Não há previsão para saída das tropas brasileiras no Haiti

Missão brasileira no Haiti já é a mais longa em 45 anos

Por Juliana Machado, exclusivo para o blog

Depois de 8 anos, Brasil não vê previsão para saída das tropas; maior missão de paz brasileira, no Oriente Médio, durou 10 anos

A participação do Brasil na restauração e garantia da segurança no Haiti não tem previsão para terminar. Embora o efetivo tenha sido reduzido em 280 homens de um total de 2.200 desde maio deste ano, não há uma expectativa para a retirada de todas as tropas do país, agora com 1.900 soldados. A entrada brasileira teve início em 2004 na liderança da Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti (Minustah). A missão mais longa da qual o Brasil já participou foi no Oriente Médio em1957, aForça de Emergência das Nações Unidas (UNEF), que durou 10 anos.

Segundo o tenente-coronel Sergio Ricardo Curvelo Lamellas, do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx), “a situação no país ainda está a mesma” em algumas regiões, onde há muita precariedade das instituições públicas e habitação. Há avanços consideráveis, principalmente na questão da violência, mas ainda há áreas vulneráveis.

Em entrevista coletiva em São Paulo, o tenente-coronel avaliou que uma das razões para esse saldo negativo foi o terremoto de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas. “A situação é a seguinte: até o terremoto, a Minustah estava conseguindo avanços na estabilização. Com o terremoto, a própria ONU foi atingida. O organismo da ONU que coordenava a estabilização do Haiti ruiu e vários setores também. As tropas foram colocadas para alcançar novamente esse resultado. É um processo [de recuperação] lento”, explica. Com a redução de 280 homens, a quantidade de militares volta a ser a mesma de antes do terremoto.

O tenente-coronel, que também chefiou a comunicação social do 2º Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti (BRABATT 2), declara que o objetivo das tropas brasileiras é garantir “um ambiente seguro e estável”. Esse objetivo, segundo ele, é um dos investimentos mais importantes na situação de retrocesso em que o país caiu após a catástrofe. “O terremoto acabou com o centro administrativo de Porto Príncipe. O governo, os ministérios, o Palácio de Justiça, foi tudo para baixo. Então ainda está sendo feito um trabalho de recuperação dessas estruturas. Perderam-se pessoas que trabalhavam nos sistemas administrativos do Haiti e tem as instituições democráticas, que também estão sendo restabelecidas”, conta.

A entrada das tropas da ONU no Haiti em 2004 se deu em razão do aumento da violência entre grupos opositores e partidários ao presidente do país da época, Jean-Bertrand Aristide, que governou o país em três intervalos: em 1991, entre 1994 e 1996 e de 2001 até sua renúncia em 2004, ano eleitoral e momento em que a oposição pediu sua saída imediata sob a justificativa de falta de diálogo político a respeito da piora da situação econômica. Em 2010, um terremoto de 7 graus na escala Richter devastou o país e destruiu diversos locais estratégicos, prédios do sistema de justiça e administrativo e até o Palácio Presidencial. O terremoto foi o terceiro maior da história, só perdendo para o ocorrido na China em 1976, que matou 255 mil pessoas, e para o tsunami oriundo de um tremor no ano de 2004, no Oceano Índico, que matou 227 mil. Um surto de cólera decorrente da precária condição de saneamento básico também atingiu o Haiti e matou, até final de 2010, 1186 pessoas, além dos quase 20 mil hospitalizados. “Você ainda precisa fazer um projeto de reestruturação grande, tem que fazer a recuperação administrativa do Haiti. Eles estão caminhando para isso, reconstrução de estradas, cadastramento dos deslocados para relocação, erguer casas”, enumera o oficial.

Em termos de segurança nacional e justiça, uma das maiores carências do país, Lamellas destaca que a polícia nacional haitiana já consegue atuar de forma independente em determinadas áreas, mas, para outras operações, ela ainda precisa de apoio. “A única coisa que o presidente do Haiti fez foi estabelecer um plano para a reestruturação do exército, mas isso ainda não está sendo feito, o que está sendo feito é a preparação da polícia nacional haitiana”.

Outro problema enfrentado pelas tropas da ONU está nas críticas às formas como têm atuado no território. Além das manifestações de grupos haitianos e militares, há críticas a respeito da forma como as tropas da Minustah têm se posicionado na região. Segundo Lamellas, isso não acontece em relação às tropas brasileiras, cuja atuação ele avalia como sendo “baseada na igualdade”’.

Juliana Machado é estudante de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e participa do XI Curso de Informação sobre Jornalismo em Situação de Conflitos Armados e Outras Situações de Violência, que convida, ao longo de quatro sábados, palestrantes de diversas áreas para falar sobre a relação Exército e imprensa, Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário, uso da força policial e cobertura jornalística de guerra. O curso, que tem a coordenação do jornalista João Paulo Charleaux, é um dos módulos do Projeto Repórter do Futuro e uma realização da Oboré Projetos Especiais em Comunicação e Artes em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

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