Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Globalização financeira ou “ó mãe, com uma mão só!”, por Rui Daher

FRATURA E NÃO FARTURA

Com raras exceções, Estados, antes soberanos, agora são submissos aos Bancos Centrais, Bolsas e à fisiologia desregulada dos mercados financeiros. (Foto: Charging Bull de Wall Street – Reprodução) 

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Por Rui Daher 

Não se assustem, leitores e leitoras, depois de severas admoestações, este não será um texto de galhofa, como o País hoje merece. Irresistível, ela só aparece no título por infausto ocorrido comigo na semana.

Também não se trata de réplica ou comentário otário sobre texto de André Araújo, publicado neste GGN, em 17/01, “Globalização Financeira, a próxima crise”. Não usarei 10 mil toques, como André fez. Talvez nem chegue à metade. Menos talentoso, de mim, ninguém aguentaria texto assim longo e profundo.

Meu ponto: afora uma 3ª Guerra Mundial, ou algo muito a longo prazo, não haverá crise da globalização financeira. A partir de 2007/08, ela se tornou o coração do organismo capitalismo, quem sabe eterna e não apenas enquanto dure.

Seu renascimento, meados dos anos 1970, fortalecido no início dos 1980, fez transformar, através de conceitos de gestão, aparelhos tecnológicos, produtivos e mercantis, tendo como objetivo desenvolver o ovo da serpente financista.

Assim cansaram de escrever e alertar Eric Hobsbawm (1917-2012), em suas quatro “Eras” (Revoluções, Capital, Impérios, Extremos) e em pelo menos mais 30 obras, as provas da globalização como aggiornamento do velho e mau imperialismo; Christopher Lasch (1932-1994), a crítica à cultura do narcisismo; Robert Kurz (1943-2012), em crítica ao valor do trabalho abstrato.

São quase, pois, 50 anos em que os setores produtivos da economia mundial, fossem grandes corporações transnacionais, por seus boards, ou empresas nacionais, por seus donos ou executivos, experimentaram em seus centros de treinamento, encontrarem equilíbrio para fincar um pé na ala Operacional outro na Tesouraria. Até, hoje em dia, o predomínio da última.

Não que isso não ocorresse nos períodos pré e pós Revolução Industrial, mas em muito menores proporções.

Pensam que falo micro. Joguem o mesmo ao macro que não errarão. Com raras exceções, Estados, antes soberanos, agora são submissos aos Bancos Centrais, Bolsas e à fisiologia desregulada dos mercados financeiros.

Por que haveria de entrar em crise um ciclo capitalista transferidor de renda e patrimônio para quem toma as principais decisões políticas e econômicas do planeta, e causador de ampliação da pobreza mundial, de que poucos se dão conta?

André menciona a globalização financeira levando a “sérias distorções sociais”. Sem dúvida, mas a que levará? Revoluções populares em países pobres? Com propriedade, lembra a característica atual de vasos comunicantes, que espalham a merda, contra os estanques do passado. Como eles serão mantidos com a crise (que não haverá)? Simples. Com golpes contra governos que pensam interromper a comunicação, como no Brasil, em 2016.

Jogar as altas de inflação e juros nos EUA, há 10 anos previstas e não ocorridas, como catalizador da crise, é descrer que Donald “Orange Skin” está contente com o crescimento do país, embora razoável.

A globalização financeira veio para ficar por muito tempo, até como pau-de-arara de tortura da pobreza crescente.

Basta ver o futuro do mercado de trabalho, diante da concentração de produção, através de fusões e aquisições, da inconsistência no consumo de classes subalternas compensadas por aumentos nas margens de lucro; dos avanços tecnológicos; das várias formas, espúrias ou não, de ganhar dinheiro sem produzir, vender ou servir; do tráfico internacional de drogas, armas, órgãos e genitália-de-obra feminina.

A globalização financeira pode entrar em crise?  

Nota: Curioso. Quando escrevo teclando só com a mão direita, sinto-me mais meigo. Em 8 semanas, a esquerda e a AK-47 voltam. A não ser que alguém tenha uma arma de repetição eficiente e que possa ser usada com única mão.

https://www.youtube.com/watch?v=mvp5_XKUAJs

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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  1. Darcy versus as hipocrisias

    “É preciso, ao contrário, atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade.” (A. Gramsci) (1)

    “A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero.” (D. H. Thoreau) (2)

    Para amenizar seu infausto, lembranças de Darcy. 

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Xp6VW1jwnRM%5D

    https://www.youtube.com/watch?v=Xp6VW1jwnRM

     

    (1) Dicionário das Citações. Ettore Barelli e Sergio Pennacchietti (organizadores), tradução Karina Jannini, Editora Martins Fontes, 2001, aforismo 3390, p. 618.

    (2) idem, aforismo 3383, p. 616. 

     

    Sampa/SP – 21/01/2018 – 17:18

     

    1. Cristiane,

      A verdade nos escritos de Gramsci é sua capacidade de saber separar com profundidade teoria e práxis. A cada dia, são lançados estudos, ensaios, livros, estatísticas, mostrando o pé da globalização financeira bem fincado no planeta. É o último estágio do capitalismo antes do caos e da desordem social, motivo para ser cada vez mais reforçado e aperfeiçoado. Sua única rota de recuo seria distribuir renda entre os países pobres e emergentes, a exemplo da China, aumentando demanda por alimentos, bens duráveis e semi, infraestrutura criando em pregos e fazendo sua cadeia básica girar e dinuindo o “VALOR DO TRABALHO ABSTRATO” (ah, essa única mão no teclado …) Obrigado pelo Darcy. Abraços

  2. “sérias distorções sociais”

    Creio que AA referiação á distopia já faceira:  abolição do trabalho como conhecemos, ultraconcentração do capital, redução do estado a apenas o agente garantidor da propriedade, “justiça” apenas aos proprieta’rios (que serão poucos) e geralização da pobreza com aboliçào da classe média.

  3. 100% absolutamente certo. Não
    100% absolutamente certo. Não existe crise. Há um revezamento: agora ganho eu,na próxima “crise” ganha você. Quem sempre perde é quem vive de dinheiro – nós, os pobres – pois o verdadeiro dinheiro, no mundo das finanças, é o título, o derivativo, coisas a que não temos acesso.
    Não há crise, para quem não depende mais de arcaísmos, como a Mais-valia, para acumular capital e lucrar.
    Só há crise para quem não está nesse maravilhoso mundo novo das finanças. É um mundo a parte, inacessível. E, quando ele, momentaneamente, se torna inviável, se socorre de nós, por um pouco de produção, comércio, e impostos: um pouco de dígitos num teclado, um enter, e pronto: já haverá lançamentos contábeis para por a máquina novamente em movimento.

  4. Davos 2018

    Nesta semana, o mundo voltará as atenções para o convescote do Dr. Schwab: World Economic Forum / Fórum Econômico Mundial / Davos 2018.

    Pela sexta ou sétima vez consecutiva, um dos pratos principais do evento 2018 será “Desigualdade”. Teço uma pergunta:  Como o beneplácito fiscal de Trump estará afetando o espírito samaritano “do PIB mundial”, nas discussões sobre o deste tema que tanto sensibiliza o “bom coração dos bons”? 

    PS: novidade em nossa comitiva 2018: prefeito Dória. Por que? “Tecnicamente”: SP sediará, em Março, a versão latino-americana do fórum do Dr. Schwab; logo o prefeito precisará marcar presença para acertar os ponteiros e se debutar internacionalmente. Março vai ser um mês muito interessante em SP, e o colunismo social paulistano estará em borbulhas. Preparem-se! Oremos para que as águas de março não atrapalhem o penteado e a pompa. 

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