Cenários mundiais para 2015, por Motta Araújo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Por Motta Araújo

Visto à distância, como se estivessemos assistindo a um filme sentados em Marte, o cenário mundial no próximo ano apresenta os seguintes fatores que interagem e fecundam uns aos outros, como em um caleidoscópio.

1.A DECADÊNCIA DA CAPACIDADE DE PROJEÇÃO DE PODER GLOBAL DOS EUA – Os EUA mantêm seus instrumentos, únicos entre todos os paises, de intervenção de poder economico e militar em qualquer ponto do planeta. Mas esse poder é hoje menor do que já foi contando uma linha de partida que vem do fim da Guerra Fria, ponto inicial do atual ciclo historico quando se finda o mundo da Conferencia de Potsdam e se desmonta seu edifício de acordos, pesos,  contrapesos e  areas de influencia que reinou no mundo entre 1945 e 1990.

2.A emergência de um ISLAMISMO contestador de dificil, não impossivel, contenção. A serie de acontecimentos que nasce dos atos do 11 de Setembro desencadeou um complicado processo que parece infindavel, provocou a invasão do Iraque e Afgastão, a Primavera Arabe e agora o ISIS. Esse processo de desarrumação do Oriente Medio nasce em verdade de dois eventos: a fundação do Estado de Israel em 1947 e a derrubada do regime Mossadegh no Irã em 1953, que provocou uma intervenção anglo-americana no Irã, depois a crise de Suez e a entrada da URSS na politica do Oriente Medio através da Siria e do Egito.

Ao contrario do que muitos imaginam, o terrorismo islamico não é coisa antiga, é algo bem moderno. O Oriente Medio era uma região tolerante e pacifica desde a extensão do Imperio Otomano sobre todo o Medio Oriente após a tomada de Constantinopla pelos turcos. Tanto havia tolerancia que grandes colonias judaicas viviam nesses territorios, em Aleppo Bagdah e Alexandria, sentindo-se mais seguras do que na Europa cristã.

O atual fundamentalismo é uma criatura das intervenções estrangeiras na area, ai incluindo a fundação do Estado judeu e seus desdobramentos até hoje e a revolta da queda do Xá como etapa consequente à tentativa de ocidentalização do regime  trazendo como reação a  esse movimento a Revolução de Khomeini e a transformação do Irã de pais muito ligado aos EUA em Estado desafiante da ordem global.

3.A reemergencia da Russia como ator geopolitico, papel que se julgava extinto com a implosão da URSS. Para esmagar a Russia financeiramente os EUA forçam sua aliada, a Arabia Saudita a jogar petroleo nos mercados, derrubando os preços da praticamente unica exportação da Russia, petroleo e gas, que precisa dessas exportações para comoprar alimentos, a Russia é grande importadora de comida em todas as formas. Como unica saida a Russia se volta para a China que é compradora de gás em grandes volumes, construindo um novo grupo de interesses.

4.O projeto economico chinês agora na etapa de assegurar fontes de energia, minerios e alimentos, com forte incursão na Africa e na America Latina, não na Asia, ondé é mal recebida. A China maneja um jogo duplo porque tambem tem laços com os  EUA comercial e financeiramente, precisa do mercado americano não só para exportar como para lançar seus titulos e ações bem como para guardar suas reservas liquidas.

5.Em todo o mundo, inclusive nos EUA, Russia, União Europeia e China, um DESCONTENTAMENTO generalizado com os Governos como não se via desde o periodo entre guerras de 18 a 39. Os modelos de Governo já não atendem mais as demandas das populações, há pressão por todo lado por reformas politicas, informando que as novas gerações estão mais avançadas do que os ESCLEROSADOS sistemas politicos que não se renovam e não se modernizam, um processo que é hoje mundial de cansaço com a  velha politica. Esse movimento tambem manda recado ao nucleo central do poder na China, como demonstram as manifestações de Hong Kong e muitos especialistas sobre a China preveem que o reinado absoluto do Partico Comunista poderá ser contestado por manifestações de rua.

6.A emergencia de novos nacionalismos e regionalismos atuantes a demandar mais autonomia de governos centrais. Essas nacionalismos tambem são uma reação a governos centrais que esqueceram de prestar atenção às ruas.

