Aprender com a derrota da Grécia, por Jorge Bateira

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Allan Patrick

Do blog Ladrões de Bicicleta

O governo grego afinal ajoelhou, melhor, rastejou e engoliu tudo o que se propunha eliminar quando foi eleito. Não mudou a UE, como prometeu. Não acabou com a austeridade e as privatizações, como prometeu. Não se libertou das equipas técnicas da troika dentro dos ministérios, como prometeu. E ainda não sabe o que pode obter quanto a um “alívio” da dívida pública. Em tempos manifestei o meu receio de que o Syriza não estivesse à altura do desafio que lançou à UE (“Germanização ou soberania?”). Infelizmente, os meus maiores receios confirmaram-se.

Confrontado com o Diktat do Eurogrupo, Alexis Tsipras e a maioria do seu governo alimentaram a ilusão de um possível “acordo honesto e vantajoso para as duas partes” e não se prepararam, nem prepararam o povo grego, para a ruptura no melhor momento. Quando convocou o referendo, Tsipras tinha a obrigação de aceitar o repto da direita e dizer ao povo grego que a experiência de longos meses de negociações falhadas o obrigava a concluir que um “não” implicava a provável expulsão de facto do euro através do BCE. O que se seguiu foi penoso e humilhante. Uma pesada derrota para a esquerda que ainda acreditava na mudança da UE por dentro, uma derrota que terá repercussões negativas nos resultados eleitorais do Podemos em Espanha.

Repare-se que Tsipras e Varoufakis sempre disseram que não punham em causa a participação da Grécia na zona euro. Rapidamente os seus interlocutores perceberam que tinham pela frente um adversário frágil (as divisões internas eram do domínio público), sem qualquer trunfo negocial. Como é possível que a direcção do Syriza tenha sido tão incapaz neste confronto vital? A explicação que encontro para este suicídio político remete para o enorme poder das ideias, em particular das ideologias. De facto, durante o processo negocial, Tsipras e a maioria do governo grego mantiveram intacto o seu europeísmo de esquerda. Esta ideologia tem raízes na cultura política do eurocomunismo, também dominante no que resta do Partido Comunista Francês e na esquerda europeia que ainda sonha com uma globalização progressista. Para estes sectores da esquerda, o fim do euro é “um retrocesso civilizacional”. Assim, a derrota do governo grego foi causada, em última instância, por uma cegueira ideológica que o impediu de perceber o significado do impasse em que caiu e de, a partir daí, mobilizar o povo grego para a aceitação das implicações últimas da recusa da austeridade.

Após a derrota, Tsipras e Tsakalotos já disseram que não havia alternativa à capitulação por falta de condições financeiras. Apesar das viagens a Moscovo, Putin terá falhado com o apoio financeiro de que os gregos precisariam para poderem bater com a porta. Também o apoio da China não se terá concretizado, pelo que, sem reservas em dólares, seria uma catástrofe sair do euro. De facto, quando permanecer no euro é uma preferência ideológica, tudo se converte em obstáculos intransponíveis para justificar uma inércia de meses e a evidente desorientação nos últimos dias. Em boa verdade, as contas externas gregas têm estado perto do equilíbrio, pelo que apenas seria necessária uma reserva de segurança para evitar problemas imprevistos no abastecimento de bens essenciais importados.

Jacques Sapir até deu algumas pistas para a constituição imediata dessa reserva (“Les conditions d’un “Grexit””), incluindo o adiantamento de 5 mil milhões pelo gasoduto russo em território grego, mas, como é evidente, o que mais escasseava no núcleo duro do governo era a vontade política de estar à altura do entusiasmo das classes mais desfavorecidas, que votaram “não”. Em vez de as convocar para irem juntos na recusa da austeridade até às últimas consequências, Tsipras converteu o grito soberano do “não” num humilhante “sim” a mais austeridade. Entretanto, alguma esquerda portuguesa já começou a explicar porque devemos continuar a apoiar Tsipras e o seu governo. Fica-lhe bem, mas infelizmente isso pode querer dizer que nada aprenderam com esta pesada derrota.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

18 Comentários

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  1. O que se aprendeu, o básico,

    O que se aprendeu, o básico, os governos não podem gastar mais que arrecadam e deixar dividas para as gerações futuras. O estado de bem estar é inviável da forma que hoje se apresenta.

