Com baixos juros pelo mundo, fundos globais optam por ações

De O Globo

Com o juro baixo, fundos globais vão atrás de risco

Em um mês, US$ 31 bilhões fluem para as maiores Bolsas do mundo, mostra consultoria EPFR Global

BRUNO VILLAS BÔAS

RIO – Passado o risco de abismo fiscal americano e com tensões temporariamente reduzidas na Europa, os fundos de investimento globais estão mais dispostos a assumir riscos, mesmo que só a curto prazo. Desde o início de dezembro, o dinheiro voltou a fluir para os mercados de ações, commodities e de títulos públicos e privados que rendem ao investidor juros positivos (acima da inflação), segundo a consultoria EPRF Global, que rastreia fundos com mais de US$ 17 trilhões em ativos pelo mundo.

De acordo com a consultoria, os juros extremamente baixos no mundo — resultado do afrouxamento monetário de bancos centrais para incentivar suas economias — levou fundos a destinarem US$ 31 bilhões em cerca de um mês para o mercado de ações. Foram destinados recursos para Bolsas de países como Estados Unidos (US$ 10,9 bilhões líquidos, considerando saques menos depósitos), China (US$ 7,3 bilhão) e Coreia do Sul (US$ 3,3 bilhões). No Brasil, o ingresso foi de US$ 1,5 bilhão.

Tony Volpon, economista da Nomura, sediado em Nova York, afirma que a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de estender seu programa de recompra de títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries, foi também um dos gatilhos para a busca por risco.

— O programa força uma redução dos juros americanos e, na prática, coloca capital em circulação. O dinheiro vai em busca de maior retorno onde ele estiver. E isso é bem típico de começo de ano, quando o otimismo com o ano que começa normalmente é maior — explica o economista.

Minério já sobe 13% no ano

No mercado de commodities, a busca por retornos maiores somou-se a uma expectativa de crescimento da China na faixa de 8% em 2013, após a transição de governos no ano passado. Isso impulsionou preços como o do minério de ferro, que acumula valorização de 13% apenas este ano, cotado a US$ 158 a tonelada.

A valorização dos ativos, no entanto, é recebida com ceticismo por especialistas. Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos, alerta que os preços dos ativos financeiros podem estar sendo distorcidos pela farta oferta de crédito:

— O mercado está inflando os preços porque não tem outra possibilidade de retorno, com juros baixos. Ignora qualquer risco. Pegam dinheiro emprestado a juros zero e compram ações para o preço subir. Uma hora isso acabará, em seis meses ou um ano.

Segundo Alvaro Bandeira, diretor da Órama Investimentos, o mercado tem ignorado as possíveis turbulências.

— Os investidores sabem que em breve terão que lidar, por exemplo, com a necessidade de se elevar o teto da dívida do governo americano.

México, China e Rússia na mira

No mercado de títulos, os grandes fundos têm mirado empresas e países que ainda pagam taxa positivas de juros, como China (4,2%), Chile (2%), Brasil (1,8%), Malásia (1,7%) e Rússia (1,6%). Segundo a EPRF Global, esses países estão entre os que mais receberam recursos desde 1º de dezembro. Foram destinados US$ 341,23 milhões ao mercado da China, US$ 552 milhões para o Brasil, e US$ 567 milhões para a Rússia, por exemplo. Outro destaque é o México, com US$ 638,52 milhões.

Para Pedro Barbosa, sócio da gestora STK Capital, a capacidade das empresas de captarem recursos a custos baixos é uma oportunidade para os investidores de ações.

— Como os juros estão baixos pelo mundo, essas empresas estão com a habilidade de quase imprimir dinheiro. Elas emitem títulos, com taxas baixas, e investem na operação — explica Barbosa.


Luis Nassif

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