Israel e o espelho

Boa matéria da editora de Mundo da Folha, Cláudia Antunes, sobre a midia ocidental e a invasão de Gaza:

ARTIGO

Veto de Israel à mídia ricocheteia

CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO

Israel lançou uma blitz publicitária antes de iniciar o ataque a Gaza, enquadrando suas ações na “guerra ao terror” mais ampla, mas a boa vontade com o país, na mídia ocidental, começa a diminuir. O detonador dessa virada é a contínua proibição do ingresso de jornalistas estrangeiros em Gaza, que se prolonga há dois meses -período que coincide com o abalo da trégua acertada em junho com o Hamas.

Há seis dias, ao julgar pedido da Associação de Imprensa Estrangeira, a Suprema Corte israelense determinou que a proibição fosse suspensa. O governo disse que permitiria o ingresso de oito jornalistas, mas voltou atrás, citando riscos de segurança. Como o Egito, interessado no enfraquecimento do Hamas, também mantém sua fronteira com Gaza bloqueada, a impaciência cresce.

No último fim de semana, o tom da CNN internacional mudou. Uma cobertura no início muito inclinada à posição israelense pôs no ar protestos dos enviados especiais que em Israel observam Gaza de longe, sobre um fundo de imagens do sofrimento de civis palestinos feitas por canais de TV árabes.

Ao contrário dos principais meios de comunicação ocidentais, dos quais só o “New York Times” e o “Independent” britânico têm correspondentes fixos em Gaza, ambos palestinos, a mídia árabe mantém jornalistas no território. As agências de notícias americanas e europeias também contam com colaboradores ali, transformados em correspondentes seniores com o veto israelense.

O resultado é que a tentativa de censura tem efeito contrário. E, embora as orgulhosas democracias do Ocidente não deem muita atenção às ruas árabes, pode ficar mais difícil para Israel contar com a anuência não só do mundo como da maioria dos vizinhos, que aprovaram a ofensiva, temerosos da influência do Hamas sobre os próprios radicais.

O drible ao controle da informação também aprofunda o fosso em relação à opinião pública israelense. Por certo, Israel tem uma imprensa bem mais livre do que a das ditaduras árabes, embora haja censura militar (por exemplo, sobre o programa nuclear e na guerra que se desenrola). Mas a tendência em situações como a atual é a de que a maior parte da mídia se alie ao governo.

O veterano repórter israelense Meron Rapoport, do jornal de esquerda “Haaretz”, observa que “os palestinos nos conhecem muito melhor do que nós a eles”. Ele aponta que há mais árabes de Gaza e da Cisjordânia que falam hebraico, por necessidade de trabalhar em Israel, do que israelenses que falam árabe. “O público israelense não tem o quadro completo -há partes faltando”, diz.

O ingresso da imprensa de Israel em Gaza é proibido, por alegadas razões de segurança, há um ano e meio, desde que o Hamas tomou o poder ali.
Schlomi Eldar, especialista em assuntos árabes do Canal 10 de Tel Aviv, cobre Gaza desde 1991, mas não pode ir mais ao território. Antes da atual guerra, quando a região estava sob bloqueio econômico, o público israelense não se interessava em saber o que ocorria lá, diz ele: “Os israelenses não querem ver o outro lado”.

O “Haaretz” é um dos jornais mais pluralistas de Israel. Tem influência nos meios diplomáticos e políticos, mas sua versão em hebraico não vende mais de 70 mil exemplares. O jornal mais vendido (600 mil exemplares) é o “Yedioth Aronoth”, que tem posição pró-guerra.

Luis Nassif

28 Comentários

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  1. São dois grupos distintos e
    São dois grupos distintos e terroristas e fascistas insanos, que desejam um exterminar o outro, um o israelense apoiado e armado pela extrema direita fascista do império ianque, Bush e cia, outro de fascistas palestinos que vivem na idade média e oprimem violentamente a mulher e todas as minorias, estranhamente apoiados por gente que se diz de esquerda ou progressista (nada mais anti-progressista que esses muçulmanos).
    É tudo um conflito por interesses, como sempre, vide o fechamento da fronteira de gaza pela ditadura egípcia e o quase silencio constrangedor da OLP (eles estão é vibrando em particular).
    A população civil, coitada, essa é massa de manobra e bucha de canhão dos terroristas israelenses e palestinos.
    É um lugar amaldiçoado, berço de 3 lamentáveis religiões que tantas desgraças e mortes espalharam mundo a fora.