7.CONFLITOS – Novos conflitos intrataveis na Africa e na Asia que geram tensões perturbadoras. Os conflitos demonstram a falta de lideranças mediadoras dos organismos multilaterais, especialmente da ONU. Esses conflitos são as fontes geradoras de desesperados fluxos migratorios que os paises hospedeiros não tem condições de administrar., o Brasil está tendo um inédito surto de migração caribenha e africana como resultado desse quadro.

8.Esgarçamento da solidez dos grupos de poder politico tradicionais em grandes paises, como a China, India e França, ode surgem potenciais situações, como a de Hong Kong, o enfraquecimento galopante da esquerda francesa, a falta de alternativas de poder visiveis na Russia, o impressionante caos politico italiano, a falta de lideranças sólidas no quadro politico dos EUA. A propria eleição de Obama, um ator politico fragil, sem liderança e sem grupo politico, é uma demonstração de disfuncionalidade do sistema politico norte-americano, que no Seculo XX teve abundancia de grandes estadistas como Roosevelt, Eisenhower, Reagan, Clinton e hoje apresenta nomes sem dimensão internacional com escassa ou nenhuma visão de mundo e dos novos tempos, politicos domesticos que sequer percebem as mudanças na ordem global que afetam profundamente os interesses dos EUA para pior.

A Historia é feita de crises, sempre havera crises mas um ciclo ruim é quando há um acumulo de crises, como nesta quadra. Crises politicas em grandes paises, crise economica mundial, crise geopolitica em regiões vitais, teremos tempos complicados nas proximas quadras, que cada Pais se prepare do melhor modo porque há tempestades à vista no céu escuro.
 

31 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Concordo com a visão do M. Araujo.

    Há nuvens negras em muitas regiões do mundo, e falta total de lideranças seja locais, nacionais ou regionais.

    O Brasil precisa de muita racionalidade nas suas escolhas, inclusive coragem para se proteger dos ventos ruins que vem de fora, e não abrir suas velas bem grande antes das tempestades…

  2. salada, sem pé nem cabeça…

    … mistura tudo no mesmo balaio.

    Morreu, para mim, no item 2 : Islamismo não existe, é criação americana e do ocidente (leia-se interesses geo-economicos), PATROCINANDO e ARMANDO facções tribais e “gobiernos” militares, para manter a hegemonia sobre o petroleo e consequentemente sobre o mercado (vulgo “sistema financeiro internacional”). 

    Dali pra frente é um amontoado de “estórias”, histórias e “pensamentos” nem sempre nesta ordem… além é claro de divagações.

    Com muito olhar no retrovisor e pouco olhar para frente.

    O AA já esteve em dias melhores…

    1. Mal-entendido

      Carlos, v. não entendeu direito o que está dito nesse item. Diz o Motta, e isso é inconteste, que o islamismo do jeito que o conhecemos hoje é coisa do nosso tempo: o islamismo “original” era tolerante, conforme ele mostra. O atual fundamentalismo é “criatura” das intervenções ocidentais, isto é, surgiu como reação a elas.

      1. islamismo tolerante ???

        e os “mouros” na Espanha ??? 

        Não existe na “estória” da humanidade “tolerância religiosa”… nem cristã, nem judaica, nem islamica, nem budista, nem hinduista…

        Existiu, existe e existirá sempre o “ser humano” insuflado por outros interesses a perpetrar a BARBÁRIE selvagem…

        Contra seu irmão (semelhante). Com a “desculpa” que convier no momento : seja “armas de destruição em massa”, ataque a civis desprotegidos, uso de “armas quimicas”, “espaço vital”, o que você quiser inventar. 

        É só olhar as “guerras” entre sunitas e xiitas, entre “comunistas e budistas”, “muçulmanos” contra cristãos, e vice versa…

        O rque importa sempre são os INTERESSES de quem tem a força, o poder, o canhão, a “bomba” ! 

        1. carlos

          os mouros na Espanha deixaram um legado cultural, arquitetonico, culinário maravilhoso..leia um pouco mais da História daqueela época e o que ficou ..

          1. bastante poético…

            … e então porque os muçulmanos foram expulsos ???

            Acho que você não conseguiu entender o que está lendo aqui e o que leu da história…

            Ou talvez consigar ver beleza somente e não o sangue, escravidão e o terror que foi a invasão muçulmana da Espanha.

