Os desmanches dos acampamentos de ciganos na França

Do O Globo

Hollande desfaz acampamentos e paga para ciganos deixarem país

 Philippe Desmazes/AFP

Ciganos deixam acampamento nos arredores de Lyon depois de serem expulsos pela polícia: defensores da minoria dizem que as restrições do mercado de trabalho francês impedem uma integração real no país Philippe Desmazes/AFP

PARIS — Os desmanches de acampamentos irregulares de ciganos na França e as expulsões de seus residentes do país reavivaram no governo socialista de François Hollande a polêmica deflagrada há dois anos pelo conservador e então presidente Nicolas Sarkozy. Nesta quinta-feira, 150 agentes da polícia especial francesa CRS desmantelaram dois acampamentos ciganos nas localidades de Hellemmes e Villeneuve d’Ascq, na região de Lille. Seus 240 moradores foram repatriados para a Romênia. Um dia antes, as forças de segurança haviam desfeito em menos de três horas o maior acampamento cigano de Paris, na Porta de Aubervilliers, em cumprimento a uma ordem judicial de janeiro. Na terça-feira, os 160 ciganos que ali viviam, alertados sobre a operação, deixaram o local. Segundo a ONG Médicos do Mundo, que acompanha os acampamentos nos arredores de Lyon, dois voos fretados com ciganos decolaram nos dias 10 de maio e 5 de julho rumo à Romênia.

No seu discurso de Grenoble, em julho de 2010, Sarkozy denunciou os acampamentos clandestinos e pregou a expulsão dos ciganos para a Romênia e a Bulgária, tornando-se alvo de críticas de governos vizinhos e da comissária europeia para a Justiça, Viviane Reding, que provocou a ira de Sarkozy ao comparar sua política de expulsões com a onda nazista de deportações na Segunda Guerra Mundial. Durante a campanha presidencial, Hollande procurou se diferenciar ao prometer, em carta a defensores dos direitos dos ciganos, que, se eleito, garantiria que “sempre que um campo insalubre fosse desmantelado, soluções alternativas seriam propostas”.

Uma porta-voz da comissária europeia para a Justiça disse, nesta quinta-feira, que a situação atual é diferente, pois o governo colocou em vigor procedimentos que evitam expulsões forçadas. Segundo ela, desde que as pessoas estejam voltando voluntariamente,não haveria conflito com o princípio de livre movimentação da União Europeia (UE). Ainda assim, as ações do governo suscitaram protestos de defensores de direitos humanos. Yann Lafolie, presidente do Ateliê Solidário, uma das associações do grupo Solidariedade Cigana, se disse “consternado”:

– Várias crianças vão dormir na rua esta noite. Sarkozy nunca nos expulsou. No fim, foi o PS (Partido Socialista).

Os militantes definem os “retornos voluntários” de ciganos, financiados pelo governo a € 350 por adulto e € 150 por criança, como “expulsões disfarçadas”. E alegam que as compensações do governo são desperdício de dinheiro público, pois a maioria acaba voltando dias depois. Os defensores da minoria exigem o fim das medidas que restringem o acesso ao mercado de trabalho francês, para facilitar a integração.

– É inconcebível que joguem as pessoas na rua sem dizer para onde podem ir. Esperávamos mais após as declarações de Hollande — disse Roseline Tiset, da Liga dos Direitos Humanos.

O Partido de Esquerda endossou a censura ao governo, ao condená-lo por “seguir os passos do antecessor”, disse o secretário nacional da sigla, Éric Coquerel. Já Éric Ciotti, secretário nacional do partido conservador UMP, celebrou a “tardia prova de lucidez” do governo socialista.

Estima-se em 15 mil o total de ciganos em acampamentos nos arredores das maiores cidades, sendo 4 mil na região parisiense. O ministro do Interior, Manuel Valls, disse que o governo agirá com “rigor e humanidade”, com a garantia de negociações prévias. Segundo ele, a política de expulsões será mantida, já que as condições sanitárias nos acampamentos são inaceitáveis e colocam em risco as comunidades locais.

Luis Nassif

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