As autoridades do Haiti solicitaram nesta sexta-feira (09/07) aos Estados Unidos o envio de tropas ao país para a proteção de locais de infraestrutura estratégica, como portos, aeroportos e prédios públicos.
Na última quarta-feira (07/07), o presidente Jovenel Moïse foi assassinado em sua residência, num atentado que ameaçou submergir a já volátil política haitiana em caos.
Não está claro de quem exatamente partiu o pedido, que foi confirmado pelos EUA. Na sexta-feira, o Senado nomeou seu próprio líder, Joseph Lambert, como presidente interino do país
O gesto desafiou a autoridade do primeiro-ministro interino, Claude Joseph, que está no poder com o apoio da ONU e dos Estados Unidos desde o assassinato de Moïse.
Os EUA, que têm histórico de intervenção no Haiti, não deram sinais ainda que enviarão militares ao país. O governo americano já havia destacado agentes do FBI (polícia federal) e outros departamento para Port-au-Prince.
Um pedido de tropas também teria sido feito às Nações Unidas, mas não houve confirmação.
Intervenção improvável
O envio de militares pelos EUA seria altamente controverso: em 1915, tropas americanas invadiram o país após o assassinato do então presidente Jean Vilbrun Guillaume Sam, numa ocupação que levou à introdução de leis de segregação racial no primeiro país do mundo a proibir a escravidão. As tropas americanas só deixaram o Haiti me 1934, ainda que tenham permanecido envolvidas no país.
As forças dos EUA retornaram ao Haiti em 1994, depois que o presidente eleito, Jean-Bertrand Aristide, foi derrubado em um golpe militar. Entre 2004 e 2017, tropas da ONU, lideradas pelo Brasil, ficaram estacionadas no Haiti como parte de uma missão de estabilização altamente controversa. Os soldados foram acusados de violações dos direitos humanos e seriam o responsáveis por levar a cólera para o país, gerando uma epidemia que matou milhares de haitianos.
O Haiti tem uma longa história de ditaduras e golpes de Estado, e a democracia nunca se estabilizou completamente.
O país vive uma forte crise política desde meados de 2018 e enfrentou seu momento mais grave no último dia 7 de fevereiro, data em que Moïse denunciou que a oposição, com o apoio de juízes, tramava um golpe contra ele.
Ao mesmo tempo, o Haiti atravessa uma profunda crise de segurança, agravada desde o início de junho pelas lutas territoriais entre organizações criminosas que disputam controle dos bairros mais pobres de Porto Príncipe.
Depois de ter “soldados da paz” destacados no Haiti durante anos, a ONU apenas possui atualmente no país mais pobre da América uma missão de apoio político, encarregada de “aconselhar” e “apoiar” o governo haitiano nos seus esforços para reforçar a estabilidade política e a boa governança.
Atentado ainda não esclarecido
O pedido de ajuda é feito à medida que as perguntas sobre quem poderia estar por trás do audacioso assassinato seguem em aberto.
A polícia diz ter identificado 28 pessoas suspeitas de participar do assassinato do presidente. Elas são 26 colombianos e dois americanos de origem haitiana.
Segundo as autoridades, seis suspeitos foram detidos nas horas seguintes ao atentado, e outros 11 foram presos na embaixada de Taiwan, cujo pátio haviam invadido na manhã desta quinta-feira.
A polícia haitiana afirmou que o comando que matou o presidente era composto sobretudo por soldados colombianos aposentados. O governo da Colômbia confirmou que ao menos seis suspeitos aparentam ser militares aposentados do país e acrescentou que vai colaborar com as investigações.
rpr (AFP, AP)
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