Acabou a “gripezinha”? Jornais do mundo repercutem postura de Bolsonaro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Jornais do mundo expõem a postura de Bolsonaro que, após minimizar a pandemia como "gripezinha", corre atrás para não aumentar impopularidade

Jornal GGN – “Bolsonaro muda a postura: ‘a minha preocupação sempre foi salvar vidas'”, estampa o jornal português Expresso. “Bolsonaro aposta na negação”, crava o norte-americano Financial Times. “Acabou o termo ‘gripezinha’?”, questionou o francês France24. “Bolsonaro é ignorado pelos governadores”, satiriza o britânico The Guardian.

A repercussão do discurso de Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira (31), o segundo alvo de grandes polêmicas, atravessou o mundo expondo a dupla crise que o Brasil enfrenta com o avanço do coronavírus: ser o país que lidera o número de casos na América Latina e o ceticismo de um presidente que, após minimizar a maior pandemia dos últimos tempos como “gripezinha”, corre atrás para não aumentar ainda mais os altos níveis de impopularidade.

“Na mente de Jair Bolsonaro, a manutenção dos postos de trabalho (e a proteção da economia do Brasil) parecia ter o mesmo nível de importância que salvar vidas”, introduziu Fábio Monteiro, para o diário português Expresso.pt.

Ao tratar do discurso de Bolsonaro nesta terça à noite, Monteiro descreveu que “sem deixar de lado o impacto do surto no desemprego”, é a primeira vez que o mandatário do Brasil mostrou-se preocupado com a saúde dos brasileiros.

Por outro lado, destacou que ao citar trecho do discurso do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, Jair Bolsonaro omitiu o que o líder da organização apontou ser a responsabilidade dos governos neste momento da pandemia.

“Os governos precisam garantir o bem-estar das pessoas que perderam a fonte de rendimento e que estão a necessitar desesperadamente de alimentos, saneamento e outros serviços essenciais”, foi a fala do diretor da OMS.

O noticiário francês France24 introduziu com uma pergunta: acabou o termo ‘gripezinha’?”. “Cerca de 201 pessoas morreram com o vírus no Brasil, um país de 210 milhões de pessoas, onde as autoridades alertaram que o pico da epidemia não seria atingido antes do final de abril”, destacou o jornal, depois de dizer que o presidente do Brasil “admitiu” que se trata “do maior desafio” atual.

Mas ressaltou a postura contraditória: “Jair Bolsonaro subestimou continuamente a magnitude da pandemia de coronavírus e criticou as medidas de contenção tomadas em todo o mundo e pela maioria dos estados brasileiros, opondo-se à necessidade de preservar a economia e o emprego. ‘Temos uma missão: salvar vidas sem esquecer os empregos’, disse ele durante seu discurso na noite de terça-feira.”

O jornal dos Estados Unidos Financial Times também ressaltou a tardia reação de Jair Bolsonaro frente ao coronavírus: “Quando o Brasil entrou em sua terceira semana de quarentena, o presidente Jair Bolsonaro começou a ficar impaciente”.

Na publicação desta terça (01), o periódico deu destaque à reação popular e ao isolamento que o presidente brasileiro está sofrendo, tanto de governadores, congressistas e da população, que vem se manifestando com os panelaços e pedindo a sua renúncia ou impeachment.

“A violação das diretrizes internacionais do presidente – para não mencionar as políticas de seu próprio ministro da Saúde – o coloca entre um número cada vez menor de líderes internacionais (…). Mas o comportamento de Bolsonaro também provocou uma reação que poderia ameaçar seu futuro político e a estabilidade da maior democracia da América Latina”, alertou o FT.

Completando: “A maioria dos governadores do país, incluindo aliados de outrora, se separou publicamente do presidente. O Senado e seu ministro da saúde o contradizem. Enquanto isso, os habitantes em quarentena das maiores cidades do Brasil começaram os panelaços noturnos – um protesto que envolve bater panelas e frigideiras para expressar descontentamento com o manejo da crise.”

Para o jornal estadunidense, o comportamento de Jair Bolsonaro foi descrito como “presidente de crise ambulante”, que vem “provocando reações entre aliados”.

Também o britânico The Guardian destacou que a postura de Jair Bolsonaro o vem afastando dos governadores dos estados brasileiros, que o “ignoram”. “Até ex-aliados estão se recusando a obedecer aos pedidos do presidente brasileiro de que as pessoas voltem ao trabalho”, adicionou na chamada.

As solicitações, até então, de minimizar os impactos do novo coronavírus e que a população volte a trabalhar, rompendo a quarentena, “foram amplamente ignoradas pelos políticos e pelo público em geral”, escreveu a reportagem.

“Apenas três dos 27 estados brasileiros, que abrigam 5,7 milhões de pessoas, adotaram medidas flexíveis de isolamento social, pois os casos de coronavírus continuam aumentando – o Brasil possui 5.717 casos confirmados e 201 mortes. Um estudo mostrou que quase 60% dos brasileiros estão em casa”, completou.

As oposições às posturas de Jair Bolsonaro se viram refletidas dentro de sua própria equipe ministerial. “Mas, além de enfrentar uma rebelião dos chefes regionais, Bolsonaro agora também parece cada vez mais isolado de seu próprio gabinete”, anotou o diário britânico, ao usar como exemplo os ministros da Saúde, Luiz Mandetta, e também os aliados da Justiça, Sergio Moro, e da Economia, Paulo Guedes.

As exposições do The Guardian e do Financial Times, de que Bolsonaro agora está isolado politicamente em sua defesa de minimizar o coronavírus, teriam provocado a pequena mudança no discurso feito na noite desta terça (31), quando o mandatário brasileiro admitiu que a pandemia é um “desafio”.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A grande pena disso ai tudo, não citam que o desgoverno desse sujeito ai, por falta de diretrizes esta provocando total substantificações dos casos Brasil a fora. Ou VCs acham que os números até este momento refletem a realidade ?

  2. Hihi, em substantificações, leia-se sub-notificações. Voltei porque vai ter um monte de robozinho que não vai entender. Sabe né, aqueles robozinhos que são naturalmente b/u/r/r/o/s!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador