Argentina tenta estender prazo para pagar dívida com ‘fundos abutres’

Do O Globo

Argentina vai tentar estender prazos para cobrir dívida com fundos dos EUA, diz jornal
 
Proposta seria adiantar até US$ 400 milhões em dinheiro, e o resto em emissões de títulos, diz fonte
 
 
Por La Nación
 
BUENOS AIRES – A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, se reuniu anteontem com sua equipe econômica para discutir as alternativas para cumprir integralmente seus compromissos com os credores externos e também para elaborar um plano de pagamento de longo prazo para o mais de US$ 1 bilhão reivindicado pelos “fundos abutres” NML e Aurelius, após a decisão do juiz americano Thomas Griesa da semana passada.

Segundo disseram ao “La Nación” fontes do governo, existe pouco espaço para uma negociação entre as partes e qualquer uma das propostas que for discutida envolverá um pagamento inicial do valor total devido.

Estima-se que o valor teria que ser entre US$ 300 milhões a US$ 400 milhões, para demonstrar vontade por parte do governo argentino de cumprir com o pagamento da dívida, para em seguida negociar o restante do débito com emissão de bônus com vencimentos escalonados em vários anos. Esse é o desejo da Casa Rosada, que ficará sujeita à boa vontade de seus credores.

— O volume inicial seria equivalente ao que foi pago aos 65% dos detentores de bônus que aderiram à reestruturação da dívida feita em 2005 e 2010 — disse um funcionário do governo ao “La Nación”.

A Argentina precisa encontrar uma solução rápida para o calote da dívida depois que a Suprema Corte dos Estados Unidos disse na segunda-feira que rejeitou um recurso do país sobre uma decisão anterior, o que na prática exige que pague os detentores de bônus não participaram de reestruturações anteriores.

GOVERNO TENTA GANHAR TEMPO ATÉ 2015

Isso evitaria que a chamada cláusula Rufo (Rights Upon Future Offers) fosse ativada. Esta cláusula permite que esses detentores de bônus reclamem à Argentina mais dinheiro, caso as condições de pagamento ao restante dos credores que não aderiram à reestruturação sejam melhores que as negociadas no passado.

Esta claúsula vence em dezembro. Por isso, a aspiração do governo argentino seria apelar à boa vontade do juiz Griesa e dos “fundos abutres” e oferecer uma proposta aos fundo apenas após esse pagamento inicial.

Uma possibilidade seria tentar esticar a negociação e oficializar, em janeiro de 2015, um acordo para o restante da dívida. Seria oferecido um plano de pagamento, com vencimento de bônus a longo prazo, um modelo parecido com o acordo fechado com a petrolífera espanhola Repsol ou com o Clube de Paris.

Outra alternativa seria encontrar um banco estrangeiro que, após o pagamento inicial da Argentina aos fundos, compraria os bônus remanescentes em poder do NML e do Aurelius. O governo, em troca, emitiria um bônus para esse banco com quantia equivalente e que seria paga em vários anos. Esta saída permitiria à Argentina não ter que esperar até dezembro para que a cláusula Rufo caducasse, pois não seria oficializada uma oferta melhor aos “fundos abutres” na comparação à que foi acertada com aos detentores de bônus.

Na Casa Rosada, não está descartado que o ministro da Economia, Axel Kicillof, ou um de seus funcionários, viaje nos próximos dias a Nova York para tentar um diálogo com o juiz Griesa e com os “fundos abutres”.

Com esse possível arranjo, o governo pretende cumprir com o pagamento a 100% dos credores, tal como dito pela presidente em seu discurso de sexta-feira passada, no Dia da Bandeira. Isso incluiria tanto os 92,4% dos detentores de bônus que já reestruturaram sua dívida em 2005 e 2010, como também os fundos NML e Aurelius, bem como o restante dos credores que não aderiraram à reestruturação e que ainda não têm qualquer decisão judicial a seu favor.

De fato, a presidente e o ministro Kicillof pretendem que um futuro acordo com NML e Aurelius sirva de modelo para eventuais decisões judiciais que contemplem os 7% dos credores que ficaram de fora das rodadas de negociações e que poderiam reivindicar US$ 15 bilhões, segundo o governo.

O jornal “La Nación”, assim como O GLOBO, faz parte do Grupo de Diarios América (GDA)

 
Redação

4 Comentários

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  1. Chegou a hora dos pilantras

    Chegou a hora dos pilantras pagarem o que é devido. O que mais choca é o caradurismo de identificar como abutres detentores dos títulos emitidos pelo próprio governo, ou seja, equivale a chamar de estúpido e canalha quem confiou na honestidade do governo argentino.

    A situação de dar pena pela qual a Argentina passa não pode espantar a ninguém. Se a própria população receia abrir conta em banco, por medo de confisco, por que alguém de fora se sentiria animado a lá investir?

  2. A contraofensiva da direita

    A contraofensiva da direita internacional

    A nova ofensiva contra a Argentina tem que ser respondida por todos os governos latino-americanos que são igualmente vitimas do capital especulativo.

    por Emir Sader em 21/06/2014 às 09:17

      

    Emir Sader

     

    A nova ação dos fundos abutre contra a Argentina faz parte de uma contraofensiva mais ampla da direita internacional contra os países progressistas da América Latina. Conduzida por suas principais vozes na mídia – Financial Times, Wall Street Journal, The Economist, El País – atacam sistematicamente esses governos, que não aceitaram os ditames do Consenso de Washington. E por isso mesmo conseguiram contornar a recessão capitalista internacional, que se instalou já faz mais de 6 anos no centro mesmo do sistema, arrasando os direitos sociais, sem prazo para terminar.

    Por isso os países latino-americanos que seguiram crescendo e distribuindo renda, diminuindo a desigualdade que aumenta exponencialmente no centro do sistema, são um fator de perturbação, são a prova concreta que outra forma de enfrentar a crise é possível. Que se pode distribuir renda, recuperar o papel ativo do Estado, apoiar-se nos países do Sul do mundo e resistir à crise.

    Daí a contraofensiva atual, que busca demonstrar que já não haveria mais espaço para que a economia desses países continuasse crescendo; que os avanços nas políticas sociais não seriam reais; que o tema da dívida externa não estaria ainda resolvido. É crucial para as grandes potências tentar voltar ao ponto onde se dizia que não haveria alternativa ao Consenso de Washington.

    A formidável arquitetura de renegociação da dívida argentina nunca foi assimilada por eles. Caso dê certo, que mau exemplo para a Grécia, para Portugal, para a Espanha, para o Egito, para a Ucrânia e para tantos outros países presos nas armadilhas do FMI! Eles têm que demonstrar que os ditames da ditadura do capital especulativo seriam incontornáveis.

    A nova ofensiva contra a Argentina tem que ser respondida por todos os governos latino-americanos que são, em distintos níveis, igualmente vitimas do capital especulativo, que resiste a se reciclar para os investimentos produtivos que tanto necessitamos. É hora de que os governos dos outros países da região não apenas acompanhem as missões argentinas, mas também assumam a disposição de taxar a livre circulação do capital financeiro. Uma medida indispensável, urgente, que só pode ser assumida por um conjunto de países concomitantemente.

    Tantos países do mundo olharam para a América Latina, para entender como pudemos livrar-nos das nossas dívidas externas.  Eles mesmos olham agora para a Argentina. Porque sabem que se joga ali muito mais do que simplesmente 7% da divida restante. Se joga a soberania dos países frente aos que querem subjugá-la com o peso das dividas contraídas pelos governos subservientes ao FMI e a seus porta-vozes.

    http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/A-contraofensiva-da-direita-internacional/2/31208

     

  3. Argentina

    Amigos, estas dívidas foram contraídas pelos governos traidores do povo, quando eram títeres capitalistas, quando aceitaram juros escorchantes pelos corruptores capitalistas mundiais, protegidos pelo FMI e outros. É como se tomar dinheiro de agiotas, quando se está com a corda no pescoço, colocada por governantes vendidos.

    Que os paises da américa latina se juntem, pois os bandidos capitalistas voltam a atacar!

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