Maduro reúne o alto comando militar pelo apagão que escureceu a Venezuela

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O corte de luz foi provocado por uma falha em uma sub-estação da região centro ocidental, que deixou Caracas no escuro e a outros dez estados ao oeste do país

Por Alfredo Meza

Caracas – Um apagão, de repercussão ainda não determinada, deixou Caracas e ao menos dez estados da região mais ocidental da Venezuela no escuro às 20h10 (hora local). Neste instante o presidente Nicolás Maduro anunciava na televisão estatal uma nova etapa do “governo de rua”, um modelo de gerenciamento que consiste em uma turnê nacional de seu gabinete para verificar os problemas e buscar soluções rápidas.

“Estou em Miraflores (palácio do governo venezuelano, em Caracas) com minha equipe acompanhando o estranho apagão que começou no mesmo local da última sabotagem. Peço ao povo que esteja alerta”, escreveu Maduro em sua conta de Twitter enquanto reinava a escuridão em toda a capital venezuelana. Na urbanização de Cumbres de Curumo, no sudeste da cidade, se ouviram panelaços isolados como forma de protesto pela deterioração do serviço, mais notável na província venezuelana.

O ministro de Energia Elétrica, Jesse Chacón, informou que o serviço se interrompeu na sub-estação San Gerónimo, nas planícies centrais do país. Mais especificamente na linha que liga esse local à central hidrelétrica de Guri, a principal do país e localizada no Estado de Bolívar, que produz 70% da energia consumida na Venezuela. “Foi uma falha provocada”, garantiu o servidor público. Chacón estranhou que essa falha se apresentasse na mesma linha onde dia 03 de setembro outro apagão ocorreu, desta vez vespertino e que deixou 17 estados do país sem luz. “O sistema vem apresentando níveis de estabilidade. Não há problemas entre geração e demanda”, explicou em uma intervenção pela manhã.

Através de outros porta-vozes do gabinete, como o ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez Torres, o governo tentou se livrar da responsabilidade e culpar a oposição, apesar de haver militarizado todas as sub-estações há dois meses. “Temos informação de que grupos de radicais da direita estariam preparando sabotagens à indústria petroleira e pretendem gerar apagões”, agregou. Esta informação foi desconsiderada pelo especialista elétrico José Manuel Aller, vinculado à oposição. Aller explicou em sua conta de Twitter que não era possível obter informação fidedigna sobre o corte. “Nem em 03 de setembro nem agora ocorreu uma sabotagem. É pura incapacidade comunista em ação destrutiva”.

Embora as investigações mal estejam começando, Maduro afirmou que seus adversários eram os responsáveis pelo acontecimento. “Podem tirar a luz do povo, mas terão sempre marcada a letra da derrota na testa. Reuni o alto comando militar porque tenho informação de que haverá novos ataques”, informou. Pouco antes, após a recuperação de 85% do serviço da cidade, o Presidente apareceu nos jardins de Miraflores para receber um grupo de meninos que assistiam a uma cerimônia conhecida como “iluminação do presépio”. Maduro perguntava aos meninos sobre o significado do ritual e os personagens que rodearam o nascimento de Jesus. Todos cantavam aguinaldos –música natalina venezuelana- em companhia da primeira dama Cilia Flores, do vice-presidente Jorge Arreaza e de sua esposa, Rosa Virgínia Chávez. Entre os versos, Maduro perguntava aos participantes: “Onde nasceu Jesus?”. “Em um presépio”, respondia o governante em frente ao silêncio. “E o que seu pai José fazia?” “Era carpinteiro”. Para encerrar o ato, o presidente informou que as aulas seriam suspensas na quarta-feira para preparar os colégios que receberão os votantes no próximo domingo, dia das eleições autárquicas. “Vá às eleições do domingo, faça chuva, trovoada ou relâmpago”, disse o mandatário.

À medida que avançava a noite, o serviço foi se restabelecendo tanto em Caracas como na periferia. À meia-noite, 95% da capital venezuelana tinha energia elétrica. De acordo com a ministra Chacón, 60% da eletricidade estava recuperada em todo o país. O Estado de Zulia, o segundo em importância, foi o mais afetado, com 70% do serviço suspenso.

A Venezuela sofreu nos últimos três anos constantes racionamentos de eletricidade devido a problemas com a geração hidrelétrica.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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