  2. Haaretz vende pouco.

    Mas dá
    Haaretz vende pouco.

    Mas dá uma aula de pluralismo (refletido em seu site em inglês).

    Poderia ser um paradigma para a imprensa brasileira.

  3. Engraçado ver um jornalão
    Engraçado ver um jornalão brasileiro fazer avaliação de jornais estrangeiros: “esse é pró-guerra”, “esse é de esquerda”, “esse é masi pluralista”. Por que será que eles não fazem essa avaluação com si mesmos? Os de fora têm tendências editoriais, os daqui possuem uam neutralidade transcendene.

  4. Yuri,

    Tome cuidado com esses
    Yuri,

    Tome cuidado com esses mapas que aparecem na Internet. Neste por exemplo, a Jordania é excluida, sendo que fazia parte do English Mandate antes da partição do território feito pela ONU. A população da Jordania é muito próxima da Palestina. Tanto que qualquer pessoa de origem palestina tem cidadania garantida na Jordania.

    O Brasil também tem terras bem mais amplas do que aquela acordada no tratado de tordesilhas,

    Minha visão é que numa disputa como esta, entrar na discussão do que é justo para um povo ou para o outro talvez não seja o melhor caminho, principalmente para nós que estamos de fora. Acredito que o fundamental é chegar numa solução que resulte na páz, que é o mais importante para esses dois povos.

    Gustavo

  5. Interessante a reação da CNN.
    Interessante a reação da CNN. Mostraram um pouco do outro lado (do sofrimento palestino) em represália a proibição imposta por Israel. Mudaram de lado. Será que cobririam com mais imparcialidade se Israel tivesse liberado a entrada de jornalistas estrangeiros? Duvido.

  6. É verdade o que diz a
    É verdade o que diz a jornalista Claudia Antunes. Tenho assistido muito a CNN e a BBC via cabo e notei a diferença de atitude. Dia desses, um repórter da CNN que falava aparentemente de um colina fora da fronteira de Gaza, um alto e careca, não me lembro o nome dele, estava visivelmente irritado e espantado, e soltou um nítido “Que horror” só de ver o bombardeio de aviões israelenses. Ontem, o Anderson Cooper, tb. da CNN, excelente repórter, não escondia claramente seu horror. Ainda que haja o permanente desfile de embaixadores dos States na ONU e outros ocidentais alegando o surrado “direito de defesa” de Israel, e ainda que o jornalista do Situation Room fale sempre de “forças defensivas de Israel”. Só que este está no estúdio da CNN e não in loco.

  7. 06/01/2009 – 13h15

    Israel
    06/01/2009 – 13p5

    Israel ataca escola da ONU por duas vezes e 40 pessoas morrem; Exército conhecia local, declara porta-voz

    Com agências internacionais

    Pelo menos 40 pessoas que tinham se refugiado numa escola administrada pela ONU no norte da faixa de Gaza foram mortas nesta terça-feira (6) em um bombardeio israelense, anunciou uma fonte médica, ampliando o saldo divulgado anteriormente.

    Este é o segundo ataque contra essa escola da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA) que acontece nas últimas 24 horas. Ontem à noite, morreram três pessoas que estavam abrigadas no colégio.

    A porta-voz da ONU para os refugiados palestinos, Elena Mancusi, declarou, em Genebra (Suíça), que o Exército de Israel sabia que a escola da ONU bombardeada estava sendo utilizada como abrigo para cerca de 400 pessoas.