     

     

    1. Bê-a-bá

      Transformar uma frase de um grande frasista, o teatrólogo e jornalista Nelson Rodrigues, dita em circunstâncias bastante diversas das atuais, em dístico justificador de ralos pensamentos, como o que foi expresso na tosca conclusão de que “governos não podem gastar etc” não passa de mistificação de Oneide.  

      Para não ir muito longe, os EUA têm constantes déficites fiscais (gastam mais – no caso deles muito mais – do que arrecadam), e nem por isso sofrem como os gregos (a maioria dos gregos). 

      Sobre o estado de bem-estar social ser inviável nos dias de hoje, tendo a concordar, embora por razões certamente diferentes das prováveis embasadoras do pensamento do comentarista. 

      A natureza do capitalismo – estágio imperialista – atual funciona no sentido oposto ao do bem-estar geral.

      Expropriar os expropriadores, por mais longínqua que possa parecer a sua concretização, permanece atual. Talvez até mais atual do que quando formulada pela primeira vez. A opção, a barbárie (que muitos já consideram em curso), não pode ser considerada como opção. Até porque eliminadora do humano na Terra.  

       

      1. Jorge, não se gasta pólvora em chimango.

        Há um ditado gauchesco que diz: Não se gasta pólvora em chimango.

        Usar Nelson Rodrigues para o Oneide! É melhor é ir de Chaves.

      2. Os EUA não é exemplo, sua

        Os EUA não é exemplo, sua moeda é reserva de valor mundial, enquanto o mundo aceita papel pintado com bustos de homens mortos pode continuar gastando.

        Só um desonesto perdulário pode aceitar que o estado gaste mais que arrecade.

        Não existe mágica em economia, as dividas serão pagas cedo ou tarde.

  2. Bingo!

    Argumentação sucinta e contundente, que deixa no horizonte uma suspeita política ainda mais contundente: à esquerda do mundo todo hoje parecem faltar-lhe simplesmente culhões (e isso também vale para a América Latina).

    Essa é talvez a maior vitória ideológica da hegemonia neoliberal: castrar a política de qualquer possibilidade de utopia.

    Nunca é demais partir de constatações simples, por mais que possam ser dolorosas. Enfrentá-las já é o primeiro passo para o que pode (e deve) ser uma longa marcha. Se a esquerda continuar à sombra das árvores, remoendo velhas ilusões, não irá a lugar algum.

  3. Infelizmente o que tem me

    Infelizmente o que tem me decepcionado na esquerda é observar o quanto é “corajosa”, o quanto tem “culhões”. É o típico macho alfa que diz assim: “se fossse eu…” “se fosse eu…” Longe de mim compactuar com Oneides da vida, mas parece que a “revolução” tem que estar em tudo, é remédio para tudo, sem pensar no duro processo para as pessoas. Lembremos, nunca  é demais, estamos imersos no capitalismo. Muitas pessoas não tem “culhões” para em nome de uma causa srem acossadas pela rebeldia inconsequente que por vezs se apresenta. Tornou-se o mote da esquerda acusar a todos de sem culhões. O garoto destemido, sem medo, incosequente que acha que seus atos não irão afetar ninguém mais. Esse tipo de esquerda está literalmente indo para o ralo, tanto quanto aquela direita fascistóide.

    1. Clap, clap, clap, clap, clap

      Por isso me intitulei Anarquista Lúcida, nao como um auto-elogio, mas simplesmente para apontar uma diferença de níveis. É preciso sim sonhar com a utopia e a revoluçao, por isso Anarquista, mas ao mesmo tempo ter os pés no chao e lutar com os meios possíveis, por isso Lúcida, ou seja, sabendo que a sociedade anarquista (ou comunista, se preferirem, para mim essas duas denominaçoes dizem exatamente o mesmo) nao é atingível imediata e diretamente, mas só ao fim de um longo percurso histórico (se o for…). Ou seremos muito revolucionários e heróicos, mas todos mortos, e, pior ainda, causando a desgraça de muitos.

      Deixo aqui uma cançao de Georges Brassens, um velho anarquista que adoro, a esse respeito:

      [video:https://youtu.be/3Mibw9BRKGU%5D

      Link: https://youtu.be/3Mibw9BRKGU

      a

      1. No site de onde tirei o vídeo há a letra (em francês)

        Deixo aqui de qualquer modo.

        Mourir pour des idées, l’idée est excellente
        Moi j’ai failli mourir de ne l’avoir pas eu
        Car tous ceux qui l’avaient, multitude accablante
        En hurlant à la mort me sont tombés dessus
        Ils ont su me convaincre et ma muse insolente
        Abjurant ses erreurs, se rallie à leur foi
        Avec un soupçon de réserve toutefois
        Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente,
        D’accord, mais de mort lente

        Jugeant qu’il n’y a pas péril en la demeure
        Allons vers l’autre monde en flânant en chemin
        Car, à forcer l’allure, il arrive qu’on meure
        Pour des idées n’ayant plus cours le lendemain
        Or, s’il est une chose amère, désolante
        En rendant l’âme à Dieu c’est bien de constater
        Qu’on a fait fausse route, qu’on s’est trompé d’idée
        Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente
        D’accord, mais de mort lente

        Les saint jean bouche d’or qui prêchent le martyre
        Le plus souvent, d’ailleurs, s’attardent ici-bas
        Mourir pour des idées, c’est le cas de le dire
        C’est leur raison de vivre, ils ne s’en privent pas
        Dans presque tous les camps on en voit qui supplantent
        Bientôt Mathusalem dans la longévité
        J’en conclus qu’ils doivent se dire, en aparté
        “Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente
        D’accord, mais de mort lente”

        Des idées réclamant le fameux sacrifice
        Les sectes de tout poil en offrent des séquelles
        Et la question se pose aux victimes novices
        Mourir pour des idées, c’est bien beau mais lesquelles ?
        Et comme toutes sont entre elles ressemblantes
        Quand il les voit venir, avec leur gros drapeau
        Le sage, en hésitant, tourne autour du tombeau
        Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente
        D’accord, mais de mort lente

        Encor s’il suffisait de quelques hécatombes
        Pour qu’enfin tout changeât, qu’enfin tout s’arrangeât
        Depuis tant de “grands soirs” que tant de têtes tombent
        Au paradis sur terre on y serait déjà
        Mais l’âge d’or sans cesse est remis aux calendes
        Les dieux ont toujours soif, n’en ont jamais assez
        Et c’est la mort, la mort toujours recommencée
        Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente
        D’accord, mais de mort lente

        O vous, les boutefeux, ô vous les bons apôtres
        Mourez donc les premiers, nous vous cédons le pas
        Mais de grâce, morbleu! laissez vivre les autres!
        La vie est à peu près leur seul luxe ici bas
        Car, enfin, la Camarde est assez vigilante
        Elle n’a pas besoin qu’on lui tienne la faux
        Plus de danse macabre autour des échafauds!
        Mourrons pour des idées, d’accord, mais de mort lente
        D’accord, mais de mort lente

        a

        E nessa outra página há a mesma música com legendas em espanhol:

        https://youtu.be/H1WPpUXARGg

        a

    2. Francyeli, meu querido

      Entenda “culhões” apenas como coragem política, atrevimento em dizer não às castas senhoriais, capacidade de ir além da mediocridade das cartinhas aos brasileirinhos (oh! tudo tão fofinho!…), ousadia utópica de inventar, contra todo conformismo e medinho que o establishment queira lhe infundir. Apenas isso.

      Abaixo o bunda-molismo da esquerda do arria-as-calças (como dizia o Vianinha: a esquerda que na hora “H” arria as calças… e caga)!

  4. Não seria ‘dinheirões’?

    A questão não é ser machão, durão, ter culhões!

    A Grécia teria calado todo mundo se tivesse dinheiro. Não tem, gastou demais, gastou o que não tinha, então ‘caluda’ e paga!

    A esquerda foi precursora da ‘nuvem’, aquela que é pintada como o perfeito servidor, seguro, estável, mas que se esfarela na primeira crise tocando o rebu geral (ou alguém com algum cérebro mantém seus principais arquivos em confiança cega na ‘cloud’). A solução de sempre é voltar a realidade do maldito ‘mercado’, vide Grécia e agora Brasil!

    Por que Lula negou ser de esquerda? Sua solução em 2008 não teve nada de socialista!

    De forma grosseira podemos Imaginar o governo brasileiro insolvente, o BB, Bradesco e Itaú sem liquidez, sem linhas de credito no mundo, quebrando. O que aconteceria com o Brasil? Agora transfira uma situação análoga e real para Grécia e temos o que está acontecendo!

    A esquerda não salva ninguém! Vive de clichês, sonhos e assistencialismo!

  5. Guerra milenar

    É só um capitulo de uma guerra milenar, repleta de vinganças, revanches, dominação colonial e exploração. Há alguns milênios, os povos do mediterrâneo estavam no comando e escravizavam o continente. Naquela época, a grécia fazia escravos, e vivia na riqueza. Depois foi Roma que passou a dominar. E tentou inumeras vezes escravizar os povos do norte da Europa ( hoje Alemanha), na época, os germanicos eram um grupo de tribos nômades, que viviam em florestas, tentando se defender das investidas escravistas de Roma. Por onde Roma passava, levava legiões de soldados e trazia legiões de escravos.

    Depois outros povos foram se sucedendo no dominio. Portugal e Espanha, que não contentes de dominar a Europa. quiser dominar e colonizar o mundo. Depois a Inglaterra… A Alemanha tentou no começo do século XX, mas falhou, agora parece que está conseguindo dominar o continente.

    Se a crise grega continuar por muito tempo, a emigração, e o declinio da natalidade farão o país ser absorvido por outros, talvez venham a perder o idioma, a legislação, e talvez o idioma alemão venha a ser o idioma de toda a Europa no futuro. . Na verdade a maioria dos países europeus hoje, nada mais são do que colônias alemãs.

    É a revanche germanica contra os povos mediterraneos.  

  6. Não se deve levar a serio

    Não se deve levar a serio alguém que diz – ” … os governos não podem gastar mais que arrecadam”,  

    pois este axioma esta constantemente sendo posto à prova, e muita vezes o que se prova nada mais é que uma falsa verdade. Dito isto, acrescento que na maioria das vezes o que os governos gastam, ou desviam para paraísos fiscais, juntamente com a elites, é nada menos que o dinheiro emprestado pela Banca, e que após às crises, passam a cobrar das populações estas maracutaias engendradas de comum acordo. Isto quando não exigem como reebolso, as privatizações a baixo valores de seus patrimônios.

    Complementando, sugiro lerem o artigo completo no Site Viomundo, para entenderem de como foi feito o acordo na Islândia com a Troika, preservando a soberania do pais e o bem estar de sua população.

    Islândia: O país que disse não aos banqueiros

    publicado em 25 de setembro de 2011 às 16:04

    Não pode pagar, não vai pagar

    O ‘não’ em alto e bom som da Islândia

    Pela segunda vez, o povo da Islândia votou por não pagar as dívidas internacionais causadas pelos bancos, e banqueiros, pelas quais toda a ilha está sendo responsabilizada. Com a presente turbulência nas capitais europeias, poderia ser este o caminho a seguir pelas outras economias?

    por Silla Sigurgeirsdóttir e Robert H Wade, na versão em inglês do Le Monde Diplomatique*

    Tradução: Pedro Germano Leal**

    A pequena ilha da Islândia tem lições para dar ao mundo. Ela realizou um referendo em abril para decidir, mais ou menos, se as pessoas comuns deveriam pagar pela folia dos banqueiros (e por extensão, se os governos podem controlar o setor corporativo, já que suas finanças dependem dele). Sessenta por cento da população rejeitaram um acordo negociado entre a Islândia, a Holanda e o Reino Unido para pagar de volta aos governos britânico e holandês o dinheiro que gastaram para compensar correntistas do banco Icesave, que faliu. Houve menos resistência do que no primeiro referendo, na primavera passada [N.T. no Brasil, outono], quando 93% votaram não.

    O referendo foi significativo, uma vez que os governos europeus, pressionados por especuladores, o FMI e a Comissão Europeia, estão impondo políticas de austeridade, as quais não foram votadas por seus cidadãos. Mesmo os devotos da desregulamentação estão preocupados com o grau de servidão que o mundo ocidental tem para com instituições financeiras que não sofrem qualquer constrangimento. Após o referendo islandês, mesmo o Financial Times, que é liberal, noticiou com ares de aprovação, em 13 de abril, ter sido possível “colocar os cidadãos em primeiro lugar, ao invés dos bancos”, uma ideia que não encontra ressonância entre os líderes políticos europeus.

    … continua.

  7. Grades mentais

       Escrevi basicamente isso uns dias atrás, é cegueira mental, nada a ver com “culhões”, até o neide tem culhões pra muitas coisas ^.^ mas acontece que cabeça é o que conta. O status de europeu parece ser o principal muitos gregos mas a própria situação grega já é prova da mentira que se tornou o “continente civilizado” mas simplesmente não querem se ver “fora da europa”, pode ser fatal.

    1. Estava escrito

      No dia do referendo, cujo vitorioso NÃO foi tão heroicamente celebrado neste blog, eu avisei que aquilo era uma besteira. Avisei que a Grécia só tem azeitonas e cabritos, ou seja, o país não tem dinheiro para comprar nada e não tem nada para vender que não se possa comprar em outro lugar.

      O resultado do portentoso e retumbante NÃO dos gregos, que mereceu até uma coluna do Jânio de Freitas em honra do “heroísmo de um povo”, foi o que se viu dez dias depois: Tsipras de joelhos em Bruxelas, se dobrando e se curvando a cada nova exigência da Alemanha e da Holanda – especialmente destes dois países.

      E o acordo que ele afinal assinou e o parlamento grego aprovou é muito, mas MUITO pior do que aquele que foi posto em plebiscito e rejeitado.

      Só recebi insultos aqui, naquele domingo.

  8. são as lições das derrotas que forjam uma improvável vitória
    “Entrei exultante no gabinete do Primeiro Ministro. Eu flutuava numa bonita nuvem empurrada pelo entusiasmo popular com a vitória da Democracia Grega no referendo. E no momento em que adentrei no gabinete, senti imediatamente um certo ar de resignação – uma atmosfera negativamente carregada. Eu me deparei com um ar de derrota, que era completamente inverso ao que ocorria do lado de fora, nas ruas. Naquele momento, tive que dizer ao Primeiro Ministro: “Se você deseja usar todo este clamor por democracia que ouvimos do lado de fora das portas deste prédio, conte comigo. Mas se, por outro lado, você sente que não pode usar este majestoso “Não” contra uma proposta irracional de nossos parceiros Europeus, eu simplesmente desapareço no meio da noite”.
    Yanis Varoufakis – 13/07/2015
    (http://www.abc.net.au/radionational/programs/latenightlive/greek-bailout-deal-a-new-versailles-treaty-yanis-varoufakis/6616532)

    Varoufakis fala também pela primeira vez da derrota política que o levou a sair do governo. Segundo a versão do ex-ministro, propôs ao governo um plano com três ações caso o BCE obrigasse ao encerramento dos bancos: a emissão (ou o anúncio) de uma moeda paralela (uma promessa de dívida conhecida como IOU), o corte na dívida detida pelo BCE desde 2012 e tomar o controlo do Banco da Grécia. “Perdi por seis contra dois”, diz Varoufakis, que voltou a insistir no plano na noite da vitória do OXI.
    http://www.infogrecia.net/2015/07/varoufakis-abre-o-livro-voce-ate-tem-razao-mas-vamos-esmagar-vos-a-mesma/

    em “A Modest Proposal for Transforming Europe”, Varoufakis apresenta quatro linhas de ação para superar uma crise global que se desdobra em quatro frentes: crise bancária, crise da dívida, crise de investimentos e crise social. através de engenharia financeira clara e precisa, define o que fazer, porque fazer, como fazer e indica qual a fonte dos recursos. (http://yanisvaroufakis.eu/euro-crisis/modest-proposal/4-the-modest-proposal-four-crises-four-policies/)

    a proposta nos diz respeito. pois aborda como reciclar aplicações financeiras, redirecionando-as para investimentos produtivos, e reequilibrar fluxos financeiros assimétricos como suporte para programas sociais. exemplo: o superávit comercial retorna como investimento aos países deficitários e a remuneração do fluxo de capital vindo destes países é usada para neles financiar programas sociais.

    o outro lado:

    manifesto de economistas gregos a favor do “SIM” nada mais faz do que prever o passado. descrevem um cenário como conseqüência da não aceitação das imposições da Troika (Comissão Européia, FMI e BCE) o que já é asfixiante realidade para o povo desde 2010.

    “Consequências de curto prazo: fechamento de bancos, corte no valor dos depósitos, baixa aguda no turismo, escassez de bens de consumo básicos e de matérias-primas, mercado negro, hiperinflação, falências de empresas e um grande aumento no desemprego, queda rápida nos salários reais e no valor real das aposentadorias, recessão profunda e problemas sérios no funcionamento do sistema de saúde pública e defesa, agitação social.”

    “Consequências de médio prazo: isolamento internacional do país, falta de acesso ao mercado internacional de capitais por vários anos, baixo crescimento e investimento anêmico, desemprego alto com inflação alta, suspensão do fluxo de fundos estruturais da União Europeia, declínio significativo do padrão de vida, oferta precária de bens e serviços públicos.”
    http://www.ekathimerini.com/198826/article/ekathimerini/news/declaration-of-professors-of-economics-at-greek-universities-on-the-referendum

    Grécia – sumário do comércio exterior: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/grc/

    Tsipras e Putin: Greek media reports Tsipras asked Putin for $10 billion to ‘print drachmas’

    “pessoal, estamos em default. mas por que sairíamos do Euro? coloque-os em frente de suas próprias contradições. faça com que encarem suas contradições. ou decidem superá-las ou o sistema irá entrar em colapso. aí sim, voltaremos para o Dracma. até mesmo porque já não haverá nenhum Euro no qual permanecer…”
    Yanis Varoufakis

    não é apenas a Grécia que faliu. o padrão Euro faliu, como antes faliram o padrão Ouro, e o Dólar-Ouro. sem adotar mecanismos de reciclagem financeira e de absorção de choques, a morte do Euro é um inexorável destino após a crise de 2008. é disto que se trata a tragédia Grega: ou a EU se reinventa ou não existirá nenhuma “zona do euro” para um Grexit.

    então, isso significa que sobrou para os marxistas não fundamentalistas salvar o capitalismo de si mesmo. que seja. não por amor ao capitalismo, nem por um mercado comum, tampouco por Bruxelas e Wall Street e muito menos por Bancos Centrais, mas simplesmente para minimizar o desnecessário custo humano da crise.
    (http://www.theguardian.com/news/2015/feb/18/yanis-varoufakis-how-i-became-an-erratic-marxist)

    .

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