            Faça uma comparação com o negros que vieram em navios negreiros para o Brasil : eles também influenciaram a nossa culinária, por exemplo, mas até a libertação dos escravos eles viveram felizes ??? Os seus decendentes hoje estão em igualdade de condições com os imigrantes ?  Só pra pensar…

             

          2. Os mouros foram expulsos da

            Os mouros foram expulsos da Espanha porque estavam militarmente nfraquecidos e porque os Reis Catolicos unificaram os reinos de Castella e Aragon, juntando forças militares sudicientes para a Reconquista. Eram sim conquistadores mas foram bons governantes, tolerantes e não houve revoltas POPULARES contra seu dominio.

        2. Mouros na Espanha não tem

          Mouros na Espanha não tem nada a ver com Imperio Otomano, há séculos de espaço entre um evento e outro.

          Os mouros na Espanha foram civilizatorios e nos deixaram magnificas realizações como o Alhambra em Granada,

          eram absolutamente tolerantes, quando foram expulsos pelos Reis Catolicos, os judeus foram perseguidos pelos cristãos.

          Nos 700 anos do dominio arabe os judeus se sentiam seguros na Espanha.

        3. O mundo islâmico sempre teve mais tolerância…

          O mundo islâmico sempre teve mais tolerância religiosa que o mundo ocidental cristão, especialmente na idade média. Esse fato é mostrado em qualquer livro de história universal. A intolerância religiosa islâmica começou com a  criação do Estado de Israel e com a política americana de apoiar ditadores árabes que eram favoráveis aos interesses econômicos americanos, principalmente os relacionados à produção e comercialização de petróleo..

          1. poxa nos livros que li não entendi…

            … que “

            O mundo islâmico sempre teve mais tolerância…

            O que sempre li é que quem tem o poder massacra o fraco e ponto final.

            Na idade média o que existia era somente FRAQUEZA do lado muçulmano, por isso foram derrotados. Não era tolerancia e sim debilidade. Ainda hoje é assim. Por isso o passeio dos cristãos (??? – ocidentais ?) no oriente médio

            O “estado de Israel” é tão recente que ainda não conseguiu matar seus oponentes todos e tomar posse do território palestino, ação esta em curso.

            Se o poder esta na mão de um grupo de cristão (ou judeu, ou muçulmano, etc) e ele quer assumir um território ou riqueza, este grupo vai guerrear e destruir seu oponente até conseguir o que quer – se for mais forte.

            A “religião” é somente um detalhe que pode ser usado (normalmente) como desculpa para se perpetrar a agressão ao mais fraco.

            A Espanha foi vitima de um oponente MAIS FORTE na época e sofreu atrocidades na mão dos “muçulmanos”. Ou só eu li isso nos livros de história ?

             

  3. Commodities

    Andre,

    Todas as perspectivas do planeta também levam em conta as consequências do  tombo de 2008, os mercados ainda bastante desregulados, inúmeros países em sérias dificuldades, os USA com uma dívida pronta prá superar os 20 tri de dólares, ou seja, já maior do que o seu PIB -2014.

    A economia será o norte para 2015, aí está a Arábia Saudita cravando o petróleo abaixo do U$ 70, queda de 30% em curto espaço de tempo, e o minério de ferro abaixo dos mesmos U$ 70, queda de quase 50% em relação aos preços de 2009. Todos os países do G-20 estão ligados aos preços das duas commodities, alguns até demais. 

    1. http://www.treasurydirect.gov

      http://www.treasurydirect.gov/govt/reports/pd/mspd/2014/opds102014.pdf

      A divida publica dos Estados Unidos, LIQUIDA, isto é, titulos em poder do publico é em 31 de outubro de 2014 US$12.857.056.000, portanto 12,8 trilhões e nõa mais de 20 trilhões como vc diz, veja acima a tabela oficial do Departamento do Tesouro. O volume de titulos emitidos e de 17 trilhões e picos mas mais de 5 trilhões estão

      nas gavetas do proprio governo, não foram colocados no mercado.

  4. Estamos sem entender

    Na Europa, o pessoal não está entendendo uma coisa:

    – Se todos — principalmente a China — têm interesse em manter o mercado de capitais dos EUA funcionando, qual o motivo do governo dos EUA ficar criando entraves a circulação de capitais em outros países, especialmente a Russia?

    A City londrina perdeu dezenas de bilhões de dólares com as restrições à Rússia e as festas dos oligarcas no sul da França se tornaram menos extravagantes.

    Fora as perdas dos agricultores europeus com a interrupção das exportações para a Rússia.

    Seria mais simples tornar a Ucrânia um país neutro — como acontece com a Finlândia — acabar com a guerra sem sentido e conter os radicais de extrema-direita, que estão contaminando o continente inteiro.

    Restabelecer o fluxo de capitais, garantindo o champagne e o foie gras dos oligarcas e o alimento do povo russo.

  5. Vejo a análise sucinta de

    Vejo a análise sucinta de André Motta Araújo como bastante razoável. Na minha visão pessoal do “imbroglio” do petróleo vislumbro:

    – Realmente, o alvo preferencial da forte baixa no preço do petróleo visa sabotar a economia russa, tendo como efeitos colaterais desejáveis: o Brasil, a Venezuela e dificuldades adicionais para o Irã.

    – A China leva vantagem, inicialmente, mas ela deve saber muito bem que se o atual governo russo cair por descontentamento interno e for substituido por uma administração mais “soft” ao Ocidente, a próxima bola da vez é ela.

    – Que os americanos do campo vão beber água com gasolina e fo…-se. Que as companhias envolvidas no “fracking” estão ameaçadas de quebra, mas o governo irá girar a “manivela” dos dólares para socorrê-las, inflacionando ainda mais o mundo. Próximo episódio: QED XXIX e aguarde os que virão em seguida…

    – A Rússia tem algo que necessitamos: armamento antiaéreo de alta qualidade, e nós, algo que ela precisa: comida. Por esta razão mesmo tendo votado com a esquerda ao longo das duas últimas décadas, não sou daqueles que promovem o espancamento verbal do agronegócio. Nesse negócio bilateral não há necessidade de dólares…

    – Se eu fosse um líder chinês investiria numa extensa rede de tancagem espalhada pelo território e conectada por uma enorme rede de oleodutos, de modo a armazenar cerca de 1,5 bilhão de barris de óleo. Isto enxugaria os dois milhões de barris diários que estão sobrando e evitaria maiores quedas do preço da commoditie. Este óleo poderia ser trocado por yuans que se reverteriam em compras de produtos chineses por parte dos países produtores de petróleo em dificuldades. Isto iria custar uns míseros (para os chineses) US$ 100 bilhões e lhes daria uma reserva estratégica de alguns meses de consumo. Eles dispõem das siderúrgicas  e da mão de obra para tal empreitada e o minério viria do Brasil.

    – Também uma imensa rede de silagem, preenchida com nitrogênio e com um banho de radiação UV na esteira de entrada ( para melhor preservação dos grãos), poderia ser espalhada pelo país (China) para fins reguladores e estratégicos. Aí, novamente, entra a América do Sul. Os alimentos podem ser trocados por uma imensa rede ferroviária em nosso continente. Mais uma vez escambo: sem dólares!

    – Com isso muitos dos dólares do QED vão sobrar e a inflação em dólares vai forçar os americanos a parar de desafiar o mundo…

  6. Na Terra só não havia crises

    Na Terra só não havia crises há uns três bilhões de anos quando não havia vida nela, após a existência dos primeiros seres vivos a crise é permanente.

  7. “… a derrubada do regime de

    “… a derrubada do regime de Mossadegh no Irã em 1953, que provocou uma  intervenção anglo-americana no Irã…”

    Será que eu entendi errado o que já li a respeito da queda de Mossadegh? Todos os textos a que tive acesso asseguravam que a intervenção anglo-americana foi a responsável pela queda do lider iraniano. Segundo o escrito do Motta Araújo, a queda levou à intervenção,  o que, convenhamos, não faz muito sentido, exceto como tentativa de “apagar” um golpe.

    1. Voce tem toda a razão, houve

      Voce tem toda a razão, houve uma inversão de tempos verbais, a intervenção foi para provocar a queda e reinstalar o xá.

  8. Quais sistemas políticos estão em questão?

    as novas gerações estão mais avançadas do que os ESCLEROSADOS sistemas politicos que não se renovam e não se modernizam, um processo que é hoje mundial de cansaço com a  velha politica. Esse movimento tambem manda recado ao nucleo central do poder na China, como demonstram as manifestações de Hong Kong e muitos especialistas sobre a China preveem que o reinado absoluto do Partico Comunista poderá ser contestado por manifestações de rua.