    “A localização de todas nossas instalações de saúde, escolas ou armazéns são conhecidas pelas forças israelenses para prevenir ataques do ar ou incursões. Eles sabiam que era um abrigo. Este foi um ataque contra uma instalação da ONU”, acusa Mancusi. (…)

    http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/01/06/ult1859u551.jhtm

  8. Muito bom mesmo o
    Muito bom mesmo o artigo…Claudia Antunes escancarou as manobras de Israel que desde o início vem posando de vítima e, para isso, impedindo a livre cobertura da imprensa !!!

  9. Li agora na CNN que uma bomba
    Li agora na CNN que uma bomba israelense lançada hoje nas proximidades de uma escola das Nações Unidas matou 40 palestinos que lá se refugiavam. Se me lembro corretamente, foi uma “imprecisão” dessas do “bombardeio cirúrgico” de Israel no Líbano, no caso me parece que se tratava de um hospital, que desmoralizou as tropas israelenses no Líbano em 2006. Foi isso ou estou me confundido?

  10. Israel ataca com armas
    Israel ataca com armas sofisticadas americanas enquanto o Hamas usa aqueles foguetes primitivos que caem no meio do deserto. Uma relação de forças desproporcional, como os americanos no Iraque e no Afeganistão. Enquanto isso, Shimon Perez declarou hoje que nenhuma criança israelense morreu até agora e que muitas crianças palestinas morreram. A causa, segundo ele, é porque os israelenses cuidam de suas crianças e os palestinos não. Ele fez essa inacreditável declaração logo após o ataque de Israel que matou quarenta em escola da ONU, um local conhecido pelo exército de Israel. Fala a verdade…merece ou não um míssel na cabeça?

  11. O argumento de defesa diante
    O argumento de defesa diante da reação desproporcional de Israel usando sofisticadas armas americanas contra aqueles foguetes primitivos do Hamas que caem no meio do deserto não sensibiliza nem a CNN mais. Shimon Perez declarou hoje que nenhuma criança israelense morreu até agora e que muitas crianças palestinas morreram. A causa, segundo ele, é porque os israelenses cuidam de suas crianças e os palestinos não. Ele fez essa inacreditável declaração logo após o ataque de Israel que matou quarenta em escola da ONU, um local conhecido pelo exército de Israel. Fala a verdade… Não é preciso muito para entender onde vai levar o ódio que eles estão plantando a décadas. Basta imaginar se qualquer um de nós fosse o pai de uma dessas crianças o que faria em seguida. Qualquer cidadão comum, desinteressado e avesso a qualquer jogo político, que não tem sangue de barata, partiria para a vingança.
    As grandes potências não deveriam fechar os olhos para isso. Obama não deveria fechar os olhos, pois são armas americanas matando inocentes. Veja o caso dos mulçulmanos na França protestando. Todo esse ódio que Israel está semeando um dia, infelizmente, poderá ser colhido. Planta-se um saco de sementes e colhem-se toneladas depois. Interesses políticos e econômicos escusos alimentam este conflito, mais do que religioso. Não se pode culpar a população civil de nenhum dos lados, que é sobretudo vítima deste jogo do qual são obrigadas a tomar parte.

  12. Igreja batista de Gaza é
    Igreja batista de Gaza é atingida em bombardeio

    PALESTINA (42º) – Uma minúscula igreja na Faixa de Gaza está bem no meio da atual crise.

    A Igreja Batista de Gaza está fica em frente à delegacia de polícia bombardeada pelos israelenses. A igreja também foi atingida.

    Carl Moeller, da Portas Abertas Estados Unidos, descreveu a crise em Gaza como “uma carga inédita de violência contra os palestinos”.

    Segundo ele, a situação é extremamente estressante por razões óbvias. Centenas de palestinos foram mortos.

    Alguns cristãos contaram à Portas Abertas sobre o horror que experimentaram à medida que Gaza era bombardeada.

    Cristãos de Gaza fugiram para a Cisjordânia, entre eles alguns funcionários da Sociedade Bíblica de Gaza. O pastor da igreja batista, Hanna Massad, saiu do Oriente Médio.

