a violência, o último meio de controlar jornalistas que recusam a aceitar o sistema vigente.

  4. Nenhum morto é cubano.

    Recebi pelo face essas informações sobre os assassinatos de jornalistas no mundo, acompanhado de uma feliz observação:

    Nenhum deles é cubano ou foram mortos em Cuba, pela sua “Ditadura sanginária”.

    A Yoanis tá aí pra não nos deixar mentir.

  5. Disso a SIP não fala…

    Com isso a SIP não se preocupa né? Mas basta alguma reforma que retire privilégio dos barões da mídia, é ataque à liberdade…

  6. E falam dos “bolivarianos”. A única coisa que esse pessoal ex-esquerdista “aprendeu” de fato foi um mal entendido sobre a frase “acuse-os do que você é”.

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