    Artigo muito pertinente, mas desconfio que as manifestações em Hong Kon nem de perto representam o pensamento da elite jovem chinesa…

    [video:http://www.ted.com/talks/eric_x_li_a_tale_of_two_political_systems#t-444793%5D

     

  9. Bom,como o Motta colocou as

    Bom,como o Motta colocou as datas 18-39,pode ser também um prenuncio de uma 3 guerra Mundial.

    já estão colocados os atores.quando a Europa cair na real,do buraco ainda maior que os EUA está a jogando,com esse papo de embargo a Russia,e a Russia sentir o golpe mais a fundo.

    e como li num artigo que o mercado está afetando até a Democracia,usando um exemplo a França que votou na esquerda ,mais o governo é obrigadoa seguir a receita neoliberal,espero que não ocorra o mesmo aqui.

    E a pergunta que não que calar: Motta é você o Andre Araujo presidente da Schell?

  10. Reagan estadista?

    Reagan estadista? Aquele que consultava astrólogos antes de tomar suas decisões?

    Dos múltiplos possíveis exemplos, pego uma fala de um livro de Carl Sagan, para exemplificar o que era a figura:

    “O presidente Ronald Reagan, que passou a Segunda Guerra Mundial em Hollllywood, descrevia com detalhes como libertara vítimas dos campos de concentração nazistas. Vivendo no mundo do cinema, ele aparentemente confundia um filme que tinha visto com uma realidade que não conhecera. Em muitas ocasiões, nas suas campanhas presidenciais, o sr. Reagan contou uma história épica de coragem e sacrifício na Segunda Guerra Mundial, uma inspiração para todos nós. Só que ela nunca aconteceu; era o enredo do filme A wing and a prayer (Uma asa e uma prece) – que também muito me impressionou, quando o vi com nove anos. Muitos outros exemplos desse tipo podem ser encontrados nas declarações públicas de Reagan. Não é difícil imaginar os sérios perigos públicos que nascem de ocasiões em que os líderes religiosos, científicos, militares ou políticos são incapazes de distinguir os fatos da ficção.”

     

     

    1. Manias, idiosincrasias,

      Manias, idiosincrasias, limitações todos politicos tem. O registro da Historia é de resultados. Na Presidencia Reagan acabou a URSS e os EUA se tornaram a unica potencia mundial, é pouco?

      1. Os radicais islâmicos têm pai

             Creio que a URSS caiu pelos seus próprios problemas.

         

             A contribuição decisiva dos EUA – se é que houve – poderia ser o fato de ter estimulado a URSS a entrar em guerra contra o Afeganistão?

             Esta guerra de fato prejudicou bastante – como prejudica imensamente os EUA hoje os conflitos na mesma região – porém, o império já estava fazendo água por outros motivos, e este foi apenas a derradeira causa que sepultou a União Soviética.

             Aliás, as motivações da guerra da URSS contra o Afeganistão precisam ser lembradas e destacadas.

             A URSS, dentro do contexto da Guerra Fria, por ter fronteiras com o Afeganistão dava assistência ao país com pacotes de ajuda e programas de assistência e, por outro lado, os políticos do país árabe eram alinhados com os comunistas.

             Este alinhamento incomodava os EUA, que desejavam aumentar sua influência na região e desestabilizar os russos. Desta maneira, os americanos tentaram apoiar politicamente os políticos afegãos contrários ao apoio da URSS, mas não lograram êxito, já que o apoio da União Soviética era fundamental para o país, os soviéticos construíram no país árabe diversas pontes, todas as principais rodovias, represas para geração de energia elétrica, e muitas faculdades e escolas, desta maneira, a URSS era bem vista tanto pelo governo quanto pela população. Excetuando por um único grupo: o religioso. E por que? Porque a parcela fanática da religião muçulmana não tolerava que as mulheres tivessem o mesmo direito dos homens – como acontecia no regime soviético. As soviéticas podiam estudar, trabalhar, se vestir normalmente (sem burca) e, como sabemos, isto se opõe frontalmente com a interpretação que eles dão ao alcorão. Ao ter a URSS como aliada, as russas que estavam naquele país levavam novos costumes, novos hábitos, e isto indignou os radicais muçulmanos.

             Destarte, os EUA, ao verem a oportunidade, mesmo motivada pelos motivos mais absurdos e iníquos, agiu como sempre: maquiavelicamente armou seus aliados para que atacassem seus inimigos. E os fanáticos religiosos começaram a perpetrar ataques terroristas contra instalações russas diversas. O governo soviético mordeu a isca, e atacou o Afeganistão, algo questionável geoestrategicamente, já que o país não possui grandes reservas de petróleo, ou qualquer outra coisa que interesse.