    “É digno de nota o quanto a Igreja tem suportado ali”, comenta Carl. “Ainda assim, os cristãos continuam a orar, continuam a clamar a Deus. Quando podem, vão consolar seus vizinhos.”

    Politicamente, os cristãos palestinos não são aceitos nem por Israel nem por sua própria comunidade. A comunidade cristã, diz Carl, é um grupo humanitário e religioso cercado pelo fogo cruzado e pelo embate político e militar.

    “Segundo os padrões israelitas, eles são palestinos; e pelos padrões do Hamas e de outros radicais, são estrangeiros, por serem cristãos.”

    Isso deixa a Igreja em uma posição precária.
    Carl diz que é muito difícil entregar ajuda material aos cristãos de lá – as atuais circunstâncias tornam isso impossível.

    “Mas, dada a natureza precária da Igreja, suas atuais fragilidade e vulnerabilidade, devemos levar ajuda aos cristãos que precisam dela para sobreviver, coisas como roupa, alimentos e remédios.”

    Tradução: Daila Fanny

  13. Que tristeza!
    Então o
    Que tristeza!
    Então o posicionamento da mídia se dá não por uma reflexão profunda, ou por um posicionamento político frente a quesão palestina em Gaza, ou mesmo uma consciência humanitária, mas porque teve interesses contrariados?
    Então, que sejam abertas as fronteiras no palco da guerra para jornalistas e assim, as manchetes farão brilhar a paz no Oriente!

  14. Se fosse na Venezuela todos
    Se fosse na Venezuela todos estariam dizendo que era a sensura de um ditador, e em Israel é o que? Por que agora não fazem as mesmas reclamações que fizeram quando Chaves não renovou a concessão de uma rede de TV privada, seguindo a lei daquele país?

  15. Nem sei se explica, mas isso
    Nem sei se explica, mas isso tudo cada vez mais me lembra uma pessoa:

    Susan Sontag e seu livro “Looking for the Suffering of others”.

    Livro interesssante que explora como o ser humano pode ser carniceiro.
    E como pode…

  16. Assassinos são assassinos….
    Assassinos são assassinos…. O GENOCÍDIO DOS PALESTINOS ´e a nova prova de que a CIA (maior organização terrorista do mundo) e o exército americano estão a serviço, novamente, dos interesses de alguns grupos. ÊLES não ligam se tem que exterminar um milhão ou dez milhões(como no Iraque, desde que não parentes deles é claro). O importante é garantir o poder pelo lucro.
    Qualquer mal informado sabe que israel é uma base militar americana( muitos dizem que é o 51o. estado americano)para controlar o Oriente Mádio e seu petróleo.
    Sabe tembém que os Palestinos não tem armas, e, que cada míssil lançado sôbre um milhão e meio(menos os milhares já assassinados)num território de 300km2., mata milhares de pessoas e não aquilo que é noticiado.
    Só saberão a população atual do Iraque os nossos netos
    Só saberemos se vão sobreviver Palestinos quando houver uma verdadeira ONU para entrar lá para contar.

  17. Israel está certo ao tomar
    Israel está certo ao tomar essas medidas impeditivas à presença da mídia ocidental nos seus confrontos militares porque ela foi sempre anti-israel.
    Em lugar de defender, ou ao menos dar espaço às justas alegações de Israel para as retaliações punitivas que tem tomado contra os seus agressores, que objetivam o seu aniquilamento total, a imprensa ocidental tem divulgado com grande estardalhaço somente os efeitos colaterais que vitimam os civis, principalmente as crianças, mas nenhuma de Israel, para inflamar os seus inimigos jurados em todo o mundo. É uma imprensa partidária e mercantilista que, por não buscar informar a verdade, não me faz nenhuma falta

    Efeitos colaterais é bom.

  18. Um dia vou querer entender o
    Um dia vou querer entender o motivo de meus queridos israelenses serem tão adversos ao sofrimento alheio. PEnso que, talvez, seja a sua história enraizada genéticamente. Ou uma desforra talvez. Como diz o meu pastor: devemos rezar pelos judeus.

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