A União Europeia e os protestos na Ucrânia

Sugerido por Allan Patrick

Do blog duas ou três coisas

A vez da Ucrânia

por Francisco Seixas da Costa *

Ver muitos milhares de pessoas nas ruas de Kiev, lutando contra a “finlandização” da Ucrânia, apelando por uma maior ligação à Europa comunitária, não nos deve iludir. Não é o atual projeto baço, titulado pelas “entusiasmantes” figuras de Van Rompuy e Barroso, que necessariamente seduz essas pessoas. É a perspetiva de procurar um caminho de fuga à tutela moscovita que anima parte de um país hoje prisioneiro da guerra “morna” que se estabeleceu nas margens da Rússia.

Com a queda da União Soviética, o ocidente deixou-se seduzir pela possibilidade de fazer chegar tão perto de Moscovo quanto possível as fronteiras da sua segurança e da sua liberdade democrática. Para isso, alargou a NATO e a UE até aos bálticos, utilizou oportunisticamente o alibi da luta anti-terrorista para pescar em “águas” estratégicas russas, com uma aberta influência na Geórgia, com a utilização de bases aéreas no Usebequistão e no Quirguistão. 

Bruxelas, mobilizada pelo zelo anti-moscovita dos recém-convertidos, aproveitou a porta aberta pelos EUA e agravou o seu discurso face à Rússia, na ilusão de que assim reverteria a relação de forças. A liderança russa, já de si propensa a derivas autoritárias, viu nisso uma ocasião para impor soluções de proteção geopolítica. E aconteceu o que aconteceu na Geórgia. Na Bielorússia as coisas são já hoje o que são. Agora, noutro modelo, parece ser a vez da Ucrânia. Haveria outra solução ou outra política possível por parte da Europa? Talvez houvesse. Mas, para isso, a UE não deveria ter sido cúmplice das provocações anti-russas que alguns dos seus parceiros insistiram (e insistem) em tentar. Não é por acaso que estes acontecimentos coincidem com uma cimeira europeia que tem lugar precisamente em Riga (como poderia ser em Tallin ou Vilnius). Aí está o resultado da estratégia enviezada de um ator secundário na cena internacional, que dá pelo nome de União Europeia.    

* embaixador português aposentado, seus últimos postos foram Brasil (2005-2009) e França (2009-2013)

 

Redação

1 Comentário

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  1. A União Européia tem que se

    A União Européia tem que se preocupar é com o desemprego e a decadência que parece inevitável. Sem riquezas, sem a exploração fácil de colônias, o espaço se reduz para a sustentação de um modelo perverso que espoliou o mundo. 

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