             Os EUA conseguiram o que queriam, primeiramente estimularam o conflito (tanto de um lado quanto de outro, pois, por incrível que pareça, eles também deram apoio diplomático a União Soviética para que esta atacasse o Afeganistão). Depois, deixaram que ela invadisse completamente o território afegão, e aí sim, armaram os mujaheddin (especialmente com mísseis stinger, letais contra os destruidores helicópteros russos). Os soviéticos sofreram com as guerrilhas de resistência, montadas pelos aldeões afegãos, armadas pelos EUA e a URSS desmoronou.

             Porém, ser um joguete dos EUA, tema do Rambo III, custou muito caro ao Afeganistão. Foi uma vitória de Pirro. Um milhão de afegãos morreram no conflito, um terço de sua população foi para o exílio (uma das maiores e mais trágicas imigrações forçadas da história da humanidade). Todo este sofrimento de mortes e exílio, é claro, é completamente subestimado, silenciado, esquecido no mundo ocidental – mesmo sendo por responsabilidade primordial de suas potências que tudo ocorreu.

             E se os EUA, acharam que foi uma bela vitória, bem, o mundo dá voltas. Os EUA trouxeram para o palco político os radicais religiosos, os EUA os armaram e, sofreram as consequências do monstro que criaram. Aqui se faz aqui se paga. Ou, como diz o provérbio africano, Exú acertou ontem com a pedra que jogou hoje.

           A partir do momento em que os religiosos (como qualquer outro grupo) chegaram ao poder, é claro, não querem mais largá-lo. Como diz outro provérbio, este chinês, uma vez sobre o dorso do tigre, não há como descer.

         

        P.S: A União Soviética entrou em guerra contra o Afeganistão, mas não tinha maiores problemas com sua própria população muçulmana. A URSS os controlava com algum rigor, impedindo que conflitos étnicos-religiosos diversos – como os que vieram a ocorrer nas futuras repúblicas independentes – se desenvolvessem. As repúblicas islâmicas da Armênia, Azerbaijão e Geórgia no Cáucaso, e Casaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão na Ásia Central, perfaziam 22% da população soviética.

    2. Reagan até passa.

      Acho o Nixon, apesar de tudo, uma figura mais interessante que Reagan, ele deu passos vigorosos para esfriar a Guerra ‘Fria” nos 1970. Mas Clinton é de doer, contribuiu pra recriar a Guerra Fria no instante em que ela não fazia e nem faz agora o menor sentido.

  11. Grande comentário…

    Lógico que limitado, mas bem objetivo e bem elaborado na visão de ação e reação na política. Estou bem pessimista sobre a ordem global que se esgotara em 2008 e se passa por um grande período de transição. O que tem sido parcialmente positivo, embora haja barril de pólvoras por todos os lados, é que ainda não tenha explodido guerras maiores do que estão alocadas regionalmente. Por isso essa é a hore da política, que apenas usa a economia em seu favor. Economistas que não se ligam a geopolítica hoje são míopes, e disso o Brasil tá cheio. Embora não concorde com tudo do que o Motta Araújo escreve, sempre aprecio sua capacidade de elaborar pensamentos densos em diversas areas. 

  12. Grande comentário…

    Lógico que limitado, mas bem objetivo e bem elaborado na visão de ação e reação na política. Estou bem pessimista sobre a ordem global que se esgotara em 2008 e se passa por um grande período de transição. O que tem sido parcialmente positivo, embora haja barril de pólvoras por todos os lados, é que ainda não tenha explodido guerras maiores do que estão alocadas regionalmente. Por isso essa é a hore da política, que apenas usa a economia em seu favor. Economistas que não se ligam a geopolítica hoje são míopes, e disso o Brasil tá cheio. Embora não concorde com tudo do que o Motta Araújo escreve, sempre aprecio sua capacidade de elaborar pensamentos densos em diversas areas. 

  13. Pelo que li, a America Latina

    Pelo que li, a America Latina continua sendo, na visão yankee do Andy, apenas um quintal, que sequer merece ser citada numa análise geopolítica que se pretende mundial.

     

    1. Infelizmente a America Latina

      Infelizmente a America Latina não é ator geopolitico que move ciclos historicos, o continente é caudatório de movimentos gerados em outros continentes. A America Latina vai a reboque desses movimentos que nascem em outros cantos.

