Corporações europeias manifestam-se contra sanções antirrussas

A pressão sobre a Rússia por parte de Washington com ameaças de aplicar sanções traduz a vontade de diminuir o preço do gás para a Ucrânia e de enfraquecer as posições reforçadas de Moscou. Contudo, hoje é a economia e não a política que resolve tudo.

Companhias ocidentais mostram-se descontentes com os apelos para que sejam impostas sanções contra a Rússia. Consórcios alemães já se recusaram a retirar ativos da Rússia. Quem poderá seguir seu exemplo, levando em consideração que a cooperação econômica entre a Rússia e o Ocidente está crescendo? Por exemplo, os fornecimentos de gás à Inglaterra subiram em 40%. Quem vencerão nesta luta – políticos ou corporações? Será que elas estão dispostas a mostrar quem na realidade dirige o mundo?

Declarações temíveis são lançadas a partir de tribunas políticas europeias, mas a Europa está ligada à Rússia através de numerosos compromissos financeiros e interesses comerciais, estimados em centenas de bilhões de euros. A Europa não conseguirá cortar esses laços, considera o presidente do Centro de Comunicações Estratégicas, Dmitri Abzalov:

“O mercado russo é um dos maiores no mundo, que mostra a maior dinâmica de desenvolvimento na Europa. Os jogadores europeus, representados em primeiro lugar por companhias italianas, alemãs, francesas e holandesas, não pretendem abandonar o mercado russo. Os contatos militares com a França se expressam em sérios montantes e está claro que a Europa não pode concluir contratos militares com alguém à exceção da Rússia, porque a China, por exemplo, compra armamentos russos e a Índia – russos ou americanos. A Europa, por isso, tem que buscar contratantes. Ao mesmo tempo, o mercado russo é importante para companhias da metalomecânica (como, por exemplo, a Volkswagen), da esfera das altas tecnologias (Siemens, Philips), do setor da energia e combustíveis (ENI, Gaz de France), etc. Naturalmente, ninguém tem a vontade de reduzir principais vetores de sua atividade por causa de declarações políticas.

Grandes agentes econômicos não estão interessados em agravar seriamente as relações com a Rússia, sustenta o perito. A Rússia fornece à União Europeia cerca de 30% dos produtos energéticos. Para a Europa é desvantajoso reorientar o mercado russo para o Oriente, porque neste caso a Europa e os Estados Unidos irão deparar com um bloco econômico muito potente. Por outro lado, o gás russo é único combustível para vários países. Na Europa de Leste, por exemplo, a quota-parte de gás russo constitui, salvo raras exceções, de 60 a 90%, faz lembrar Dmitri Abzalov:

“Apesar de todas as declarações, são evitadas sérias sanções em relação à Federação Russa. A redução do preço do gás equivale ao suicídio político na etapa atual, sendo impossível fazê-lo com o modelo financeiro em vigor. (…) Por isso a UE irá proceder nesta esfera com muito cuidado. A meu ver, as relações econômicas vão atenuar após mais um salto da tensão política”.

A situação continuará complexa até as eleições presidenciais na Ucrânia, considera Dmitri Abzalov. A seguir, as paixões ficarão menos tensas:

“Atualmente, é Washington que estimula a pressão, mas isso não pode continuar durante muito tempo, como mostrou perfeitamente o caso da Geórgia. Nos próximos tempos, um mês antes das presidenciais, a situação continuará a ser bastante complexa. Mas, posteriormente, quaisquer passos econômicos sérios ou sanções paralisantes não serão empreendidos com certeza contra a Federação Russa”.

Não é menos importante o fato de a posição do empresariado europeu ter sido partilhada também pela sociedade civil na Europa. Ao mesmo tempo, os políticos não sempre pensam naquilo que falam, diz Dmitri Abzalov, referindo-se ao papel de Angela Merkel no desenvolvimento das relações entre a Rússia e a Europa:

“Destaque-se que existe ainda a posição civil. É muito difícil que as próprias corporações se manifestem contra algo. Apesar de duras declarações, Merkel foi uma das iniciadoras da construção do Nord Stream e do South Stream, defendendo os gasodutos na Comissão Europeia. Por isso podemos dizer que o empresariado se apresenta hoje com parceiro da Federação Russa, dispondo de um sério recurso político. Por outro lado, esses processos gozam de apoio social”.

Os problemas empresariais estão interligados estreitamente com a política. E mesmo tais casos como limitações parciais no serviço a dois bancos russos por sistemas Visa e Mastercard confirmam que a reação do empresariado não pode ser considerável mesmo sob uma pressão política. Por isso as declarações políticas continuarão a existir segundo as suas próprias regras, mas não conseguirão alterar a realidade.

A matéria a seguir confirma as observações do analista russo:

Burger King entra no mercado da Crimeia

A cadeia de “fast-food” norte-americana Burger King prepara-se para entrar no mercado da Crimeia. O anúncio foi feito pelo presidente executivo da Burger King Rússia.

O grupo possui mais de 12 mil restaurantes no mundo, 200 dos quais na Rússia. Mas ainda não estava presente na Crimeia, anexada nas últimas semanas por Moscovo.

A Burger King faz assim o percurso inverso do rival e líder de mercado McDonald’s, que, no início de abril, anunciou o encerramento, temporário, das suas atividades em cidades da Crimeia.

Os funcionários foram aconselhados a candidatarem-se a restaurantes do grupo na Ucrânia.

Redação

6 Comentários

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  1. mas o Burger King…

    peraí… mas o Burger King não pertence ao fundo de investimentos 3G Capital (Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Carlos Alberto Sucupira) ??

    … creio que eles não devem satisfações aos EUA…

  2. Ué, mas e os comentários do

    Ué, mas e os comentários do GUNTER, especialista em geopolítica ucraniana?

    O Gunter disse que a UE não depende da Rússia para suas necessidades energéticas, que os EUA podem facilmente substituí-los com o gás de xisto.

    Gunter disse que toda a população ucraniana apoiou o “golpe democrático” do Svoboda, partido neonazista que o Gunter admira.

    O Gunter disse que o ocidente sempre consegue o que quer, e que a Rússia estava perdida, as sanções iriam destruir sua economia e provocar sua derrocada.

    E agora?

    GUNTER, POR FAVOR, NOS EXPLIQUE O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

    1. O gás é pinto, o principal é o petróleo.

      Quase metade do petróleo da Europa vem da Rússia, é algo em torno de seis milhões de bpd, quantidade equivalente a meia Arábia Saudita, é impossível achar no mercado suprimentos alternativos nesses volumes. Perto dos valores envolvidos na conta petróleo, o gás é um aperitivo, suculento, mas não é o prato principal. Há um desvio interesseiro para a questão do gás.

      A ênfase dada ao gás na imprensa-empresa ocidental corresponde a um lobby, muito bem articulado no EUA, para liberar exportações americanas de gás – são proibidas na lei – e tornar seus preços mais altos, alinhados ao mercado internacional. O troço buzina na imprensa americana e a macacada repete mundo afora. O país ainda não é auto-suficiente em gás, há projeções apenas de que venha a sê-lo em alguns anos (2017?); os lobistas contam com a liberação das exportações, para causar escassez interna e, com isto, a elevação de preços, o que compensaria os custos caros e os riscos altos da tecnologia do fracking.

  3. Quase parei em “Almeida” hahahaha

    Mas, infelizmente, fui um pouco adiante. Não consegui passar do primeiro parágrafo. Post esvaziado, que sequer se deu ao trabalho de citar a fonte.

    Gostei deveras da afirmação “Contudo, hoje é a economia e não a política que resolve tudo” (sic). Não consegui passar disso. Que coisa “bombástica” rsrs. Todo idiota é cheio dessas frases de efeito hehehe. Uma asneira, claro. A política ainda decide muita coisa.

    A questão da Criméia é econômica e política. Uma coisa não exclui a outra. Mas explicar isso para jente como o Almerdinha, o que não cita fontes, é difícil.

    1. Pronto, chegou o imbecil do argolinha.

      Postei as matérias no Clipping do dia (qui, 17/04/2014 – 16:25), com todas as Fontes descritas no texto, você pode verificar como postei originalmente aqui: https://jornalggn.com.br/noticia/clipping-do-dia-167#comment-285837

      Quem alçou o texto ao blog esqueceu de mostrar as fontes que citei, na minha postagem original. De modo que o texto não é meu, mas é muito pertinente, ele fala que para um boicote econômico a Rússia eficaz, os políticos ocidentais terão de contar com a colaboração das corporações que os financiam, o que será imposível, pois há interesses econômicos graúdos e bastante sólidos, entre as corporações europeias e a Rússia. Ninguém vai largar mega-projetos em energia e outros setores estratégicos, citados pelo comentarista russo, Dmitri Abzalov, depois de já ter investido muita grana, ou ter de mudar de rumo depois de ver os projetos plenamente maturados e assinados. Quem largar esses projetos corre o risco de ver concorrentes assumindo-os, o caso McDonald’s x Burger King é ilustrativo.

      No resto, você continua o nerd babaca de sempre. Vá tomar na própria, argolinha!

       

       

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