EUA: Igreja deve se focar em justiça social, dizem católicos

Por Marco Antonio L.

Da Reuters

Pobreza preocupa mais que aborto, dizem católicos dos EUA

Por Mary Wisniewski

CHICAGO, 22 Out (Reuters) – A maioria dos católicos dos Estados Unidos acha que a Igreja deveria se preocupar mais com a justiça social e a ajuda aos pobres, mesmo que isso signifique menos foco em questões como o aborto, segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisas da Religião Pública.

As conclusões da Pesquisa Valores Americanos 2012 relativa aos católicos contraria o foco de muitos bispos norte-americanos, que em suas declarações públicas costumam salientar a proibição da Igreja ao aborto e à contracepção artificial.

A pesquisa mostrou que 60 por cento dos católicos desejam uma maior atenção a questões de justiça social em vez do aborto, ao passo que 31 por cento têm opinião oposta.

A divisão valia inclusive entre católicos que vão à igreja uma vez por semana ou mais, grupo que é considerado mais conservador em questões sociais. Uma ligeira maioria nesse grupo, 51 por cento, considera que a Igreja precisa priorizar as questões de justiça social.

“A pesquisa confirma que não existe o tal ‘voto católico’”, disse Robert P. Jones, executivo-chefe do instituto e coautor do relatório. Mais de 3.000 pessoas foram entrevistadas na pesquisa.

“Há várias divisões críticas entre os católicos, inclusive uma divisão importante entre os católicos da ‘justiça social’ e os do ‘direito à vida’”, afirmou Jones.

A Igreja Católica se opõe ao casamento homossexual, ao aborto e à contracepção. Os bispos dos Estados Unidos se opõem especificamente a uma regra federal de 2010 que obriga hospitais, universidades e outras instituições a oferecerem planos de saúde que cubram o controle artificial de natalidade, contrariando os ensinamentos católicos.

A pesquisa também mostrou que, entre os católicos mais praticantes, 57 por cento apoiam a pena de prisão perpétua sem direito a sursis, em vez da pena de morte. Isso valia também entre os católicos conservadores, por uma margem de 51 x 44 por cento.

“A Igreja claramente tem tido um real impacto nas atitudes dos católicos com relação à pena de morte, especialmente entre os católicos conservadores”, disse E.J. Dionne, pesquisador do Instituto Brookings e coautor do relatório, em entrevista coletiva nesta segunda-feira.

Ele observou que os católicos que são mais conservadores na questão do aborto tendem a ser mais “liberais” quanto à pena de morte (ou seja, se opõem a ela).

Ainda segundo a pesquisa, o grupo que mais cresce na paisagem religiosa dos Estados Unidos é o das pessoas sem religião, um quinto da população, mais do que o dobro do que em 1990.

Pessoas sem religião, católicos hispânicos, não-cristãos e protestantes negros são os grupos que mais apoiam a candidatura do presidente Barack Obama à reeleição.

Entre os eleitores do republicano Mitt Romney, quase 80 por cento se declararam brancos e cristãos (incluindo evangélicos, protestantes tradicionais e católicos).

A pesquisa foi feita entre 13 e 20 de setembro, antes dos debates presidenciais, e envolveu 3.003 entrevistados, com margem de erro de 2 pontos percentuais.

(Reportagem de Mary Wisniewski)

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