  14. Retrato muito bom da paisagem humana, caro “Marciano”.

    Parabéns pelas agudas observações. Mas, um observador de Marte, de planeta para planeta, não no sentido figurado para caracterizar uma neutralidade das constatações históricas do autor, perceberia de imediato outras questôes, antes de contemplar a humanidade. Ele não seria antropocêntrico, contemplaria antes a paisagem da natureza, veria nela uma crise acontecendo e, ao observar, notaria então  a participação das sociedades humanas na sua gênese, com sua capacidade adquirida de transformar a Terra e a forma intensa como ele vem fazendo.

    A emergência dessa crise na paisagem da natureza provoca tensões críticas no interior das sociedades, ameaçando suas condições de existência. Dentre as causas do que você nota no ítem cinco, do descompasso das gerações esclerosadas dos atuais sistemas políticos, está a percepção pelas gerações novas, do descompromisso das atuais gerações no poder com as gerações que vão sucedê-las, as que estão aqui e as que virão no futuro. Reina o espírito de Luis XX, de quem se identifica com o “Depois de mim, o dílúvio”. Como que se pode acreditar numa geração que está cagando e andando para o destino das que lhe sucedem? Como dar fé para quem se volta pra você e diz: se virem com as imensas merdas que estamos largando. Dependendo do grau, esclerosado é alguém que se deve aposentar ou internar: não há como se submeter às suas decisões, daí as insubmissões que hoje se manifestam.

    Da Conferência de Potsdam aos dias de hoje, aconteceram grandes modificações na paisagem da Terra, de Marte se  perceberia: coberturas florestais imensas desapareceram, os espaços nucleares de urbanização se expandiram, a desertificação avançou, antigas áreas voltadas para plantios restaram abandonadas. Houve intensa destruição de biomas e espécies estão em vias de extinção. Uma observação mais aguda, feita a partir daquela época, aponta para a perda de solos de um quinto das áreas agricultáveis disponíveis no planeta e outras perdas, em tal magnitude, estão previstas em horizonte bem próximo, em virtude das técnicas de exploração agrícola atuais.

    Desde Postdam, a população mundial se multiplicou três vezes, passou pela experiência de uma larga desruralização combinada com intensas concentrações urbanas. No Brasil, por exemplo, em 1960, trinta e dois milhões de habitantes viviam nas cidades, enquanto trinta e oito milhões estavam no campo; passados cinquenta anos, a população urbana se multiplicou por cinco e a rural encolheu em um quarto. O fênomeno acontecido aqui no Brasil foi geral em toda Terra, os habitantes de Marte  perceberiam o encolhimento da cobertura florestal e o crescimento das manchas corrrespondentes de urbanização.

    O impacto humano sobre a Terra foi além da sua ocupação espacial, ele interferiu com os depósitos minerais acumulados em períodos muito antigos da história geológica da Terra; grande parte desses recursos são consumidos uma única vez, como os combusteis fósseis.  Do imediato pós-Guerra aos dias de hoje, foram queimados mais de oitenta por cento dos combustíveis fósseis que foram queimados em toda história humana, de modo que esses recursos, acumulados em milhões de anos de história geológica, serviram para pouquíssimas gerações humanas e, dentro delas, em benefício maior de ralas classes sociais.

    Observo que a urbanização intensa combinada com a rarefação rural só é possível, com a emergência de um novo paradigma da produção agrícola, baseada num modelo industrial de exploração agrária, que dispensa mão de obra pela substitução por máquinas, no uso intensivo de insumos industriais e imensa logística de distribuição até ao consumidor urbano, tudo sustentado pelo uso de petróleo, de tal modo, que para cada caloria de alimento consumida por um ser humano, outra precisa ser queimada do petróleo.

    Faltou ao prezado “Marciano” observar a crise ambiental, esta é a observação que acrescento, como um componente novo, que emergiu na consciência das novas gerações a partir dos 1970 e não pode mais ser menosprezado ou separado da análise da sociedade dos dias atuais, a menos que se seja um analista esclerosado e alheio aos problemas do seu tempo. Esta componente traz para a presente crise, um caráter muito especial, nunca verificado anteriormente em escala global pelas sociedades humanas, de modo que carrega um ineditismo a ser observado atentamente, que a diferencia de todas crises globais passadas. Para superar os impasses, é uma variável que jamais pode ser desprezada, como fazem as atuais gerações esclerosadas.

    Um abraço e muita gratidão pelo texto, que vou repercutir entre amigos.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador